Teous! escrita por Mariez, Mariesz


Capítulo 24
A Partida, 1 de agosto


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas saiu mais um capítulo!
Desculpa mesmo, gente, mas deu um bloqueio criativo e eu não consegui escrever NADA! Mas, finalmente saiu alguma coisa.
Vamos a leitura!



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Já era 31 de julho, faltavam apenas algumas horas para eu e Vinícius começarmos nossa busca. Já faltavam quinze dias para o meu aniversário.

O momento mais dolorido desses últimos meses foi cortar o meu cabelo. Eu mesma tinha decidido isso, e estava fazendo isso sozinha, no banheiro da casa. Cada mecha que eu ia cortando, me lembrava de como era antes de tudo isso começar. Eu me lembro de ficar deitada olhando para o meu lustre de guarda-chuva, com os cabelos espalhados pela cama, sem ter nada pra fazer. Eu estava cortando eles na altura das orelhas, o que dava mais ou menos quarenta centímetros.

A ideia de começar a busca parecia tão distante, de qualquer jeito. Mesmo que estivesse faltando apenas horas para sair quase sem rumo, eu sentia como se ainda faltassem aqueles seis meses. Nesses seis meses, eu nunca me senti tão cansada. Eu poderia fazer o exame final da EMM, que só se faz no último ano, e sair com a nota máxima. O meu grau de magia tinha aumentado de um jeito anormal e já estava no seis, o que era uma sobrecarga para quem tinha quase treze anos. Tudo isso de poder mágico não me afetava, mas o tempo de estudo e a responsabilidade que mal tinha começado tinha feito eu e Vinícius agirmos quase como os que se formariam na escola naquele ano.

Eu terminei de cortar meus cabelos e não ficou ruim, mas eu estava quase irreconhecível. Ninguém, nem Vinícius ou os professores que estavam na casa, comentou algo sobre isso.

Naquela noite eu me esforcei para dormir, mas eu estava ansiosa. Talvez eu não estivesse ansiosa no bom sentido, mas mesmo assim eu mal dormi. Era como nos primeiros dias de aula, onde você se via acordando a cada hora e se virando para dormir de novo, mas mesmo dormindo mal você ficaria bem descansado pelo dia todo.

A manhã seguinte foi simples: nós iríamos visitar a escola de novo e nos despedir da Melody.

Eu pensei muito em me despedir do Ryan, e eu nem sabia se eu ia voltar pra poder falar com ele de novo, mas eu me lembrei da carta que eu tinha recebido a muito tempo atrás. Pelo que Melody me disse, talvez não fosse muito bom tentar falar com ele. Decidir isso me deu um aperto no coração, mas eu continuei.

Chegando á escola, Vinícius foi pedir pra Natália chamar Melody e eu fui passear pelos jardins e matar um pouco a saudade daquele lugar. Joguei pedrinhas no lago, me lembrando da festa. Passei pela quadra, me lembrando do dia em que joguei por cinco minutos. Passei pelos dormitórios, pensando nos alunos que se foram no ataque e até peguei um pouquinho de grama da EMM e guardei na bolsa estilo carteiro marrom com um feitiço que fazia ela ser duas vezes maior por dentro. Dentro da bolsa eu estava levando a barraca que Marília deu, que era praticamente uma casa por dentro, com duas camas e uma mesinha com cadeiras, comida em saquinhos, água, grama da escola, um livro de feitiços, todas as cartas que eu já recebi e a foto da torta que Ryan me mandou e algumas roupas. O colar da SSC ainda estava no meu pescoço.

O céu estava bonito, e era um bom dia. Mas eu comecei a me culpar, como se só naquele momento eu tivesse percebido o que tinha acontecido. Era um bom dia para os alunos que morreram? Era um bom dia para as famílias de se desestruturaram? Eu sabia que era minha culpa. Me conformava um pouco saber que Vinícius também estava junto comigo. Eu sentia como se eu fosse cada um daqueles eixo-nortistas, como se eu tivesse matado cada uma das pessoas, não só as atacadas na escola, mas também as pessoas inocentes em suas casas.

Eu me senti egoísta. Por pensar em mim e o esforço que eu faria naquela busca, mas eu estaria pagando minha dívida. Não estaria salvando ninguém, somente evitando que mais gente morresse. Eu tinha que fazer isso, mais do que só por cumprir a Profecia. Eu tinha que parar de matar todas aquelas pessoas indiretamente.

Tentei prestar atenção nos comentários de Melody sobre mim. A expressão dela foi meio assustada. Ela falou sobre meu cabelo, sobre minha pele estar branca por não sair da casa e sobre outras coisas que me fizeram sentir raiva. Eu não queria falar sobre mim, tendo acabado de perceber o tanto de gente que eu fiz morrer.

Eu murmurei algo como “Que diferença faz o jeito que eu estou?”, e deixei a garota com Vinícius. Comecei a passear de novo pelos jardins, perto do lago. Puxei a manga listrada da minha camiseta preta, com frio e decidi pegar uma jaqueta. Eu vi os outros se despedindo e coloquei a touca da jaqueta. Fui andando na frente, quase deixando os portões da escola se fecharem e guardarem Vinícius lá dentro, mas não me importei. Ele também não puxou assunto, o que foi ótimo para sua sorte.

—E agora?— perguntei, soando realmente rude —Pra onde a gente vai agora?

— Não sei. Eu acho que devíamos ficar perto do eixo Norte, já que Marília nos mandou “visitar” Vera primeiro.

Tentei montar um mapa de Cerejeira na cabeça, o que deve ter demorado um minuto, mais ou menos.

—A divisa entre o eixo Norte e o Oeste é mágica, não dá pra acampar. A divisa entre a floresta e o eixo Norte é um rio. A divisa entre o Leste e o Norte é... — Nesse momento, meu mapa falhou.

—Abandonada —Vinícius completou meu raciocínio—, depois da invasão do ano retrasado.— É claro que eu me lembrava! Foi por isso que minha tia se mudou de Cerejeira. — Mas ás vezes os Comuns passam pra visitar, já que eles acham que a divisa corresponde a antiga Cidade Mágica. Eu não sei se existe algum campo por lá, ou uma casa abandonada.

—Casa abandonada eu te garanto que existe. Com certeza ainda tem um teto na rua da Macieira,39.


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Notas finais do capítulo

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