Teous! escrita por Mariez, Mariesz


Capítulo 25
Rua da Macieira,39


Notas iniciais do capítulo

Postando os capítulos atrasados! Espero que gostem!



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A casa da minha tia era quase a mesma de quando eu ia passar os finais de semana lá. A diferença era a falta de alguns móveis e talvez a quantidade de poeira. Não só móveis estavam faltando, mas algumas partes da casa, como o vidro nas janelas e a tranca nas portas.

Na verdade, só sobrou a mesa de jantar grudada no chão, meia dúzia de cadeiras quebradas e um criado-mudo com a gaveta emperrada. Eu deixei a bolsa escondida num dos quartos da casa e decidi sair pra verificar o local repassando em mente cada feitiço, paralisante, torturante, mortal, que me fizesse ganhar tempo. Deixei um feitiço para me alertar se qualquer um dos três (eu, Vinícius e a casa) fosse atacado, mesmo que por um inseto grande.

Eu escutei vozes vindas de longe e mandei Vinícius guardar a casa enquanto eu ia verificar. Percebi algumas marcas de batalhas nas casas e na rua. Minha tia teve sorte de conseguir fugir antes de qualquer coisa.

Minha esperança era poder olhar cuidadosamente pela esquina e encontrar um grupinho de Comuns visitando o que sobrou da antiga Cidade Mágica deles. O resto de Cerejeira era envolto por feitiços que permitiam os que não eram bruxos verem somente uma floresta com uma placa de preservação ambiental e uma cerca enorme. Por causa da magia forte dos eixo-nortistas, todas as fronteiras com o eixo Norte tinham perdido o feitiço, fazendo com que os Comuns vissem a cidade de vez em quando. Quando bruxos eram descuidados, os boatos corriam pelos bairros Comuns que alguém tinha visto magia naquele lugar. A fronteira eixo Leste-eixo Norte- bairro Comum virou ponto turístico e foi apelidado de “A Cidade Mágica”. O governo nunca tentou incentivar, pois os presidentes do Brasil Comum e do Brasil Mágico sabiam a tragédia que aquilo poderia causar. Depois da invasão, alguns Comuns visitam o local deserto e contam a seus filhos pequenos como era tudo na época em que os bruxos viviam lá.

Eu olhei pela esquina. Na rua do lado, se via duas famílias falando português com sotaque americano. Um garotinho, de seis anos no máximo, corria na frente com um avião de brinquedo e o garoto mais velho atrás dele se divertia balançando as mãos para fazer seu avião voar. De repente, eu reconheci o garoto: Marcus Heath Dio, segundo ano do módulo um, loiro, alto, americano, pais Comuns. Na verdade, aqueles pais não pareciam de Marcus, já que ninguém além das crianças era loiro por ali. Mas não me importei, só continuei observando até que os pais de Marcus se despedem do filho na porta de uma casa enorme, desejando-o um bom ano na escola. Então eu me lembrei das passagens para a EMM espalhadas pelo país todo, usadas por alunos perdidos e decoradas por alunos que ainda não se perderam. Naquele dia, eu me esqueci de achar estranho Marcus ter faltado á escola. Quer dizer, se ele estava na fronteira, ele não estava na escola com Melody e os outros alunos, certo? Certo.

Mas, enquanto Marcus via os pais saírem de carro e virarem uma esquina antes da que eu estava, ele me viu. Levantou as sobrancelhas que tinham um formato que fazia parecer que ele sempre estava surpreso e com segundas intenções no olhar e começou a se aproximar.

—Larissa!— Ele exclamou feliz. Eu não me lembrava, realmente, de ter falado com ele alguma vez.

—Acho que você devia estar na escola, Marcus!

—Você cortou o cabelo?— Ele sorriu e eu lembrei por que o reconheci. Eu ouvi algumas meninas falando sobre ele uma vez. Falando que ele tinha um bronzeado de surfista até no inverno e que o sorriso dele era lindo. A parte do bronzeado era verdade, mas eu já tinha visto sorrisos mais bonitos, mesmo que eu não pudesse chamar ele de feio.— Eu ouvi dizer pelos boatos que havia uma profecia com você, e eu tinha quase certeza que eu podia ajudar. Falei pros meus pais que eu queria visitar essa parte da cidade antes de voltar pra escola e eles nem se importaram de ver se eu tinha entrado. Enganar velhos é uma das coisas mais fáceis que eu já fiz. Eu sabia que você ia estar perto de uma das fronteiras do eixo Norte.

— E você espera que eu te fale onde eu estou e deixe você ficar com a gente?

—Mais ou menos.

—Olha pra minha cara, Marcus. Eu tenho cara de idiota?— Eu só tinha aprendido a desconfiar quando Marília percebeu que eu era muito inocente. E realmente valeu a pena.

— Não. Você é bem bonita, inclusive.

—Marcus, se eu quisesse ser cantada eu teria colocado uma minissaia enfeitiçada no dia de Carnaval. — Era uma expressão bruxa antiga que eu nunca tinha entendido, mas se funcionava bem nas frases da minha mãe, funcionaria bem nas minhas.

—Você sabe que se você sair daqui eu vou te seguir. — Ele segurou meu braço com força e o alarme do meu feitiço disparou. Em alguns segundos, Vinícius apareceu pronto para azarar o primeiro que ele visse. Marcus simplesmente riu. — Calma aí, gatinha. Quem é o seu amigo?— Ele terminou a frase me soltando.

Vinícius olhou pra mim e para Marcus, com certeza mais desconfiado do que eu já estive durante toda a minha vida.

—Não te interessa quem ele é, o que interessa é que você vai embora!

—Eu estou aqui pra ajudar vocês, idiota. Eu sei muito mais do que vocês vão aprender numa vida toda de estudos.

—Você não sabe nada, garoto!— Eu perdi a paciência e esqueci todo o meu poder mágico, simplesmente empurrando Marcus com toda a força que eu podia arrumar.

— Deixa ele, Larissa. — Vinícius ficou calmo de repente e eu comecei a desconfiar dele. — Ele pode ser útil. Como ainda não guardamos nossas coisas e nem chegamos onde queremos, podemos levar ele.— Nessa hora, eu percebi que Vinícius estava com a bolsa de carteiro na mão e um plano em mente.

— Tem certeza?— Resolvi atuar também, para Marcus não descobrir o plano.

—Tenho— Eu percebi a expressão aliviada de Vinícius. Ele sabe que eu descobri um plano.

O suspeito se levantou do chão.

—Pode ter certeza que não vão se arrepender— E sorriu.


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Notas finais do capítulo

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