Teous! escrita por Mariez, Mariesz


Capítulo 27
Uma manhã cheia de memórias


Notas iniciais do capítulo

Me desculpando pelo atraso com uma justificativa: mini-bloqueio criativo de novo. Enfim, consegui escrever mais que 1000 palavras pra vocês hoje. Aproveitem a leitura.



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No meio da noite, escutei um barulho estranho e me levantei rapidamente. Por sorte, era só Vinícius derrubando nossa bolsa enquanto tentava beber água.

—O que foi?

—Não consigo dormir—Vinícius disse, guardando a garrafa de volta.

—Eu me lembro de quando eu era pequena e meu pai me fazia dormir com uma música antiga. Ás vezes eu colocava meu relógio para despertar no volume mais baixo no meio da noite, só pra escutar ele cantando de novo.

—Então cante a música, quem sabe eu goste e comece a acordar mais vezes no meio da noite.

—Eu não sei se eu lembro ela inteira. Era alguma coisa como “Deite na árvore...”. — Na mesma hora que eu falei o primeiro verso, o resto da música veio na minha cabeça.

“Deite na árvore

Da floresta

E relaxe seu coração

Olhe em volta, veja bem

O que acontece aqui também.

Veja as fadas voando,

Os duendes girando,

Os Piscios dançando

E os vaga-lumes brilhando.”

Vinícius parecia estar dormindo quando eu terminei de cantar, mas eu tinha quase certeza que ele estava tentando me enganar. Eu fiz mais alguns feitiços de proteção e fui tentar dormir.

Pesadelos. Pesadelos definiram a minha primeira noite dormindo naquela barraca. Começava com meu pai cantando, então ele se transformava em Marília recitando a profecia de novo. A casa era desintegrada e eu caía infinitamente num escuro total com gritos e mais gritos.

Eu senti falta de casa. Não era a falta de casa que eu sentia antes de saber da Profecia, porque eu sabia que eu ia voltar pra casa um dia. Era diferente. Eu mal tinha certeza se ia acordar viva na manhã seguinte. Eu também mal conseguia dormir. Talvez fosse questão de tempo até eu me acostumar com tudo isso e conseguir dormir com segurança.

Depois de algumas horas eu finalmente aceitei que não ia dormir, já que era quase hora do sol nascer, então fiquei simplesmente olhando pra rua e pensei em Melody. Na última carta, ela disse que os eixo-nortistas estavam praticamente comandando a escola, e ela saiu pra se despedir. Provavelmente ela saiu escondida da aula. Na última carta ela falou sobre Ryan e Melissa.

Que falta eu tinha sentido de Ryan. Nunca passei tanto tempo sem falar com ele, nem quando ele roubou meu chiclete no terceiro ano. Ou quando ele puxou minhas tranças, no quarto ano. Ou quando ele manchou meu livro, no quinto ano. Ou mesmo quando ele me pediu cola na prova de matemática, no sexto ano. Na verdade, juntando todos esses acontecimentos não dá nem metade do tempo que estamos afastados. E mesmo assim ele prefere passar os dias dele com a Melissa em vez de me mandar uma carta.

Mesmo que Vinícius e eu sejamos tão amigos agora, não é a mesma coisa. Não, não é. Não é, porque ele não é o Ryan, e porque eu não virei amiga dele porque ele pediu um pedaço do meu bolinho, seis anos atrás. Mas por que eu estava me importando se ele não se importava de volta? Começou com a Mahti e agora com a Melissa. Parece alguma obsessão por meninas que o nome começa com “M”. Acho melhor mandar uma carta pra Melody mandando ela tomar cuidado.

Deixa pra lá, afinal, eu tenho mais o que fazer. Se ele tem tempo pra gastar com a Melissa, o problema é dele, certo? Acho que sim.


—Bom dia, flor do dia. Dormiu bem?

—Por que eu concordei em trazer você junto, hein, Marcus?

—Ninguém aqui dormiu bem, Larissa, não precisa descontar no menino.

—Você fala isso porque ele não passou o dia todo dando em cima de você.

—Graças a Deus.

—Engraçadinho, você, né?

—Que mau humor! Tudo isso é falta de iogurte?— Vinícius sentou do meu lado com um pacote de frutas secas.

—Não, acho que é porque eu estou sendo forçada a arriscar minha vida. Ou talvez sejam só essas frutas secas. Vai me dizer que não tinha nada melhor pra comer?— Eu peguei alguma coisa esquisita do pacote e comi, percebendo o quanto eu estava com fome.

—Ser não gosta, por que tá comendo?

—Porque eu não tô a fim de buscar comida. Marcus, vai buscar uma bolacha pra mim?

—Claro, gatinha.— Esperei ele entrar na barraca pra fazer um feitiço de “campo de força”. Assim, ele não sairia de lá por algum tempo.

—Por que a gente trouxe ele?

—Porque ele é um eixo-nortista que vai entregar a gente.

—Você tá passando bem?

—Melody disse que os eixo-nortistas estão tomando conta da escola e ele estava fora da EMM quando encontramos ele. Perto da fronteira. Vera está nos rastreando através dele e nós vamos chegar lá em menos de uma semana.

—Chegar onde?

—Na casa dela. Eu tenho quase certeza que tem uma Coroa lá.

—Quando foi que você ficou mais inteligente do que eu?

—Quando eu aprendi a diferenciar uma poção do amor de uma paixão de verdade.

—O que você quer dizer com isso?

—Se você ainda não descobriu, não sou eu quem vai te falar.

—Não sabia que você ficava de segredinho.

—Com ele aqui, pode crer que eu vou revelar tudo que eu descobrir— Ele levantou as sobrancelhas e desfez meu feitiço na barraca e saiu na direção de Marcus, virando o pacote de frutas secas na boca e fingindo não saber a origem do campo de força.

Claro que Marcus não era eixo-nortista. Vinícius é paranoico de mais. Esse americano idiota pode ser tudo: metido, idiota, irritante, menos eixo-nortista. Eu duvido que ele conseguiria dar um choque nas pontas dos meus dedos. E outra, Vera seria tão burra assim para deixar uma das Coroas na casa dela?

Continuei pensando nisso enquanto comia minha bolacha, até que algumas pessoas que passavam na rua pararam na nossa frente e ficaram nos olhando. Eu estranhei, afinal os meus feitiços fariam nós e a barraca ficarem invisíveis.

—Isso era hora de estarem na escola, não de ficarem usando drogas no meio da rua! Eu vou ligar pra polícia. —Então realmente tinha uma falha nos meus feitiços. Talvez por isso eu tenha ficado com raiva.

—Olha aqui, a gente não tá incomodando ninguém. E outra, se vocês não perceberam, a gente não tá usando droga! Isso aqui é bolacha! B-O-L-A-C-H-A!—Falei pausadamente, morrendo de vontade de jogar aquele pacote na cara da mulher idosa que tinha me acusado.— Mas eu não vou perder meu tempo com vocês, nem com polícia nenhuma! Expulso memorium!— E assim eu tirei a memória de cinco velhinhas e um homem de meia idade.

—Eu não acredito que você fez isso!

—Quem se importa? A gente precisa sair daqui. Rápido!


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Notas finais do capítulo

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