The Slytherin escrita por Ravena


Capítulo 58
Famílias




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Pov Hermione

—Vamos Hermione, vai se atrasar! -ouvi minha mãe gritar de algum lugar de nossa casa. 

Nunca pensei que iria dizer isso, mas não quero sair de casa. Normalmente, aproveitaria a primeira oportunidade para mostrar um modelito novo ou ser "surpreendida" por algum paparazzi bruxo, mas agora a única coisa que eu quero é enfiar a minha cara no cobertor e ficar lá pra sempre. 

Dei uma olhada na minha roupa mais uma vez. Mesmo passando noites em claro, eu ainda estava absolutamente perfeita, claro, mas aquela roupinha simples que minha mãe havia escolhido não valorizava nadinha o tom da minha pele. Era um verde oliva bem feio, e, somado com o corte sem graça do vestido, me deixava parecendo uma velhinha. Claro que a ocasião pedia uma coisa mais discreta e neutra, mas poderiam ter colocado pelo menos uns paetês ou brilhos. 

Mas, bem lá no fundo, eu nem mais me importava com o que estava vestindo (as coisas realmente chegaram a um patamar muito baixo). Agora que todo o mundo bruxo vivia com medo de ser surpreendido por um ataque do Lorde das Trevas, ninguém tinha mais tempo para se preocupar com coisas tão superficiais como moda ou beleza. A minha clientela e popularidade caíram muito.

Desci as escadas da mansão relutantemente, como se me encaminhasse para minha própria decapitação. Se analisarmos a situação com calma, veríamos que é algo semelhante a isso. 

—Está muito linda, minha filha. - disse mamãe. 

Minha família estava me esperando aos pés da escada. Deus me perdoe, mas olhando para eles naquele estado, eu desejei que Voldemort morresse. Papai estava desgrenhado, com vários hematomas aparecendo por debaixo de suas vestes impecáveis (talvez para esconder todos os perrengues que estamos passando desde o verão passado). As olheiras profundas e os cabelos irregulares -como se fossem arrancados em tufos- me faziam querer revirar o olhar. Ele havia perdido sua aura de confiança e beleza. Já mamãe estava ainda pior. Uma vez eleita a mulher mais bonita do mundo bruxo, se transformara em uma criatura raquítica e sem brilho. Perdera muitos quilos, as olheiras estavam ainda maiores do que as de meu pai, e usava muita maquiagem para disfarçar a aparência abatida. 

—Vamos indo, já estamos atrasados - disse meu pai. 

Nos dirigimos para a porta em silêncio, onde o motorista nos esperava para irmos ao Beco Diagonal. Um ar pesado permaneceu por todo o trajeto, proporcionado pelo fato de não nos falarmos. Mamãe ficava murmurando baixinho uma sequência de palavras repetidas que lembrava uma música infantil, o que me deixava ainda mais preocupada. Se até uma bruxa poderosa como mamãe estava nervosa, o que nos esperava no Beco?

O lugar, que antes irradiava alegria e movimento, agora estava escuro e silencioso. Algumas lojas estavam fechadas, como a de Olivaras, e tudo parecia triste. Se o Lorde das Trevas queria arruinar com todo o mundo bruxo, ele já havia conseguido. Não é preciso uma guerra para ganhar, mas sim o medo de um povo, que provoca sua submissão. 

—Hermione, filha, vamos repassar os seus passos. - disse mamãe, nos obrigando a parar em um beco escuro a algumas ruas de nosso destino. -O Lorde das Trevas não vai vir, mas todos vão estar aqui. E é importante saber que essa é a sua grande iniciação!

Eu nunca esperei muito por esse momento, se querem a minha opinião sincera no assunto. Achava legal que meus pais tocavam o terror no mundo bruxo e também a perseguição com os impuros, mas nunca realmente cogitei a ideia de ser uma Comensal da Morte. Veja bem, eu ia ganhar minha primeira tatuagem! 

—Eu vou me apresentar, farei o juramento e depois iremos pegar alguns artefatos na loja que nos ajudarão em nosso...

—No seu plano, filha. - disse meu pai. -Hermione, nós te amamos mais que tudo e te daremos muito apoio aqui. Mas lembre-se, o futuro de nossa família está em suas mãos.

Isso foi pior do que levar um tiro, sinceramente. Ver meus pais, que antes eram pilares constantes em minha vida, se transformarem em criaturas medíocres que dependem de uma adolescente para ao menos conseguirem viver com dignidade. 

—Filhinha, tudo vai dar certo, você verá. Sempre foi a bruxa mais brilhante da sua idade e eu não poderia estar mais orgulhosa. - disse minha mãe. 

Nos abraçamos com força. Naquele momento, tudo que eu mais queria era nunca soltá-los, só ficar lá para sempre. Não queria admitir que, se tratando daquele alvo, tudo ficaria pior. E também não queria admitir a lágrima que escorreu por meu rosto, que rapidamente sequei. 

Pov Maiara 

 Confesso que, no início do verão, nem conseguia me manter em pé, tamanha fraqueza e tristeza. É como se alguém falasse: "Ai toma aqui de presente uma amostra grátis, agora você tem que comprar para ter mais". Claro que eu não tinha dinheiro. 

A situação era tão drástica que minha madrinha começou a me levar na terapia e a me dar alguns remédios. Mas até que, com muito esforço, tá dando certo. Penso que meu pai está com minha mãe, em algum lugar melhor e me observando. Quando a coisa fica feia, a maioria das pessoas apela para a religião. Mas eu estou realmente melhor. 

Me encontrei com meus amigos na Toca antes das aulas recomeçarem. Pronta para mais um ano em que Harry Potter vai acabar com a nossa paz.

Ficar na Toca é como estar dentro de um sitcom americano, só que melhor. Os gêmeos construíram um império de brincadeiras e agora são o mais novo símbolo do capitalismo do mundo bruxo, conseguindo toda a clientela do Beco Diagonal. Eu sempre soube que aqueles dois iam acabar como mafiosos. A senhora Weasley continua a melhor pessoa do mundo, e até me tricotou um suéter de natal. Um dia, quando estávamos nos preparando para comer, Harry chegou perto de mim para conversarmos. 

—E ai.

—E ai.

—Vai parecer uma pergunta estranha, mas o que você sente quando olha para eles?

—Mas que pergunta... - pensei um pouco naquilo. Eu sinto amor. O meu amor por eles e o amor deles por nós dois. 

Observávamos a senhora Weasley servir os filhos mais novos com uma coxa de frango perfeita. Abençoada seja a mão dessa mulher. Eles sorriam enquanto o senhor Weasley contava alguns casos do trabalho. Só de olhar aquilo, meu coração ficou quentinho com o amor. 

—A vida não foi fácil com nós dois, Maia. Pelo menos não no quesito familiar. Mas sinto que... é estranho...

—Você sente que encontrou uma família aqui, não é? - meus olhos começaram a se encher de lágrimas, mas eu não ia chorar. 

—Acho que sim... bem, eu nunca tive uma família de verdade, então não sei como é. -ele se virou para esconder o rosto, como se não quisesse que eu o visse chorando. 

—Ei cara, está tudo bem. Eu sei como você se sente. Sim, eu os considero minha família, e não quero... não posso perdê-los. - me sentei no chão porque pensar nele ainda era muito cansativo -Sabe, não quero que aquilo se repita. 

—Está falando dele, não é? Eu sinto tanto a falta como se fosse explodir. - disse ele se sentando ao meu lado. 

Pensei em todas as noites em claro que passei chorando, na dor do meu coração. Mas aquilo não iria acontecer de novo. Tinha me recuperado, estava bem (na medida do possível) e pronta para superar qualquer desafio que aquela vida colocasse na minha frente. Não iria passar por aquilo nunca mais.

—Não vamos deixar que aquilo aconteça de novo, Potter. É nossa missão proteger essa família, custe o que custar. 

Nós nos cumprimentamos, como selássemos uma promessa. Eu até podia não ter uma família, mas tinha meus amigos e pessoas maravilhosas ao meu redor, que estariam prontas para me ajudarem. 

—Maiara. Harry. Venham comer, crianças - gritou a senhora Weasley. 

—Quem chegar primeiro pega a última coxa de frango. - eu disse enquanto me levantava em disparada para a cozinha. 

 

— alguns dias depois -

Finalmente chegou o dia em que iria prestigiar o trabalho brilhante dos gêmeos, Fred e Jorge Weasley. Fomos ao Beco Diagonal para comprarmos o material escolar do ano e fiquei espantada com o quanto o lugar estava silencioso e quieto. Aquilo me deixou com raiva. Como aquela criatura horrenda conseguiu acabar com a felicidade de todo mundo? 

O único movimento vinha da loja dos gêmeos, as Gemialidades Weasley. Aquele lugar era o sonho de qualquer encrenqueiro. Tinha de tudo, desde pena de colar até poção de amor. A minha única queixa era o preço, eles eram muito careiros. 

—Olha isso, Maia. Eles têm aquelas pelúcias que se transformam em animais!- disse Olívia, que tinha vindo com a gente. Ela achava tudo o máximo, como se nunca tivesse aprontado na vida e aquilo fosse um mundo completamente novo. 

—Olha essas almofadas de peido. Meu Deus, eles têm uns produtos muito diversificados, não é. 

—E essas poções de amor? Acho que vou levar uma para a madame Rosmerta - disse Rony. 

—Você nem ouse, Weasley. Se tem uma pessoa que vai beijar aquela mulher, sou eu!- eu disse. 

—Ei, gente. Venham aqui. - disse Harry vindo em nossa direção. Ele estava com um semblante de preocupação, como se tivesse visto alguma coisa ruim. 

—O que aconteceu? Você está tão preocupado - disse Olívia. 

—Acho que vi uma coisa. - ele disse, enquanto já saia da loja. 

—Nós temos que seguir ele, não é?- disse Rony.

—Eu não sei porque ainda continuamos fazendo isso.

Harry começou a se embrenhar pelas ruas escuras do Beco. Aparentemente, não tinha nenhum padrão racional no que estava fazendo, mas não queria ser visto. 

—Você poderia ao menos nos falar onde estamos indo, não acha? - eu falei. 

—Eu acho que vi Draco Malfoy vir nessa direção. 

Ouvi Olívia conter um suspiro de assombro. Eu sempre desconfiei que ela se importava até demais com a opinião daquele menino.

—E dai? Não é como se fossemos um fã clube e precisássemos segui-lo. - disse Rony.

—Eu sei, mas ele estava acompanhado de algumas pessoas... estranhas. 

Subimos em um telhado (com muito esforço) e pudemos ver o que Harry estava falando. Draco Malfoy e Hermione Granger estavam na loja mais nojenta do Beco, a Borgin e Burkes. Era uma loja repleta de artifícios das trevas. Só pessoas de qualidade frequentavam aquela espelunca. 

O grupo que os acompanhava não era muito amigável também. Só Comensais da Morte, vestidos formalmente como se estivessem em um evento importante. O que quer que estivesse acontecendo ali, não era boa coisa. 

—O que é isso? - eu perguntei.

—Acho que pode ser algum tipo de iniciação. Os dois estão prestes a se tornarem Comensais. - disse Harry.

—Draco não faria isso. - disse Olívia.

Olhamos para ela com uma cara estranha.

—Quer dizer, ele ainda é muito novo e inexperiente. Não seria prudente colocar um menino nessa instituição nojenta. -ela se explicou.

Achei uma resposta bem fajuta. Mas, sinceramente, senti pena de Granger e Malfoy. Com as influencias familiares, eles seriam coagidos a ficarem desse lado, não tendo direito a escolha. E, mesmo se Harry não estivesse certo, aqueles dois logo se tornariam parte do grupo. 


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