A 100 Heartbreaks escrita por Juliiet


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Hey, aqui está o terceiro capítulo :)
Não tenho muita coisa pra dizer, exceto muito obrigada a todo mundo que comentou o capítulo passado! :)
Boa leitura



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Dai voltou no dia seguinte.

Eu não estava esperando por ele, mas não estava exatamente surpresa por vê-lo ali. Foi exatamente como no dia anterior. Meu mundo foi ficando mais vivo, mais colorido com cada passo que eu dava para perto dele. Eu havia sentido sua presença mesmo antes de vê-lo.

O que era bom. Eu queria vê-lo de novo.

Era de manhã e eu havia acabado de acordar. Estava fazendo chá na cozinha quando percebi que não estava sozinha. Peguei o casaco pendurado atrás da porta e o coloquei por cima da camisola que usava, tirei os chinelos e, sem me preocupar em colocar meias, calcei as galochas sujas que sempre ficavam ao lado da porta. Saí pela porta da cozinha, sentindo a brisa fria da manhã afastar meu cabelo do rosto, como uma carícia gelada. Em algumas horas, o clima estaria quente e agradável, mas naquelas primeiras horas da manhã, o casaco que eu estava usando era bem vindo. Fechei os olhos por um momento, aproveitando o vento na minha pele como há muito não fazia. Parecia mais real, de alguma forma. Abri os olhos e levantei o rosto para ver o céu, que por muito tempo havia parecido cinza para mim. Agora ele era azul, o azul bem clarinho que acabava de acordar.

Ouvi ruídos de alguém mexendo na terra. Calmamente, aproveitando os barulhos da manhã, o sol fraco e o vento, caminhei ao redor da casa até chegar ao meu jardim.

Dai estava lá, curvado sobre um pequeno vaso com uma orquídea, os joelhos de suas calças jeans tocando o chão. Ele parecia não se importar com a sujeira. Apoiei-me na parede da casa, mais ou menos como havia me apoiado no umbral no dia anterior, quando o vi pela primeira vez. Fiquei observando-o tentar tirar o broto delicado da orquídea, sem muito sucesso. Suas mãos eram muito grandes. Era bonito de ver mesmo assim, como ele tentava ter cuidado com minha flor, mordendo os lábios em concentração. A brisa brincava com seus cabelos, fazendo com que alguns fios ficassem presos em seus longos cílios. A camisa simples que ele usava era azul clara, não preta como no dia anterior. A cor fazia bem para a sua aparência.

Eu estava feliz por ele estar ali. Por não ter fugido com medo depois do meu surto do dia anterior. Eu nem sabia por que tinha pirado daquele jeito. Talvez tivesse sido a surpresa de finalmente ter outra pessoa por perto, talvez fosse o medo de ter meu passado voltando para me destruir de novo.

Eu estava fora do negócio de almas gêmeas. Mas também estava tão sedenta por companhia que tinha me sentido ainda pior depois de mandar o garoto embora. Não que ele fosse ficar, mas pelo menos agora eu teria a chance de apagar aquela horrorosa primeira impressão.

Ou era o que eu dizia a mim mesma.

O gato que aparecia por ali vez ou outra passou por mim, esfregando-se em minha perna. Surpreendi-me, já que estava muito atenta a cada movimento do garoto em meu jardim. Mas logo me abaixei e acariciei o animal atrás das orelhas. Ele ronronou audivelmente e, quando levantei os olhos novamente para Dai, ele estava de pé, olhando diretamente para mim. Como eu tinha imaginado, seus jeans estavam sujos de terra.

– Bom dia, Srta. Ceri – falou, coçando o pescoço, parecendo constrangido.

Peguei o gato no colo e me endireitei, caminhando até ele.

– Como suas mãos são grandes, talvez seja mais fácil você usar uma tesoura para tirar os brotos – apontei com a cabeça para a orquídea em que ele estivera mexendo.

Ele corou, olhando para a direção que eu havia apontado.

– É...eu não sei bem o que estou fazendo – murmurou. – Eu só queria ajudar.

Assenti, chegando mais perto e empurrando o gato para que ele segurasse. Quando ele o pegou, eu fui até a mesa de piquenique onde estava minha caixa de ferramentas e peguei uma tesoura e um maçarico. Voltei e me agachei onde ele estivera antes, fazendo um sinal com a mão para que ele prestasse atenção. Dai se ajoelhou ao meu lado, ainda segurando o gato com uma mão e acariciando seu pescoço com a outra, coisa que o animal parecia apreciar.

Mostrei como se fazia, dizendo:

– Você precisa esterilizar a tesoura antes de cortar o broto – passei a chama do maçarico sobre a tesoura antes de tudo. – E é preciso ter muito cuidado com essas pontinhas verdes, já que elas são muito sensíveis. Cuidado para não quebrá-las.

Ele assentiu, parecendo se agarrar a todas as minhas palavras como se estivesse numa palestra. Eu me permiti sorrir um pouquinho.

– Depois é só fazer um buraquinho na terra, pode ser no mesmo vaso ou em outro – continuei, pegando um vaso novo e cuidadosamente colocando o broto na terra. – Entendeu?

Ele balançou a cabeça, entusiasmado, colocando o gato no chão, que voltou a se enroscar em minhas pernas quando eu me levantei. Dai também se levantou e eu entreguei as ferramentas a ele.

– Eu... – ele começou, totalmente incerto. – Eu quero pedir desculpas por ontem. Eu não deveria ter insistido em... – ele parecia realmente arrependido, o franzido entre seus olhos se acentuando enquanto ele buscava pelas palavras certas. Aparentemente desistiu, porque não terminou a frase. – Eu ainda tenho algum tempo para ficar por aqui e...bom, eu pensei que podia ajudá-la. Parece haver muita coisa para se fazer por aqui.

Assenti, sem nem saber por que fazia isso. Não era como se fosse inteligente tê-lo por ali. Eu não precisava da ajuda dele, tendo feito tudo sozinha por muito tempo.

Mas eu não queria fazer tudo sozinha.

Ele parecia arrependido. Parecia que não voltaria a insistir em coisas que eu não podia lhe dar e parecia ansioso por ajudar. Havia prestado tanta atenção quando eu ensinara como plantar os brotos, que eu podia ver que era algo que o interessava. Eu adorava jardinagem, mas nunca tivera ninguém para ensinar, para compartilhar essa paixão. Nem sequer alguém para conversar sobre ela.

Dai dissera que ainda tinha algum tempo para ficar, o que significava que não ficaria por muito tempo. Eu sabia que não era seguro, que era como brincar com o destino, mas depois que ele havia ido embora no dia anterior, algo dentro de mim gritara que eu tinha feito algo errado. Não, eu não podia ajudá-lo a encontrar amor. Eu não queria, não podia ter outro coração partido.

Então era só não amar Dai.

Talvez eu pudesse lhe oferecer amizade. Por um tempo.

– Tudo bem – me ouvi dizendo, sem que meus pensamentos estivessem sequer organizados em minha cabeça. – Eu já esqueci sobre antes. E acho que podia usar sua ajuda por aqui. Bom, se você quiser, é claro.

O garoto abriu um enorme sorriso, que chegou até seus grandes olhos expressivos, e lhe concedeu uma beleza momentânea que não havia estado lá antes.

– Eu vou adorar! Muito obrigado, de verdade!

Eu balancei a cabeça, sorrindo do seu entusiasmo. Se havia alguma dúvida se eu deveria fazer isso ou não, ela se desfez naquele momento.

Tudo iria dar certo. Eu só não podia me apaixonar. Porque, se isso acontecesse, ele iria embora para sempre.

– Não fique tão animado – tentei dizer com voz ríspida, mas falhei, já que o sorriso ainda brincava em meus lábios. – Talvez no fim do dia você se arrependa de ter oferecido ajuda. Agora eu vou voltar para dentro e fazer o café da manhã enquanto você continua a plantar os brotos. Eu chamo quando tiver terminado, ok?

Dai não disse nada, apenas ficou me olhando, a cabeça meio de lado, como que fascinado. Franzi o cenho, será que eu havia dito algo estúpido?

– O que foi? – perguntei.

Ele balançou a cabeça, como se fosse besteira, seu rosto voltando a ficar ruborizado.

– Nada...é só que você sorriu. Você tem um sorriso muito bonito.

Fiquei muda, sem ter ideia de como responder àquilo. Então simplesmente lhe dei às costas e voltei a entrar em casa, tirando as botas e o casaco. Meu chá estava gelado, então comecei a preparar outro.

Tudo iria dar certo, repeti pela milésima vez em minha cabeça. Eu só não podia me apaixonar.

Eu nunca havia tentado não me apaixonar antes. Mas algo me dizia que não seria fácil. Afinal, era mais fácil cair do penhasco do que escalá-lo.

Expulsei esses pensamentos da minha cabeça e comecei a fazer o café da manhã.


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Notas finais do capítulo

Então, por favor, comentem pra eu saber o que estão achando.
Beijos e até o próximo :**