New life - History of teenagers escrita por GabiElsa


Capítulo 62
A Senhora de Vestido Vermelho


Notas iniciais do capítulo

HI GUYS!!!! Mil desculpas pela demora :/, mas é que vocês não sabem quanto tempo eu levei para pegar a personalidade da Gothel. Gente, essa mulher é muito complexa, mds! Eu escrevi e reescrevi umas cinco vezes esse cap, pois sempre achava que não estava bom o suficiente. Mas, finalmente consegui AEEEEEEEE kkk.
Sem mais delongas, boa leitura.



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Pov Rapunzel

— O-oque está fazendo aqui? – Perguntei sentindo uma tremenda dor na garganta. Minhas mãos começaram a tremer conforme os segundos se passavam e meu coração palpitava mais rápido a cada passo que eu dava em direção a ela.

— Olá, querida. – Seus olhos alargaram em completo espanto, que fora adquirido quando adentrei a sala. Mas em questão de segundos seu semblante voltou ao normal, sombrio e misterioso. – O que faz aqui? Não devia estar com Suzanne? Ou lá embaixo? – Perguntou, reprovando-me.

— Eu devia te perguntar a mesma coisa. – A respondi de imediato, mas ainda sim um pouco hesitante. – O que faz aqui Gothel? – Indaguei franzindo o cenho.

Enquanto ela não respondia, fiquei observando a sala, que na verdade era um belo escritório. Ele possuía o mesmo perímetro daquela salinha que eu estava, só que as paredes desta eram da cor Branco Navajo. Havia uma linda mesa de carvalho próxima a um vão envidraçado, exposto, pois a cortina estava aberta. Do outro lado do escritório, havia uma cômoda de oito gavetas cheias de pastas, aparentemente com documentos, os quais alguns estavam nas mãos de Gothel.

De repente tudo ficou claro. Aquele escritório era do Doutor e aqueles documentos era o resultado do exame.

Percebendo minha reação, Gothel se aproximou de mim ligeiramente, mas manteve uma distância entre nós duas.

— Querida, está se sentindo bem? – Perguntou buscando meu olhar, que logo concedi, porém, me senti ainda pior. – É melhor descermos para tomar um cafezinho. Você tirou sangue e precisa comer. – Ela levou sua mão até meu rosto, mas desviei e me afastei, adentrando ainda mais a sala.

— Você viu o resultado. – Resmunguei, tentando engolir o choro que estava por vir.

— Ah! Por favor, Rapunzel. Já lhe disse que odeio quando resmunga. – Ouvir aquela voz irritadiça me provocou uma sensação fúria, mas a contive, não iria explodir por nada. Queria saber mais. Queria ouvir o que ela tinha pra dizer.

— Você viu o resultado do exame. – Disse, em bom tom. – Não viu? – Perguntei retoricamente, pois ainda não tinha acabado de falar. – Você veio até aqui para isso, não é? Ou tem algo a mais que eu não saiba?

— Rapunzel. Está dizendo tolices. Eu apenas queria conversar um pouco com o doutor, mas ele não estava aqui. – Falou inocentemente, tentando se aproximar de mim outra vez. – Admito ter cedido pela minha curiosidade.

— Então você... Viu? – Senti suas mãos pegarem as minhas, e as apertei por conta do nervosismo. Por outro lado, ela não me pareceu surpresa, nem mesmo amedrontada com minha pergunta, me deixando mais calma.

— Tem certeza de quer ver isso agora? – Perguntou num modo de afirmação, despertando minha curiosidade.

— Tenho, por quê? – Indaguei curiosa, estranhando sua atitude.

— Ah, vai saber se Suzanne quer descobrir com você. Ela não ficará desapontada? – Ahn?!

— E desde quando você se preocupa com o que a Suzanne pensa ou sente? – A questionei, pasma e sedenta por respostas.

— Ah, eu digo isso por sua causa. Vocês duas tem história e como uma boa mãe, eu queria ver a reação de vocês duas ao descobri o resultado. – A olhei, bestificada. Pelo visto, Gothel tinha 70% de chance de ser minha mãe. Mas ainda havia mais 30% de chance de Suzanne ser e continuar sendo minha mãe, e queria saber desses trinta.

— Gothel, me dê o resultado do exame... Agora. – Falei calma. Mentira, estava começando a ficar desesperada.

— Querida, é melhor fazer como estou te pedindo. – Arfou e sorriu em seguida, demonstrando um ar de cinismo. – Como eu disse, não podemos magoar Suzanne, não é mesmo? – Após se mostrar numa atuação barata, Gothel abriu os abraços e me ofereceu um abraço. – Mãe sabe muito mais do que seus filhos. Sabia? – A olhei, pasma com aquela frase. Mas enquanto me aproximava, fiquei de olho nos papéis que outrora estavam com ela – nossa, falei bonito agora.

— Okay. – Falei pausadamente. Daí, tive um lampejo de ideia. – Tem razão, ma... Rum... Gothel. Você tem toda razão. Suzanne ficará decepcionada ao saber que eu soube primeiro que ela.

— É claro que tenho a razão. – Gargalha de um jeito maléfico – É sério gente, ela riu igual a um vilão. Sabe? Estilo Malévola. – Agora vamos, porque devem estar procurando por nós. – Ela entrelaçou seu braço no meu e me acompanhou até a porta. No entanto, parei bruscamente no meio do caminho, corri em direção à cômoda e peguei os papéis que estavam com meu nome. – Rapunzel! – Ouvi seu grito exasperado, mas a ignorei enquanto abria a pasta, me deparando com uma foto minha, meus dados completos e a assinatura dos meus pais.

— Cadê? – Resmunguei enquanto procurava naqueles textos, mas ao ler uma palavra, abri um sorriso de orelha a orelha. – A mãe biológica de Rapunzel Moore Corona, nascida em Londres, atual moradia Nova Iorque, é...

— Me dá isso aqui. – A folha foi arrancada de minhas mãos, me impedindo de terminar a leitura.

— Qual é o seu problema? – Me virei rapidamente e encarei Gothel, furiosa. Odeio quando tomam as coisas de mim. – Me dê esses papéis Gothel. – Quase gritei, mas a poupei de um escândalo. E olha que quando eu quero um barraco, eu arrumo rapidinho.

— Não. – Respondeu em bom tom e muito autoritária, deixando-me indignada. – Vamos descer, e esquecer o que você viu aqui. – Na hora eu não soube, mas depois de raciocinar, percebi que Gothel estava se sentindo culpada e, de certa forma, bastante incomodada com minha presença naquele instante.

— E porque eu devo esquecer ou não dizer a ninguém que peguei você no flagra? – Perguntei, confrontando-a.

— Flagra de quê? – Perguntou intrigada. – Eu já lhe disse o que estava fazendo aqui, então pra que ficar espalhando? – Mordisquei minha bochecha interior e me vi numa situação muito, muito esquisita.

 De repente, me deu uma queimação de neurônios fora do comum. Meus pensamentos estavam a mil, e uma adrenalina me atingiu. Por que ela não queria que eu pegasse o resultado? Porque fazia tanta questão de descobrir com Suzanne presente? Por que ela não me diz logo a verdade?

QUEM É MINHA MÃE?!

— Arg! – Grunhi e avancei até ela, tentando pegar os papéis. Minhas mãos fizeram uma força contra seu corpo, que a fez parar do outro lado da sala, derrubando os papéis no chão, o qual em questão de segundos me aproximei. Passei a recolher aquelas folhas brancas esparramadas no chão.

— Rapunzel! – Ela esbravejou e me empurrou para o lado, me desequilibrando. Caí no chão, e a vi pegando alguns papéis, mas ao fitar um em especial, correu para pegá-lo. No entanto fui bem mais rápida ao levantar e o peguei, terminando de ler. – Não...

Sabe quando seu mundo para? Você não escuta nada ao seu redor. Não presta a menor atenção nas coisas que se movimentam. Ás vezes nem olha para algum lugar especifico. É como se não existisse nada além de você. Até seus pensamentos ficam em paz. Sua boca ás vezes seca, como se palavras não pudessem descrever o que você sente ou pensa. Seu corpo fica relaxado e seu estômago embrulhado, dando aquele frio eterno na barriga.

— Você... mentiu. – Resmunguei num fio de voz. Só que ao invés de Gothel me reprovar, ela apenas engoliu em seco e assentiu, demoradamente. – Suzanne... Ela é minha... Mãe? – Meus olhos ficaram marejados e uma pequena dor na garganta começou a se formar. – Por que fez isso conosco? Por que me separou dela esse tempo todo? – Uma lagrima escorreu e Gothel se escorou na mesa, olhando para o vazio. – Você não é humana?

— Tudo que fiz, foi para seu bem. – Falou.

— Para o meu bem ou para o seu próprio? Porque não tem a menor condição de você, praticamente... Roubar uma filha da própria mãe tão descaradamente. – Proferi sentindo uma tremenda dor em meu peito. – Sabe mais o que me chateia? É que eu fui uma... Idiota por ter te defendido esse tempo todo. Eu briguei com a mulher que eu mais amo nesse mundo. Causei uma depressão no meu pai por ter saído de casa. Briguei com um dos meus melhores amigos por sua causa. – Passei a chorar, mas tentei manter a pose.

— Nossa, que comovente. – A fitei. Ver aquela cara irônica, me deu uma vontade de pegar a frigideira e meter naquela fuça, no estilo The Walking Dead, até sangrar. Mas havia um lado que eu não sabia que iria sentir na hora da entrega do resultado. Eu sentia raiva, dor e muita mágoa pela Gothel. Saber que minha babá preferida e cabeleireira número um, era minha mãe, me fez sentir muitas coisas, mas confesso que adorei a novidade, por outro ponto de vista. Mas saber que Suzanne era e é minha mãe de verdade, me fez sentir muito melhor.

— Você ainda acha graça? – Pergunto indignada.

— A graça está nesse seu draminha bobo. Sinceramente Rapunzel, se eu soubesse que você ficaria assim, eu teria feito de outro jeito. – Ela disse com um tom de insignificância, mas não me abalei por isso.

— Hã! – Ri falsamente. – Acho que certas pessoas estão deixando transparecer o que realmente é. – Falei enquanto cruzava os braços, lançando a ela meu olhar superior – aprendi com ela.

— Concordo plenamente. – Rebateu, desafiando-me com SEU olhar superior. Traduzindo, senti um arrepio lá do calcanhar até a nuca, fazendo-me estremecer por inteira. Tentei não transparecer meu medo diante dela, mas creio que a mesma já me conhecia o suficiente para saber quando me apavoro.

Ficamos nos encarando por um bom tempo. Tentava traduzir suas expressões faciais, mas ela não demonstrava quase nenhumas. Era o mesmo semblante sombrio de sempre. No entanto, conforme limpava minhas lágrimas, sua pose de durona foi se desfazendo aos poucos, transformando seu olhar furioso em melancólico. Não vou mentir, bateu uma dó lá no fundo do meu peito.

Ela suspirou pesadamente e se sentou numa cadeira próxima, apoiando sua testa numa das mãos, enquanto o cotovelo lhe servia de base.

— Ótimo. Agora você ficará chateada comigo. – Murmurou, mas consegui ouvir. – Oh Rapunzel. Se soubesse a dor que estou sentindo. – Me vi abaixando a guarda por míseros segundos, mas a recompus conforme me aproximava, sentando-me próxima a ela.

— E você acha que eu não sei? – Indaguei retoricamente, falando no tom mais calmo de minha voz. – Eu só queria entender do por que disso tudo. Por favor, eu imploro. – Juntei minhas mãos e a olhei nos olhos. – Conte-me o que aconteceu. – Implorei por uma resposta. Reparando na feição pensativa e magoada, vi Gothel suspirar e virar para mim.

— Saiba que tudo que fiz foi para proteger você. – Falou com certa amargura, como se tudo que fez fosse irrelevante em sua vida, mas, no entanto fosse algo necessário para me ter.

— Conte-me desde o começo. Quero saber o motivo. – Insisti mais uma vez.

— O motivo? – Riu sem humor. – Foi o amor, querida. O amor que me levou a essa busca interminável por você. – Acariciou levemente minha bochecha. Em seguida suspirou de olhos fechados. – Mas... Já que quer tanto a minha história, creio que lhe devo contá-la, já que te envolve. – Lambeu os lábios e fitou o vazio. – Anos atrás, muito antes de você nascer... Não, não são tantos anos assim, devo admitir. – Riu de si própria. – Continuando. Eu era uma moça a procura de um emprego. Não terminei meu curso. Não quis saber da minha família que vivia na França, pois a mesma fez questão de me mandar embora. Estava sozinha, sem rumo onde seguir e não fazia à menor ideia do emprego que iria escolher. Passei a ficar desesperada. – Suspirou pesadamente e apertou um pouco mais minha mão. – Acredita que numa noite eu dormi com um homem a troco de dinheiro? Ele até me ameaçou se eu não aceitasse. – Falou me lançando um olhar melancólico.

— Sério Gothel? – Acariciei seu ombro, tentando reconfortá-la.

— Sim, minha flor. – Fungou e pareceu limpar uma lágrima que iria cair no canto do olho. – Minha vida só melhorou quando conheci Suzanne, que na época era uma recém formada da Academia de Advocacia.

— E como se conheceram? – Me atrevi a interromper, pois uma curiosidade imensa me atingiu. Fiz questão de me aproximar um pouco, demonstrando mais interesse naquela história.

— Bom... – Gothel, que outrora estava espantada com minha mudança repentina de humor, se recompôs e voltou a prosseguir. – Ela estava andando distraída pela rua e não me viu limpando a vidraça de um hotel, que eu estava cobrindo o horário para ganhar um dinheiro, nisso resultou um problema com um dos hospedes e com a minha demissão. Ela se sentiu culpada e resolveu me dá um emprego como sua ajudante. – Expirou com indignação. – A culpa era dela e ela não queria me pagar. – Pensou alto e voltou a me fitar. –Após alguns meses nos conhecendo melhor, viramos amigas. E, como praticamente irmãs, fizemos uma promessa de que nenhuma trocaria a outra por qualquer outra coisa, principalmente por homens. Hã! Mal se passou os dias e ela me traiu. – Falou entre dentes, apertando o punho.

— Como assim ela te traiu? – Mais uma vez lá estava eu a interrompendo. – Ela te trocou por outra amiga? – Ela pareceu pensar, mas logo voltou ao normal.

— Na verdade, ela roubou o que era pra ser meu. – Me fitou profundamente.

— O que?

— Minha frágil flor, dada a mim como um presente dos céus. – Franzi as sobrancelhas e a fitei em tremenda confusão. Isso é possível? De verdade, isso pode acontecer? Optei por ficar calada. – Quando tínhamos uma noite de festas ou de maratonas de filmes, nós conversávamos muito. E numa noite dessas, eu disse a ela que meu sonho era ser mãe. Já ela disse que não queria ter filhos, pois acreditava que davam trabalho, barulho e gastos inúteis. Eis que surge Alan Howard, seu pai. Ambos pombinhos se conheceram numa galeria em Paris, onde Suzanne fora meses depois de ter me prometido que não engravidaria antes de mim. – Ela fez uma pausa, creio que estava se recuperando da tristeza que a abalou.

— Ela engravidou, não foi? – Perguntei buscando complementar a frase que estava por vir.

— Depois que se casaram, veio a noticia. – Respondeu cabisbaixa, mas se levantou de súbito, irada. – Ela não devia ter aceitado o pedido de Alan. Ela prometeu que não me trocaria e muito menos seria mãe antes de mim. Mas não! Na primeira oportunidade que teve ela o agarrou. – Elevou a voz, assustando-me. – Ela estava insegura com o casamento, porque Alan queria constituir família. Então, para não perder o “amor” de sua vida, engravidou, mesmo não querendo ter essa criança. – Andou pela sala com as mãos na cintura. – Após alguns meses, comecei a notar o comportamento dela conforme se passava a gravidez. – Proferiu com o olhar longe. – Notei que ela não ligava para a alimentação, não fazia questão de ir ao médico acompanhar seu progresso e muito menos ligava para chá de frauda ou até mesmo para escolher o nome. – Falou tão seriamente que não suportei ouvir aquilo.

— Não, isso não pode ser verdade. – A contrariei. – Isso é um absurdo.

— Concordo plenamente minha flor. – Se aproximou com uma voz deleitosa. – Eu achei aquelas atitudes terríveis e a parti daí comecei a me preocupar. – Disse ela, tentando me consolar. – Bom, com o passar dos meses, eu tive a conclusão de que ela não queria ter esse filho e que muito menos queria cuidar dele. Não vi alternativa, e pedi a guarda para ela, que rejeitou, pois queria manter essa maternidade para continuar com Alan, que queria ter esse filho mais do que tudo. – Mais um suspiro de desgosto. – O jeito foi te salvar daquela mulher. – A encarei pasma.

Ai meu Deus... O Hic tinha razão. Ele estava certo. Gothel é a mesma mulher que me sequestrou quando eu era pequena. Como ela conseguiu se infiltrar na minha vida por agora se meus pais a conheciam? What the fuck?! Falta coisa nessa história, não é possível. Nossa! Nunca me senti tão confusa na minha vida inteira. A confusão ultrapassa a dos cálculos de física. Que merda eu me meti? Tá parecendo até novela. – E como minha vida parece uma novela se não tem triangulo amoroso no meio? Só falta dizer que Gothel era apaixonada pelo meu pai. Há! Só me faltava essa.

— Você me salvou dela? – Indaguei ainda atônita. Cheguei a ficar tonta de tanta informação misturada com fortes emoções.

— Sim. – Confirmou. Em seguida ela abriu um sorriso e levou sua mão até minha bochecha, acariciando-a lentamente. – Cuidei de você, alimentei. Hã! Cantei para você todas as noites em que acordava com cólica e não conseguia voltar a dormir. – Ri lembrando a canção que ela me ensinou aos meus quatro anos de idade. – Cuidei de você durante um ano em um apartamento que havia alugado. Durante um ano soube o que é ser mãe. – Permitiu-se derramar uma lágrima. – Isso tudo para que?! Para ver sua filha ser tirada de seus braços e ser trancafiada numa cela imunda, solitária, sem nenhum pingo de amor. – Ela segurou meus braços e me encarou de um jeito assustador. – Esse é o fim da minha história, Rapunzel. – Engoli em seco, começando a ficar a apavorada.

— Sinto muito. – Falei. – Eu não esperava por tudo isso.

— Eu sei querida. – Deu umas palminhas no topo de minha cabeça, com um sorrisinho de lado. – Mas essa é a verdade. Deve aceitá-la mesmo sendo doloroso acreditar. – A encarei por um momento e expirei sonoramente. – Você vai voltar para ela depois de tudo que ouviu? – Indagou curiosa, forçando um tom calmo. 

— Ham... Eu não sei. Digo... Acho que ela me deve explicações. – A respondi, mesmo me sentindo sentada no meio do muro, percebi que merecia ouvir os dois lados da história antes de decidi com quem irei ficar.

— Jura?! – Esboçou um semblante descrente. – Você vai dar chance para aquela mulher que te odeia? Que sempre te achou um fardo? – Arfei em silencio, cobrindo a boca com as mãos e alargando meus olhos.

Um fardo? Suzanne me via como um fardo? Não, não poderia ser verdade.

— Ela já te falou isso de mim? – Indaguei desacreditada. De olhos marejados me aproximei e a abracei.

— Hã! Nas vezes que se via no espelho e reparava-se que estava acima do peso, era o que mais saía de sua boca. – Uma lágrima teimou em cair, e cedi em chorar nos braços de Gothel. – Oh, não chore. – Penteou meus cabelos com uma de suas mãos. – Vamos sair daqui. Vamos fugir para ela nunca mais nos achar. O que acha? – Parei de chorar e fitei seu rosto, um pouco confusa.

— Ir embora? – Afirmou com um maneio de cabeça. – Mas... Meus amigos, o intercambio, não posso simplesmente sair daqui. – Disse buscando focar em outra coisa a não ser a imensa tristeza que sentia.

— Ah, mas é claro que pode. – Me empurrou de leve e abriu um sorriso, limitei em sorrir igual a ela. – É só pensar que não estará sozinha, lembre-se que se quiser posso ser sua responsável legal, apesar de fazer dezoito anos a poucos anos.

— Você quer minha guarda? – Perguntei, embora a resposta já rodeasse minha mente.

— Mais do que tudo. – Respondeu sentindo prazer em dizer aquilo, fazendo-me pensar.

Suzanne sempre foi minha mãe, acho que desde sempre, e nunca, nunca em todos os meus momentos com ela me senti um peso. Sempre fazia questão de ter minha presença. Ensinara-me coisas que só mãe pode ensinar a seus filhos. Sempre que podia demonstrava seu amor. Eu não consigo acreditar que depois disso tudo alguém me diga que ela é outra pessoa. Nunca se passou pela minha cabeça que minha própria mãe fingiria que me amava. Não, não consigo acreditar mesmo.

— Desculpa Gothel, mas não posso ir embora sem esclarecer toda essa confusão antes. – Proferi determinada a sair daquela sala e ir direto ao encontro de Suzanne. Porém, sinto algo me impedir, e num reflexo vejo Gothel me arrastar para outra direção. – O que está fazendo?! – Pergunto completamente atordoada. Por outro lado, ela não respondeu, apenas se concentrou em me levar para algum canto de um jeito brusco e rápido.

— Não queria ser a vilã dessa história Rapunzel, mas já que quer do modo mais difícil, terá de ser assim. – Falou aparentemente furiosa.

Durante o trajeto, tentei me desvencilhar de suas mãos, que seguravam firmemente meus pulsos, nem se importando com os arranhões que suas unhas provocavam. Mas, não consegui livrar-me delas, pois quando eu me soltava de uma, a outra conseguia me pegar. No entanto, após virarmos a esquina de um corredor do mesmo andar em que estávamos joguei Gothel para uma parede de um modo rápido e consegui me libertar. Saí correndo assim que senti meus pulsos livres.

— SOCORRO!!! – Gritei o máximo que pude até conseguir entrar naquela sala de espera, buscando em seguida a porta de saída. Porém, assim que consigo localizá-la, sinto um aperto sobre minha boca e algo me puxando para trás, me distanciando mais da porta.

— Agora já chega Rapunzel. – Ouço a voz daquela louca e sinto o ar quente de sua respiração contra minha bochecha, me deixando agoniada. – Você vai comigo. – Vendo que ela não iria me soltar, começo a me debater contra seu corpo com o intuito dela perder o equilíbrio e cair para trás. Na terceira tentativa, nos levo ao chão, conseguindo novamente minha liberdade.

— JÁ CHEGA GOTHEL! – Grito com o restante de meu fôlego. Ela me encara, aparentemente surpresa. – Você não vê que assim vai acabar nos magoando? – Ela iria me responder, mas de repente para e estica seu olhar para algo atrás de mim.

— O que isso significa? – Indaga mamãe completamente pasma ao ver-nos no chão, naquele estado de briga. – Deixe minha filha em paz. – Vociferou fuzilando Gothel com o olhar.

— E quem irá me impedir? Você? – Gothel se levantou e me puxou pelo braço enquanto ria maleficamente.

— Não irei sujar minhas mãos com você. Por isso deixarei que as autoridades o façam. – Em seguida papai aparece com os seguranças da clinica, prontos para prender Gothel.

— Filha, você está bem? – Abro um sorriso assim que os vejo ali, preocupados e felizes em me vê.

— Não tá tudo bem, mas tô com fé que vai melhorar. – Ele ri pelo nariz e fuzila Gothel com o olhar, igualmente mamãe.

— Solte minha filha agora. – Ordenou com uma voz autoritária, apertando a mandíbula.

— ELA É MINHA FILHA! MINHA! – Esbravejou completamente fora de si, apertando mais meu braço e tirando de suas roupas uma arma, assustando os presentes na sala. – E vocês vão me deixar levá-la comigo, se não irei matar qualquer um que me impedir. – É O QUE?!

— Gothel, por favor. – A pedi tomando o máximo cuidado com minhas palavras. – Não precisa acabar assim. – Ela não me encara, mas solta um riso forçado.

— Isso tudo que está acontecendo é sua culpa. Queria te dar a chance de escolher o modo mais fácil, mas preferiu o mais difícil. – Suspirou e riu mais uma vez. – Mas não preocupe querida, eles nunca irão nos perturbar. – Apontou a arma para meus pais, me causando um pânico terrível.

— Não, Gothel, Por favor! Por favor, não os mate. Por favor! – Tornei a ficar muito, muito desesperada, a ponto de não sentir minhas pernas de tanto medo. – Ok, ok. Eu vou com você. – E a ponto de dizer isso.

— O que? – Parou de fitá-los e me encarou no fundo de meus olhos.

— Deixe-os ir, que irei com você, para onde você quiser. – Tentei falar calma, sentindo um tremendo peso em minhas costas. – Me tornarei sua filha com todo o prazer desse mundo, mas nunca irei te perdoar se matá-los. – Vi em seus olhos a crença naquilo tudo. Eu não estava mentindo, não iria por a vida de meus pais em risco. – É uma promessa. E você que quando eu faço uma promessa ela nunca é descumprida. – Ouço um choro silencioso vindo de minha mãe, quebrando ainda mais meu coração. – Por favor, não os mate. – Gothel pareceu pensar no meu acordo, e aparentemente o aceitou, pois abaixou a arma. – Obrigada. – A agradeço e fito a feição deles. – Amo vocês. – Me declaro de olhos marejados.

— Vamos. – Fala Gothel me puxando para a mesma direção da última vez. Mas, vejo sinais vindos do meu pai, como se dissesse para me abaixar e tampar meus olhos. Mas, o que isso tem haver?

Em questão de segundos ouço um barulho muito alto, como se algo estivesse se partindo em mil pedaços. Na hora me abaixo e tampo meus olhos, ouvindo um barulho de tiro e coisas caindo. Ouço gritos e tento reconhecer as vozes, mas estava tão atordoada que não conseguia raciocinar absolutamente nada. Não sabia se corria, ou gritava por socorro. A única coisa que me atrevi a ver foi meu pai segurando os braços de Gothel e Flynn tentando segurar a arma para o chão. Mas Gothel parecia ser forte o bastante para esmurrar o abdômen de ambos e sair correndo para a janela recém quebrada, parecia ter uma mira boa de lá.

— Ai meu Deus... – Murmurei vendo a treta toda acontecer. Não sabia o que poderia fazer para ajudá-los a conter aquela doida, mas sabia que estava próxima a ela e que poderia tentar derrubá-la com uma rasteira. Poderia fazer isso, mas o problema é que ela estava armada, não me arriscaria a levar um tiro. Por isso, torci para que o melhor acontecesse.

— Seus idiotas. – Vociferou apontando a arma para meu pai.

Flynn aproveitou que a mira não estava nele e pegou um caco de vidro, arranhando o braço de Gothel de um jeito profundo. Flynn viu o que havia ocasionado e conseguiu apanhar e arremessar a arma de Gothel para longe, se distanciando um pouco da mulher a sua frente logo em seguida.

— AGR! – Pude ouvir seus gemidos altos de dor e, como fiquei preocupada com ela, corri para ver o ferimento. Sim, sou uma anta que se preocupa com a mulher que quase matou sua mãe e seu pai, e seu namorado.

— Fique calma, vamos chamar uma ambulância. – Falei assim que me aproximei e me sentei sobre minhas cochas. No entanto, como não estava preparada por isso, sinto um tremendo puxão de cabelo, fazendo-me gritar de dor.

— Se eu não vou te criar como filha, então ela também não vai. – Apontou para minha mãe e se levantou, me guiando para a janela sem antes apanhar um caco de vidro e dirigir ele até meu pescoço.

— RAPUNZEL!!! – Gritou minha mãe correndo até nós, mas é impedida pelo meu pai, que a segurou fortemente. – FILHAAA... DEIXA ELA, SUA LOUCA. – Gothel riu alto e mirou meu rosto. – Eu te amo minha flor. – Senti tanto nojo, mais tanto nojo, que a golpeei no estômago e puxei meu cabelo, na esperando dela soltar. Contudo, ela o puxou mais, tentando me levar para a janela. – Vamos voar então minha filha. Morreremos juntas. – Riu insanamente.

— Não! – Peguei um caco de vidro sobre uma mesinha e com toda força cortei meu cabelo no seu ultimo puxão.

— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!. – Ouço seu grito ficar cada vez mais baixo, até senti seu baque contra o chão.

Ajoelho-me e caio para trás, ficando longe daquele abismo, completamente sem fala e sentindo um alivio imenso. Felicidade? Nem um pouco. Estava tão em choque que eu nem ouvia direito as pessoas ao meu redor. Só via vultos andando de um lado para outro, alguns me levantaram e outras me abraçaram, distribuindo beijos em meu rosto.

Bom... Eu não sei como, mas em um piscar de olhos eu me vi entre repórteres, flash de câmeras e muitas perguntas aleatórias no meu trajeto até o carro. Lá no fundo estavam várias ambulâncias e buscando muito, consegui ver o corpo embrulhado naqueles papeis prateados, me dando um aperto no peito.

Ela morreu... Gothel está realmente morta.

— Filha. – Ouço meu pai e o fito, sem expressão. – Está tudo bem? – Olho para os lados e penso. Está tudo bem? Nem eu sei responder isso. Mas para não preocupá-lo, assenti, entrando no carro com ajuda do motorista. – Vamos pra casa.

— Sim, senhor. – O motorista dá a volta no carro, entra e senta no seu lugar, dando a partida.

Não consigo fitar o rosto de nenhum deles, então passo a olhar minhas mãos, feridas pelos cacos da janela.

— Antes de irmos para casa, passe no hospital, por favor. – Profere mamãe reparando nos machucados de papai e nos meus. Lanço-lhe um sorriso e me aconchego em seu colo, recebendo todo seu carinho.

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Depois de um banho completamente necessário, vesti meu roupão e sentei-me no carpete frente à minha mãe, que passou a pentear meu cabelo recém cortado.

Vendo da janela um céu escuro sem estrelas, percebo uma noite fria e silenciosa. Não estava nevando, mas na minha mente formava-se um temporal. Queria fazer tantas perguntas, mas não queria provocar outro conflito. Não, é melhor deixar essa conversa para manhã.

— Até que não ficou feio seu cabelo assim. – Falou ela secando meu cabelo com o secador. – Vamos marcar um horário no salão, ok? – Assenti soltando um risinho.

— Ok. – Beijei seu joelho que estava ao meu lado e ela beijou o topo de minha cabeça.

— Te amo minha filha. – Abro um sorriso de mostrar os dentes.

— Também te amo. Muito, muito, muito... – Levanto-me e começo a beijar seu rosto, abraçando-a também.

Ela fica rindo e retribui todos meus beijos, parando posteriormente para me encarar. Esse meu auge.

— Posso te fazer uma pergunta? – Ela assente, curiosa. Encho meus pulmões e solto a bomba. – Você me considerava um fardo? – Os olhos dela se alargaram e me fitaram, completamente espantada.

— Como é?! – Disse com as sobrancelhas juntas.

— Gothel me contou coisas sobre você que me deixou dúvidas. Quero que me esclareça-as. – Pedi sem conseguir encarar seu rosto. – Pode me dizer se elas são reais? – Ela parecia estar sem fala e furiosa.

— Filha, eu nem a conheço. Como ela te disse coisas a meu respeito se eu nunca conversei com ela sobre minha vida pessoal?

— O que?

— Olha, minha relação com Gothel foi apenas como sua babá e como sua cabeleireira. Foi tudo negócios. – Pisquei algumas vezes, me sentindo muito mal por ter pensado que minha mãe era uma mulher falsa. – Seja lá o que for que aquela perturbada te disse, creio que foi mentira. – Assenti, concordando.

— Mas, espera. Ela era aquela mulher que me sequestrou quando eu era bebê, como você não a reconheceu? – Ela arqueou a sobrancelha e balançou a cabeça, suspirando.

— Sabia que essa mulher não iria trazer paz. – Arquejo baixinho e fito-a magoada.

— Então você sabia quem era ela? – Indago sentindo minha esperança ir pro buraco.

— Não. Eu não havia visto a mulher porque ela foi direto para cadeia. E só te recebi em meus braços quando eu e seu pai fomos à delegacia te reconhecer. – Respondeu franca, fazendo-me acreditar em cada palavra que saiu de sua boca. – Amor, eu nunca te achei um fardo. Por favor, nunca pense isso. Eu ter engravidado de você foi a coisa mais maravilhosa que aconteceu em minha vida. Saiba que seu pai e seu te amamos muito e sempre estaremos com você, tá? Não se esqueça disso. – Assenti.

— Nunca. – Abri um sorriso e a abracei com todas as minhas forças. – Te trarei muito orgulho.

— Você já trás querida. – Beijou-me na testa e se levantou. – Pedirei que lhe traguem um lanche, deve estar com fome. – Neguei com a cabeça.

— Não precisa mãe. Vou dormir agora. – Ela assentiu compreendendo. – Boa noite meu raio de sol. – Rimos do novo apelido.      

Após assistir minha mãe partir, caminhei até a porta de meu quarto, vendo que essa estava entreaberta. Ao me aproximar, passei a ouvir a conversa de meus pais no corredor. Ambos estavam de frente um para o outro, se encarando com um olhar significativo. O braço de meu pai estava com uma tipóia cinza. Vi minha mãe pegar a mão livre dele e a levar até seu rosto, passando as costas da mão grosseira, porém macia, na bochecha.

— Finalmente querido, nossa menina voltou pra casa. – Pude ver o olhar contente de meu pai de longe, e pude ouvir alguns suspiros de alivio vindos de minha mãe, que começava a chorar emocionada. Meu pai a puxou para um abraço carinhoso e protetor, me mantendo aquecida só de olhar. Fechei a porta quando os vi se beijarem apaixonadamente.

Nunca tive nojo de ver meus pais se beijando. Na verdade, sempre os apoiei o fazer, porém no local e na hora certa.

Segui meu trajeto pelo quarto, parando de frente ao meu roupeiro, procurando um pijama. Optei por um short e um moletom que Flynn me dera. Prendi meu cabelo num coque e sentei em minha poltrona, pegando um livro que não lia há muito tempo. Porém, um som vindo da varanda me distraiu por completo. Com tudo que rolou hoje, sinto-me muito desprotegida no momento. Ainda mais quando não tenho mais Flynn para dormir ao meu lado.

Mais um som vindo de fora. Perguntei-me que merda era aquela, mas decidi ir descobrir por mim mesma. Aproximei-me sorrateiramente da varanda, sentindo um arrepio percorrer a espinha só com o bater da brisa gélida. Inclinei a cabeça para frente e estiquei o olhar, reconhecendo uma camionete estacionada na frente de casa.

— Flynn. – Murmurei e abri a porta, indo até o parapeito, me deparando com um garoto completamente congelado pelo frio. – Pensei que tivesse ido? – Perguntei com um sorriso.

— Por que eu iria? Ficar naquele apartamento sem ter você lá pra bagunçar fica muito chato e solitário. – Confessou, enquanto abraçava a si mesmo. – Tô subindo. – Assenti e o observei a caminhar até uma árvore. Subiu sem dificuldades e tentou se equilibrar num galho próximo ao parapeito, o ajudei e Flynn pulou para dentro, indo de encontro comigo.

— Ai! – Soltei um gemido de dor. Flynn me encarou no mesmo instante, verificando se havia me machucado seriamente, mas como um brutamonte sem sentimentos, apenas riu da minha careta ao perceber que só havia me empurrado de leve.

— Desculpa. – Riu sem jeito e me abraçou lentamente. Suas mãos buscaram se aquecer em minha blusa, no entanto desistiu e optou por me guiar até meu quarto, quentinho e confortável. – Que saudade desse lugar. – Riu enquanto caminhava pelo cômodo, vendo minhas antigas coisas. Quanto a mim, fiquei trancando todas as portas daquele quarto como se fosse uma prisão.

Ver Flynn mexendo em minhas coisas não me incomodou, na verdade, peguei a mania de partilhar minha intimidade a ele. Meu moreno relembrou meus primeiros momentos com o desenho, tocando cada folha que estava grudada numa parede em especial. Após isso, começou a mexer em minhas roupas. Cada vestido, cada peça, ele soltava um elogio diferente, abrindo-se com suas opiniões e lembranças dos dias que eu os usava.

— Nossa! Você ainda tem esse anel? – Perguntou, colocando a bijuteria que comprou há meses atrás. – Agora sei onde anda meus moletons. – Falou ao se deparar com uns cinco casacos diferentes, pendurados na parte superior do roupeiro. – E ainda tá com perfume? – Perguntou-se desacreditado. Por incrível que pareça, nunca tive vontade de lavar as roupas de Flynn, especialmente os moletons que carregavam seu cheiro. Sentia uma dor em meu peito de fazê-lo.

— Pra tu vê. – O respondi com um sorriso, me deixando na cama. – Se olhar na outra gaveta, tem umas calças suas que não aguentei e rasguei as pernas. – Ele me olhou confuso e abriu a tal gaveta, encontrando nela as calças que customizei para uso próprio. Fitou-me com os olhos cerrados e um sorrisinho travesso.

— Você tem sorte que ainda tenho umas lá em casa, se não te mataria. – Proferiu num modo ameaçador e se aproximou, deitando em seguida ao meu lado. Suspirou cansado e logo se virou para ficar me olhando. Em seguida começou a brincar com minhas mechas de cabelo, enrolando-as em seu indicador e desembaraçando-as.

Passamos um bom tempo daquele jeito. Ele me acariciando e eu quase dormindo. Faltava pouco babar no meu lençol de tanto que estava retardada. Mas mesmo naquela paz, um sentimento de medo me atingiu. Passei a sentir um gelo percorrer todo meu corpo, fazendo-me arrepiar. Vendo que só Flynn poderia acalmar meus nervos, fiz a seguinte coisa:

— Te amo Flynn. – Falei enquanto sentia seu carinho. Seus dedos enterrando e desenterrando meu cabelo deixou-me bastante relaxada. Mas não parou por aí. Sua mão livre me envolveu num meio abraço, acariciando minhas costas.

Não suportei a ideia de apenas curtir seu mais doce carinho, então optei por me virar e beijá-lo.

Foi um beijo técnico, sem o uso de nossas línguas, apenas uma brincadeira entre nossos lábios. Ás vezes ele mordia os meus, às vezes retribuía com leves puxões, e vice versa. Mas não durou muito, pois Flynn cessou esse beijo, deixando-me um tanto confusa e intrigada.

— Que foi? Por que parou? – Pergunto juntando as sobrancelhas, numa expressão desapontada. Estava adorando aquele momento de carinho, pois tanto me trazia prazer quanto me fazia esquecer os problemas, que me envolvi ultimamente. Ah não! Será que ele notou essa parte? – Está se sentindo bem? – Perguntei bastante receosa, sentindo um tremendo nervosismo me atingir.

— Você não é disso. – Falou enquanto ficava me olhando de um jeito analisador. – Fala logo loirinha. Como está se sentindo? Bem? Pior? Anda, desembucha. – Ordenou com um semblante sério. Ajeitou-se nos travesseiros, tirou as botas e se aconchegou na cama como se fosse a sua.

Ri daquela cena de folga e sentei para ter a melhor visão de Flynn, prestando atenção em tudo que iria desabafar.

— Hum... Ok. – Suspirei, olhando para cima com os olhos fechados, buscando uma certa paz que não conheço há dias. Isso relaxou meus músculos, principalmente dos ombros, aliviando a tensão que habitava neles. – Eu sei que isso vai parecer loucura, mas... – Não tive coragem de prosseguir. No entanto, precisava urgentemente desabafar tudo. E que pessoa melhor do que Flynn Rider, o homem mais mentiroso e sincero que conheço.

— Mas o que... – Me incentivou a prosseguir. Seus olhos castanhos esbanjam uma calmaria que não sei da onde vinha. Flynn não era de perder a paciência facilmente, e muito menos partir pra violência por uma discussão, a não ser se for algo que o deixaria muito, muito, mais muito irritado. E ver aquela tranquilidade em seu olhar, aqueceu alguma coisa em meu corpo, deixando-me confortável.

— Eu sei que a morte de Gothel foi um certo alívio em nossas vidas. Livrou várias famílias ou crianças da insanidade dela. Mas... Sinto lá no fundo uma dor, um luto que eu não queria ter, entende? – Um nó em minha garganta começou a se formar. O choro estava a caminho e este não tinha motivo de prender. – E o que mais me irrita é o fato de ter sido uma completa idiota, buscando agradá-la ou defendê-la de qualquer coisa. A cada dia que se passava eu tentava me conformar com o fato dela ser minha mãe, mesmo sentindo uma culpa de ter me afastado dos meus pais. – Uma lágrima teimosa escorreu em minha bochecha. – Eu estava começando a amá-la de um jeito incompreensível. – Funguei e limpei meu nariz, que já estava vermelho. Senti uma forte dor em meu peito. – E pra quê aquele amor todo? Pra depois ser sequestrada e nunca mais ver meus pais de verdade. Nem meus amigos. Hum, nem você. – Acariciei o queixo de Flyn, que me lançou um sorriso contagioso, fazendo-me rir. – Nem sei o que faria se isso acontecesse. – Pensei alto, fitando o vazio.

Um movimento de Flynn tirou-me do foco, voltando olhar para ele. O moreno que antes estava deitado sentou-se a minha frente e ficou cara a cara comigo, me encarando profundamente.

— Eu sei o que faria. – Falou no tom mais fofo possível, levando uma mecha para trás de minha orelha, aproveitando o movimento para chegar até minha nuca. Seus olhos revezavam entre minha boca e meus olhos, continuamente. Seu rosto se aproximou com calma, criando uma ansiedade dentro de mim. - Primeiro iria até o fim do mundo para te encontrar. Segundo, após te encontrar, iria te roubar pra mim e nunca mais te deixaria desprotegida. – Lambeu os lábios e engoliu em seco, me olhando fixamente nos olhos. - E terceiro... Nunca mais iria deixar com que alguém te machucasse, tanto emocionalmente quanto fisicamente. E ai de quem te machucar. – Abri um sorriso, emocionada.

— Você faria tudo isso? – Embora já soubesse a resposta, perguntei assim mesmo. Porque sou dessas!

— Mas é claro! Você não entende né Punzie. – Não considerei aquela frase como pergunta, então optei por não responder. – Eu só capaz de fazer qualquer coisa por você. Rapunzel, eu sou louco por você. Você é meu sonho. E não importa o que aconteceu hoje, porque não vai fazer tanta diferença assim, e sabe por quê? – Neguei curiosa. – Porque você tem várias pessoas que te amam tanto, que barra qualquer mulher falsa. Ok? – Me deu um selinho estalado. – Eu te amo. Minha linda. – Sem perder mais tempo, Flynn quebrou o espaço entre nós, me dando beijos urgentes e calorosos, coisa que só fazia quando os necessitava.

— Também te amo. – O respondi num intervalo entre nossos beijos.

Honestamente, nunca esperei por ter um dia tão barulhento como este. Revelações, medo, morte... Tudo misturado e lançado como uma bomba atômica prestes a explodir minha mente. Isso me serviu de lição para levar o que mamãe e papai diziam quando eu era criança "Não confie em estranhos, por mais que pareçam ser gentis, sempre mantenha-se atenta, pois nunca se sabe o que eles poderão fazer". 

Sempre levarei essa frase comigo.


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Notas finais do capítulo

Entãoooooooo.
Por favor não esqueçam de comentar porque vocês sabem que isso é importante pra mim, e nesse cap necessito do seu incentivo.
Beijooooooos



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