Camélias escrita por My Dark Side


Capítulo 4
Aulas


Notas iniciais do capítulo

Demorei? Sim, demorei. Peço desculpas.
Talvez não adiante e vocês me achem uma autora horrível por ficar demorando tanto, eu entendo. Na primeira vez que fiquei um bom tempo sem postar foi porque não estava do jeito que eu queria, então fui reescrever tudo, e agora foi porque eu não tive nenhum retorno depois da reescrita, então não sabia o que fazer. Minha meta é ficar concentrada na fic nesse ano e no ano que vem, terminar ela até junho de 2017.

Sejam bem vindos os novos leitores, e àqueles que comentaram no último capítulo: mil obrigadas, vocês me fizeram deram ideias para terminar o terceiro capítulo da história.

Espero que gostem!



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Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,

Nos ensine algo por favor,

Quer sejamos velhos e calvos

Quer moços de pernas raladas,

Temos as cabeças precisadas

De ideias interessantes

Pois estão ocas e cheias de ar,

Moscas mortas e fios de cotão.

Nos ensine o que vale a pena

Faça lembrar o que já esquecemos

Faça o melhor, faremos o resto,

Estudaremos até o cérebro...

— Quem pegou a última panqueca? — Ian perguntou quando seu garfo tintilou no prato vazio.

... se desmanchar

— Culpada. — levantei a mão.

Não demorou dois segundos para o prato se encher novamente, então ele deu de ombros e atacou. Como ele tinha um estômago tão grande? Isso é algo que precisa ser respondido, eu cheguei no salão principal para o café faz dez minutos, e ele já estava comendo, depois disso repetiu mais de três vezes.

Talvez fosse a chamada ‘fase de crescimento’.

Ontem nós cantamos o hino de Hogwarts, eu fiquei bem feliz porque contaram que era um evento raro. Como você escolhe o próprio ritmo, eu escolhi uma música que o papai inventou, ele sempre cantarolava para mim, sem a letra — acho que era exatamente para o hino.

— Então, você vai ter alguma aula com o seu amigo sonserino? — olhei para o meu horário de novo, o vice-diretor me entregou quando a maioria dos alunos já estava no salão.

— Feitiços e... Astronomia. — respondi.

O horário estava bem dividido, duas aulas com a Corvinal, três com a Grifinória e duas com Sonserina.

— Você ficou bem surpresa ontem quando viu ele indo para a mesa verde.

— Tinha certeza que ele ia para a Corvinal.

Comecei a passar o dedo na borda do meu copo, distraída. O som fraco era bem interessante. Não era melodioso, mas ainda assim, achava gostoso de ouvir.

— Correio coruja. — a monitora avisou, isso me fez olhar para cima.

Uma bela visão, que me fez sorrir, todas as corujas voando na direção de seus donos, uma confusão de penas. Tinham desde coruja das neves até corujas Bufo Real, as corujas das torres são bonitas, mas... Prefiro Nerus, ela é um aluco — uma espécie de coruja que possuí uma visão noturna excelente.

A coruja negra pousou na minha frente, o que me fez franzir as sobrancelhas, estranhando.

— Sentiu minha falta, Mêlli? — Twwik perguntou descendo da coruja. — A viagem foi bem legal, você se divertiu?

Aquela mulher transfigurou-me para vir até aqui.

— Não se preocupe, Nox. — acariciei sua cabeça, ele tentou me bicar. — Para, mal-educado.

— Que espécie de coruja é essa? — os meninos na mesa perguntaram.

— Uma espécie rara chamada Gwedfrân, ele é o único restante.

— Como conseguiu?

— Um mágico nunca conta seus truques. — levantei para sair do salão e Nox me seguiu, Twwik já estava sentado no meu ombro, como de costume.

Pode explicar o motivo daquela mulher de olhos irracionais fazer isto com meu belo corpo?

— Pare de reclamar, era a única maneira de você entrar no palácio sem chamar atenção. — Twwik repreendeu.

Cheguei nos jardins e sentei na grama, ao longe conseguia ver a floresta proibida e o lago, Nox pousou do meu lado e lentamente voltou a ser um corvo.

— Não foi tão difícil, viu? — desamarrei a carta de seu pé.

A letra no envelope era da mamãe, isso me deixou surpresa.

Camil,

Espero que tenha feito uma boa viagem.

Com amor,

Sua mãe.

Meu coração se apertou, um pouco triste com uma mensagem tão pequena. Pelo menos ela mandou alguma coisa, apertei bem meus olhos e sorri. Ela me mandou uma carta, isso é bom.

— Antes do papai morrer eu achei que só ele ia me mandar cartas. Bom, ele e a vovó. A mamãe eu nunca soube. Pelo menos ela me enviou um bilhete.

Sofres muito, criança.

— Eu repito e repito isso todos os dias, ela nunca me escuta! — reclamou Twwik.

— Ah! Eu fiz um amigo. Ele se tornou sonserino.

Julgam a casa sonserina por seu passado, lembro-me das histórias que corriam pelas ruas da minha vila... Atos terríveis. Apesar de tudo, julgar a casa inteira pelo pequeno grupo que se destacou nas trevas é uma atitude imatura.

— O Gio é legal, bem inteligente também. Talvez a gente possa se divertir bastante.

— Eu quero conhecer esse menino, Mêlli! É o seu primeiro amigo do sexo oposto, não é?

— Você pensa em coisas estranhas. — deitei na grama, Twwik pulou para não ser esmagado. — Ele é um amigo, só porque você só conhece a Lucia não quer dizer que eu não tenho outros amigos.

Os olhos dele eram bem grandes para a cabeça pequena, e amarelos. Ele piscou duas vezes, fazendo eu bufar. Ele não tinha acreditado, eu também não teria acreditado se fosse ele.

— É, ele é o meu primeiro amigo menino.

— Vish... Olha só, a ruivinha está falando sozinha. — me levantei e fui para o saguão de entrada, era uns meninos da sonserina. — Acho que ela ouviu.

— Vocês conhecem o Giovanni? — perguntei. — Sabem onde ele está?

— Ah, ele está procurando por uma amiga, ele ainda está no Salão Principal.

— Obrigada.

— Menina! Você não para quieta.

— Twwik, seja mais discreto. — empurrei ele para dentro do bolso da saia.

Giovanni estava falando com o Ian, ele apontou para mim logo depois.

— Milla! Vamos para a aula? Nós temos que chegar o mais rápido possível! — ele estava com os olhos brilhando, muito animado.

— Ah, pode ser. A aula de feitiços, não é?

Ele começou a falar sem parar, não sei como ele consegue ficar tanto tempo sem respirar. Gestos bem exagerados e um sorriso gigante, ele realmente gosta de aprender. Acho que feitiços deve ser uma de suas especialidades, mas não tenho certeza. Eu gosto muito de feitiços, mesmo que não tenha ido para a aula ainda, o papai e a vovó me ensinaram. Eu sei alguma coisa.

— A sua gravata está torta! — exclamei quando ele parou na frente da porta da sala de aula.

— É... Eu não sei fazer nós de gravata. É uma coisa de gente grande, não é? — ele parecia um pouco acanhado e ficou com as bochechas um pouco coradas.

— Deixa eu arrumar para você.

Quando a vovó contou que em Hogwarts a gente usava gravatas eu comecei a pular de alegria. O papai usava gravatas para trabalhar, eu sempre ajudava ele a fazer o nó, ele também me ensinou a fazer em mim mesma. Era legal.

— Prontinho. — falei dando tapinhas para tirar os amassados, olhei para cima, ele desviou os olhos, franzi as sobrancelhas. — Eu sou mais alta que você.

— Não é não. — ele afirmou.

— Sou sim, olha só. — me estiquei, e levei a mão da minha cabeça até a dele. — Viu?

— Você fez na diagonal.

— Não fiz, ser baixinho não é um problema. — inclinei a cabeça. — Você acha que é um problema? — ele mordeu os lábios e abaixou a cabeça. — Não fica assim. Minha avó sempre diz que os meninos crescem rápido e não importa o quanto eles assustem, eles têm um coração bom lá no fundo. — coloquei a mão em cima do dele. — E você é inteligente, não é? Vai crescer mais rápido ainda!

— Boba, Mimillê, você é bem boba.

— Não me chama de Mimillê, Vavanni. — fiquei com o rosto bem perto dele, nossos narizes estavam quase tocando. — Hum. — bufei e entrei na sala.

— Obrigado. — parei, olhando surpresa para ele.

— De nada. — segurei a manga da sua camisa e o puxei para dentro da sala.

Já tinham alguns alunos, acho que metade já estava lá. Bem espalhados, em grupos. Os meninos que me irritaram de manhã não estavam com a gente... Será que eles eram mais velhos?

— Que tal a gente se sentar ali?

— Vamos sentar na frente, é melhor para ver os feitiços e a professora! — fiquei animada pensando no que ela poderia fazer, o papai era o melhor bruxo que eu conhecia em feitiços! Eu adorava ver as... Qual é o nome?

— Amanhã eu escolho o lugar!

— Tudo bem. — sorri.

Giovanni não gostava de sentar na frente, ele ficava quieto e inquieto. Não parava de se mexer, mas não falava uma palavra.

— Que cor são seus olhos?

— Hum? Falou comigo? — ele apontou para o próprio rosto.

— Não, falei com o fantasma.

— Oh, os fantasmas não têm o costume de invadir as salas de aula, eles respeitam o horário de aprendizado. Para falar a verdade, acho que é mais fácil você procurar pelos fantasmas enquanto anda pelos corredores do que no salão comunal ou salas.

— O Frei Gorducho ficou no salão comunal falando com a gente ontem... — comentei lembrando quando a monitora teve que expulsar o fantasma para nós podermos dormir.

— Sério? Que coisa, heim? O Barão Sangrento ficou com aqueles que tem um sobrenome de peso. Filhos de bruxos poderosos. Ele é assustador, acho que os mais carismáticos com certeza são o Sir Nick e o Frei, a Dama Cinzenta é calada e distante, acredito que seja porque seu assassino ainda está em Hogwarts.

— O que é um assassino? — foi bem baixinho, ele escutou e deu de ombros.

— É uma pessoa que matou outra. Sabendo que mataria, em outras palavras eles matam por querer. — cochichou.

— Muito bem, acho que todos estão aqui. — as palmas me assustaram, fazendo eu pular no lugar, Gio se colocou de pé e ficou assim. — Qual é o seu nome, menino?

A professora tinha os olhos castanhos, eram lindos. Eu conheço muitas pessoas que tem olhos claros, elas ficam reclamando que são todas iguais, mas não são não. São todos misturas e diferentes, é muito difícil ter um igual ao outro. Mamãe e papai diziam: os olhos mostram a pessoa em sua forma mais clara.

Nenhuma pessoa é igual a outra, os olhos também são assim.

— Giovanni Lelly, professora.

— Pode se sentar, querido. — ela segurou o cabelo e fez um rabo de cavalo. — Vamos começar. Meu nome é Alexia Flyart, darei a aula de Feitiços apenas hoje, pois o professor Flitwick se encontra atarefado.

— A pele dela parece chocolate! — sussurrei

Na vila que eu morava tinham poucas pessoas com a pele tão escura, era uma cor tão mágica, destacava tudo nela!

— Parece mesmo. — Giovanni concordou, apoiando os braços na mesa. — Ela tem o cabelo com cachinhos.

— Parece uma princesa!

— Então, quem quer ser o primeiro? — a professora colocou as mãos na cintura, igual a vovó faz quando está irritada ou vai começar a fazer um bolo.

— Eu! — um menino pulou, todo animado.

— Então venha aqui na frente e conte bem alto para todo mundo ouvir como você descobriu que era um bruxo.

O menino era fofinho, com as bochechas que pareciam de bebê. Ele tinha os olhos puxados que ficavam olhando para cada um de nós, ele estava saltitando no lugar.

— Uma vez o meu papai me levou numa festa, tinha um monte de gente da minha família! Gente demais, as minhas tias queriam apertar as minhas bochechas o tempo inteirinho. Aí, do nada, eu sumi. Puf! — ele fez movimentos bem grandes com os braços. — E fiquei assim por quase uma semana, a minha mãe ficou bem preocupada.

— Sério, que legal! Então você já sabe como é ficar invisível! — a professora juntou as mãos com os olhos sorridentes.

— Na verdade não lembro não, eu tinha cinco anos. Eu não gostei, é bem chato.

— Eu descobri que tinha magia quando estava bem frio, no meio do inverno e a minha mãe ficou doente. Fiz a sala explodir com flores para ela se sentir melhor!

Alguns ficaram bem quietos na hora de falar, e outros pediram para não fazer. Eu entendia, porque eu também não queria falar, era um segredo meu e do papai. Nós prometemos que ficaria só entre nós, porque era especial demais, mas... eu também não lembro como foi... E falar que você esqueceu uma coisa tão legal não é gostoso, faz aquele frio na barriga e me deixa triste.

— Giovanni, você quer contar? — ele balançou a cabeça bem rápido. — Tudo bem, então vamos treinar a magia natural de vocês. O que vocês sabem fazer? — alguns cochichos começaram, levantei a mão. — Sim?

— O que é magia natural? — perguntei.

Papai disse a resposta quando eu comecei a “mostrar os sinais”, acho que a maioria dos bruxos não treinam seus filhos para usar a magia natural, por isso os alunos ficaram confusos quando a professora pediu para que nós falássemos o que sabemos fazer. Eu não sei realmente o que consigo, também faz bastante tempo que eu não treino, isso me deixa nervosa.

Será que o Twwik me ajudaria a treinar?

— A magia natural é uma maneira mais fácil de chamar quando vocês praticam magia sem varinha, seria uma magia instintiva. Você se lembra de ter usado em algum momento?

— Lembro sim, mas não sei como.

Eu não fazia magia desde que o papai morreu, eu tentei fazer a mamãe sorrir com as luzinhas, mas ela gritou comigo, a vovó me levou para longe da mamãe naquele dia, eu não lembro o que ela falou, mas eu chorei bastante naquele dia. O Twwik falou para mim que aquilo me faria mais forte, quando eu... Passasse por cima.

— Hum... Venha aqui para a frente, vamos tentar fazer algo juntas então.

— Menina! Não faça isso! — Twwik agarrou o meu braço com as garrinhas finas. — Você tem que ficar aqui! O seu pai disse que você só podia fazer magia com ele, não disse? — ele subiu pelo meu braço e pulou na mesa. — Você não pode! — os olhos dele estavam maiores que o normal, ele estava com medo.

Encolhi e balancei a cabeça para a professora, pedindo desculpas. Giovanni perguntou se ele poderia fazer, antes de começar ele sorriu para mim, as bochechas dele levantaram, como as de um bebê, eu ri.

Ele parou no meio da sala e estufou o peito.

— Eu não sei o que fazer!

Bati as minhas mãos no meu rosto. Ele se levantou até o meio da sala para isso? Que coragem, mas isso não ajuda muito.

— É verdade! A primeira vez que minha magia se... manifestou foi um trauma, eu então ela só aparece em casos de emergência. Eu não sei como usar ela, professora Flyart.

— Eu também não sei como usar a minha, mas isso porque eu sou adulta. Vocês, crianças, são muito poderosos, só tem que achar aqui e usar aqui. — ela apontou para o coração dele e depois para a cabeça.

— Você não pode mostrar os feitiços que a gente vai aprender a fazer durante o ano? Tipo uma apresentação super demais? — ele fez um gesto bem exagerado com os braços. — Por favor?

A professora cochichou algo para Gio, ele arregalou os olhos e colocou a mão na boca.

— Gente... Vocês vão ajudar a professora, não é? Nós temos que ficar bem quietinhos para ajudar ela a fazer os feitiços, ela tem que se concentrar muito. — ele alongou a palavra por alguns segundos, para mostrar que era bem importante.

— Professora, faz a magia! Nós vamos ficar bem quietinhos, você nem vai notar que estamos aqui!

— Por favor, professora.

— Por favor!

— Bando de sangue-ruins. — o menino atrás de mim resmungou, virei a cabeça, ele tinha o cabelo mais claro que o meu, um laranja mais claro, ele estava com a mesma gravata que o Gio.

— Essa palavra é muito feia, você não deveria usar ela. — briguei com ele, a vovó falou que essa palavra era extremamente errada, ela machuca.

— Você também é uma, trouxa.

— Pelo menos fique quietinho igual aos outros, aí você não vai atrapalhar a aula.

— Menino chato! — Twwik escalou as minhas roupas e sentou no meu ombro. — Da próxima vez que ele te incomodar, pode deixar que eu ataco ele!

A professora tirou o jaleco que usava e apoiou na mesa, Giovanni sentou orgulhoso do meu lado enquanto olhava ela se preparar. Ela virou de costas e murmurou alguns feitiços, depois quando se virou, tinha uma pena de coruja nas mãos.

— Um pequeno exemplo é o Wingardium Leviosa. — ela fez pena levitar até o teto. — Outro é o Accio. Bem simples. — apontou a varinha para o casaco que estava na mesa, ele veio rapidinho até ela. — Se eu quiser concertar algo que quebrou. — ela jogou uma taça que surgiu do nada no chão. — Reparo. — os pedacinhos se juntaram e voltou ao normal.

Alguém atrás de nós deve ter levantado a mão, porque a professora parou a apresentação e pediu para que a pessoa fizesse a pergunta.

—  Você usou transfiguração para aparecer a taça, não é?

— Fiz sim, no botão do casaco. — ela mostrou as mangas, uma estava presa com três botões e na outra só tinham dois. — Um feitiço silencioso porque a professora de transfiguração iria ficar muito irritada se vocês chegassem lá já sabendo tudo sobre.

— A gente não vai contar.

— Mesmo assim, eu prometi não falar. Querem ver mais feitiços?

— Sim!

Lumus. — a ponta da varinha acendeu. — Alguém sabe o feitiço que desfaz o Lumos?

Levantei a mão.

Nox!

— Exatamente. Existem três tipos de Lumus: Lumus, Maxima e Solem. Cada um tem sua particularidade, assim como alguns feitiços de proteção. Alguém sabe nomear os quatro tipos de Protego?

Giovanni levantou a mão.

— O Protego simples, Horribilis, Totalum e Nerus.

— Incrível, vejo que temos muitos alunos focados neste ano. Fico feliz.

Ela olhou para os lados.

— Acho que vou dar a primeira aula do professor Flitwick para vocês por conta disso. Todos têm suas penas de escrever? Ótimo. Coloquem elas em cima da mesa, vamos treinar o Wingardium Leviosa, o movimento que vocês tem que fazer com o pulso é ‘gira e sacode’.

Balancei as pernas, minha avó me ensinou esse feitiço, a última vez que eu treinei ele foi pouco antes de sair de casa. Fiquei tentando fazer o feitiço sem palavras para ver se conseguia, a vovó contou que você tem que se concentrar um montão e ser muito bom para fazer isso.

A minha pena tremeu depois de algumas tentativas, olhei para os lados, Gio estava tentando fazer o mesmo que eu.

— Também treinou nas férias.

— Aham. Sem palavras?

— Que tal sem varinha?

— Menina, não! — Twwik gritou. — Nada de magia sem varinha se não tiver a sua avó por perto!

— Eu acho que é muito perigoso. Sem palavras é mais legal. — Gio sussurrou.

Nós ficamos tentando sem parar até a aula acabar, Giovanni conseguiu levantar a pena um pouco antes de mim. Fomos os últimos da sala a sair e tivemos que correr para a próxima aula, eu tinha que ir para a aula de transfiguração e ele iria para a aula de poções, por isso nos separamos só quando chegamos no primeiro andar.

Eu teria essa aula com a Grifinória, assim como herbologia. Sentei em uma cadeira perto da mesa da professora, tinha um gato cinzento sentado balançando o rabo impaciente, ele tinha algumas manchas e marcas perto dos olhos, quase como um óculos.

— Oi, tudo bem? Posso sentar com você? — a menina que apareceu do meu lado tinha os olhos bem grandes.

— Pode sim... — escorreguei para o lado, o gato me encarou.

Ele não falava comigo, o que era bom até.

— Não se preocupe, a gatinha não consegue me ver. Ela é muito esperta, mas não me vê não, Mêlli. — Twwik falou calmo pulando para cima da mesa.

— Eu não acredito que quase cheguei atrasada, pelo menos não foi igual àqueles dois que tiveram que voltar nos dormitórios para pegar as penas e... — ela arregalou os olhos.

O gato se levantou e deu alguns pequenos passos para trás antes de pular. No ar, se transformou na diretora.

— Todos estão aqui? — o óculos dela estava na ponte do nariz, quase chegando na ponta. — Acho que alguns chegarão atrasados. Sejam bem-vindos à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, serei a professora de vocês no primeiro e quinto ano, ainda assim sou a diretora, a professora Flyart me substituirá se algum imprevisto ocorrer. — ela fez um gesto na direção do canto da sala onde tinha uma mulher sentada, bem envergonhada.

A professora substituta de feitiços e ela tinham o mesmo sobrenome, como elas podiam ser tão diferentes? Ela tinha o cabelo castanho e a pele bem pálida, parecia doente, mas estava sorrindo, talvez ela só fosse daquele jeito.

— Agora, vamos começar a aula. — a diretora falou.

Eu sabia o quão transfiguração era complicado ainda mais porque a mamãe se... aprimorou nessa matéria, ela conseguia fazer coisas incríveis. Nunca quando eu estava perto, mas ela fazia, eu amava ficar observando de longe, era incrível como ela transformava as coisas.

— Lembra quando a sua mãe transformou aquela cadeira numa fonte?

— A transfiguração é uma área da magia em que nós... — a professora Minerva olhou para mim. — Qual é o seu nome?

— Camillë Duff.

— Sua mãe tinha uma incrível facilidade para essa matéria.

— Eu sei. — sorri, eu tinha muito orgulho das habilidades da mamãe, o papai falava que se não fosse por ela ele não teria passado nas provas.

A aula foi exaustiva, nós escrevemos demais, minha mão ficou borrada com a tinta, era difícil treinar escrever com as duas mãos quando usava, se eu escrevesse só com a direita minha mão não ficaria tão manchada, mas eu tinha que continuar com as duas, não podia perder o costume.

— Ah! Agora é herbologia, nós vamos ficar juntas de novo, Cami.

— Qual é o seu nome? — perguntei, olhando para a gravata dela, ela era da Grifinória, tinha sentado do meu lado a aula inteira, mas eu não sabia como ela se chamava.

— Maureann, pode me chamar de Mauri se quiser, fica mais fácil.

— Maureen?

— É parecido, esse também serve. — ela sorriu igual uma moleca. — Vamos correr senão vamos chegar atrasadas. Opa! Desculpa. — ela trombou com um garoto nas escadas.

— Toma cuidado. — ele reclamou, se abaixando para pegar os papéis.

— Desculpe. — ela repetiu, me abaixei para ajudar também.

— Obrigado. — ele ajeitou os óculos.

— De nada.

Nós chegamos um pouco atrasadas nas estufas, mas o professor Longbottom não se incomodou, ela falou que no primeiro dia todos ficavam um pouco perdidos. Gio contou que ele era o diretor da Grifinória, assim como o professor de poções era o diretor da Sonserina; o vice-diretor de Hogwarts era o diretor da Corvinal e a professora de voo e técnica de quadribol era a diretora da Lufa-Lufa.

Depois de herbologia eu voltei para o primeiro andar e finalmente conheci o professor fantasma, senhor Binns. E eu infelizmente tenho que concordar com o Giovanni: a aula é muito chata, dá vontade de dormir. Depois disso foi defesa contra as artes das trevas, foi legal, o professor era bem bagunceiro, ele contou que estudou em Hogwarts na mesma época que Harry Potter e o professor Longbottom, mas se formou antes.

A última aula do dia foi poções, de novo com a Maureen, ela disse que sentia a mesma coisa em relação a Corvinal, ela só teve uma aula com eles hoje.

— Eu estou doida para que as aulas de voo comecem! Imagina que legal elas vão ser! — ela foi bem exagerada e animada, seu cabelo pulando de um lado para o outro. — E a aula de astronomia! Vai ser na torre mais alta do castelo inteiro!

Giovanni estava bebendo quando ela falou isso, ele engasgou, eu tive que bater nas costas dele.

— Quando é a aula de astronomia?

— A nossa é quinta. Por que? — perguntei, ele molhou os lábios e quando estava prestes a responder algo caiu na nossa cabeça, era grudento e nojento.

— Pirraça! — gritamos, quando os monitores falaram para tomar cuidado com ele eu não imaginei que ele fizesse uma coisa dessas.

— Calma, é só um pouco de alga. — Maureen começou a tirar os pedaços de planta da nossa cabeça. — Ele fez pior hoje já, invadiu a aula de feitiços que eu tive com a Corvinal, a professora ficou maluca.

Gio estava com uma careta que não dava para descrever, era muito estranha, nojenta e engraçada. Ele soltou algumas palavras em francês, reclamando.

— Não acredito que vou ter que tomar banho de novo.

— Ah, não se preocupe. Tomar banho dois dias seguidos não faz mal. Eu tenho uma amiga que toma todo o dia, ela não consegue ficar um único dia sem tomar, é estranho, mas ela fala que a água é parte da natureza dela.

— Ela é uma sereia?

— Quem sabe? No Brasil tem sereias, eu acho. — ela deu de ombros. — Eu acho que é mais um costume deles. É bem quente se comparar com Hogwarts.

A diretora apareceu correndo, procurando alguma coisa, quando nos encontrou ela se aproximou e perguntou se estava tudo bem. Ela parecia a vovó, só um pouquinho mais séria, mas ainda assim era igualzinha, preocupada com todos.

Eu estava olhando pelas pequenas janelas do dormitório quando Nox apareceu e bicou, eu abri o vidro e tirei a carta do pé dele, era da vovó.

Sua avó estava estupefata quando soube da comunicação entre a sua mãe e você, menina.

— A mamãe nunca mandou mensagens para mim, não é o nosso costume. — sorri.

Minha netinha,

Eu fiquei muito feliz quando recebi a carta dizendo que você foi para a Lufa-Lufa, é a mesma casa do seu pai, sabia? Acho que sim, ele sempre usava aquele cachecol amarelo, não jogava fora por nada. Deve ser uma memória preciosa para ele.

Você pode achar que eu fiz a sua mãe escrever aquele bilhetinho, mas eu prometo: eu não falei uma palavrinha para ela!

Eu quero saber como foi o seu dia, como eram os seus amigos, com quem você está tendo aula, se o Pirraça ainda está atormentando os alunos inocentes, tudinho, minha querida. Acredite em mim: quando eu estudei em Hogwarts ele já estava aí. Parece que os fundadores deixaram ele de brinde.

E sim, talvez ele apronte com você, principalmente por causa da sua proximidade com os seres das águas, eu acho melhor você ficar um pouco longe do lago nos primeiros dias para não atrair eles, sabe?

Mas então, como você está? Acho que já perguntei isso, eu quero uma carta gigante falando sobre você. Aí eu vou ver o seu pai e leio com ele, que tal a ideia? Assim você pode mandar falando sobre tudo o que quiser, se mandar uma só para o seu pai pode deixar que eu coloco embaixo das flores. Acho que se você mandar uma cartinha para a sua mãe ela vai ficar muito feliz!

Ah, minha querida, só uma última coisa: não tente fazer feitiços sem varinha na escola. Por favor, eu tenho que ajudar você se alguma coisa sair errado. E é o segredinho seu e do seu pai, não é?

Treine bastante com a varinha e preste muita atenção nas aulas!

Muitos e muitos beijos,

Sua vovó


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Alguma ideia ou dúvida? Algum erro?

Se tudo der certo, terá um novo capítulo daqui uma semana!

Beijos, e até a próxima!



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