Camélias escrita por My Dark Side


Capítulo 7
Você tem medo?


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem com vocês, bruxinhos e bruxinhas?

Demorei um pouco mais que imaginava, a culpa seria do livro de poções — somado a falta de criatividade. Aqui iremos terminar o primeiro ano de Camillë, então aproveitem bastante o capítulo!
O que há de especial para se dizer...
Sei que ainda não é o final da história, mas nos dois anos que estou escrevendo-a é a primeira vez que finalmente consegui finalizar o primeiro ano da Camil, reescrevi os capítulos duas ou três vezes após postá-los porque simplesmente não tinha conseguido escrever do modo que eu queria, era difícil passar o que estava em mente para o papel. Fiz vários rascunhos, organizei os personagens, mas o tempo que fiquei sem me focar nesta história especialmente não foi em vão. Eu amadureci a escrita, consegui melhorar o enredo — na minha opinião — além disso, se eu não tivesse esperado poderia não conhecer os leitores maravilhosos que me ajudaram a ter ainda mais ideias e melhorar os aspectos da história. Agora além dos três principais (o terceiro vai aparecer no próximo ano), temos secundários incríveis que no desenvolver podem até mesmo roubar o holofote para eles. Eu quero agradecer aos leitores que acompanham desde o começo, aos novos, aos fantasmas, todos são de extrema importância.
Obrigada.
E boa leitura!



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— Mimillê Mimillê Mimillê. — Gio chamou, ergui os olhos do pergaminho.

— O que foi, Vavanni? — ele sorriu com malícia, estava escrito na testa que tinha aprontado alguma coisa.

— Eu preciso te mostrar uma coisa. Vem comigo rapidinho. — sussurrou apressado. — Por favor.

Suspirei e li novamente a última frase que eu tinha escrito no trabalho, tentando encontrar alguma coisa, pequenina que fosse para que pudesse completar as linhas. Por que poções tem que ser um assunto tão complicado?

— Mimillê, por favor...

— Você fala a mesma coisa faz dias, e quando eu chego lá não acontece nada! — expliquei. — Eu realmente preciso terminar esse trabalho, é para semana que vem. — sem falar que eu prometi para a vovó que focaria mais em não deixar as tarefas acumularem.

— Se não ser certo, eu paro de insistir. É a última vez. — ele se apoiou nos cotovelos e se inclinou para perto de mim. — Millè?

Levantei sem olhar para ele, mas sabia que estava quase pulando de alegria. Segui sem falar nada até uma mesa nos fundos da biblioteca na qual tinha apenas uma única pena sobre. Fechei os olhos cansada, esperando ele aprontar o ‘show’. Ele esfregou as mãos e chamou, estava brilhando de alegria. Se distanciou da mesa um pouco e esticou a mão na direção do objeto.

Wingardium Leviosa.

Arregalei os olhos quando vi a pena levantar, ele estava fazendo feitiços sem varinha. Igual ao que a professora Flyart de feitiços fazia de vez em quando, na hora de entregar provas e atividades, resultados e explicações no pergaminho. Ela só tinha feito isso algumas vezes, só notei que ela não usava a varinha porque Gio chamou a minha atenção para isso e continuou insistindo que nós também tínhamos que conseguir fazer magia só com as mãos.

Acho que ele também tentou influenciar Derek com essa ideia, mas... nunca daria certo. É quase como conversar com um muro.

— Gio... — comecei a falar, andando devagar até ele. — Para com isso. — pedi. — Nós não podemos ficar sem usar a varinha.

Eu nem lembrava mais se tinha sido sonho ou realidade, mas... Lembrava de ter acordado na Madame Pomfrey sem motivo algum, muito enjoada e tonta, tanto que fiquei alguns dias lá sem sair da cama. Fazia muito tempo que eu não tinha ficado tão doente assim, tanto que eu lembro de ouvir a voz da vovó em uma das noites, ela ficou do meu lado fazendo carinho na minha cabeça e sussurrando que tudo ficaria bem. Eu não lembrava o motivo de ter ido parar lá, mas depois o Twwik me explicou que foi porque eu usei uma magia forte sem a varinha, por reflexo.

Ficar sem a varinha é perigoso.

— Millè, isso não é incrível? — perguntou depois com a pena em mãos. — Nós não precisamos ficar presos a coisas... — ele se interrompeu, os olhos cinzas estavam me fitando. — Desculpe, eu só queria te mostrar.

— Vamos voltar a resolver a tarefa, por favor. — virei, mas antes que pudesse dar um passo, pensei melhor e complementei: — Parabéns.

— O-obrigado! — ele gaguejou, meio rindo e constrangido, isso me fez sorrir.

Voltamos para a mesa, ele se enfiou nos livros de transfiguração, enquanto eu tinha que procurar a história sobre a poção Esquelesce. O professor Slughorn gostava de pedir a origem de diferentes poções para cada aluno, quando encontravam pessoas que tinham a mesma pesquisa, se juntavam para fazer o trabalho. Normalmente, eu evitava fazer isso, porque eu e Gio decidimos que os trabalhos nós tentaremos sempre fazer juntos na biblioteca. De vez em quando Derek, Bianca ou até mesmo Maureann se juntavam e fazíamos todos os trabalhos pendentes durante o final de semana.

Isso me faz lembrar do primeiro trabalho em dupla que fiz com Reen, eu me senti péssima por nunca ter notado que eu estava sempre falando o nome dela errado: Maureen ao invés de Maureann. Ela disse que não tinha problema, até preferia o apelido Reen ao invés de Mau. Eu sei como é chato ser chamada por um nome quando na realidade tem outro, o meu problema é que poucas pessoas conseguem falar da maneira correta o “ë”.

— Já imaginou se tornar um animago? Quão legal deve ser isso? — Gio comentou virando as páginas do livro.

— Bastante, mas prefiro continuar mexendo com as poções. — estiquei o pescoço e li o passo a passo para preparar a Esquelesce. — Onde será que eu consigo encontrar quem fez...

— Não sei não. — ele olhou por cima do ombro para madame Pince. — Acho que conseguimos fazendo um accio. — revirei os olhos.

— Não é todo mundo que já sabe fazer feitiços assim, tracinha. — levantei e fui para a sessão dos livros de poções.

— Se não conseguir encontrar um pode perguntar para o diretor Snape. — Gio comentou enquanto fazia aviões de papel e os jogava no ar, mandando mensagens para seus amigos que estavam espalhados no castelo. — Só tem que arranjar uma confusão...

— Grande o suficiente para ir na diretoria. — terminamos em simultaneamente. — Não quero ir para lá mais uma vez. Vovó disse que se eu receber a quarta detenção nesse ano ainda ela vai me forçar a ir para casa nos feriados até o sétimo ano.

— Que coisa... Podia então só pedir a senha. Uma pena que não é mais o Dumbledore, seria mais fácil. Só teríamos que falar todos os doces do mundo bruxo até achar o certo. — ele se levantou e parou do meu lado. — Aquele livro ali que eu usei para a minha tarefa de casa, deve ter da sua também.

— Por isso você queria usar o feitiço? — arqueei as sobrancelhas vendo que estava em uma das prateleiras mais altas.

— Oui.

Bati a varinha do lado do corpo decidindo se faria isso ou não, no fim acabei desistindo e fiz o Wingardium Leviosa. Era um livro gigantesco, quando segurei, quase caí no chão, Gio e eu tivemos que dividir o peso, carregando juntos. Mas realmente, tinha muita informação ali, desde o preparo para as poções até suas origens e os nomes dos criadores. Ele passou a mão no queixo, limpando alguma coisa, franzi o cenho.

— Limpa a baba.

— Só porque eu sou da Lufa-Lufa não quer dizer que eu vou aturar as suas gracinhas. — rosnei.

— Nunca disse isso, Mimillè.

— Para a sua informação, poções é a melhor matéria. — resmunguei virando as páginas amareladas e enrugadas. — Como você encontrou esse livro?

— Segunda detenção, sala da Diretora, pensando alto sobre poções e suas propriedades mágicas... — bufei quando percebi a mentira. — Meu pai tem um desses.

A segunda detenção dele foi a minha terceira, nós fomos juntos para a sala da diretora. Tudo bem que isso aconteceu mês passado, mas não fazia sentido ele já ter esquecido. Quando a vovó soube que eu fiquei de detenção ela mandou um berrador. Ela não escreveu muita coisa, mas foi o suficiente para todos os alunos que estavam no Salão Principal descobrissem que nem todos os lufanos são santos. Twwik me ajudou a descobrir que estavam usando a “menina de cabeça vermelha” como exemplo nas discussões sobre as características das casas, não era culpa minha: as primeiras duas detenções recebi simplesmente por ficar no meu canto e não causar conflito.

Claro que na aula de herbologia a Maureann tinha que mexer nas coisas enquanto o professor estava explicando, era um dia escuro e ela abriu um jarro que tinha visgo do diabo sem querer. Durante a aula um inteligente derrubou fertilizante e como eu estava mais próxima do garoto que foi atacado recebi a culpa, não me esforcei para tirá-lo de lá porque fazia algumas semanas que ele estava me irritando sem parar, não por falar de mim: ele simplesmente amava reclamar dos sonserinos e falar que tinham alguns lufanos que não prestavam para nada — referindo-se a Bianca pelo modo que olhou para ela. Eu fingi não conhecer o feitiço, o que não era uma coisa fora do comum tendo em mente que nós não aprenderemos o Lumus Solem até depois das férias de páscoa.

Já a segunda detenção, foi porque a Reen discutiu com alguns colegas, e os sussurros não eram nada discretos, nós estávamos a duas fileiras de distância e conseguíamos entender tudo. Ela foi ficando vermelha, vermelha, até que chegou um ponto em que ela simplesmente desistiu, pegou a varinha e azarou os coitados. Eu levantei num pulo para fazer o feitiço reverso, mas foi tarde demais. O professor Slughorn já tinha visto e mandou nós duas para a diretora, depois de tirar cinquenta pontos de cada casa. Tivemos que organizar os ingredientes do professor nas prateleiras, em ordem alfabética e depois entregar uma carta nos desculpando.

A terceira foi meio que culpa minha — na verdade foi Twwik, mas ele é minha responsabilidade, então... —, era aula de feitiços. Eu não notei que ele tinha sumido até ouvir a voz esganiçada dele nas fileiras da frente, ele estava pulando na mesa do professor Flitwick e bagunçando todos os papéis, a aula ainda não tinha começado e Gio viu o meu desespero na hora. Ele estava tentando ajudar a arrumar tudo quando uma aluna entrou dizendo para o professor que nós tínhamos bagunçado tudo. O que era mentira, estávamos tentando arrumar. Depois que saí da sala da diretora (com os ouvidos doendo) quase joguei Twwik para o lago, ao invés disso pedi para Nox levar ele para a casa da vovó e não trazer até a próxima semana.

Nessa próxima semana o berrador veio junto. Foi uma maravilha.

Índice.

Finalmente, agora falta encontrar a poção.

Esquelesce – página 394.

Esta poção foi criada por Linfred de Stinchcombe — também conhecido futuramente como o pai da família Potter. O uso desta poção faz com que ossos partidos, quebrados e até mesmo desaparecidos sejam regenerados, o que de acordo com a biólogos nascidos trouxa é impossível de acontecer naturalmente, tendo em vista que os osteoblastos não tem um índice de regeneração elevado, sua recuperação é extremamente lenta e, por vezes, não é efetiva suficientemente para o acidentado retomar atividades rotineiras anterior ao acidente.

A poção Esquelesce é uma revolução para a medicina bruxa, em questão de dias um osso irrecuperável estará novo em folha. Obviamente seus efeitos colaterais quando usada de maneira inconsequente podem incluir ossos extras, alongamento dos membros, dores musculares, nos piores casos podem ocorrer mutações irreparáveis.

[...]

Quando terminei de escrever a pesquisa, fechei o livro e olhei para Gio, ele estava dormindo, sorri e procurei pela lista das “Tarefas por Fazer”. Faltava a pesquisa de Transfiguração, o trabalho de feitiços que a professora Flyart passou e... Mais nada. Maravilhoso.

Alguns dos aviões de papel que ele fez já estavam voltando e pousando do lado dele na mesa, eu não sabia como ele conseguiu encontrar esse feitiço. Meu pai contou que no Ministério da Magia tinham vários desses, levando documentos, bilhetes, informações e ordens, fazia algum tempo, mas imaginava que continuasse o mesmo, eu realmente gostaria de vê-los voando no salão.

Tarefa de Tranfiguração:

— Fósforos tem que virar agulhas: trazer a caixa que foi entregada semana passada

Ps: nova atividade durante a aula, não se surpreenda.

Mordi os lábios e balancei a cabeça quase chorando, era horrível fazer transfiguração, você tinha que pensar, concentrar e moldar o objeto lentamente com a sua mente. Pensar no material lentamente se transformando em outro, afinando, alongando, encolhendo. Joguei a cabeça para trás depois de ver que tinha que transformar vinte. vinte, benditos fósforos em agulha.

Tarefa de Feitiços:

— Treinar Wingardium Leviosa, Accio e Flipendo. Demonstração na sala de aula na semana que vem.

Oh. Acho que eu tinha esquecido deste pequeno detalhe, eu realmente precisava treinar os feitiços, apesar de alegarem que eu usei o Flipendo extremamente bem quando derrubei as coisas da mesa do professor. Acho que é melhor eu e Gio irmos para a outra sala para fazer essa tarefa, não é muito útil na biblioteca, pode ser barulhenta. Além do mais, podemos perder mais pontos, não que eu me preocupe, simplesmente não gosto de ser a causa de perda de pontos, não sou desesperada para consegui-los também.

Olhei para o relógio na parede, faltavam três horas para o jantar, eu tinha pelo menos que terminar com os fósforos, os feitiços eu treino amanhã. Girei a varinha nos dedos e apontei para o primeiro, murmurando o feitiço e o que eu queria que acontecesse. O primeiro passo foi trocar o material, o fósforo foi adquirindo lentamente a cor prateada metálica, então moldei a cabeça para que ficasse mais alongada e com o furo para a linha. Prendi a respiração conforme chegava na hora de encolher, no momento que vi que era uma agulha soltei o ar e abaixei a varinha. Segurei com a ponta dos dedos e espetei, quando a gota de sangue saiu percebi que estava perfeito.

— Obrigada, Morgana. — falei com as mãos juntas enquanto olhava para o teto aliviada.

Faltavam dezenove agulhas, duas horas e cinquenta minutos. Acho que eu conseguiria se ficasse concentrada, só tinha que esquecer o que estava a minha volta e focar na tarefa. Queria que fosse fácil como poções.

Quando terminei a última agulha o sol já tinha abaixado e as velas estavam todas acesas. Acordei Gio e nós subimos para o Salão Principal, ele me contou no caminho sobre o sonho que teve durante o cochilo, ele falou que nunca tinha sentido algo tão real acontecer dentro de um sonho, se é que foi isso mesmo, porque ele acreditava que podíamos ter visões do futuro e agouros. Até mesmo podíamos encontrar pessoas que foram importantes em nossas vidas passadas, ou ver histórias que explicarão as perguntas que mais ficam na nossa cabeça.

— Tinha uma criança no meu sonho, ela parecia ser um pouco mais nova que a gente... Eu senti muito orgulho quando olhava para ela, parecia que meu coração estava no céu, sabe? Aquela vontade de erguer a cabeça e sorrir para todos mostrando o que sente.

— Legal. — falei, mas realmente eu não entendia direito o que ele queria dizer. — O que aconteceu? Como ela era?

— Ela.. estava fazendo feitiços com as mãos, parecia ser os primeiros sinais de magia. Sabia que alguma coisa estava acontecendo, mas não sabia o que. Acho que era cega. — ele disse como se fosse uma realização. — Ela virou para mim no sonho e... “Papai, isso é magia? ”, eu sei que não pode ser eu, mas parecia que ele estava falando comigo. Os olhos dele eram azuis, mas opacos. Eu lembro só isso.

Hum... franzi as sobrancelhas, alguma coisa aí estava soando familiar.

— Eu acho que já sonhei com essa criança! — exclamei lembrando vagamente do sonho estranho que tive há algumas semanas. — Ela estava me pedindo para ir ajudar o pai dela.

 Ele arregalou os olhos, pareciam pedras no lago num dia de sol, lentamente Gio abriu um sorriso gigantesco e agarrou o meu braço.

— Será que é um sinal? Por acaso ele te chamou de mamãe?

Pisquei os olhos sem entender, arregalei os olhos e minha boca ficou entreaberta de surpresa, mas logo fiquei envergonhada e corada, senti o sangue correndo para as bochechas.

— Se-seu... Seu bobo! — gritei e corri para o Salão Principal.

Quando cheguei na porta e vi todos comendo senti meu estômago embrulhar. Eu não queria comer, ainda mais depois de uma coisa dessas, mas que vergonha! Virei nos calcanhares e caminhei para os jardins, talvez uma caminhada até o corujal ajudasse a fazer isso passar. Ou...

O lago chamou a minha atenção por algum motivo, acabei vendo um sereiano acenar do píer e me chamar. Encarei-o por alguns segundos, decidi ir no final das contas, não estia perdendo nada mesmo, sem falar que era mais perto do castelo que o corujal — o qual ficava do outro lado das terras, nós tínhamos que descer e subir muitas escadas para chegar lá.

Os degraus eram largos e feito de pedra, eu dava um passo em cada um antes que pudesse descer para o outro, o som do sapato batendo na pedra era abafado, mal conseguia ouvi-lo, mas ainda assim... O sereiano colocou as garras no píer e se ergueu, balançando a cauda impacientemente, seus olhos eram grandes e a pele esverdeada de longe. Quando pisei no píer a madeira rangeu, o que me levou a olhar para o lago e pensar em voltar. Coloquei as mãos no peito tentando controlar a respiração, mas eu não conseguia, voltei para a grama correndo e fiquei lá. Por um momento eu quase tinha esquecido que era o lago, quase esqueci o que podem ter dentro deles nas profundezas e como a água pode te sufocar, matar. Ela deixa o seu corpo pesado e os movimentos lentos, se algo vier na sua direção é bem mais difícil escapar.

— Você tem medo? — a voz aguda e seca chegou aos meus ouvidos, levantei o rosto e a vi subindo na areia, arrastando seu corpo até onde as ondinhas chegavam. — Venha cá, só desejo conversar.

Agachei na beirada da grama, há alguns passos da sereiana. Ela apoiou o queixo sobre as mãos, elas eram finas longas e seus dedos tinham unhas afiadas, uma pele bem fina unia os dedos dela — essa era mais clara que a pele.

— Você pode ficar fora d’água? — perguntei depois de alguns segundos.

— Um pouco, venho me preparando para isso faz algum tempo, já que não pude fazer o mesmo com o meu filho. Ele sempre me perguntou o porquê de eu nunca ter vindo falar com ele, sendo que eram apenas algumas horas de viagem. — a voz dela saiu rouca, ela engoliu. — Ele queria que eu te ajudasse.

— Seu filho...? Por que?

— Ele é seu guardião. — ela disse como se fosse óbvio. — Você ia no lago com ele no verão quando menor.

— Papai. — murmurei.

— Sim, ele disse que você o chamava assim, pouco antes de sair pela última vez. — eu conseguia ouvir a respiração dela ficar mais difícil. — É... Dê-me um minuto.

Ela voltou para dentro do lago, eu via algumas bolhas subindo numa trilha se afastando.

— Millè! — ouvi a voz de Gio, virei assustada, ele descia as escadas correndo, tropeçando no último degrau e caiu na grama. — Millè! Me desculpe, por favor, eu não queria fazer aquilo, saiu sem pensar. Eu sou um bobo idiota, que foi uma brincadeira de muito mal gosto, muito mesmo, eu sei disso. Foi a primeira coisa que eu pensei, e saiu antes que eu pudesse segurar. Porque você falou que a criança me chamou de papai também, você disse que era a mesma criança e se era a mesma criança acho que tinha chances de você ser a mamãe também, já que precisa do papai e da mamãe para ter criança, e eu sei disso porque o Gabi falou, mas eu também sei que podem ter duas mamãe, dois papais, ou só um dos dois, de vez quando nenhum e

— Para, para, para! Calma, respira. — balancei as mãos como a o professor de DCAT quando queria terminar algo, só que mais rápido e várias vezes seguidas; minhas bochechas ficaram quentes de novo, mas por um motivo diferente, nunca vi alguém ficar tão desesperado para pedir desculpas para mim. — Melhor? — ele concordou, mas caiu no chão, colocando a testa nas mãos.

— Perdão! — nesse momento eu percebi que ele estava tremendo.

— Gio? Giovanni, por que você está tremendo? — toquei nos ombros dele, ele levantou o rosto, estava com os olhos apavorados e parecia estar quase chorando. — Gio! — abracei ele, o tremor passava para mim de tão intenso. — Não precisa ficar assim, está tudo bem. Tudo bem mesmo, eu desculpo você, só não fica assim. — ele também me abraçou e colocou a cabeça no meu ombro, seus dedos agarraram as costas do meu casaco.

Je suis idiot.

Olhei para o lago novamente, a sereiana estava distante nos encarando, seus olhos estavam arregalados — não sabia que olhos de peixe conseguiam ficar ainda mais esbugalhados. Ela acenou e sacudiu a mão, mandando eu ir para o castelo.

— Gio? Vamos jantar? Ou você não quer?

— Pode ser... — ele se desculpou novamente depois de levantarmos, o joelho dele estava ralado.

— Toma cuidado da próxima vez, tá bem?

— Oui. Quer dizer, sim. Sim, eu vou tomar cuidado. — ele estava andando sem focar nas coisas, alguma coisa...

— Giovanni Florence Lelly, o que está acontecendo com você? Quer ir para a Ala Hosbitalar? — paramos dentro do salão de retratos que ficava ao lado do Salão, os bruxos conversavam entre si, mas alguns pararam para nos observar, encarei os que fizeram e arqueei as sobrancelhas, eles viraram como se o gesto não tivesse sido para eles. — Gio, fala a verdade, alguma coisa aconteceu?

Ele engoliu em seco, sua franja já estava cobrindo os olhos, por isso não conseguia saber o que ele estava sentindo direito.

— Meus pais mandaram uma carta. Eles querem que eu vá para casa no feriado. — disse finalmente, o que me fez suspirar.

— Isso depende de você. Quer ir?

— É... complicado.

— As coisas só são complicadas quando vemos elas desse jeito. Podem ser mais simples. Você tem uma semana para pensar ainda. — confortei-o. — Agora vamos jantar, pelo amor de Potter, porque eu estou morrendo de fome, está bem?

Ele levantou a cabeça assustado, sua expressão estava confusa, as sobrancelhas quase se encostavam, quando ele entendeu o que eu disse soltou uma risada aguda que depois se transformou na típica abafada que ele dava. Era estranha e me fez rir também, ele soluçava enquanto ria e cada soluço fazia a nossa crise piorar.

— Agora vamos logo senão o jantar vai acabar. — ele respirou fundo e estendeu a mão. — Tudo bem, então?

— Tudo ótimo.

— Por enquanto. — assobiou um quadro de uma bruxa de olhos vendados e lábios azulados. — Por enquanto...


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo?
Especialmente eu não tenho ideia de que tarefas colocar para Feitiços e Transfiguração — ideias são bem vindas. Além disso, o artigo "The Potter Family" no Pottermore foi usado como inspiração para o texto do livro que a Cami usou como pesquisa.
Queria saber se vocês tem alguma ideia do que vai acontecer ou algumas observações sobre o capítulo, caso tenham encontrado algum erro também me avisem.
Até o próximo!



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