–Com licença- Pedi um pouco friamente, mas olhando para ele com um jeito irônico.

–Larissa, a gente precisa conversar.

–Com licença, você está na porta do meu quarto!

–Eu sei onde eu estou, e eu disse que a gente precisa conversar.

–E eu disse “com licença”. Significa que é pra você sair da frente- Cruzei os braços.

Ele me olhou como se fosse “a última chance da minha vida” para falar com ele, mas insistiu:

– A gente precisa conversar!

– Você tem tanta gente pra conversar, até pra beijar, não precisava vir aqui- Ryan levantou levemente as sobrancelhas para a minha ironia.

–Por que? Tem algum problema de eu ser amigo da Mahti?

–Hoje em dia as pessoas tem um conceito bem legal sobre amizade, não sabia que as pessoas saíam se beijando no dia seguinte que se conhecem.

– Ela disse pra mim que aquilo foi sem querer. Larissa, você nem conhece a Mahti!

– Conheço o suficiente pra perceber que ela não gosta de mim. Dá pra sair da minha porta? Eu preciso estrear o meu quarto.

Ele saiu andando pelo corredor.

Corredor?

Meu deus, o prédio todo deve ter ouvido isso!

Eu entrei no quarto, tomei um banho e quase fui dormir sem colocar meu despertador na hora certa. Depois de arrumar tudo para o dia seguinte, pude me deitar.

Acordei numa cama de bolinho, num quarto em formato de bolinho. Lavei meu rosto com um bolinho, me olhei no espelho de bolinho e vi que eu era um bolinho. Dei bom-dia pro bolinho da frente saí para minha aula de bolinho, com a professora Bolinho. MAS O QUE?

Agora eu acordei de verdade. Não sei o que aconteceu, mas esse maldito bolinho me persegue. Eu preciso falar com alguém, algum professor, ou o diretor... Que horas são?

Duas da manhã?

Deixa pra quando estiver de dia.

Acordei com o barulho estridente do despertador e fui logicamente desliga-lo. Tomei um banho de manhã, coisa que a minha mãe não deixava quando eu morava lá em casa no tempo de escola. Ela não tá aqui mesmo...

Meu deus, a rebeldia da minha vida é tomar banho de manhã?

O importante é que depois do café eu vou correndo pro Grande Círculo para perguntar pra mulher se aqui tem uma biblioteca.

Só estava eu acordada de todos os alunos na escola para tomar o café. Devorei meu pão de queijo ( que era do tamanho da minha mão fechada) com requeijão, tomei um copo de iogurte e saí para perguntar:

– Tem biblioteca aqui na escola?

–Tinha, até o ataque de antes de ontem.

–Como assim, moça? Eles destruíram a biblioteca?

–Infelizmente, eles conseguiram entrar no castelo. Mas não foi nada grave, já chegaram a explodir as construções!

–Nossa, moça, sério?

–Sério, sim. Aliás, por que a senhorita quer visitar a biblioteca?

–Sabe moça, tem um monte de coisas rolando na vida... Comecei a achar que poderiam ter lançado um feitiço em mim...

– Ah, pode ficar tranquila, as chances de isso acontecer são de uma em um milhão!

E assim eu fiquei conversando com a moça que fica na mesa do Grande Círculo até eu descobrir que ela se chama Natália e bater o sinal.

–Tchau, moça, te vejo depois!

Ela acenou de volta.

Comecei a andar atrás de Melody e Sammy e elas estavam conversando sobre algum menino que elas viram no Refeitório.

– Ele é muito lindo, Melody, você viu! Ele me ajudou a levantar e...

– Achei que a Sammy só fosse se apaixonar por pipoca!

–Mas ele deve ser beeeeem mais velho!

–Deve ser um Sirius Black de fanfic, que fica se achando pras alunas novas e se acha o gostosão da escola!- Comentei.- Mudando de assunto, agora a aula é de que?

–De bacon.- Melody disse e eu olhei para professora Armário de Bacon. A gente chegou realmente rápido.

Se tinha como a aula de feitiços ser mais chata do que quando começou, foi quando terminou. E eu aqui achando que a Cabelo Gay ia ser a mais legal.

O pior é que a aula depois era Ervas Bruxas. Alguém me mate, meu deus!

A professora Ponto-Rosa deu uma aula super interessante sobre... Ah, é, eu não prestei atenção. É o segundo dia de aula e eu já estou me vendo de recuperação em EB.

Quando eu olhei no horário ( coisa rara) eu percebi porque ninguém mais estava prestando atenção na aula: o próximo horário era de Estudo Lunar. Melody queria ser a primeira a chegar, então quando bateu o sinal ela saiu correndo, arrastando eu e a Sammy castelo a dentro, e depois diminuiu a velocidade quando percebeu que, aparentemente, a escada em caracol para a Torre era a coisa mais enrolada de nossas vidas.

A professora Celeste era incrível: parecia ser a mais nova ali, e parecia ter um tom de rebeldia na voz. Ela explicou a matéria tão bem que ninguém nem piscou. Meu deus.

Só faltava a Melody babar do meu lado de tanto que ela prestava atenção. Inclusive, ela estava de boca aberta.

– Fecha a boca, loirinha, se não entra Volati.- Disse a professora diva

–O que é Volati? – Perguntei.

– Matéria de ECM, mas são praticamente pernilongos na vida dos Comuns.

Depois da aula de EL, era finalmente a hora do lanche. Comi um iogurte (quanto vício) e saí pra falar com a moça do Grande Círculo.

–Pra que tanta amizade com a mulher da salinha?- Melody me perguntou na aula de Transformação.

–Ela é legal!

– Ahaaaam...

– Pra que eu iria querer ser amiga da mulher “da salinha” por interesse?

– Podem parar de conversar?- A professora Nina chamou nossa atenção. Depois dos dois tempos de Transformação, da hora do almoço, e dos dois suplementos chatos, o último suplemento era de Vida Comum, que a gente nem teve a aula ainda. Mas foi de esportes.

Era um esporte esquisito, que se jogava em duplas.

– Eu vou escolher as duplas!- O professor anunciou. Ele foi falando e as duplas foram se juntando:

Leandro e Sammy, Vinícius e Melody, Mahti e um garoto que eu nunca vi na minha vida, um monte de gente desconhecida com gente desconhecida...

–E as últimas duplas- Nessa hora, eu estava torcendo pra ir com uma tal de Joana que tinha cara de mosca-morta ou uma tal de Daniela que tinha cara de quem ia me bater, porque a outra opção era o Ryan –Joana e Daniela, e Larissa e Ryan.

Não creio nisso.

Não pode ser!