A 100 Heartbreaks escrita por Juliiet


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Como eu avisei, ele é bem pequeno, e mais pra dar uma situada no que vai rolar na história.
Espero que gostem :)



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Tudo isso aconteceu há muito tempo. É uma memória tão antiga, como aquelas que costumam se desfazer e desaparecer. Mas essa não desaparece, seu rosto não desaparece. Fico feliz que seja assim, que eu possa me lembrar de tudo o que aconteceu como se fosse apenas ontem, porque não consigo imaginar uma vida sem uma lembrança dele, sem um pedaço dele nas minhas memórias. As memórias mais doces que guardo.

Tudo começou quando eu tive o coração partido. Não pela primeira, não pela segunda. Pela centésima vez. Não era exatamente novidade. Seu nome era Lucian e ele era provavelmente o cara mais bonito pelo qual me apaixonei. Alto, moreno, musculoso. Seus olhos pareciam duas esmeraldas quando me fitavam e seu sorriso era torto e cínico. Não que isso fosse realmente importante pra mim, que já tinha me apaixonado por pessoas de todos os jeitos, de todas as formas. Eu o conhecia há poucos meses e ele tinha um coração jovem e despreocupado. Era bonito, do seu jeito, como todos os corações são.

— Muito obrigado, Ceri — ele falou, com os olhos marejados, e depois me abraçou. — Você mudou minha vida. Você me deu o que eu nem sabia que estava procurando. Eu vou ser grato pra sempre.

O que eu podia dizer? Já ouvira aquilo antes, muitas vezes. Já estava cansada de ouvir aquelas palavras.

Você me deu o maior presente da minha vida.

Você é especial.

Nunca vou esquecê-la.

Vou ser sempre grato.

Eram palavras normalmente seguidas por um doce e doloroso adeus.

Não foi diferente com Lucian. E, honestamente, naquele ponto da minha vida, eu não realmente esperava que fosse. Amor supostamente deveria trazer esperança. Então como eu podia amar se já não me restava nenhuma?

Eu não tinha resposta para isso, eu simplesmente amava porque era só o que sabia fazer.

Lucian me deu um suave beijo na testa e foi embora com Angela, sua alma gêmea, uma garota doce e bonita como um botão de rosa. Eu os vi saindo do meu jardim bem cuidado, o braço dele pousado protetoramente na parte de baixo das costas dela. E então eles sorriram um para o outro, os olhares se encontrando, fazendo-os entrarem naquele lugar onde só os verdadeiramente apaixonados conseguem chegar, um lugar onde só existem sorrisos e felicidade, e nada mais importa.

Um lugar que eu vira muitas vezes, do jeito que alguém vê algo através de uma janela quando está do lado de fora. Eu podia assistir, mas nunca entrar. Nunca poderia estar lá, porque é um lugar impossível de se alcançar sozinha.

Caí de joelhos no chão, me afastando da janela, sentindo a dor familiar em meu peito. Eu a conhecia, mas ela nunca ficava mais fácil; doía exatamente como na primeira vez. O amor tinha sempre esse fim para mim. Um coração partido, um coração quebrado. Eu havia passado por aquilotantas vezes, para ver os outros felizes, e ela nunca deixara de me destruir um pouquinho mais a cada vez.E aquela era a centésima vez.

E, de joelhos na minha sala de estar, enquanto lágrimas de pura dor e solidão brotavam em meus olhos, eu jurei que seria a última.

...

Eu tinha um dom. Sempre o tive, desde que me lembro. Era algo bom, para fazer as pessoas felizes, diminuir o sofrimento no mundo, enchê-lo de bons sentimentos.

Eu reconhecia almas gêmeas.

Parece algo estranho, mas era, na verdade, muito simples. Eu tinha o dom de enxergar o coração das pessoas e então era apenas uma questão de tempo até encontrar sua outra metade, o único coração, a única alma que o faria completo. Alguns me chamavam de cupido, embora aqueles querubins pelados com arco e flecha fossem uns charlatões. Você não pode enfiar uma flecha no coração de alguém e simplesmente esperar que isso faça duas pessoas se apaixonarem.

Tudo o que você vai conseguir com isso é ser preso por assassinato.

Era mais uma questão de sensibilidade, de enxergar além do que as outras pessoas enxergavam. Eu era realmente boa com isso e nunca um casal que eu havia unido tinha tido outra coisa que não um final feliz. Eu me sentia bem por tê-los unido, por ter dado a felicidade a eles.

Mas era uma felicidade agridoce. E se tornava pior com o passar dos anos, quando eu comecei a perceber que as pessoas entravam e saíam da minha vida, levando um pouquinho de mim a cada vez, até que não sobrou o bastante de mim para aguentar. E quando cada coração que eu tinha tão perto de mim, tão ao alcance das minhas mãos era levado para longe, era tão doloroso que eu não podia continuar.

Veja bem, eu não podia enxergar o coração de qualquer pessoa. Eu precisava deixá-la chegar perto, entrar tão fundo em minha pele que eu começasse a senti-la mesmo quando estivéssemos distantes. Eu precisava tocar, ser envolvida e fazer daquela pessoa um pedaço do meu pequeno e limitado mundo. Resumindo, eu precisava me apaixonar por uma pessoa para conseguir enxergar seu coração.

Precisava amá-la profunda e completamente, a ponto de esquecer qualquer dor passada.

E então eu precisava entregá-la para sua alma gêmea.

E meu próprio coração saía partido. Todas as vezes.

Era um dom. Mas também era uma maldição. Eu podia fazer as pessoas felizes, podia colocá-las no caminho certo para amarem e serem amadas, mas o mesmo nunca acontecia comigo. Eu podia amar, mas nunca era amada de volta, porque eu não tinha uma alma gêmea. Eu era um ser único. Um ser sozinho.

Eu era destinada à solidão.

E a solidão era como um punho apertando minha alma. Uma dor conhecida, mas sempre cortante, em meus pulmões. Que me assustava, como um pesadelo do qual eu nunca podia acordar. Que me desesperava tanto que eu era impulsionada a me apaixonar novamente, só para viver alguns dias de felicidade por amar alguém, antes de encontrar o par perfeito para aquele que eu amava e precisar vê-los indo embora com minha felicidade.

Que na verdade era a felicidade deles; e alguma força cósmica nesse mundo me permitia roubá-la por um curto período de tempo.

E então eu ficava sozinha de novo.

...

Depois de Lucian, eu decidi que não podia lidar com aquilo outra vez. Eu não iria me apaixonar de novo, apenas para sofrer novamente. Não valia a pena amar como eu amava, para depois ter meu coração partido como se fosse porcelana. Eu estava cansada de ser frágil e descartável e, se o universo queria que eu fosse solitária, então solitária eu ia ser.

Fui embora. Fui para um lugar ermo e escondido, o mais distante possível de qualquer pessoa. Era uma casa bonita e pequena, parecia uma cabana de fadas no meio da floresta. Havia flores nas janelas e uma chaminé, além de um caminho de pedras até a porta e uma cerca velha que circundava a propriedade. Era um lugar perfeito para uma reconhecedora de almas gêmeas aposentada, porque tinha uma qualidade meio mágica, como se um duende fosse surgir por ali a qualquer momento. Eu adorei e sorri ao ver meu novo lar, sentindo meu coração machucado começar a curar (como ele sempre fazia). O amor cura tudo, mesmo o sentimento vazio e superficial que podemos sentir por uma coisa ou um lugar. Nunca seria o bastante para me fazer inteira – como eu devia me sentir, afinal, eu era única –, mas era o suficiente para curar uma alma machucada.

Preenchi meu tempo naqueles primeiros dias consertando e pintando a cerca de branco, arrancando as ervas daninhas do jardim e plantando novas flores. Eu adorava jardinagem, adorava sentir a terra sob minhas mãos e o cheiro das folhas, que era diferente em cada estação. E, enquanto a maioria das pessoas preferia a primavera para admirar um jardim, o outono era minha época preferida. Eu não o enxergava como se estivesse destruindo meu trabalho e levando embora as cores das flores. Era apenas mais um ciclo. E as folhas no outono, amassadas e secas, cheiravam como um coração partido. Uma lembrança da dor que eu sentira tantas vezes. E um lembrete para nunca amar de novo.

Um lembrete da minha promessa de nunca mais entregar meu coração para alguém, para que ele não escurecesse e ficasse quebradiço como uma folha velha.

E funcionou por algum tempo. Durante vários anos, os únicos corações partidos que eu vi foram as folhas caindo de suas árvores no outono.

Mas cem corações partidos não me deixaram mais sábia nem haviam me preparado para o tipo de amor com o qual eu não havia nem sonhado. Nem visto, para ser sincera, e eu acreditava já ter visto o amor em todas as suas formas. Mas nem em meus delírios mais desesperados, em meus sonhos mais loucos, em minha dor mais devastadora, eu havia acreditado – ou rezado – para que um amor assim existisse. Um amor que faz o sol nunca se pôr, que faz a noite nunca chegar, que faz o ar permanecer sempre quente e as folhas para sempre em seus galhos, verdes e jovens. Um amor que para o tempo e o espaço, e faz o mundo desaparecer ao nosso redor.

Um amor que eu amei.

Mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Não é uma história pra ser levada muito a sério, ela é bem bobinha mesmo, mas não sai da minha cabeça, então agora está na internet.
Espero que tenha gostado :)
Beijos :*