POV – Nessie

A semana passou rápida e para minha infelicidade o tal dia do noivado veio junto. Não sei o que a pestinha da Yasmim e o Jacob estão aprontando. Hoje eu descubro. Porém não são só eles que escondem algo. Eu preparei uma surpresinha nada agradável para o meu querido noivo. Quero só ver a reação de todos assim que eu aparecer.

Hoje são 17 de março, dia nacional do padroeiro São Patrício, ele que promoveu o cristianismo aqui na Irlanda. Portanto o país parou para comemorar esse dia e conseqüentemente o meu noivado. Data escolhida propositalmente por Tia Alice. Quem mais poderia ser? Ela adora parar a cidade com suas festas. Não sei por que meus pais gastaram tanto dinheiro nesse jantar. Já não bastava o casamento?

Levantei, tomei banho, café e fui andar um pouco pelo jardim, vendo as minhas lindas flores. Deitei no gramado e lembrei-me do dia em que Jacob me beijou, aqui neste mesmo lugar, há quatro anos.

Flash Back on:

Estávamos todos reunidos, inclusive a família Black, comemorando o dia de São Patrício. Quando Jacob e Rafael tiveram a idéia de andarmos pelo jardim. Eu tinha 14 anos nessa época e Jacob 16. No entanto nossos pais aceitaram, pois não viram o tom de malícia por trás das vozes dos meninos.

Então, Letícia, Mariana, Rachel, Jacob e Rafael e eu viemos para o jardim, andamos a cavalo e decidimos descansar um pouco. Mariana e Rafael saíram de mãos dadas conversando. Letícia e Rachel ficaram admirando as flores e só sobraram eu e Jacob. Ele quis me levar para conhecer um ‘lugar mágico’, como ele mesmo dizia, um lugar que somente ele conhecia. E eu fui sem realmente perceber a verdadeira intenção dele.

Realmente, o lugar era lindo, mágico. Uma cachoeira caia ao fundo, o som dos pássaros cantando entrava em perfeita harmonia com o verde das árvores e o colorido das flores.

Ele sentou à beira do rio, em uma pedra mais especificamente, e me puxou junto com ele. Estava girando um trevo de três folhas na mão. Colocou uma mecha que teimava em cair atrás da minha orelha e sorriu. Esse não era o Jacob que gostava de implicar comigo, ele estava mais delicado, mais amigo.

-

 Feliz dia de São Patrício! – falou me entregando o trevo.

[N/A: O trevo de três folhas é um símbolo da Irlanda, onde São Patrício definia que era a santíssima trindade. É gente fic também é cultura e religião :D]

- Obrigado.

Foi chegando mais perto, até sua boca ficar a uma distância mínima da minha. Seus lábios selaram os meus e instintivamente meus olhos se fecharam, ele me beijou de forma delicada, sem agressividade. Eu era totalmente inexperiente em relação a beijos. Ele era o meu primeiro, então não sabia fazer nada direito. Só me deixei ser guiada pelo momento. E foi exatamente o que ele fez. Me guiou. E esse foi o meu primeiro beijo.

Flash Back off

Isso aconteceu há exatamente quatro anos. Parece que foi ontem, lembro-me de cada detalhe perfeitamente. Como já disse, aos outros sustento que não  gostei, que foi horrível e principalmente que foi roubado, mas como podem perceber, não tem nada de forçamento, foi de livre e espontânea vontade. E aqui entre nós, foi ótimo. Ele foi o meu primeiro beijo e até hoje, não beijei mais ninguém. Só que sinceramente, não quero casar-me com ele.

Perdida em pensamentos, nem percebi que o sol já tinha se posto e a noite caia. Levantei-me e entrei. Já estava chegando a hora do meu desgosto. Não era justo o que os meus pais estavam fazendo comigo.

Os criados dançavam para lá e para cá, organizando os últimos detalhes do jantar. Fui até a cozinha para averiguar os pratos, deveria ter preparado um jantar bem gostoso para os meus convidados, com uma pitada de pimenta e um pouco de laxante.

Subi e tomei banho, minha tia Alice tinha comprado um vestido longo lilás, que segundo ela era a cor que Jacob mais gostava em mim. Como ela soube dessa informação eu não sei, mas suponho que tenha um dedo de Yasmim no meio dessa história toda.

Pelo menos o meu último pedido dói atendido, pedi para minha mãe e as demais para vestir-me sozinha, queria que a surpresa fosse geral, inclusive da parte de minha família. Só que meu plano original não era esse. Em vez do vestido lilás, vestiria um vestido preto que chegava até os joelhos. Com certeza seria um choque na família. Onde já se viu um noivado em que a moça veste um vestido preto e ainda por cima até os joelhos?

Com essa atitude tinha esperanças que Jacob ou até mesmo sua família, cancelassem esse ‘trato’ sem pé nem cabeça! Mesmo que minha reputação fosse manchada para sempre e nenhum outro quisesse casar comigo futuramente, eu agüentaria feliz. Porque qualquer coisa, até ficar pra titia, é melhor do que me casar com Jacob Black.

(...)

Eu estava pronta, esperando só a hora em que meus pais vierem anunciar a minha entrada. Sinceramente eu estava muito bem vestida, totalmente elegante, mas digamos que para um enterro. Porque era assim que me sentia, com o pé na entrada da cova. O corpo só entraria assim que aquele bendito anel estivesse sobre o meu dedo anelar da mão direita. E a terra seria jogada daqui a três meses, no dia do casamento.

Jura que ele quer casar em três meses? Que daria tempo para organizar? Tudo bem que quem estaria à frente de tudo seria Tia Alice. Portanto ela nem precisa de um mês, que dirá três! Mais espera aí! Ele só pode ter medo que eu desista ou faça alguma besteira para marcar a data para tão próximo? Depois de hoje, creio que ele nem vai querer ouvir falar meu nome.

(...)

Espiei por sobre a janela da sala de visitas que se vê por completo a sala de recepções. Estava abarrotada de gente, algumas dançando, outras conversando. Mas não encontrei o artista principal. Foi então que meu pai pediu a palavra.

- Boa noite. Agradeço a presença de cada um. Obrigado por estarem presente numa data tão importante para mim e minha família...

Meu pai fez o discurso que ele tanto sonhou e passou a palavra a Billy, que também falou de suas emoções e bla bla bla. Nessa hora Jacob se aproximou de sua família e pelo visto ele parecia bem nervoso. Estava lindo em um terno preto.

-... Esta data significa muito para a família Cullen e Black, uma união que trará futuro para a Irlanda.

Já estava impaciente, queria acabar logo com isso, que coisa chata é ter que esperar para que no fim ele desista de mim, se isso é muito óbvio que aconteça. Porque não jogo tudo pro alto e desisto? Porque sei que minha família não me deixaria em paz. É melhor que seja humilhada na frente de todos, do que ter a fama de fugitiva. Foi então que ouvi meu pai chamar meu nome, era agora!

-... É com muito prazer que chamo a minha filha, meu tesouro. Renesmee Cullen.

Entrei com a minha melhor cara de sínica que já pude fazer. O espanto foi geral. Olhares de reprovação vieram de todos os lados. Cochichos de ‘Ela é louca’; ‘Bella e Edward não merecem a filha que tem’; E outras coisinhas bem mais desagradáveis, mas não me importei, eu já estava preparada para isso. Continuei andando com a cabeça erguida.

Evitei qualquer contato visual com minha família, mas pude ver de canto de olho que eles estavam de boca aberta, totalmente absortos à situação. Do outro lado observei a família Black. Vi que Billy estava à beira de um ataque cardíaco, e Rachel rir disfarçadamente.

Porém o único que eu olhava enquanto andava era ele. E em momento algum desviamos o olhar um do outro. Sua expressão era divertida, e nem um pouco surpresa, ou arrependido como imaginei. Cheguei até sua frente e ele beijou minha mão. Foi então que todos saíram de transe. Meus pais se aproximaram de nós dois, e eu como uma covarde que era, continuei sem encará-los.

- Bem, Jacob Black, eu Edward Cullen entrego a minha filha a você, espero que a faça feliz.

- Obrigado. E fique despreocupado.

Tirou uma caixinha do bolso e virou-se para mim. Fiquei espantada com a sua atitude. Ele ainda ia me querer? Depois de tudo o que eu fiz? Ele só pode ser louco. Não me restou outra opção, a não ser implorar.

- Você ainda vai continuar com isso? Depois de tudo? – falei sussurrando

- Sim.

- Por quê?

- Porque eu não desisto fácil. Sabia que você faria algo, por isso me preparei antes. Sei que gosta de aparecer. – Nossa essa doeu.

- Por favor, desista! Eu lhe imploro você nem gosta de mim.

- E que diferença faz? Você também não gosta de mim. Estamos empatados.

- Por favor?

- Não.

Aqui na Irlanda a tradição é que se o rapaz faz o pedido, a moça não poderá negar.

- Renesmee Cullen. Aceita de casar comigo? – Falou alto dessa vez, para meu total desespero.

...

...

...

- Sim. – Falei com a voz falha por conta das lágrimas que escapavam do meu olho. Porém tenho certeza que ele ouviu. Não só ele, pois a festa que fizeram após isso dói enorme. Não conseguia ouvir nem ver quem estava falando comigo. Só sentia que o braço de Jacob estava em minha volta, me sustentando. Nem me importei em colocar um sorriso no rosto. Só conseguia chorar. Meu plano foi em vão. Planejado com tanto carinho e com a segurança de que ele desistiria. Porém eu estava aqui. Noiva.

Não fiz questão de falar com ninguém, nem a minha família e nem a de ninguém. Só me dei conta de que algo de metal estava entrando no meu dedo. Forcei-me a prestar atenção o máximo que pude. E só consegui absorver que ele me fez uma surpresa que tinha combinado com Yasmim, minha prima.

-...  O verdadeiro amor e amizade são selados com o Claddagh Ring. Este anel místico tem a sua origem há 300 anos atrás numa antiga aldeia de pescadores em Claddagh.  O anel é entregue como um símbolo de amizade ou como anel de noivado.

Todos nos aplaudiram. Estava chorando menos, embora ainda estivesse muito triste. Em nenhum momento dirigi a palavra a Jacob, mas percebia ele me olhando. Nem meu pai e nem minha mãe tocaram no assunto vestido, mas disseram-me que mais tarde conversaríamos. O jantar saiu perfeito, sem nenhum escândalo de minha parte. Estava debilitada demais para sequer falar algo. Todos foram embora, me despedi da família Black e subi sem nem ao menos falar com meus parentes, com eles me entendo depois. Provavelmente ficarei de castigo até a eternidade. Ou melhor, até que me torne uma Black!