A garota do caderno preto (SENDO REESCRITA) escrita por LuaReyna


Capítulo 5
As peténias


Notas iniciais do capítulo

Como vocês estão esquilinhos ?
nos vemos lá em baixo



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"Claire, Claire, Claire"

O nome ficou se repetindo na minha cabeça por toda a semana, e durante toda essa semana eu esperava ansiosamente pela próxima vez que iria vê-la para poder chamar seu nome, e vê-la compreender que a chamava sem ser por um apelido que eu havia inventado. Mas pelo visto eu teria que esperar mais um pouco, pois não a vi na escola por toda essa semana, também não tinha ido ao parque, nem sei se tinha saído de casa. Alex passou a semana inteira falando coisas idiotas do tipo " Se eu comprar um caderno preto você presta atenção em mim?", esse comentário fez ele levar um tapa na nuca.

Decidi então tentar descobrir onde ela mora e procurá-la em casa, mas pra isso acontecer eu tive que passar horas tentando convencer o diretor de que não iria fazer nada de mais além de visitá-la, mas o homem careca e gorducho cismava em dizer que as informações pessoais dos alunos têm de ser mantidas em total segurança. Mas no final ele acabou cedendo por eu me recusar a sair de lá sem o endereço dela.

Depois da escola fui direto pra lá, sem passar em casa para almoçar. Em circunstâncias comuns eu iria ouvir sobre isso nos próximos três dias e teria de comer três vezes o que eu comeria para me redimir, mas a pessoa que faria isso não está mais aqui.

Lembrar de minha vó fez uma lágrima rolar meu rosto, mas eu não sou o tipo de cara que chora em público, muito menos a caminho da casa de uma garota, menos ainda a caminho da casa da garota do caderno preto... Quer dizero, da Claire

A casa não é o que poderia ser considerada "perto" da cidade. Tive que andar bastante até chegar lá, o que faria meu cabelo ( que não é lá o cabelo mais arrumado do mundo) ficar ainda mais desarrumado, coisa que era quase impossível.

Quando cheguei na casa dela não entendi o motivo de ela ir andando para a escola, já que tinham dois carros parados na garagem. A casa era no mesmo estilo que todas as casas da cidade: Grande e simples.

Me aproximei da casa devagar, com medo ou... é, com medo. Bati na porta e fiquei esperando dez, vinte, trinta segundos. Nada. Bati de novo. Ninguém

–Claire! - Gritei - Claire! - Nem um barulhinho. Depois de várias tentativas falhas decidi que voltaria mais tarde

***

Voltei as dez da noite... Sim, um pouco tarde, mas achei um bom horário.

Me aproximei da casa novamente, dessa vez dando passos rápidos e determinados, mas antes que eu pudesse bater na porta, ela se abriu sozinha, mostrando uma versão da menina que eu sempre via com quase tudo por baixo de panos, somente de pijama. Não seria uma cena fácil de esquecer, e eu não faria nenhuma tentativa.

– Por que esteve aqui hoje ? - Perguntou ela séria

– Oi pra você também - Ela continuou me encarando esperando uma resposta - Porque não me atendeu hoje ? - Ela olhou pra trás como se verificasse se estávamos ou não sozinhos, passou pela porta sem abrir muito mais do que seu corpo precisou para passar.

– Você não pode vir aqui sem me avisar!

– Por que não ?

– Porque não! - Ela ficou me encarando por alguns segundos - O que quer ?

– Ah nada não, só saber porque você simplesmente desapareceu na úlltima semana. - disse com ironia fazendo ela revirar os olhos

– Eu tinha coisas a fazer

– Coisas como...?

– Coisas como... não é da sua conta

– Por que está tão irritada?

– Porque você não devia ter vindo aqui - Não sabia se tentava me desculpar ou prestava atenção em seu corpo... tão perfeito! Seus olhos e cabelos tão pretos que eram quase impossíveis de ver na escuridão da noite.

Depois de alguns segundos de constrangimento e silêncio, nos deitamos no gramado e ficamos observando as estrelas e a lua. Em silêncio. Mas era um silêncio gostoso e parecia que nenhum de nós dois estava incomodado com isso. Até que eu me lembrei de uma coisa que tinha passado a tarde toda tentando gravar

– É usado para proteção, atrai o amor e ameniza os pensamentos - Disse do nada

– O que ? - Perguntou ela confusa

– A sua pedra - Disse apontando para o colar

– Como descobriu isso ? - Perguntou impressionada

– Internet - Disse dando de ombros e a fazendo sorrir

– Por que pesquisou sobre isso ?

– Porque você não quis me contar

– Você precisava ficar sozinho

– E fiquei... por uma semana. Agora preciso de companhia - Ela olhou pro lado - O que foi ?

– Nem nos conhecemos direito

– Se você continuar evitando minhas perguntas não vamos nos conhecer mesmo

– Eu não evito suas perguntas !

– Evita sim!

– Tudo bem então, me responde isso: O que estava fazendo hoje a tarde... e a semana toda ? - Ela suspirou - Viu! Está evitando

– Não sei se posso confiar em você

– Olha pra mim - Ela olhou bem nos meus olhos. Eu sentei, fazendo-a sentar também. Peguei sua mão fina e delicada com medo de quebrar, mas segurei firme, fechando todos os espaços entre sua pele branca contra a minha morena - Agora olhe para o céu - Ela olhou - Imagine que você é uma dessas estrelas, você está longe, mas se você permitir, eu me aproximo - Ela voltou a olhar pra mim - Então...?

– Guarda segredos ? - Perguntou séria

– Só depois de postar em uma rede social - Disse rindo

– Você não perde uma oportunidade não é ?

– Um dia você vai rir das minhas piadas

– Sei... - Ela foi puxando meu braço pra dentro da casa, sem me dar tempo para reparar em nenhum detalhe, ainda mais porque estava escuro e ela não tinha acendido a luz. Subimos uma escada até que fomos parar em um lugar que eu suponho ser o quarto dela. Ela abriu a janela

– O que você vê?

– Uma janela

– Fecha os olhos - Ela disse me deixando desconfiado. Mas obedeci mesmo assim, minha curiosidade era maior que meu medo de ser empurrado pelo segundo andar. Ela me levou até a janela e me fez sentar com as pernas pra fora - Desce - Disse ela

– Não vou pular sua janela - Disse com medo

– Você não vai pular da minha janela, confie em mim - Eu estiquei os pés esperando chutar o ar, mas pelo contrário, uma superfície dura se chocou contra meu pé e eu desci - Não abra os olhos

– Onde estamos ? - Perguntei confuso

– Você vai ver

– Não se você não tirar as mãos do meu olho

– Deixe de ser chato - Ela foi me guiando devagar até que paramos do nada - Abra os olhos - Abri devagar com medo do que iria encontrar. Levei um susto, não estávamos mais no quarto dela, não estava nem de noite. O sol brilhava alto no céu e estávamos cercados de árvores, e flores, um tipo de flor diferente, que eu nunca tinha visto antes

– Onde estamos ?

– Onde eu estava por toda essa semana - Disse ela sorrindo com a minha cara de bobo

– mas... como? estávamos lá e... agora... estamos aqui e...

– Pare de pensar tanto, nós estamos aqui não estamos ? Então aproveite

– Que flores são essas ? Que lugar é esse ? - Era muito parecido com uma floresta comum, só que as cores eram mais vivas e ofuscantes

– Essas são peténias - Disse ela acariciando um flor -Pegue uma - Puxei delicadamente uma pelo caule e Claire a pegou da minha mão e abriu suas pétalas, ficou olhando pra ela por alguns segundos como se tivesse escrito alguma coisa ali - Você é ciumento, forte e não sabe demonstrar suas emoções - Disse ela sorrindo

– A flor te disse isso ? - perguntei incrédulo

– Não... - Disse me fazendo sentir uma onde de alívio - Ela escreveu - Disse rindo - As peténias dizem curiosidades sobre a pessoa que as arrancou

Ela sorriu pra mim e eu sorri pra ela. Passamos o resto do "dia" explorando aquele pequeno lugar mágico, juro que não me lembro como, mas quando me dei conta, estava dormindo na minha cama


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Notas finais do capítulo

Capítulo grande para compensar o outro que foi bem pequeno