Avada Kedavra escrita por potterstinks


Capítulo 22
[1x21] Exames e hipogrifos.


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, gente!
Então, esse capítulo era pra ter saído quinta-feira, só que eu acabei demorando no final.
GENTE EU TO NO CHÃO, VCS TAO ME OUVINDO (ME LENDO, SEI LA)? NO CHÃO. ESSA RECOMENDAÇÃO ME MATOU LENTAMENTE. OBRIGADX SUMZ, VC NÃO SABE COMO EU CHOREI. sz
Espero que gostem do capítulo (que não foi revisado, então caso haja algum erro é só me avisar)!



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Capítulo XXI

Exames e hipogrifos.

“O Lord das Trevas vai ressurgir. Com a ajuda do seu servo, maior e mais terrível que nunca.”

A euforia que a Grifinória sentiu por ter ganhado a Taça de Quadribol durou, no mínimo, uma semana. Até mesmo o tempo parecia estar comemorando junto; os dias haviam começado a desanuviar e se tornaram quentes, e a única coisa que eu tinha vontade de fazer era entrar em um freezer e ficar comendo sorvete o dia todo. Mas isso não era possível por alguns motivos: primeiro; não há nenhum freezer em Hogwarts (que eu saiba), e nós, meros mortais alunos, precisávamos estudar para os exames que estavam próximos.

Para você ter uma noção, até mesmo Fred e Jorge estavam estudando; os N.O.M.’s, que eles precisavam fazer – os exames que eu falei que a Kate iria ter que fazer também, sabe? –, estavam assustadoramente perto. Ah, e por falar em Kate, eu ainda andava com ela, Ced, Cassie e Nate – o último havia se tornado, tipo, muito amigo meu após uma coisa que eu descobri –, assim como com Gina e Luna – sendo que Gina nunca mais perguntou nada sobre o meu bicho-papão.

Na sala comunal da Grifinória, à noite, ninguém ousava perturbar Percy, já que o mesmo passava castigos severos para qualquer pessoa que ousasse fazê-lo. O ruivo estava se preparando para os exames de N.I.E.M.’s, Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia, e, como ele esperava ingressar no Ministério da Magia, precisava de notas muito altas. É, ele estava um pé no saco. Mas tudo bem, coisas da vida – a minha melhor amiga estava mais ansiosa do que ele, afinal.

É, Hermione estava super-hiper-mega-ultra ansiosa, ainda mais do que Percy, e ela estava bem... Explosiva, digamos. Harry e Rony estavam extremamente curiosos e confusos quanto ao fato de ela frequentar várias aulas ao mesmo tempo, porém haviam desistido de perguntar – até, é claro, lerem o horário dos exames que ela havia preparado para si (Segunda-Feira:

9h – Aritmancia

9h – Transfiguração

Almoço

1:30h – Feitiços

1:30h – Runas antigas).

– Mione? – perguntou Rony cautelosamente – Hum... Você tem certeza de que copiou esses horários direito?

– Quê? – retrucou a menina com aspereza, pegando o horário de exames e conferindo-o. – Claro que copiei.

– Será que adianta perguntar como você vai prestar dois exames na mesma hora? – perguntou Harry, e eu ri baixinho.

– Não. – respondeu Hermione. – Algum de vocês viu o meu livro Numerologia e Gramática?

– Ah, eu vi, apanhei emprestado para ler na cama antes de dormir. – disse Rony, bem baixinho, de modo que ela não escutasse. A menina então começou a remexer no monte de rolos de pergaminho que havia sobre a mesa, procurando o livro. Neste mesmo instante, Edwiges, a coruja de Harry, entrou pela janela, com um bilhete em seu bico.

– É do Hagrid. – disse Harry, abrindo o bilhete e lendo-o. – É o recurso de Bicuço, está marcado para o dia seis.

– É o dia em que terminamos os exames. – disse Hermione, ainda procurando o livro de Aritmancia, e eu decidi ajudá-la, procurando por tudo.

– E eles vêm aqui para o julgamento. – contou Harry, continuando a ler o bilhete. – Alguém do Ministério da Magia e... E o carrasco.

Ao ouvir o que o moreno havia dito, acabei tropeçando em um livro que algum aluno provavelmente havia deixado cair e então lá estava eu, de cara no chão e indignada.

Me levantei como se nada tivesse acontecido e olhei para os três, que me olharam assustados.

– Você está b... – Harry foi interrompido por mim.

– COMO ASSIM VÃO TRAZER O CARRASCO?! MAS... MAS... MAS... – eu o olhava, com meus olhos completamente arregalados.

– Assim parece que já decidiram! – disse Hermione, alarmada.

– É, parece. – concordou Harry lentamente.

– Não podem fazer isso! – bradou Rony. – Gastei séculos lendo para Hagrid o material que havia; não podem simplesmente desprezar tudo!

Mas eu e Harry nos olhamos e soltamos um suspiro pesado; a Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas provavelmente já tivera a opinião formada pelo MMP, ou Maldito Malfoy Pai. Draco, que andava moderado desde a vitória da Grifinória na final de Quadribol, parecia ter recuperado um pouco de sua arrogância. Pelos comentários desdenhosos que nós dois ouvimos, Malfoy tinha certeza de que Bicuço ia ser eliminado e parecia extremamente satisfeito consigo mesmo por ter provocado isso. E o pior de tudo era que nós não tínhamos tempo nem oportunidade de ir ver Hagrid!

A semana dos exames havia começado e o castelo ficou anormalmente silencioso. Na segunda-feira, os alunos do terceiro ano saíram do exame de Transfiguração na hora do almoço, comparando suas respostas e lamentando o grau de dificuldade das tarefas propostas, que incluíra transformar um bule de chá em um cágado.

Hermione acabou irritando grande parte dos colegas ao comentar que seu cágado parecia mais uma tartaruga, já que os outros tinham preocupações um pouco mais... Preocupantes (“O meu tinha um bico no lugar do rabo, que pesadelo...”) (“Era para os cágados soltarem vapor?”) (“No final, o meu continuava com uma pintura de salgueiro estampada no casco, vocês acham que vou perder pontos por isso?”).

Depois de um almoço apressado, nós voltamos direto para fazer o exame de feitiços. E Hermione estava certa como sempre; o Prof, Flitwick realmente pediu feitiços para animar. Harry exagerou um pouco (muito) nos dele e Rony, que era sua dupla, acabou com acessos de riso histérico e precisou ser levado para uma sala sossegada, onde ficou até ter condições de fazer o exame. Depois do jantar, nós voltamos à sala comunal, para começar a estudar Trato das Criaturas Mágicas, Poções e Astronomia.

Hagrid aplicou o exame de Trato das Criaturas Mágicas na manhã seguinte. Havia providenciado uma grande barrica com vermes frescos – eca – para a turma e avisou que, para passar no exame, os vermes de cada um deveriam manter-se vivos ao fim de uma hora. Foi o exame mais fácil de todos, o que também deu a nós quatro bastante tempo para conversarmos com o guarda-caça.

– Bicucinho está ficando um pouco deprimido. – contou ele, curvando-se com o pretexto de verificar se o verme de Harry continuava vivo. – Está preso em casa há tempo demais. Ainda assim... Depois de amanhã a gente vai saber se vão julgar a favor ou contra...

O exame de Poções naquela tarde, porém, foi um desastre. Não era muito difícil, porém o professor Snape me deixa nervosa. No entanto, eu me foquei apenas na minha poção, em nada mais, e, aparentemente, deu certo.

Depois tivemos o exame de Astronomia à meia-noite; História da Magia na quarta-feira de manhã, que era sobre a caça às bruxas na Idade Média; quarta-feira à tarde foi a de Herbologia, nas estufas, sob um sol escaldante; depois voltamos à sala comunal, agradecendo à Merlin que no dia seguinte os exames finalmente teriam acabado.

O antepenúltimo exame, quinta-feira de manhã, foi de Defesa Contra as Artes das Trevas. O Prof. Lupin havia preparado o exame mais legal que eu já havia feito; uma espécie de corrida de obstáculos ao ar livre, em que tínhamos que atravessar um lago, onde havia um grindylow, logo depois, uma série de crateras cheias de barretes vermelhos, depois um trecho de pântano, desconsiderando as informações falsas dadas por um hinkypunk, e, por fim, subir em um tronco e enfrentar um bicho-papão.

Harry foi o primeiro, depois foram Rony e Hermione; Rony foi bem até chegar no hinkypunk, que conseguiu fazê-lo afundar até a cintura em um atoleiro. Hermione fez tudo perfeitamente, até chegar no bicho-papão. Depois de passar um minuto – ou menos – ali, ela saiu correndo aos berros.

– Hermione – exclamou o professor, assustado. – Que foi que aconteceu?

– A P... P.,. Prof. McGonagall! – ofegou Hermione, apontando para o tronco. – Ela disse que eu fui reprovada em tudo!

Demorou um tempinho para Hermione se acalmar; enquanto isso, eu fiz o exame.

E eu fiquei com muito, muito medo.

Meu bicho-papão havia mudado.

Era uma figura coberta por um manto negro, seu rosto coberto por um capuz, e uma mão esquelética estava sendo estendida em minha direção.

Sua voz era fria e baixa, parecendo o sibilar de uma cobra, e eu senti um arrepio percorrer a minha espinha quando a ouvi:

– Olá, filha. – sussurrou. – Fico feliz que tenha se juntado a mim.

Após gritar “Riddikulus!”, saí rapidamente de lá. O professor me olhava assustado, assim como o trio, e eu tinha certeza de que eu estava muito pálida, provavelmente tremendo.

Meu medo era me juntar ao meu pai.

– Vamos? – perguntei, com a voz um tanto quanto trêmula.

Harry passou o braço pelos meus ombros e nós quatro fomos voltar para o castelo.

– Você está bem? – perguntou o moreno baixinho.

– Estou, foi só um pouco assustador. – dei um pequeno sorriso em sua direção.

Mas qualquer coisa que ele estivesse prestes a falar foi tirada de sua boca assim que vimos o que nos aguardava no alto das escadas. Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, se encontrava parado ali, contemplando os terrenos da escola. Assustou-se ao ver Harry.

– Olá, Harry! – exclamou. – Acabou de fazer um exame, suponho? Chegando ao fim?

– Sim, senhor. – disse Harry. Hermione e Rony, se afastaram, um pouco sem jeito, e eu tentei fazer o mesmo, só que Harry me apertou ali, murmurando de modo quase inaudível “não me deixa sozinho, praga.”.

O Ministro me olhou:

– E quem é a senhorita?

– Veronica Beauregard, senhor. – respondi, apertando sua mão em um cumprimento.

– Prazer em conhecê-la. – disse.

Ele soltou um profundo suspiro e olhou para nós.

– Estou aqui em uma missão desagradável. A Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas exigiu uma testemunha para a execução do hipogrifo louco. Como eu precisava visitar Hogwarts para verificar o andamento do caso Black, me pediram para cumprir esta tarefa.

– Isso quer dizer que já houve o julgamento do recurso? – interrompeu Rony, ansioso.

– Não, não, foi marcado para hoje à tarde. – respondeu Fudge, olhando curiosamente para Rony.

– Então, talvez o senhor não precise testemunhar nenhuma execução! – disse o ruivo. – O hipogrifo talvez se salve!

Porém, antes que Fudge pudesse responder, dois bruxos saíram pelas portas do castelo. Um era muito, muito velho, e o outro era alto e forte, com um bigode negro e fino – provavelmente os representantes da Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas.

O velho bruxo apertou os olhos na direção da cabana de Hagrid e disse com voz fraca:

– Ai, ai, estou ficando velho demais para isso... Duas horas, não é, Fudge?

O homem de bigode mexia em alguma coisa no cinto, que olhamos e vimos que ele passava um dedo pela lâmina de um machado. Rony havia abrido a boca para dizer alguma coisa, mas Hermione cutucou-o nas costelas e indicou com a cabeça o saguão de entrada.

– Por que é que você não me deixou falar? – perguntou Rony, chateado, quando entramos no saguão para ir almoçar. – Você viu? Já prepararam até o machado! Isso não é justiça!

– Rony, o seu pai trabalha para o Ministério, você não pode sair dizendo essas coisas para o chefe dele! – respondeu Hermione, apesar de parecer muito contrariada. – Desde que o Hagrid mantenha a cabeça no lugar e defenda o caso direito, eles não terão possibilidade de executar o Bicuço...

– Eu teria roubado o machado e saído correndo para decapitar o Malfoy, mas provavelmente seria presa. Nada legal, nada legal. – balanço a cabeça em desapontamento.

Hermione me olhou horrorizada.

– Você não pode sair matando as pessoas com um machado!

– É claro que eu não faria isso, Mimi! Mas, se eu fizesse, eu iria decapitar outra cabeça dele.

Rony e Harry fizeram uma careta de puro horror.

– Ah, então você que é a assassina da machadinha? Eu sempre pensei que fosse homem. – comentou Fred, que estava perto e aparentemente havia ouvido a conversa.

Ri baixinho:

– Mantenha a minha identidade em segredo, Sr. Weasley. – brinquei.

Minha tentativa de animar o trio não funcionou, nem mesmo pra mim. Ainda estava com vontade de matar Malfoy.

Então, o último exame que eu, Rony e Harry tínhamos era Adivinhação; o de Hermione, Estudos dos Trouxas. Hermione ficou no primeiro andar e nós três prosseguimos até o sétimo, onde muitos outros colegas já se encontravam sentados na escada circular que levava à sala da Prof. Insetona.

– Ela vai receber os alunos, um a um. – contou Neville assim que nos sentamos perto dele. Ele tinha o seu exemplar de Esclarecendo o Futuro aberto nas páginas dedicadas à bola de cristal. – Algum de vocês já viu alguma coisa numa bola de cristal? – perguntou ele, infeliz.

Achei que seria melhor se eu não contasse o que vi aquele dia, então não fiz.

– Não. – respondeu Rony, distraído. Ele consultava a todo momento o relógio de pulso, fazendo a contagem regressiva para o início do julgamento de Bicuço.

A fila de pessoas esperando foi encurtando. A cada aluno que descia a escada prateada, o resto dos colegas perguntava: "Que foi que ela perguntou? Você se deu bem?”.

Nenhum respondia.

– Ela disse que foi avisada pela bola de cristal que se eu contar a vocês, vou ter um acidente horrível! – falou Neville, esganiçado.

– Isto é muito conveniente. – riu-se Rony. – Sabe, estou começando a achar que Hermione tinha razão sobre a professora – comentou, indicando com o polegar o alçapão no alto –, ela é uma trapaceira, e das boas.

– Ela é chapada, isso sim. – murmurei.

E então, Parvati desceu a escada com o rosto radiante de orgulho.

– Ela disse que eu tenho o talento de uma verdadeira vidente – informou para nós três. – Vi um monte de coisas... Bem, boa sorte!

– Ronald Weasley – chamou lá do alto a voz da insetona. Rony fez uma careta e subiu a escada, desaparecendo. Eu e Harry agora éramos os únicos que faltavam ser examinados.

– Eu acho que é só inventar uma coisa e tá de boa. – disse para Harry.

– Inventa que você tá vendo você e o Jorge... – comentou distraído.

– O quê? – o olhei.

– Nada. – assobiou baixinho, rindo.

E então, uns vinte minutos depois, Rony havia terminado o exame.

– Como foi? – perguntamos eu e Harry.

– Bobagem. Não vi nada, então inventei alguma coisa. Acho que a professora não se convenceu...

– Me deseje boa sorte. – murmurou Harry quando a voz da professora chamou o seu nome.

Eu era a única pessoa que havia sobrado, então me sentei no chão, cruzando as pernas e apoiando minhas costas na parede, olhando para o grande e vasto nada.

Fiquei por um bom tempo ali, perdida em meus devaneios, até que ouvi uma voz alta e rouca vindo lá de cima, que não era nem um pouco parecida com a da professora, tampouco com a de Harry; olhei para os lados, verificando se não havia mais ninguém por perto, e subi discretamente a escada, até estar conseguindo ouvir mais claramente as palavras – "(...) Seu servo esteve acorrentado nos últimos doze anos. Hoje à noite, antes da meia-noite... O servo vai se libertar e se juntar ao seu mestre. O Lord das Trevas vai ressurgir. Com a ajuda do seu servo, maior e mais terrível que nunca. Hoje à noite... O servo... Vai se juntar... Ao seu mestre...”.

MAS O QUÊ?

Mais do que rapidamente desci a escada de novo, ficando no chão da mesma maneira de antes, enquanto olhava com os olhos arregalados para o alçapão.

– O que acabou de acontecer? – pergunto a mim mesma, colocando a mão em meu peito e sentindo o meu coração acelerado.

Como assim o Lord das Trevas vai ressurgir? COMO ASSIM? QUEM É QUE TAVA FALANDO? Alguém, por favor, me explica o que está acontecendo? Eu estou completamente perdida.

Alguns minutos depois, Harry desceu a escada rapidamente, e me olhou com seus olhos arregalados.

– Você não vai acreditar... – porém foi interrompido pela voz da insetona me chamando.

– Vou sim, mas agora é minha vez. Você me espera? – perguntei pra ele enquanto subia e ele apenas assentiu, me desejando boa sorte.

A sala era muito quente. As cortinas estavam fechadas, a lareira acesa e no ar dava para sentir o costumeiro perfume adocicado da sala; a professora Sibila se encontrava sentada diante de uma grande bola de cristal.

– Bom dia, minha querida. – disse ela. – Queira ter a bondade de examinar o orbe, pode levar o tempo que precisar. Depois me diga o que está vendo.

Sem falar nada, curvei-me sobre a bola de cristal e olhei o mais atentamente que pude, embora não conseguisse ver nada. Até que vultos lentamente começaram a se formar. O que eu vi dentro da bola de cristal foi praticamente igual ao que eu havia visto da última vez; só que, no final, um homenzinho se transformou no rato que fugia.

– O que você está vendo? –a professora indagou suavemente.

– Um rato.

– O que ele está fazendo? – sussurrou a professora.

– Fugindo. – respondi, olhando fixamente para a bola de cristal.

– Realmente... – sussurrou Trelawney, e ouvi o barulho de como se ela estivesse escrevendo em algum pergaminho. Tomando notas, talvez. – Há outras figuras? Pense bem...

– Sim. – respondi, quase que sem pensar. – Dois vultos.

– Mais algo? – perguntou ela, em um sussurro.

– Uma lua cheia.

Olhei para a Prof. Sibila quando não ouvi resposta, e vi que ela me olhava com os olhos um tanto quanto arregalados.

Mais do que o normal.

Assustador.

– Querida, acho melhor pararmos por aqui. – disse, com sua voz um tanto quanto trêmula. – Um resultado bom, meus parabéns.

Com um sorriso mínimo, me levantei, peguei minha mochila e desci as escadas rapidamente, porém consegui escutar a professor murmurar para si mesma “Preciso falar com Dumbledore”.

Dei de cara com Harry, que se levantou do chão logo que eu desci, e juntos seguimos para a Torre da Grifinória.

– Harry, ela fez uma profecia? – perguntei baixinho.

– Como você...

– Eu ouvi. – o interrompi. – Você pode repetir?

– Ah... Acho que sim. – pigarreou, antes de começar: – “O Lord das Trevas vai ressurgir. Com a ajuda do seu servo, maior e mais terrível que nunca. Seu servo esteve acorrentado nos últimos doze anos. Hoje à noite, antes da meia-noite... O servo vai se libertar e se juntar ao seu mestre. O Lord das Trevas vai ressurgir. Com a ajuda do seu servo, maior e mais terrível que nunca. Hoje à noite... O servo... Vai se juntar... Ao seu mestre...”.

– Caralho. – murmurei.

– O que foi?

– Eu vi umas coisas na bola de cristal... Tinha um homenzinho se transformando em um rato e depois fugindo. – sussurrei.

– Será que...?

– Eu não sei. – respondi, enquanto passávamos apressados pelos trasgos de segurança, à entrada da Torre da Grifinória; quando entramos na sala comunal, o local estava quase vazio. A um canto, Rony e Hermione estavam sentados.

– A Profª. Sibila acabou de... – Harry parou abruptamente quando viu as expressões dos dois.

– O que aconteceu? – indaguei, preocupada.

– Bicuço perdeu. – respondeu Rony com a voz fraca. – Hagrid acabou de nos mandar isso.

O bilhete do guarda-caça estava seco, sem resquícios lágrimas, porém o texto era quase ilegível; sua mão parecia ter tremido muito ao escrever.

“Perdemos o julgamento do recurso. Vão executar Bicuço ao pôr-do-sol. Vocês não podem fazer nada. Não desçam. Não quero que vocês vejam.

Hagrid”.

– Temos que ir – dissemos eu e Harry. – Ele não pode ficar lá sozinho, esperando o carrasco! – completou o moreno.

– Mas é ao pôr-do-sol. – disse Rony, que espiava pela janela. – Nunca nos deixariam. Principalmente a você, Harry.

– Se ao menos tivéssemos a Capa da Invisibilidade... – suspirou o moreno.

– Onde é que ela está? – perguntou Hermione, e Harry contou que havia a deixado na passagem da bruxa de um olho só.

– Se Snape me vir por ali outra vez, vou entrar numa fria. – disse ele.

– É verdade. – disse Hermione, levantando-se. – Se ele vir você... Como é mesmo que se abre a corcunda da bruxa?

– A gente dá uma pancada e diz: "Dissendium". – respondi por Harry.

Hermione rapidamente atravessou a sala e saiu pelo retrato da Mulher Gorda.

– Não acredito que ela foi buscar a capa! – exclamou Rony, um tanto quanto espantado.

– Mione está meio rebelde ultimamente. – comentei.

Quinze minutos depois, com a capa dobrada sob suas vestes, Hermione entrou pelo retrato, com um sorriso triunfante em seus lábios.

– Mione, não sei o que deu em você ultimamente! – disse Rony, com espanto. – Primeiro você mete a mão em Draco Malfoy, depois abandona o curso da Profª. Sibila...

Seu sorriso aumentou.

Logo descemos para jantar, porém não voltamos à Torre da Grifinória ao terminar. Harry, que havia levado a capa escondida, teve que ficar de braços cruzados para esconder o volume na frente das vestes. Entramos sorrateiramente em uma sala vazia e ficamos escutando o que acontecia, até termos certeza de que não tinha como sermos pegos. Após ouvirmos as últimas pessoas passarem pelo saguão correndo e o barulho de uma porta batendo, Hermione meteu a cabeça fora da porta:

– Tudo bem, não tem ninguém. – sussurrou. – Vamos vestir a capa...

E então, lá fomos nós.

Praticamente colados um no outro, para que ninguém nos visse sob a capa, atravessamos o saguão e descemos os degraus que levavam aos jardins. O sol já estava se pondo, dourando os ramos mais altos das árvores da Floresta Proibida.

Assim que chegamos à cabana de Hagrid, batemos na porta; ele levou por volta de um minuto para atender e, assim que o fez, ficou procurando quem havia batido, parecendo pálido e extremamente trêmulo.

– Somos nós. – sussurrou Harry. – Estamos usando a Capa da Invisibilidade. Deixe a gente entrar para poder tirar a capa.

– Vocês não deviam ter vindo! – murmurou Hagrid, se afastando para nós entrarmos, logo fechando a porta depressa, enquanto Harry tirava a capa.

Aleluia, pensei, ar fresco.

Hagrid não chorava, nem mesmo parecia ter chorado; apenas estava completamente atordoado.

– Querem um chá? – perguntou, pegando a chaleira com suas mãos trêmulas.

– Onde é que está o Bicuço, Hagrid? – questionou Hermione, hesitante.

– Eu... Eu levei ele para fora... – respondeu o guarda-caça, derramando leite pela mesa em uma tentativa falha de encher a jarra. – Está amarrado no canteiro de abóboras. Achei que ele devia ver as árvores e... E respirar ar fresco... Antes...

A mão de Hagrid tremeu tão violentamente que a jarra de leite caiu, se espatifando no chão.

– Eu faço isso, Hagrid. – disse Hermione rapidamente, indo depressa limpar a sujeira.

– Tem outra no armário de louças. – falou o guarda-caça, enquanto sentava-se e limpava sua testa na manga. Fui vasculhar o guarda-louça de Hagrid em busca da outra leiteira, porém continuei prestando atenção no que falavam.

– Tem alguma coisa que se possa fazer, Hagrid? – perguntou Harry, sentando-se ao seu lado. – Dumbledore...

– Ele tentou. Mas não tem poder para revogar uma decisão da Comissão. Ele disse aos juizes que Bicuço era normal, mas a Comissão está com medo. Vocês sabem como é o Lúcio Malfoy... Imagino que deve ter ameaçado todos eles... E o carrasco, Macnair, é um velho conhecido dos Malfoy... Mas vai ser rápido e limpo... E eu vou estar do lado do Bicuço... – ele engoliu em seco. – Dumbledore vai descer quando... Quando estiver na hora. Me escreveu hoje de manhã. Disse que quer ficar... Ficar comigo. Grande homem, o Dumbledore...

Alcancei a nova leiteira à Hermione, que deixou escapar um pequeno soluço, abafando-o rapidamente, enquanto lutava para conter as lágrimas.

– Nós vamos ficar com você também, Hagrid... – começou ela, mas ele balançou a cabeça.

– Vocês têm que voltar para o castelo. Já disse que não quero que assistam. Aliás, vocês nem deviam estar aqui... Se Fudge e Dumbledore pegarem você fora do castelo sem permissão, Harry, você vai se meter numa grande confusão.

Suspirei baixinho, olhando para meus pés, meus olhos marejando. Eu não podia imaginar a dor que Hagrid deveria estar sentindo, principalmente porque ele provavelmente estava se culpando pelo o que aconteceria com o hipogrifo.

– Mas, Hagrid... Não é bom ficar sozinho nessas horas. – sussurrei. – Somos seus amigos, e não se abandona um amigo quando ele mais precisa.

Hagrid deu um sorriso triste.

– Você é igualzinha à sua mãe. – olhei para ele no mesmo instante. – Bella sempre se preocupava com seus amigos. Fiquei surpreso de ela não ter sido posta na Lufa-Lufa. – logo seu semblante se tornou sério novamente. – Mas vai ser melhor se vocês não assistirem. – suspirou.

Foi então que ouvi Hermione soltar um grito, e rapidamente olhei para ela.

– Rony!... Eu não acredito... É o Perebas!

– Do que é que você está falando? – perguntou o garoto, e Hermione então levou a leiteira para a mesa e virou-a.

Com um guincho frenético, Perebas, o rato esquisito, escorregou para cima da mesa.

– Perebas! – exclamou Rony confuso. – Perebas, que é que você está fazendo aqui?

Perebas estava com uma aparência horrível. Digo, mais do que o normal. Extremamente magro, com seu corpo pelado, o rato se contorcia desesperadamente nas mãos de seu dono.

– Tudo bem, Perebas! – tranquilizou-o Rony. – Não tem gatos! Não tem nada aqui para te machucar!

Hagrid se levantou repentinamente, olhando algo na janela.

– Aí vêm eles...

Nos viramos depressa. Um grupo descia os degraus, à entrada do castelo, quase como uma entrada dramática de filme. À frente vinha Dumbledore, sua barba prateada reluzindo sob o sol poente. Ao seu lado, caminhava Fudge. Atrás deles vinha o velho, e ao seu lado vinha o carrasco.

O grupinho mais estranho que eu já vi na minha vida.

– Vocês têm que ir embora. – disse Hagrid, tremendo. – Eles não podem encontrar vocês aqui... Vão...

Rony enfiou seu rato no bolso, e Mione pegou a capa.

– Eu vou abrir a porta dos fundos para vocês. – disse Hagrid, e nós o acompanhamos.

Me deu um aperto no peito ao ver Bicuço não muito longe, amarrado a uma árvore. O hipogrifo virou a cabeça de um lado para o outro, pateando o chão nervosamente.

– Tudo bem, Bicucinho. – falou Hagrid. – Tudo bem... – e, se virando para nós. – Vão. Andem logo.

Mas nem ao menos nos mexemos.

– Hagrid, não podemos...

– Vamos contar a eles o que realmente aconteceu...

– Não podem matar Bicuço...

– Mas, Hagrid...

– Vão! – exclamou Hagrid com ferocidade. – Já está bastante ruim sem vocês se meterem em confusão!

Assim que Hermione jogou a capa sobre nós, ouvimos vozes na entrada da cabana do guarda-caça, que ficou olhando para o lugar de onde havíamos acabado de sumir.

– Vão depressa. – disse, com a voz rouca. – Não fiquem ouvindo... – e entrou novamente na cabana.

Lenta e silenciosamente, contornamos a cabana de Hagrid. Assim que chegamos ao outro lado, ouvimos a porta se fechar, e eu estava quase roendo minhas unhas de tanto nervosismo.

– Por favor, vamos nos apressar. – sussurrou Hermione, enquanto subíamos em direção ao castelo. – Não posso suportar, não posso suportar...

Rony parou.

– Ah, por favor, Rony... – começou Mione.

– É o Perebas. Ele não quer parar... – o ruivo se curvou, tentando segurar Perebas em seu bolso, porém o rato guinchava feito louco, se debatendo e tentando morder o dono.

– Perebas, sou eu, seu idiota, o Rony. – deve ser por isso mesmo que ele está tentando te morder, pensei.

Então ouvimos a porta se fechar e o som de vozes masculinas.

– Ah, Rony, por favor, vamos andando, eles vão executar o Bicuço! – murmurou Hermione, e eu abracei-a novamente, sentindo a garota tremer.

– Ok... Perebas fique quieto...

Continuamos, até que Rony parou mais uma vez.

– Não consigo segurar ele! Perebas, cala a boca, todo mundo vai nos ouvir...

– Eu vou matar o seu rato, Ronald Weasley. – grunhi irritada com o rato, que guinchava alucinado.

Foi então que ouvimos o som que fez com que eu e Hermione nos abraçássemos mais forte; o som de um machado cortando o ar e atingindo o alvo.

Senti lágrimas ameaçarem escorrer pelo meu rosto e suspirei baixinho, triste.

– Executaram Bicuço! – murmurou Mione. – Eu n-não acredito... Eles executaram Bicuço!

– Malditos.


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Notas finais do capítulo

Obrigadx por cada comentário, favoritos, recomendações e acompanhamentos que a história recebeu - eu amo vocês demais. Ah, e sejam muito bem-vindos leitores novos, seus divos! Leitores fantasmas, saibam que eu não mordo, tá? Se quiserem, sintam-se à vontade para comentar, pode ser apenas um "Continua" ou um "Gostei" - se preferirem, favoritem, recomendem, continuem apenas acompanhando, não sei, façam o que quiserem, só me mostrem que estão gostando e que devo continuar!