CAPÍTULO 14 - BECKY

Eu nem posso acreditar que meu pai ainda não apareceu para conhecer seu neto. Eu entendo perfeitamente Will e Elizabeth não terem aparecido, mas é estranho que ele não tenha aparecido. Afinal, ele aparecia a cada mês, só para se certificar que Will estava cuidando bem de mim e do Pérola. Mas eu tenho certeza que era mais pelo navio. Ele sabe que eu sei me cuidar. Certamente estava mais preocupado com seu precioso Pérola de que comigo. Mas ele prometeu que viria quando Phillip nascesse. E ele já tem quatro meses, então acho que meu pai está um pouco atrasado, mas nada imperdoável.

Will se aproxima por trás e me abraça como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Na verdade, nós o temos. Afinal, o Pérola é um navio pirata, mas, em mar aberto, não há nada que possamos fazer.

– Não deveria estar, não sei, conduzindo um navio? - eu perguntei, me virando para ele e sorrindo.

– Hum... - ele fez uma careta meio fofa, meio estranha, torcendo a boca e o nariz para um lado. - Eu resolvi dar uma folga a mim mesmo, só para ver como vocês estão.

– Ah, estamos bem sim. Obrigada por se importar. - tentei soar ignorante e falsa, mas não deu. Ele começou a rir.

– Becky, você sabe que queria que eu viesse mais de que eu. - ele sorriu para mim.

E eu não podia negar que ele estava certo. Eu sentia sua falta quando ficava tomando conta de Phillip sozinha. Eu sentia falta de estar na ativa, mas, até que ele crescesse um pouco mais, eu não poderia fazer nada. Nem minha própria mãe me fazia companhia. Às vezes, eu queria que ela aparecesse para, sei lá, dizer um oi ou me aconselhar.

A única coisa que pude fazer foi sorrir. Era minha forma de rendição e Will sabia bem disso. Mas sabia mais ainda que eu não admitiria em voz alta que tinha sentido tanto a sua falta em pouco tempo, afinal, não é normal para os Sparrow admitir coisas assim.

Ele me abraçou e me deu um beijo na testa, dizendo que deveria voltar. Voltei a pensar que queria que meu pai conhecesse Phillip. Talvez ele quisesse saber se ele se parecia com o avô. Bom, os olhos e o nariz são bem parecidos. Se ele soubesse que acho meu filho parecido com ele, já teria aparecido.

Apenas uma coisa me liberta de meus devaneios sobre meu pai. O som de seu navio chegando. Esse som se tornou muito conhecido para mim durante o último ano. Olhei para meu filho dormindo em meus braços enquanto ele acordava.

– Chegou a hora de você conhecer alguém muito especial. - eu disse sorrindo.

– Não imaginava que você ia ser daquelas mães loucas que conversam com os bebês que não entendem nada. - aquela voz conhecida parecia vir por trás de mim. Me virei para encontrá-lo mais uma vez.

– Oi, pai. - eu sorri novamente.

– Olá, Becky. - ele me abraçou forte.

– Cuidado com o Phillip, pai. - eu me livrei do abraço dele.

– Ah. Acho que ainda não o conheço.

– Não. Não o conhece, já que não apareceu nos últimos quatro meses.

– Me desculpe por essa ausência. Mas estive muito ocupado.

– Tudo bem. Eu te perdôo. Enfim, este é o Phillip. Ele é um pouco parecido com você, inclusive.

Meu pai se posicionou atrás de mim para poder observá-lo melhor. Após alguns segundos, ele acabou falando uma besteira, como sempre fazia.

– Claro que ele é parecido comigo. Afinal, ele é lindo.

– Tomara que ele puxe sua modéstia também.

– Claro. Ela é um dos meus maiores atributos.

– Sei.

– Porque Phillip?

– Não sei, pai. Preferia que fosse William Turner IV?

– Deixa pra lá. Tenho só uma pergunta.

– Faça.

– Você está feliz?

– Com certeza, pai. Acho que, apesar de não poder ajudar no navio, nunca estive mais feliz.

– Ótimo. Tenho só uma coisa a lhe dizer agora.

– Seja mais direto, pai. Por favor, conte logo.

– Não poderei mais ficar te visitando tanto assim. Parece que o homem resolveu voltar a se aventurar no mar e, aparentemente, Calipso está de volta em uma pessoa mais maligna de que Elizabeth. Estou sem tempo. Mas fico feliz em saber que vocês estão bem. Posso seguir em frente agora.

– Isso é um adeus?

– Eu diria que é um até logo. Apareço quando puder. Tenho que ir agora.

Ele me beija na testa e passa sua mão pelo rosto de Phillip. Depois, apenas some com seu navio.

Will vem novamente até mim. Finjo estar irritada.

– Você não consegue ficar longe por um segundo, consegue?

– Hey, capitã. Calma. E não. Não consigo ficar longe de vocês. Mas não vim aqui por isso. Queria saber o que ele disse.

– Aparentemente, não tem mais tempo para passar por aqui de vez em quando.

– Isso quer dizer que ele não está nos observando?

– Exato. Acho que já passamos da fase onde ele te observa a cada momento.

– Então acho que já posso fazer isso. - ele me agarrou e me beijou. - E isso. - ele disse, me beijando novamente. - E isso. E isso. - ele continuou me beijando enquanto eu segurava Phillip com força nos braços, com medo de ser tomada por uma fraqueza e deixá-lo cair.

– Por favor, pare Will.

– O que foi? Vai dizer que não está gostando?

– Só um minuto.

Fui correndo para a nossa cabine, onde peguei a cestinha onde Phillip dorme, o coloquei dentro e o levei para perto de onde Will estava.

– Agora sim. - eu digo rindo e o beijando novamente. - Eu te amo, Will!

– Eu te amo, Becky!

Nunca fui daquele tipo de garota fofa que acredita em felizes para sempre, mas, se isso existir, eu estou vivendo o meu.