Quero que você conheça meu mundo escrita por River Herondale


Capítulo 19
A incapacidade de dizer adeus


Notas iniciais do capítulo

DESCULPA PELA DEMORA, GENTE! Poxa, a última vez que publiquei foi em maio, e olha só, estamos em julho D: desculpa mesmo :/
Mas vcs são incríveis e sei que estão ainda aí, né? Não deixem de conversar comigo nos reviews pq estou morta de saudades. Vamos para o capítulo? Confesso que é um capítulo desagradável, mas fazer o que, né? Boa leitura :*



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Frederico tapou os olhos, exausto e confuso. Era madrugada e o que ele podia fazer? Tentou ligar de novo, mas Clarice não atendia.

Pegou a chave do carro e saiu sem avisar seu pai na madrugada fria de julho.

Milhares de coisas passavam em sua mente.

Era julho, estava de férias da faculdade. Ele ainda tirava boas notas, mas nem de longe era o aluno excepcional que seu pai acreditava que ele era. Um mês antes ele entrou numa briga terrível com o pai, pois queria desistir do curso.

“Esse é seu sonho, pai, não meu!” Ele gritou descontrolado depois que tentou conversar com o pai sobre trancar a matrícula.

“Você é um egoísta. Só pensa nem si mesmo. É uma vergonha, Frederico! Uma vergonha!” Dr. Leonardo não podia acreditar.

“E daí se toda família Escobar se formou em Direito? Tio Lúcio não se formou em Direito!” Frederico não desistiria tão fácil. Era raríssimo ele gritar, mas houve poucas vezes em que ele desejou tanto alguma coisa.

“Você será responsável por tudo da família quando eu morrer. Eu estou fazendo isso para seu melhor” Dr. Leonardo era um homem analítico. Não se dobrava para os caprichos dos outros.

“Está fazendo isso para você” Frederico disse cuidadosamente, pois era uma verdade secreta.

“Isso é culpa daquela menina”

“Como?”

“Clarice é a culpada de você ter se tornado esse... desmiolado” Dr. Leonardo tinha desprezo na voz.

“Ela abriu meus olhos! Me mostrou que devo fazer o que me faz feliz, e não o que os outros acham melhor”

“Ela é uma sem futuro. Não tem nada, nunca terá nada. Ela não quer nada na vida, Frederico, não percebe? Viver de arte... que ilusão!”

Frederico queria contestar e falar sobre como Clarice não era nada disso. Como seu pai estava analisando-a superficialmente. Mas não valia a pena. Seu pai nunca entenderia.

Frederico passava essa conversa na sua cabeça sem parar enquanto dirigia até o prédio onde ficava o apartamento de Tati. Seu pai tinha dado um prazo pra Frederico repensar sobre a desistência da faculdade, que era até agosto. Frederico já tinha a certeza de que abandonaria, mas agora estava em dúvida.

Chegando na portaria, pediu que o porteiro anunciasse sua chegada. Levou um tempo para que a resposta de aprovação viesse.

Frederico subiu pelo elevador, e seu estomago embrulhou, apreensivo. A voz de Clarice na chamada estava trêmula, e Clarice nunca falava trêmula. Havia algo de errado e ali.

Frederico bateu na porta de entrada temeroso. Não sabia se estava preparado para o que viria.

A porta abriu, e lá estava ela, descalça, vestindo uma camiseta dele, a expressão dura, mas a mente bagunçada. Ele a amava tanto, mas não a reconhecia.

– Não precisava ter vindo.

Sua voz estava afetada.

– Sabe que eu viria.

Ele foi abraça-la, mas sentiu sua hesitação, e voltou atrás. Então ele perguntou se podia entrar.

– Claro.

A sala estava uma bagunça. Roupas espalhadas, o notebook perdido no meio de folhas e mais folhas. Parecia até que alguém estava de mudança.

– O que está acontecendo aqui? – Frederico tinha medo da resposta, mas a verdade sempre era melhor.

– Não é nada. Já te disse, estou apenas perturbada.

Ele não acreditava. Claro que não acreditava.

– Por que você disse aquilo? Que você é desintegrada, que está mentindo? Clarice, o que está acontecendo?

Ela fez que não com a cabeça, e seus braços envolviam seu próprio corpo, como se estivesse se protegendo.

– Eu não saí sem avisar no meio da madrugada e de pijamas para ficar mais confuso. – Seu tom de voz não era bravo ou irritado. Estava mais para desesperado.

Clarice apontou para a mesinha de centro onde estava seu notebook e as folhas espalhadas. Frederico se aproximou temeroso e juntou as folhas.

– O roteiro?

– Uma cópia dele.

– Por que está em inglês?

– Tive que redigitar em inglês para mandar na produtora.

Era como se tivesse um ponto de interrogação na testa de Frederico. Ele nada entedia.

– Me chamaram para um trabalho em Nova York. Foi o último lugar que estive ano passado, e não estive em viagem apenas por viajar. Fui a procura de contatos, experiências, oportunidades de trabalho.

“Em Nova York consegui entrar em contato com um agente por intervenção de Skylar, que me deu contato de um produtor de um estúdio internacional com projetos para novos talentos. Há dois meses enviei o roteiro finalizado a eles, e eles me responderam com o convite de trabalhar no projeto em Los Angeles. Eu não quis contar nada, porque faz uma semana que recebi a notícia, e tudo que menos quero é estragar o que temos. Mas não posso desperdiçar essa oportunidade. Não posso deixar meus sonhos para trás, e se você puder ir comigo eu agradeço, mas se não puder eu quero tornar esse processo mais fácil possível para nós.”

– Quer dizer que fez tudo isso sem me contar.

– Não sabia se daria certo.

O sangue de Frederico ferveu, subindo em todo seu rosto. Ela estava fazendo tudo nas suas costas, ela e esse Skylar. Não podia ser verdade. Era crueldade com ele e estava claro que ela não desejava que ele fosse com ela. Se quisesse tinha dito antes.

– Eu não posso ir com você, Clarice. Não vê? Não posso abandonar tudo que eu tenho para ir junto. Não sou tão volátil quanto você. Eu tenho amigos aqui, a faculdade, meu pai. – Ele tentou achar uma desculpa, por mais que não estivesse totalmente convencido disso.

– Você odeia sua faculdade!

– Nada vai mudar sua cabeça, não é?

– Acho que me conhece o suficiente para saber que não.

Ela estava ali na sua frente, usando sua camiseta, e tudo era tão injusto. Não era uma notícia para se contar na madrugada, e tudo tinha virado de ponta cabeça inesperadamente.

– Ok, eu sei que você é independente e tudo mais. Que seus planos são mais importantes que tudo pra você, mas até eu? Até seus planos são mais importantes que eu?

– Eu não quis dizer isso!

– Mas é o que eu entendi! Você não hesitaria em me abandonar se fosse necessário, não é? É tão ambiciosa.

– Ambiciosa? – Agora era Clarice que tinha um ponto de interrogação na testa.

– Eu não quis dizer isso. Só não posso aceitar que vai sacrificar tudo isso que temos para ir para Los Angeles por não sei quantos anos tentando fazer um filme. As coisas não funcionam assim, Clarice! Acorda pra vida.

– Agora é assim? “Acorda pra vida”? Pensei que acreditasse em mim. Quer saber, saia daqui. Continue nessa sua vida chata de estudante e me deixe ser eu. Me deixe viajar e ser psicótica sozinha!

– Então está mesmo jogando tudo fora? – Frederico estava com uma raiva nada usual. Era um sentimento que misturava com tristeza e nada podia ser pior.

– Não duraria muito mais. Não sou acomodada, Frederico. Uma hora iria acontecer.

Frederico largou as folhas de qualquer jeito e foi em direção à porta para ir embora. Clarice tinha uma expressão que Frederico não sabia interpretar.

– Boa sorte no seu filme. Quando lançar me avise, quero assistir na pré-estreia. – Frederico falou com sarcasmo.

– Eu não te sacrifiquei, Frederico. Te convidei para ir comigo. Só precisa ir.

– Não. Você provou que esse seu filminho é mais importante que nós, que qualquer um que já se importou de verdade com você. Você não leva isso em consideração? Algum momento me amou? – Ele esperou uma resposta, que não veio. – Foi o que eu pensei. Fui só mais uma outra distração pra você.

– Não seja injusto!

– Skylar, Hans... agora Frederico. Uma coleção de trouxas.

– Me desculpa se não sou uma apaixonada tola como de filmes de romance! Me desculpe se não faço a linha das mocinhas que correm para o aeroporto impedir o galã de embarcar, que se declara a ele e desiste de seus sonhos e aspirações para estar ao lado dele. E eu não te peço para ir comigo se não quiser.

– Você nem insistiu que eu fosse.

– Você pode pensar.

– Vou facilitar isso pra você. – Ele abriu a porta do apartamento e foi embora. – Tchau.

¨¨¨

A porta se fechou atrás dele, e Clarice ficou sozinha, encarando o nada. Pensou em levantar e correr atrás de Frederico, mas era como se suas pernas não conseguissem mexer mais. Ela pegou as folhas e as jogos no ar, gritando frustrada.

Não demorou muito para Tati chegar do quarto.

– O que aconteceu aqui? – Tati olhou assustada, e então viu a amiga jogada no chão e foi até ela, abraçando-a. – Ah, Clarice...

Clarice não aguentou, e lágrimas insistentes vazaram de seus olhos.

– Meu Deus, Clarice... – Tati consolava a amiga, que chorava em seu ombro. Tati não estava acostumada a ver a amiga chorar, o que foi estranho para ela. – Você é quem costuma me consolar enquanto eu choro, não o contrário. – Tati tentou fazer uma piadinha, mas isso não fez com que Clarice chorasse menos.

– Eu contei. – Disse Clarice no meio de soluços.

– E ele? – Tati já sabia da partida de Clarice. Ela ficou apreensiva.

– Ele ficou tão triste. E então ficou bravo. Disse que eu não pensei nele.

– E pensou?

– Não está facilitando, Tati! É tão difícil. Eu me matei tanto para conseguir isso. É tudo o que eu quero, é maior que eu, e agora que fui aprovada, que posso começar a pré-produção de um filme que me dediquei tanto para criar e não consigo estar feliz!

Tati se levantou e começou a pegar as folhas espalhadas pela sala. Quando terminou, entregou na mão de Clarice.

– Toma. Isso é seu trabalho, não pode jogar pelo ar.

– Está tudo pelo ar.

Tati fez que não com a cabeça, e encarou a amiga.

– Você não percebe o que fez pra esse menino, não é?

– Não entendo.

Tati bufou.

– Ok, acho que vou ter que jogar umas verdades pra você! Você mudou ele! Transformou toda a vida desse menino, tirou a paz da vida perfeita dele! Mostrou outro mundo, e porra, Clarice, ele estava tão apaixonado! Não sei se você notava, mas quem quer que estivesse em volta de vocês notava que ele estava totalmente e profundamente obcecado por você. Não do modo doentio, mas do modo que a paixão é tão intensa que muda toda a vida. Só acontece uma vez isso.

– Não está melhorando... E como você pode saber isso?

– Porque eu já senti essa paixão.

Agora Tati tinha lágrimas nos olhos. Não era por Mateus. Era Hugo, um namorado de Tati de três anos atrás. E então ele morreu em um acidente de moto, e Tati conta que tudo mudou, que sua vida mudou e que se apaixonar de novo foi tão difícil quanto esquecer a dor.

– Eu não queria ter me apaixonado. Eu sabia que minha passagem pelo Brasil era rápida, e não estava nos planos me envolver com ninguém. Aconteceu e... – Clarice voltou a chorar.

– Meu Deus, você também se apaixonou? – Tati já estava entendendo tudo.

– Eu tinha jurado que nunca choraria por amor. Que nada assim merece minhas lágrimas, mas Frederico... – Clarice fungou. - Eu quero ele agora.

– Sete meses no Brasil e tudo isso aconteceu. – Tati ironizou, e então pegou as mãos de Clarice. – Acho que você tem uma lista de coisas para fazer antes de deixar o país.

Clarice concordou, e Tati voltou a abraçar a amiga. Clarice agradeceu por ter uma amiga tão boa, e tinha muitas coisas para fazer antes do embarque.

¨¨¨

Frederico dirigia, e nada fazia ele se acalmar. As músicas que tocavam no rádio lembravam ela, as ruas, o cheiro do carro. E ela fora tão cruel, tão injusta...

– Merda! – Frederico gritou, e começou a socar o volante. Já estava chorando.

Nada fazia sentido. Eles estavam bem! Clarice tinha até marcado uma tatuagem no qual ele iria acompanha-la no processo. Eles se apoiavam nem ao outro, protegiam um outro.

Pelo menos era isso que ele achava.

Seu coração apertou cruelmente. A dor era forte, e o único momento em que se sentira assim foi quando tinha nove anos e perdeu sua mãe. Nada se comparava, afinal, era uma garota, mas...

Não era uma garota. Era Clarice.

Ele mudera tanto em tão pouco tempo. Mudou sua visão da vida e suas prioridades. Mas então ela jogou ele assim, tão facilmente e de repente que... não. Não era certo.

Ela o amou mesmo? Ela sentiu o que ele sentia por ela?

Ele já não tinha tanta certeza.

Como fora trouxa. Tinha até mesmo pensado em trancar a faculdade? Que ridículo! Brigou com seu pai por uma garota que nem hesitou em deixa-lo.

Ele se importava tanto.

E ela o que fizera? Nada.

Chegando em casa ele se trancou no quarto, feliz por seu pai não ter acordado e notado sua fuga na madrugada. Com a cabeça enterrada no travesseiro ele chorou. Não frustrado, não bravo, como achou que choraria. Chorou de dor, porque não estava preparado para dizer tchau a Clarice. Não sabia se era capaz de estar.


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Notas finais do capítulo

Podem ir nos reviews botar pra quebrar gente, eu deixo



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