N

O

A

H

Noah acordou confuso. Ele olhou para o teto verde opaco e então para a parede bege. Não se lembrava de ter ido parar dentro de um quarto, mas isso não importava. Aquela cama era muito melhor que dormir em um banco de praça ou no chão. Mesmo com molas quebradas. Ele se remexeu, virando-se de lado e recebeu um protesto de Z que voou para o criado mudo da direita, indignado. Noah grunhiu algo e então abriu os olhos. Tinha mais duas camas a sua direita. Ele piscou uma vez e prestou atenção na figura que estava sentada na cama mais próxima.

Karina.

Ele grunhiu outra vez. – Vocês mexeram em minhas coisas?

Ambos pularam quando ouviram Noah falar. Karina corou e Neal não sabia o que responder. Por um momento, o moreno quase sorriu. Era como antes novamente. Era como quando nada tinha mudado. E então ele percebeu que tinha mudado sim. E isso o deixaria deprimido, se não estivesse sendo observado por Neal e Karina. Ele não poderia mostrar fraqueza agora.

Olhando com mais atenção, ele percebeu que estava em uma pousada. Ainda era de noite, e Neal estava na bancada perto de vários litros de leite, um pacote e uma sacola de compras.

Se sentando na cama, ele coçou os olhos. Z pousou perto dele, piando. Noah estava morrendo de fome e sua barriga concordou com um ronco alto. Ele não evitou corar de vergonha, até que Neal se apressou e trouxe pra ele alguns biscoitos recém assados. Ele comeu um ou dois antes de reconhecer o gosto.

– Ele esteve aqui...? – Murmurou mais pra si mesmo do que para os semideuses.

– Você se refere à Hipnos? – Neal murmurou. Noah o fitou junto com Karina.

– Quem é Hipnos? – A garota perguntou.

Noah engoliu o ultimo biscoito antes de responder.

– O deus do sono.

– Sim, isso mesmo. – Neal falou. – Pelo visto você já se encontrou com ele, certo?

Noah não respondeu, somente continuou o encarando.

– O nome Willy. – O loiro falou. – É familiar para você?

Os olhos do moreno se arregalaram de surpresa.

– O que houve com Willy?!

E então se arrependeu de sua imprudência.

– Nada. Mas Hipnos é pai dele, certo?

Noah não sabia o que falar. Willy era um amigo especial para ele, como Neal e Karina. Infelizmente ele teve de fazer seu melhor amigo esquecer de algumas coisas relacionado aos Egípcios. E não tinha sido somente o Willy... Karina colocou o livro sorrateiramente no criado mudo. O silencio se fez no quarto, e Noah viu que eles não iriam desistir da resposta a pergunta. Mesmo que Neal já soubesse a resposta, ele precisava da confirmação de alguém além do deus do sono.

– É. Willy é filho de Hipnos. E sim, já me encontrei com ele. – Noah revirou os olhos.

– Você é do acampamento? – Karina perguntou, curiosa. Neal pareceu querer saber também a resposta.

– Isso não é da conta de vocês. – Murmurou Noah. – Para começo de conversa, porque estavam com Z?

Karina cruzou os braços, fazendo um biquinho e se aconchegando no seu travesseiro. Neal observou seus dedos, brincando com eles, querendo parecer distraído o suficiente para acharem que não tinha escutado a pergunta. Noah franziu a cara, ainda esperando uma resposta deles. Aqueles dois perguntavam bastante, então estava na hora de eles responderem a algumas perguntas também.

A garota suspirou, simplesmente sem conseguir mais evitar o olhar que Noah lançava para ela. – Okay... Leo, um amigo nosso, disse que tinha achado Z pelo acampamento. E então ele o apanhou. Quando eu descobri, eu fiquei tentada a solta-lo e ver quem era o espião do acampamento. Ah, Neal também veio comigo. – Ela deu de ombros. – E cá estamos nós.

Z piou em um protesto sonoro, talvez se lembrando do momento que o tal Leo o capturou. Ele não pareceu gostar muito de se lembrar disso.

– Bem, isso não foi muito legal da parte desse Leo. – Noah resmungou. Z concordou com a cabeça.

O silencio se fez novamente, até que Karina se lembrou da pergunta que tinha feito antes.

– Então, você é do acampamento ou não?

Noah pareceu pensar por um momento, como se não soubesse a resposta. Ou como se tivesse formulando uma resposta errada para que ambos calassem a boca.

– Não.

– Você sabe muito sobre lá. – Neal insistiu.

Noah deu de ombros, deitando-se novamente na cama e encarando o teto. Ele viu alguém sustentando o seu livro a cima de sua cabeça e sabia, de algum modo, que era uma Karina emburrada.

– O acampamento é greco-romano. – Ela falou por fim. – E porque você tem um livro sobre o Egito?

Noah sorriu. – Não é meu, é da biblioteca.

A ruiva revirou os olhos, imitando com a boca a frase sarcástica do moreno.

– Diz logo porque está com ele. – Ela resmungou.

Ele olhou dela para o livro e depois de um momento exibiu uma falsa expressão de surpresa.

– É um livro sobre o Egito?!

Até mesmo Neal suprimiu seu riso. Noah olhou para Karina, exibindo o seu sorriso torto que parecia querer dizer "encrenca" e então revirou os olhos, olhando para a janela e para a escuridão lá fora. Deveria ser de madrugada, e ele estava com sono.

– Fala logo! – Karina irritou-se.

– Amanhã. – Resmungou Noah.

– Não! Agora!

Noah bufou, irritado e então a fitou. – Eu gosto do Egito O.K? Prefiro o Egito a gregos e romanos. – E então ele se virou para o outro lado, dando as costas para Karina.

Por um momento, a ruiva ficou chocada demais para falar outra coisa. Algo não se encaixava. Noah sabia sobre o acampamento, sobre os gregos e sobre os romanos. Parecia saber de muita coisa sombria também. E o moreno sabia que Karina estava colocando as engrenagens de sua mente para girar. O moreno suspirou, sabendo que ela não tinha mudado quase nada.

– E aquela mulher? – Ela falou, mas calma que antes.

– Que mulher?

– Aquela de túnica branca e cabelos pretos. Ela surgiu do nada envolta em luz. Ela é uma deusa? – Karina murmurou.

Noah não sabia o quanto eles se lembravam dos deuses gregos e romanos. Mas era melhor não falar nada. Ele normalizou a respiração, de modo que podia fingir estar dormindo sem problemas nenhum. Mas parecia que Neal não tinha se convencido.

– Seu tornozelo está melhor? – Karina tentou novamente, agora mais calma. Ela tinha se esquecido totalmente do machucado dele. Pode ver o fim da calça rasgada de modo bruto e faixas enrolando o seu tornozelo, fora as novas que haviam colocado enquanto Noah dormia.

– Hipnos disse que o momento está chegando, Noah. – Disse o loiro, e então o moreno adormeceu de verdade.