Quero que você conheça meu mundo escrita por River Herondale


Capítulo 10
Mania de grandeza


Notas iniciais do capítulo

Faz uns bons dias que não posto, desculpa! Fiquei triste com os 0 comentários do capítulo anterior, mas deixo rolar. Boa leitura :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/547822/chapter/10

Depois de Clarice arrumar todas as suas coisas na casa de Tati, as duas se sentaram no sofá da sala para assistirem TV. Optaram pela série Doctor Who no Netflix. As duas chupavam sorvete.

– E então, o que fez no fim de semana, Clarice? Foi naquele evento?

– Ah sim, fui. Foi bem interessante. – Clarice amava sorvete de abacaxi.

– Tem fotos, né?

– Sim, claro. Deixa eu pegar a câmera para você. – Clarice se levantou e catou a bolsinha da câmera de cima da estante e entregou para Tati. – Eu consegui bons cliques, sorte que ainda não excluí as fotos do cartão de memória.

Tati foi passando as fotos com interesse. Tanto interesse que elas até esqueceram do Doctor Who. Foi então que Tati deu um sorriso curioso e perguntou:

– Quem esse carinha aqui, hein? Gatinhooooo!

Clarice se levantou do sofá em um pulo e foi atrás de Tati para ver o que ela via na tela da câmera.

Era uma das fotos que ela tirara de Frederico. Aquela era a primeira, ainda no evento.

– Um cara do evento.

– Um cara do evento, é? Diz que trocou contatos!

– Para de ser boba.

Tati foi passando as fotos até que chegou nas fotos do Parque do Ibirapuera.

– Ai meu Deus.

– O quê, Tati, nossa?

– Você saiu com ele, hein! Gente...

– Nossa, qual o problema?

– Não vou falar.

– Fale.

– Ai meu Deus.

– O quê? Ai meu Deus, que exagerada!

– Vocês combinam demais. Se eu visse vocês na rua ao acaso acharia vocês o casal mais lindo do mundo. Olha só o jeitinho dele, o modo como ele olha para a câmera. Parece a Frida quando encontrei ela no lixo! Os olhinhos caidinhos, o cabelo com esse topete mara! Por que o Mateus não corta o cabelo assim? Ele sempre deixa seu cabelo rente a cabeça...

– Nossa, vou tirar essa câmera de você. – Clarice ficou impaciente.

– Shhhh, deixa eu ver isso em paz. Nossa, ele é muito magro! Precisamos dar comida na boca dessa criança. Whey Protein na mamadeira.

– Que ridícula você! – Clarice deu risada, a barriga chegando a doer de tanto rir.

– Ai, Claricita, por favor, ele é tão fofinho! Olha essa foto!

Clarice olhou. Ela lembrava bem do momento em que capturara a foto. Ele segurava uma flor na mão e apontava para a câmera, mas bem no momento em que ela captou uma borboleta gigantesca pousou nele, assustando-o. Por isso na foto ele estava com uma cara hilária de assustado. Ele usava uma camiseta cinza com uma estampa de vários heróis da Marvel reunidos e de aparência envelhecida. Sua calça era meio justa cáqui, seu sapato era um Nike simples preto. Os óculos de grau forte distorciam um pouco seu rosto na parte da lente e quando ele sorria as covinhas apareciam e embaixo dos olhos ficavam marquinhas fofas. Clarice apenas não aceitava o que via.

Ela não queria aceitar.

– Ele é muito desajeitado.

– Isso é tão fofo! Ele faz o tipo que no primeiro encontro derruba refrigerante do copo na mesa e mela tudo e fica vermelhinho pedindo desculpa.

– Nossa, e ele tem quantos anos? Quinze?

– Tá, você está relutante. Mas me diga: quem é esse filhotinho de cachorro?

– Frederico, e conheci ele naquele evento de cinema. Ele é um coitado facilmente manipulável pelo pai que quer que ele seja advogado mas a verdade é que ele quer trabalhar com algo relacionado a cinema. Então decidimos sair hoje pra conversarmos mais um pouco sobre cinema essas coisas. Foi bem interessante.

– E o que você descobriu?

– Que ele já assistiu todos os filmes de super-heróis já lançados e parece uma criança falando em como o Homem Aranha é seu herói favorito? Que Anakin Skywalker é infinitamente melhor que Luke Skywalker? Que ele odeia (500) dias com ela porque ele se sente muito o Tom? Essas coisas ridículas.

– E você decorou tudo isso? Amiga, isso é grave.

– O quê?

– Nunca pensei que estaria viva para ver isso.

– Ver o quê?

– Acho que você está apaixonada.

– Cala a boca!

– Está vendo! – Tati entregou a câmera para Clarice de volta. – Está estampado na sua cara.

Clarice fez que não com a cabeça e viu a foto que mostrava na tela. Era uma que um cara havia se voluntariado para tirar para eles. Os dois estavam sentados em um banco de praça, ela olhava para o chão porque nunca gostara de ser fotografada e ele olhava para ela, os olhos com tanto significado que seria impossível explicar em palavras.

Será mesmo que era isso que estava acontecendo?

Clarice não se entregava a paixões. Não facilitava para seu coração, não se deixava arrebatar.

Ela não acreditava mais em casamento, em amor eterno. Seus pais eram um ótimo exemplo disso. E chegou uma hora que ela percebeu que alegria não era arrumar alguém para se sentir completa, mas sim se sentir completa por si só. Ela não precisava de sua metade da laranja; ela era uma laranja inteira.

Mas ela também não costumava se limitar em nada. Se seu extinto dizia que precisava falar aquilo, ela simplesmente fazia. Ela confiava plenamente em seu coração.

E seu coração naquele momento não dizia nada.

Era como se pela primeira vez ela estava com a escolha na mão. Seu coração poderia estar cansado de decidir as coisas para ela, talvez.

Decidiu deixar rolar, como sempre fazia quando estava em dúvida.

¨¨¨

“Oi”

Frederico pegou o celular que vibrava em seu bolso. Era quarta–feira e ele voltava da faculdade. Era uma mensagem de Clarice.

“Oiiiii” ele respondeu e depois se arrependeu de ter inserido tantos “i” no oi.

“Já saiu da facul nessas horas, né?”

“Tá me espionando ou o quê? Preciso ter medo?” ele sorria nesse momento.

“Haha, que engraçado você, hein? É que eu estou perto aí da sua faculdade e pensei em almoçarmos juntos.”

“Beleza então. Onde nos encontramos?”

“Olha pra frente e um pouco para a direita.”

Frederico tirou os olhos do celular e olhou. Ali estava Clarice com seu cabelo castanho e cacheado curto, seus olhos castanho esverdeados grandes e brilhantes e uma saia florida até os pés, uma regata adornada com um colar grande de contas. A alegria atingiu ele instantaneamente de um modo estranho e nunca antes visto.

– Que surpresa! – Frederico foi até ela e a cumprimentou com um beijo na bochecha. Ela cheirava natureza, algo estranho de se esperar em São Paulo.

– Não se sinta importante, eu só estava passando perto e resolvi dar um oi.

– Sei...

– E aqui fica a grande Faculdade de Direito do Largo de São Francisco! Preciso me curvar diante dos seus pés? Te chamar de vossa Excelência? Ou talvez então de vossa Magnificência? Odeio pronomes de tratamento, acho tão opressor! Também odeio hierarquia, mas o que posso fazer em relação a isso, não é?

– Clarice: a anarquista.

– Eu retrucaria neste momento se não estivesse diante de um aluno dessa prestigiada faculdade. Provavelmente um dia te verei em Brasília. Um presidente, talvez? Os alunos daqui estão destinados a grandeza.

Antes que Frederico pudesse continuar a brincadeira, sentiu uma movimentação vindo até si. Quando viu era Luana. Ela estava ao lado dele com os papéis de estudo quase caindo no chão, o cabelo loiro claro todo despenteado e fora do grampo que o prendia.

– Frederico, eu já estou indo para o escritório, vamos juntos?

– Na verdade eu vou almoçar fora.

– Almoçar fora? Com quem?

Frederico apontou para Clarice, que sorriu.

– Ah, desculpe! Não vi que estava acompanhado.

– Luana, esta é Clarice.

Clarice deu um oi sorridente, mas Luana não parecia muito animada. Ela analisava Clarice como uma cobra prestes a dar um bote. As duas não poderiam ser menos diferentes. Enquanto Clarice esbanjava naturalidade, liberdade e uma alma despretensiosa, Luana mostrava-se séria com sua roupa social, sua maquiagem perfeita e seu cabelo bem preso. Ela era focada e totalmente urbana e projetada como um prédio. Comparando de modo ridículo: Clarice era uma montanha, Luana um prédio. Uma natural, outra projetada.

– Talvez deva chama-la de vossa Excelência também? – Clarice disse ao Frederico enquanto cumprimentava Luana.

– Como assim? – Luana exigiu saber, sua postura afetada.

– Clarice estava dizendo que os estudantes daqui estão destinados a serem presidentes, governadores e entrar para a história brasileira.

– Tirando os bêbados ridículos dessa escola, os poetas chorões e os metidos da máfia talvez esteja sim aqui um futuro ou futura presidente. A lista de alunos famosos daqui é grande, e apenas para citar alguns temos Ruy Barbosa, Monteiro Lobato, Prudente de Morais, Campos Sales, José de Alencar e tantos outros. A responsabilidade de estudar aqui é gigante e temos que honrar essa oportunidade.

Clarice assoviou, impressionada.

– Vejo que estou diante de alguém que futuramente será importante. Estou de boca aberta. – Frederico não sabia identificar se Clarice estava sendo puramente irônica ou dizia a verdade.

– Então tá, gente, preciso ir. Foi um prazer, Clarice. – Luana parecia sem paciência.

– O prazer foi todo meu... – Luana já saía de perto. – Luaninha querida.

Frederico olhou para Clarice espantado.

– O que foi isso?

– Seus óculos estão precisando de novas lentes ou o quê? Está claro o que foi isso.

– Desculpe, mas não estou entendendo.

Clarice caminhava ao lado de Frederico enquanto eles saíam dali para irem almoçar.

– Ela é apaixonada por você e está mais na cara do que o bigode do Pancho Villa. Ela me fuzilou de um modo sem antes saber se éramos amigos, conhecidos ou parentes. Fiquei até com medo!

– Luana só não deveria estar em um dia bom, relaxa. Ela tenta impressionar as pessoas, só isso.

– Ela tenta impressionar você! – Clarice sorriu irônica. – Vamos almoçar aonde então?

No restaurante bem iluminado eles comiam seus pratos feitos no self service. Frederico não deixou de comparar seus pratos: o dele tinha muita batata frita, um pouco de arroz, nenhum feijão porque ele sempre odiou feijão, um bife acebolado e purê. Já o de Clarice tinha salada de alface, arroz, feijão e salada de Bifum que é um macarrão branco japonês.

– Então – Clarice começou depois de engolir sua comida. – Como foi a facul hoje?

– Com toda a sinceridade? Chaaaato. – Ele riu enquanto bebia sua Coca-Cola e quase se afogou com a bebida que subiu pelo nariz.

– Cuidado! – ela sorria e seus olhos ficavam puxadinhos, o que era fofo. – Mas e aí? E o Bento?

– O Bento? Não falei muito com ele. Ele anda meio ocupado com esse negócio de paternidade.

– Mas e a Natália?

– Até onde sei tudo bem. O que é isso, Clarice, parece até que são seus amigos!

– Eu fui muito com a cara deles. Bento e você têm uma amizade rara.

– Eu tenho muita sorte de ter ele ao meu lado... – Frederico então teve uma ideia. – Já sei! Que tal sairmos nós quatro essa sexta? Eu convenço Bento na hora, daí ele só precisa convencer a Natália e beleza. Boliche?

– Eu adoro boliche!

– Ótimo! Será incrível.

A câmera de Clarice estava ao seu lado na mesa. Frederico então perguntou:

– Onde você estava antes de me encontrar?

– A agência me pediu para fazer umas fotos pela redondeza e então aproveitei que estava perto para almoçar com você. Não iria compensar voltar para casa e tal.

– E como você está com a sua mãe.

Clarice hesitou e ele sentiu que acabara de falar algo errado. Ela bebeu um gole de seu suco e tossiu.

– Eu saí de casa.

– Sério?

– É.

– Sinto muito. – Frederico não sabia exatamente o que dizer já que Clarice sempre mudava de assunto quando se tratava de sua família e era sempre muito inflexível. Ele decidiu não se intrometer.

– Não sinta! Na verdade eu saí daquela casa maluca. Eu estava à beira da insanidade.

– E onde você está agora?

– Na casa de uma amiga minha. Está tudo bem.

Ele olhou bem para ela. Não havia sinais de remorso ou fraqueza. Mas isso não significava nada.

– E o roteiro? Anda escrevendo? Alguma inspiração?

– Na verdade sim, estou escrevendo. E já apaguei e reescrevi mil vezes porque não parece algo digno de cinema. Falta algo que sei lá. Falta poesia.

– Poesia?

– É. Poesia. Sabe, acredito que poesia não é só poemas. Poesia pode ser uma foto, um olhar, uma música instrumental, uma troca de palavras sem fala. Poesia para mim é tudo aquilo que passa emoção.

– E falta poesia no seu roteiro?

– O roteiro é quase... autobiográfico. Mas disse quase! A garota principal tem muito dos meus sentimentos por mais que sejamos diferentes em família, aparência, socialmente, etecetera. Mas não funciona o relacionamento dela com o cara que ela vai se apaixonar no decorrer da história. Parece forçado, sei lá.

– Forçado de que modo?

– Nunca me apaixonei. Não sei o que é que os apaixonados sentem, então como posso escrever uma história crível entre essas duas pessoas? Fica forçado e nem um pouco natural.

– Sério mesmo que nunca se apaixonou?

– Antes de sair para viajar eu tinha um grupo de amigos meio lunáticos que viviam na rua Augusta aprontando. Eu era a mais nova entre eles e apenas queria me sentir incluída. Aquela Clarice me enoja com sua falta de personalidade e perspectiva. Eles me metiam em umas encrencas terríveis e me deixavam bêbada. Até então eu acabei ficando por um tempo com um cara mais velho e malhado que metade do que falava era palavrão e eu era facilmente manipulável. Então meu avô morreu e eu fiquei devastada e não tive o apoio daqueles babacas. Daí parei de ver eles.

– E você não se apaixonou por esse cara?

– Ele era furada, o que eu sei que todas as menininhas amam. Mas ele só servia para dar uns pegas porque sempre acreditei que inteligência era o sexy. – essa última parte fez ela rir.

– E como você virou amiga deles?

– Na Galeria do Rock. Eu estava fotografando e aquele grupo de excêntricos pediram para que eu tirasse uma foto deles para colocar na página do Facebook da banda deles. No fim ficamos juntos durante o dia todo e viramos amigos.

– Clarice, a cada dia que passo mais fico com vontade de te descobrir!

– Não queira. Eu ainda estou tentando me descobrir e é um tanto frustrante.

Ele deu uma risadinha e olhou para ela. Como podia instiga-lo tanto!

– A faculdade anda uma loucura, mas eu queria muito ler seu roteiro. Sério, isso seria muito interessante e eu poderia servir de apoio e dar meus pitacos.

– Acho uma ótima ideia! Eu te envio pelo e-mail, pode ser? Daí você me passa por mensagem depois seu endereço virtual.

– Beleza, então.

O celular de Clarice apitou. Ela olhou para o aparelho e bufou.

– Daqui vinte minutos preciso estar na agência. Essa correria maluca, viu. Vou comer rapidinho e já me mando.

– Como você vai?

– Metrô.

– Não quer que eu te leve de carro?

– Clarice mastigava sua comida apressadamente. Ela olhou para ele meio surpresa.

– Não se incomode, eu me viro bem. Nem sei se vai ser caminho para você.

– Não importa. Eu trabalho com meu pai então não tem perigo de eu ser despedido se eu atrasar. Diferente de você...

– Eu não aceitaria em outras circunstâncias, mas nesse caso é para irritar seu pai e te deixar alguns minutos longe do mundo da advocacia, então estou dentro.

– Quer me dar problema, é?

– Quero te tirar de um problema. Advogado, sério? Eu riria se minha boca não estivesse cheia de comida.

Ela sorriu mostrando alguns restos de alimento rapidamente, então engoliu, fazendo Frederico rir. Era mais engraçado que nojento.

– Eu não te convenço com esse negócio de Direito, né?

– Nem um pouco e em nem um segundo. Garanto que você sabe mais frases do Dumbledore de cor do que leis do Vade Mecum. Estou errada?

– Não...

– Te disse.

– Não justifica.

– Calado, Frederico. Coma logo que estou atrasada! – ela ironizou e enfiou mais uma garfada de comida na boca.

Frederico levou ela para o trabalho que era um pouquinho longe dali no seu carro. Durante o percurso ficaram discutindo qual casa cada um seria de Hogwarts e Clarice tentava desvendar se Frederico era da Corvinal ou Lufa Lufa. Clarice dizia: “Você já provou ser inteligente o suficiente para Corvinal, mas alguns atos seus são completamente Lufa Lufa! Estou confusa, mas até o fim do dia eu descubro!”. Frederico não tinha dúvidas quando a ela: Grifinória. Ela poderia ser Sirius Black versão feminina com esse negócio de renegar a família, espírito selvagem e tatuagens. Ele deixou ela na frente do prédio que ela trabalhava e se despediram, ela correndo para não chegar mais atrasada. No fim da noite ele recebeu uma mensagem dela que o deixou entusiasmado:

“Descobri sua casa! Tudo aponta para Corvinal, agora só me convença ser verdadeiramente dessa casa de grandes inteligentes.

PS: uma vez eu li que os alunos da Corvinal são os mais bonitos de Hogwarts. Entenda como quiser, boa noiteeee :*”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Que casa vocês acham que eles são de Hogwarts, gente? Haha, estava pensando nisso agorinha por motivo algum. Imagino o Bento na Grifinória, a Tati na Corvinal, Natália na Sonserina (aliás, eu sou da Sonserina, prazer), Heitor da Corvinal também. Mas isso não importa, enfim. Mandem reviews, gente, adoro conversar! Beijooos