Ele foi o único que não partiu meu coração. Ao invés disso, ele o levou embora. No entanto, eu sabia que, se ainda o tivesse, me apaixonaria por ele de novo. 

   Ele me amou, me libertou. 

   Meu coração pareceu um preço pequeno a se pagar por isso.

   Ao deixá-lo ir, percebi onde tinha estado errando por tanto tempo. Eu não podia ser egoísta. O amor não pode ser egoísta.

   Hoje, posso fazer o que nasci para fazer sem me perder pouco a pouco no caminho. Posso encontrar duas metades que estão separadas, posso juntar pessoas solitárias, vagando pelo mundo com um vazio que nunca perceberam que poderia ser preenchido. Posso dar amor sem perder amor.

   E para enxergar as almas atormentadas, basta lembrar da única que se doou completamente para mim, que correu o risco de continuar para sempre mutilada, quebrada, apenas para que eu permanecesse ao seu lado.

   Já faz muito tempo. Mas não consigo esquecê-lo. Não posso. Não quero esquecê-lo.

   Dai será para sempre uma dor que me conforta. Que me faz seguir em frente.

   Às vezes, duvido de tudo, mas quem sou eu para acreditar que as coisas não acontecem por um motivo? Dai cumpriu seu papel de me fazer capaz de cumprir o meu. E mesmo que, vê-lo de longe, finalmente com a parte essencial que lhe faltava, seja uma emoção agridoce, é uma a qual eu dou as boas vindas sempre que posso.

   Não, ele nunca mais me viu. A última vez foi quando eu observava suas costas se afastando e ele se virou para me olhar. Para gravar meu rosto, talvez? Embora ele sempre mude, tenho certeza que ele me reconheceria, por isso nunca mais pude me aproximar.

   Fiz minhas pazes com o fato de que eu não preciso de alguém. Porque sou única, sou solitária. Fui feita para ser assim.

   Mas tenho as memórias. Memórias de um tempo em que era parte, em que era tão ele quanto eu mesma. E isso me basta.