Camélias escrita por My Dark Side


Capítulo 5
Texuguinha


Notas iniciais do capítulo

Demorei? Demorei. Sinto muito? Yep.

Como prometido, a história estará terminada até o ano que vem, isso irei cumprir de pés juntos. Pela demora, o capítulo é ligeiramente mais longo (foi reescrito umas boas vezes antes de sair assim) e teremos mais aulas.

Teremos Astronomia, Herbologia, DCAT, Poções e Educação Física!
Vejo vocês lá embaixo bruxinhos e bruxinhas!

Capítulo para a leitora Shalashaska! Obrigada por ajudar tanto.



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As estrelas estavam brilhando forte na primeira aula de astronomia. A professora pediu para que ficássemos acordados o máximo que pudéssemos, já que é difícil conseguir uma noite tão bonita para a aula. E como era a primeira, alguns realmente estavam morrendo de sono, a professora foi boa o suficiente para deixar os mais cansados dormirem perto das paredes da sala, até conjurou um manto para eles usarem! Achei isso muito bom. Dos vinte alunos que foram na aula, só três dormiram, dois meninos da Lufa-Lufa e uma garota da Corvinal.

A professora apontou as constelações que podíamos ver daquele lugar, disse o nome das estrelas e algumas histórias sobre cada uma delas. Explicou como as estrelas são sábias e conhecem tudo e todos.

— O céu é infinito, meus queridos. — ela disse com um suspiro. — E vocês também são assim, não deixem pessoas convencê-los do contrário.

No dia seguinte tivemos nossa primeira aula prática de herbologia, se tivéssemos vindo ano passado teríamos aula com a antiga diretora da Lufa-Lufa, a professora Sprout, disseram que ela parecia uma vovó muito simpática, um pouco baixinha e gordinha com o sorriso grande e abraço caloroso. Esse ano era o Neville, amigo do menino que sobreviveu. Ele contou um pouco sobre como ele era na escola e depois decidiu que era a nossa hora de lidarmos com plantas. Fomos levados ao jardim para plantar algumas abutuas.

Ficar de joelhos e mexer na terra era muito bom, eu sempre gostei de cuidar do jardim junto do papai, ele plantava várias flores para deixar a mamãe feliz. As favoritas dele eram as camélias, várias cores diferentes e todos os anos ele se esforçava para que elas sobrevivessem a todas as estações daquele ano. Especialmente o inverno, ele tentou usar magia algumas vezes para que elas continuassem floridas mesmo com a neve. Hoje tendo que cuidar novamente desses seres incríveis, me senti em casa. Alguns grifinórios fizeram muita bagunça quando cavaram os buracos: fizeram uma guerra de terra. Os outros colegas da minha casa riram, a Bianca ficou sorrindo só de ouvir a bagunça, muito concentrada na tarefa que o professor tinha passado para a gente.

— Crianças, parem com isso. Vão ter que tomar banho com a Lula Gigante se quiserem entrar no castelo de novo. — o professor Neville cruzou os braços. — Querem que isso aconteça?

— Tem mesmo uma lula gigante no lago?

— Eu achei que era uma coisa que a mamãe tinha falado de brincadeira.

— Eu quero ver a lula! — um menino de gravata vermelha gritou, seu rosto estava todo sujo de terra, até o cabelo tinha algumas folhas da grama. — Posso ir tomar banho lá?

Eu podia ver o professor pedir ajuda a Merlin, ele devia estar vendo que fez a bagunça se tornar ainda maior. Ele fitou o nada por algum tempo até abrir a boca e soltar a maior bomba que fez todos arregalarem os olhos e prestarem muita atenção mesmo na tarefa.

— Se não fizerem como eu pedir, vou chamar a diretora McGonagall e ela vai mandar vocês tomarem um banho e irem de volta para o trem.

Ele estava feliz por ver que tinha funcionado, mas eu também fiquei com um pouco de medo então fiquei cuidando das plantinhas, enquanto isso a Maureen foi desesperada fazer a tarefa, ela era uma das mais sujas de todas. Foi bem engraçado de ver todo mundo se debatendo, mas logo todos se ajudaram, foi muito legal. Acho que a aula com o professor Longbottom vai ser uma das mais divertidas de Hogwarts! Junto da professora Flyart de feitiços.

Isso é uma coisa que me chamou muita a atenção, a professora assistente tanto de feitiços quanto de transfiguração tem o mesmo sobrenome, mas elas não parecem ser parentes tipo irmãs ou primas. Não é só porque a pele delas é diferente, mas... eu não sei ainda, alguma coisa é diferente de ser irmão.

— Como tarefa de casa vocês vão ter que escolher uma planta e escreverem vinte centímetros do pergaminho sobre elas e suas propriedades mágicas, entendido? Quero pronto para a próxima aula.

— Mas, professor! — vários reclamaram. — Como nós vamos fazer isso em uma semana? — questionou um ruivo da Grifinória.

— Na verdade, vocês terão o fim de semana. É bom começar logo. Tarefas de casa são muito importantes, vocês podem pegar um livro na biblioteca se quiserem pesquisar algo, eles ajudam bastante. — ele pareceu pensar um pouco e fez um feitiço em todos os aluno, nós ficamos limpinhos em folha. — Não contem para ninguém, esse é o nosso segredo, está bem? — ele piscou, a voz risonha. Deu as costas e voltou para a estufa.

— Eu amo o professor Neville! — Maureen comemorou entrando no castelo. — Ele é superdivertido, muito encantador e ainda mais engraçado! Imagina se ele se torna o diretor da casa da Grifinória! Eu ouvi dizer que ele já segurou a espada verdadeira de Godric Grifinória!

— Eu acho que ele é o diretor da casa da Grifinória, já que a professora McGonagall se tornou diretora e ela não pode mais exercer o cargo de diretora da casa, acredito que ela tenha passado essa profissão para o professor Longbottom, Maureen.

— Não tinha pensado nisso... — comentou sonhadora. — Agora eu gosto dele ainda mais! Sabia que ele é marido da dona do Caldeirão Furado? Eu conheci ele lá no verão, minha tia trabalha lá, ela disse que é muito legal, conhece várias pessoas peculiares.

— O que significa peculiar? — fiquei curiosa, essa palavra era diferente.

— Acho que significa um estranho bom, alguma coisa diferente do normal.

— Como extraordinário?

— Acho que sim.

— Já pensou se todos os nossos amigos tivessem coisas peculiares sobre cada um deles.

— Todas as pessoas peculiares já foram crianças em algum momento! É só pensar no Ted Lupin, ele é como a gente, mas o cabelo dele muda de cor! É muito divertido. Além disso, ele tem uma namorada que é super gente boa. Ela é uma Weasley! Tem ideia do quanto isso é bacana? O afilhado e a sobrinha de Harry Potter namorando, imagina o casamento! — ela falava quase eufórica andando rápido na minha frente, franzi as sobrancelhas e toquei levemente em seu braço.

— Quem é Ted?

Ela se virou para mim e seu silêncio fez a temperatura baixar de tão chocada que ela ficou.

— Ted, o Teddy, você nunca ouviu falar dele? — neguei balançando a cabeça, Maureen ficou abismada. — Ele é da Grifinória e está no quarto ano, ele é filho de um antigo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o professor Lupin. Alguém que por acaso era lobisomem, ele e a esposa morreram na batalha de Hogwarts. Sei de tudo isso porque o papai é auror. — completou orgulhosa. — A mãe do Teddy era uma metamorfogo, por isso ele é assim.

— O que é um auror?

— É a pessoa que protege o mundo bruxo, a mamãe fica preocupada porque o papai gosta de ir em coisas perigosas, mas eu acho que ele faz coisas muito importantes de verdade. Você tem que ir para a aula de História da Magia, não é?

— Tenho sim, a gente se fala no almoço!

Quase cheguei atrasada na aula. Ninguém vai acreditar se eu disser que já tinha gente dormindo! Eu peguei o pergaminho e fiquei desenhando quando o sono se aproximava, mas ao mesmo tempo eu tentei anotar tudo que o professor leu, não podia ir mal nas provas, não é? Já imaginou se acontece alguma coisa e o professor acorda e decide dar prova surpresa? Vai ser o terror no dia, ninguém vai lembrar nada!

— Camillë? — Bianca chamou com um murmúrio. — Posso sentar do seu lado?

— Sem problemas. — escorreguei dando espaço para ela. — Gostou da aula de Herbologia?

— Muito. — os olhos dela brilharam. — Eu preciso da sua ajuda com uma coisa, eu fique perdida durante a aula de poções, mas eu vi que você é boa nela. Pode me ajudar? Eu não entendo mais o que o Slughorn fala.

— Ajudo sem problema algum.

— E ele passou aquele trabalho para semana que vem em dupla, você me ajuda? — seus olhos pareciam de bonecas.

— Podemos fazer juntas.

Vovó disse que fazer amigos na escola seria muito bom! Eu poderia fazer vários, mas a mamãe olhou feio quando ouviu isso, a mamãe já não gosta que eu seja amiga da Lucia, imagina se ela souber que eu fiz mais amigos? Acho que vou mandar a carta falando tudo só para a vovó.

— Senhor Binns, pode nos explicar sobre os duendes de novo?

— Ah, claro! Os duendes iniciaram a revolta pelo seguinte motivo...

Eu e Bianca ficamos focadas na aula anotando tudo correndo, o professor Binns falava tanto, mas tanto que toda a nossa mão ficou manchada de tinta, depois tivemos que correr para a próxima aula com as mãos sujas mesmo.

— Vejo que todos estão aqui. Maravilha. — ele iniciou a aula com um sorriso muito estranho, parecia estar pensando em alguma ciosa ruim. — Que tal começarmos com uma história sobre a Guerra Bruxa? Eu posso falar todos os usos da magia defensiva e então, nós começamos a treinar.

Um aluno da Corvinal levantou o braço.

— Sim, senhor Raisen?

— Nós não iríamos só aprender a magia defensiva no quarto ano? — questionou.

— Na época em que estudei, alunos começaram a ter magia defensiva no segundo ano por causa de um incidente que quase nos custou vidas, sabiam disso? Por isso gastarei algumas aulas explicando sobre a história de Voldemort e a guerra que ele causou.

— Ele disse o nome.

— É o nome daquele-que-não-pode-ser-nomeado!

— O nome de Você-Sabe-Quem!

Os murmúrios surgiram como um enxame de abelhas, o professor pareceu ficar bem irritado com o isso, o rosto dele ficou igual a quem chupou limão, depois ele bateu palmas para chamar a atenção de todos.

— Vocês podem falar o que quiserem quando estiverem fora da sala de aula. Eu gostaria de contar a história de como Você Sabe Quem caiu durante a primeira guerra. — quando percebeu que os murmúrios continuaram ele fechou os olhos respirando fundo. — Abra-cadabra.

Um pássaro azulado saiu da varinha dele e voou por nós, deixando um rastro esfumaçado por onde passou, o corpo parecia com uma cobra, mas certamente era um pássaro. Planou na frente de todos, tão perto que alguns até gritaram com medo, eu senti vontade de tocá-lo, o corpo era tão longo, quase do tamanho das mesas. Arregalei os olhos, era incrível e muito lindo, o modo como ele se contorcia no ar, hipnotizava como as danças de cobras. O animal voou mais uma vez pela sala e desapareceu no ar.

— Uou. — ouvi um menino falando atônito.

— Sim, menina? — o professor perguntou apontando para mim, nem notei que tinha levantado a mão de tão avoada que eu fiquei.

— Qual feitiço você usou, professor? — perguntei, ele se apoiou na mesa com as duas mãos para trás, o corpo magro curvando para a frente.

— Seu nome é...

— Camillë Duff, senhor. — me endireitei e mantive o queixo longe do pescoço. — Você murmurou “Abracadabra”, mas esse é uma palavra que trouxas associam a magia.

— É nascida trouxa? — neguei. — Muito bem. Sim, apesar de ter falado esse foi um feitiço silencioso, um poderoso feitiço de proteção que quando um bruxo muito experiente consegue realiza-lo pode tomar a forma corpórea. Algum de vocês sabe que animal foi este que vimos?

— Um occami! — o garoto Raisen respondeu de novo.

— Exatamente. São criaturas como ele que estudaremos ao longo do ano. Suponho que todos tenham seu livro dos “Animais Fantásticos e seu Hábitat”, escrito pelo notório Newt Scamander. Tirem-no da mochila e abram na letra A. — ele pegou o próprio volume, mais gasto que o nosso e começou a ler distraidamente. — Creio que o primeiro de nossa lista seja a acromântula. Essa criatura tem a maior classificação, isso quer dizer que mata bruxos e é impossível de ser domesticar. A acromântula originária da ilha asiática Bornéu, é uma aranha gigantesca que possui a habilidade de comunicar-se com a linguagem humana. É carnívora e prefere presas de grande porte, muitas vezes ela po-

— Ah!! — uma garota da primeira fileira gritou se empurrando para cima de sua dupla, então nós vimos a pata de aranha gigante subir na mesa, ela era maior que nós.

Senti um nó no meu estômago e minha boca ficou seca, o bicho encarou a turma com os oito olhos brilhando como obsidianas, nos analisando, nos caçando. O professor apenas suspirou, sem desviar os olhos da página em que estava.

— Podem colocar até cem ovos de uma vez, esses são brancos e macios, classificados pelo Departamento para Regulação e Controle das Criaturas Mágicas como Artigos Não Colecionáveis Classe-A. — o professor continuou, sem estar perturbado. — A importação ou venda destes ovos é punida com severidade. É possível que, há muitos anos, um bruxo tenha desenvolvido esta criatura a fim de proteger sua casa e tesouros. Apesar da imensa inteligência, este animal não é treinável, oferecendo grande risco tanto para trouxas quanto bruxos. — levantou o rosto e olhou para as meninas que choravam com medo. — Perdão, eu deveria ter explicado meu método de estudo primeiro. — desculpou-se e fez a aranha desaparecer com um giro da varinha.

Todos ofegaram e encararam o professor, esperando ansiosamente pela explicação. Eu evitei fazer barulho, fiquei muito feliz que fosse apenas um feitiço, mas também o fitava querendo respostas.

— Para vocês reconhecerem estes animais quando virem um, conjuro-os aqui, dentro de sala. Dependendo do nível da classificação posso até trazer um de verdade, mas a grande maioria de vocês verão minhas ilusões. Por serem minha especialidade, são muito realistas. Todos calmos agora? — sua voz estava tranquila, parecia nunca se alterar, ela era baixa e suave. — Vamos para uma criatura mais amigável então. Quantos aqui gostam de quadribol?

A grande maioria da sala levantou a mão, eu sabia o que era porque a vovó falou que participou do time durante um tempo, menos que a diretora McGonagall, mas ainda assim, fez sua parte como artilheira.

— Quando o quadribol foi inventado, não existiam os chamados pomos de ouro, esses só foram criados décadas mais tarde por conta da quase extinção dos pomorins dourados. — começou a andar pela sala. — Pássaros pequenos, com bicos longos e finos, olhos vermelhos. — pausou e virou repentinamente, com um sorriso malvado. — Parecendo joias. — sua expressão se suavizou e ele continuou. — Voam com incrível velocidade e são muito ágeis. Bem como este.

Algo passou zunindo de sua varinha, tão rápido que mal conseguíamos acompanhar com os olhos. Vários começaram a perguntar onde que estava o passarinho, eu também fiquei procurando que nem doida, eu queria vê-lo. Se ele é rápido assim, deve ser parecido com um beija-flor amarelo. Tentei seguir o brilho quando passou na minha frente, mas logo o perdi de vista, quando virei para a frente o professor estava do meu lado.

— Quantos estão conseguindo acompanhar com os olhos?

Quatro levantaram as mãos, entreolhando-se e rindo.

— Serão ótimos apanhadores se conseguirem voar. — ele assoviou e o pássaro foi para a mão dele, parecia uma pequena bola cheia de penas curtas e arrepiadas, olhos de rubi. — Esta criaturinha é muito preciosa no nosso mundo, e castigos severos são aplicados para aqueles que o capturarem. A quase extinção de uma espécie levou a criação do pomo de ouro. Tarefa de casa para semana que vem: ilustrar e descrever duas criaturas mágicas presentes no livro ou não, mas, como detalhe adicional: uma terá que iniciar com a letra de seu nome e a outra de seu sobrenome. — quando voltou a mesa para guardar o livro, se virou colocando a mão sobre o peito e se curvou. — Declaro concluída mais uma aula do professor Thomas Corentin FitzAlan. Agora podem sair.

— Você acredita que ele fez isso?

— Meu Merlin! Eu quase morri quando vi aquela aranha!

— Aquele occami era muito lindo mesmo!

— Como que a gente vai fazer essa tarefa?

— A tarefa foi muito divertida, que criatura você vai escolher?

Os alunos tentavam se sobrepor uns aos outros para serem ouvidos, ainda bem que agora as conversas tinham assuntos semelhantes, senão seria uma dor de cabeça. É chato apenas ouvir a conversa alheia, mas é ainda mais se você só pega pedaços e nunca sabe o que realmente aconteceu no final.

— Está tudo bem, Mêlli? — Twwik perguntou, sentando no meu ombro.

— Sim. — respondi no automático. — Queria saber que feitiço o professor fez no início da aula e como ele faz os animais ficarem tão reais. Eu faço a tarefa sobre os centauros e dragões?

— Pode fazer sobre diabretes também.

— Cinzal também é uma boa opção, lembra daquela vez que a vovó ficou doida atrás deles e quase que a casa pegou fogo?

— Na viagem de verão?

— Essa mesma. — ri com a lembrança, eu e a vovó corremos a casa inteira procurando os ovos vermelhos para não queimar a casa. — Nós ficamos com um estoque de ovos gigante depois.

— Só porque a dona Emer sabia como esfriar eles, senão a casa teria pegado fogo mesmo e você sabe disso, menina.

— Qual aula é agora?

— Dupla de poções com a Grifinória. — resmunguei ao ouvir a resposta de Twwik. — Achei que a sua amiga fosse de lá.

— Ela é. Eu gosto de poções, mas eu quero comer logo.

— Ih! Viram só? Eu não disse que a ruiva da Lufa-Lufa era doida de pedra?

Vi alguns meninos com a gravata da Sonserina subindo as escadas, eles riram olhando para mim, bufei e passei por eles, ignorando aquela baboseira. Quem irrita assim não presta mesmo, bando de bobões. No caminho para a próxima aula acabei trombando com um garoto da Corvinal e derrubando os meus materiais, ele parou e me ajudou a arrumar tudo e depois levantar. Ele era mais alto que eu, mas ao mesmo tempo era familiar, como se eu tivesse visto ele antes em algum lugar, não tenho ideia de onde. Ele teve que correr para conseguir voltar aos amigos, fez isso só depois de ter certeza de que eu estava bem. Respirei fundo e soltei o ar depois, eu tinha que ir para a aula de poções, com o professor Slughorn. O nome dele é muito estranho, e o rosto dele também, parece uma morsa.

— Sentem-se, nós veremos alguns exemplos de... — fechou os olhos e bocejou. — Desculpe. Nós iremos preparar uma poção simples, mas para isso vamos precisar dos ingredientes a seguir. — escreveu magicamente todos no quadro. — É uma poção para curar furúnculos, bem simples, simplesinha. Vocês vão fazer em duplas, tomem cuidado para não derreter nada.

— Tem como derreter um caldeirão? — o garoto ao meu lado fez uma careta muito estranha.

— É como derreter plástico no micro-ondas, Silver. — Maureen cochichou. — Vamos fazer dupla, Cami?

— Pode ser.

— Maravilha. — ela começou a pegar os ingredientes. — Pega as cerdas de porco-espinho por favor? — pediu.

— Elas só vão depois que tirar a poção do fogo, senão vai dar um problemão. — vi ela esticando a mão. — Cuidado com as lesmas!

— Iarch! São lesmas vivas? — perguntou com nojo. — Como que lesmas cozidas vão curar espinhas?!

— Furúnculos, não espinhas. — corrigi. — Tem uma diferença.

— Vamos fazer cada uma faz um passo?

— Pode ser. — ela começou, cuidando do caldeirão com os olhos atentos, cada mudança de cor nós cuidávamos para conseguir fazer algo bom, mas... acho que algo deu errado.

A fumaça saiu demais e a cor estava muito estranha, não parecia como estava pedindo nas instruções.

— Você fez alguma poção antes?

— Nenhuma. — ela se aproximou e cheirou. — Está fedido. Lesmas cozidas não fazem bem mesmo.

— É... Acho melhor apagar o fogo e colocar o espinho daqui a pouco. — olhei para a ampulheta do professor. — A aula está quase no fim mesmo, não vai ser tão ruim assim... — mal terminei de falar ouvi alguém vomitar. — Vamos tirar do fogo.

Colocamos os últimos espinhos e saiu um fumaceiro grande junto do som de uma explosão, quando olhamos para o caldeirão, bolhas grandes como se alguém estivesse respirando embaixo, ou como se fosse um pântano grande e venenoso.

— Crianças, para uma primeira tentativa não foi tão ruim, mas tenho certeza que vocês podem melhorar. Então, por favor, limpem seus caldeirões se souberem o feitiço e vão para os dormitórios, ainda terá um tempo até a hora do jantar. — o professor Slughorn finalizou bocejando mais uma vez.

— Ele tem que se aposentar. — ouvi murmurarem penosos.

Dei as costas e saí de fininho, procurando seguir para o dormitório sem que os outros notassem. Nem de Reen me despedi, tinha que chegar lá rápido para pegar a carta que Nox iria levar para casa, ele detestava ter que esperar até que todas estivessem dormindo para poder pegar a correspondência e levar para a vovó, por isso eu tinha que ser rápida hoje, para conseguir correr até a plantação de abóboras: a maior concentração de corvos ficava lá, palavras do Nox. Então eu voltaria para me trocar e jantar. Só esperava conseguir fazer isso rápido.

Depois que peguei a carta eu corri como nunca para as portas principais, que se abriram na mesma hora em que estendi a mão para empurrá-las, por conta disso acabei perdendo o equilíbrio e caindo sobre a pessoa que estava entrando, mas ela me ajudou a ficar de pé e não cair de cara no chão, quando olhei para cima vi o sorriso da pessoa que me ajudou quando eu cheguei em Hogwarts.

— Olá, texuguinha, tudo bem? Como está a escola?

— Bem legal, muito mesmo. Obrigada por cuidar da Nerus e me ajudar. — agradeci.

— É bom você ir logo senão vai atrasar. — ele bagunçou meu cabelo já desordenado. — O seu corvo está esperando no espantalho. Ah! Pode fazer um favor para mim, Aqua?

— O que?

— Cuide do seu amigo na aula de voo. — ele piscou e se afastou, dando um aceno rápido com a mão, franzi as sobrancelhas e torci o nariz, como assim?

A aula de voo seria só semana que vem, o aviso foi dado ontem. Por que ele estava dizendo que eu teria que tomar conta de um amigo? Que amigo? Comecei a andar tentando entender o que ele disse, sério, o que poderia acontecer na aula de voo além das pessoas caírem, por que eu teria que cuidar de um amigo?

— O que eu estava fazendo? — parei perplexa.

— Ia visitar o Hagrid! — ouvi o garoto gritar pouco antes que as portas batessem.

— É, Mêlli, você ia levar a carta para o Nox. — arregalei os olhos e apertei os papéis nas minhas mãos.

— O sol já está descendo e eu não posso me atrasar. Se segura, Twwik. — avisei começando a correr, quando cheguei nas escadas aproveitei que os degraus eram largos e desci aos saltos, indo cada vez mais rápida e meu coração batendo forte com a adrenalina, a chance de cair aumentava também.

O papai odiava que eu fizesse isso, teve uma vez em que eu caí de cara na lama, ele disse que foi por pura sorte que eu só perdi o equilíbrio no último degrau. E reclamou muito que eu era parecida com ele. Twwik gritava agarrando nos meus cabelos como se a vida dele dependesse disso, a voz dele era tão aguda que era muito engraçado de ouvir, além disso também tinha o fato que ele ficava batendo na minha cabeça a cada pulo por ser leve demais. Cambaleei até parar, minhas bochechas estavam quentes e eu, afobada e sem ar.

— Ah! Ai, meu Merlin. — exclamei dobrando as pernas e me apoiando nos joelhos. — Senhor. — minha voz saiu num fio.

Maluca.

— Não fala nada, Nox. — levantei o rosto e vi ele me observando no meio dos outros corvos, se destacando por estar me encarando em silêncio. — Você não sabe o quão divertido é isso.

Ele moveu a cabeça e encarou o outro lado.

— Você é sério demais. — aproximei-me e acariciei suas penas. — Não quer ajuda para levar a carta?

Se sugeres que leve comigo teu amigo insolente, não.

— Eu detesto você, Nox. — Twwik retrucou, escalando meu braço e subindo nas costas do pássaro. — Agora vamos levar a encomenda para a dona Emer.

— Tem três cartas, entrega primeiro para a vovó, depois ela distribui as outras, okay? — aconselhei enquanto amarrava a cordinha no pé dele. — Você devoa focar em lugares mais baixos da próxima vez, é difícil fazer isso na ponta do pé.

Exiges de mim, criança.

— Um corvo poderoso pode fazer uma tarefa necessária como essa, não pode?

Ele ergueu o bico arrogante.

Um corvo majestoso precisa de um tratamento melhor.

— Ah, Nox, deixa de enrolação, você já pode voar! Eu quero ir logo e chegar antes que os biscoitos saiam do forno!

— Até amanhã. — despedi enquanto eles partiram para o outro lado do lago.

Como é bom morar numa cidadezinha tão próxima do lago Ness.

Pela correria na descida, eu subi quase me arrastando. Brincando, é claro. Mesmo que estivesse com muita vontade de fazer isso eu fui pulando degrau a degrau, imaginando na deliciosa sobremesa que me esperava no Salão Principal e se eu me atrasasse Ian comeria tudo, é horrível ter o mesmo gosto quando isso acontece. Cheguei antes do jantar começar oficialmente — inesperadamente — enquanto tentava recuperar o fôlego os outros alunos foram entrando. Minhas pernas queimaram com a corrida, agora sentia um alívio tremendo por poder estica-las.

— Francis contou que viu você indo para o corujal. — Ian sentou ao meu lado, como se tornou o hábito. — Você deve estar cansada por correr até aqui, não é? — seu tom era carinhoso, o mesmo que papai usava quando eu brincava demais durante o dia e estava morrendo de cansaço.

— Estou. Eu quero comer uma torre de sorvete. — abri os braços. — Desse tamanho, de preferência.

— Que gulosa você, hein? Parece até alguém que eu conheço.

— Talvez eu seja o seu reflexo. — ele riu desdenhoso.

— Engraçadinha.

Gio surgiu do nada, sentou na minha frente e se inclinou sobre a mesa antes que a comida chegasse, se apressando para sussurrar todas as coisas que aconteceram no dia de hoje, assim como eu teria que fazer o mesmo quase tão rápido, se não o lembrasse de um detalhe no final.

— Tarefa de poções é um horror, o professor Binns realmente, realmente mesmo precisa se aposentar, a voz dele dá teia de aranha nos ouvidos: não estou brincando. Eu quase dormi. — uma indignação tremenda. — O professor de DCAT é demais, super incrível, mas maluco pra caramba, acho que tem vários tipos de pessoas em todas as casas, não é? E a professora McGonagall quase nos matou hoje, foi um terror sem fim, eu mal consegui deixar o negócio prata.

— Gio, se acalma. — puxei a gravata dele e arrumei de novo, distraída. — Nós podemos ir até a hora de recolher no salão comunal de todas as casas.

— Oh. — seu rosto se iluminou. — Então eu vou poder contar como fiquei com o cabelo azul?

— Sim. Agora vai respirar, falar com o ruivo loiro da sua turma que sangue-ruins não são más pessoas e conversar com os outros. Eu vou adorar ouvir todas as histórias, mas estou morrendo de cansaço. — dei tapinhas no ombro dele. — Fui correndo e voltei voando.

— É... Voando... Maravilha. Quando é a aula de voo? — ele perguntou pausando e fazendo caretas enquanto pensava.

— Semana que vem. — respondi de prontidão.

— Ah. Está bem. Até depois. — ele parecia meio verde quando saiu.

Acho que é dele que eu terei que cuidar na aula.


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Notas finais do capítulo

Quem gostaria de ter aula com o professor FitzAlan levanta a mão!
Tem alguns futuros spoilers no capítulo, e várias pessoas que apareceram agora serão importantes no futuro, se vocês tiverem um chute, adoraria saber.


Agora a história tem um site de curiosidades!
http://loracavlismds.wixsite.com/camelias



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