A garota do caderno preto (SENDO REESCRITA) escrita por LuaReyna


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Heey esquilinhos (vou chamar vocês assim porque gosto de esquilos :P)
Espero que gostem da leitura :)



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"Em algum momento da vida tem que acontecer alguma coisa... Alguma coisa que justifique o motivo de termos vivido até agora. Não podemos ficar eternamente no ciclo de viver e morrer. Tem que haver uma razão para nascermos e outra para morrermos, a não ser que não seja por nós. Talvez tenhamos nascido para ajudar outra pessoa a viver, ou outra pessoa tenha nascido para nos ajudar. Quem sabe não é outro ciclo pelo qual não conseguimos passar?"

Caminhar pela gélida cidade de Ohio todas as manhãs já havia virado rotina na minha vida. Passei-a inteira naquele lugar, cercado pelas mesmas pessoas, desfrutando os mesmos olhares e as mesmas conversas repetidas. Aqui é o tipo de lugar em que se você for até a esquina com seu amigo e lá estiverem vinte pessoas você conhece dez dessas pessoas e ele conhece as outras dez, e em menos de cinco minutos você já vai ter conhecido essas pessoas. Isso se torna um ciclo vicioso até que você vai conhecer toda a cidade, e toda a cidade vai te conhecer. Bom, pelo menos vão pensar que te conhecem. Não tem como esconder nada aqui, porque qualquer coisa que aconteça em menos de dois dias todos estarão sabendo. A fofoca e a mesmice circulavam aquela cidade como o frio congelante, contagiando tudo e todos.

Aquele poderia ter sido um inverno comum, eu poderia ter passado os dias saindo com meu melhor amigo, Alex, e depois, à noite, poderia me sentar na antiga mesinha de madeira perto da porta do meu quarto, e passaria as noites desenhando coisas aleatórias que invadiam minha cabeça e tomavam forma no papel. Mas o universo é uma piada cômica. Não confie nele.

A mesinha de madeira coberta por lápis de diversas cores e a janela, também de madeira, com as cortinas flutuantes formavam o cenário do início da nossa história. Um desenho se formava em meio ao papel branco, que há alguns dias era somente o esboço de um sonho que eu estava tendo com a garota que havia chegado à cidade fazia poucos meses.

Não sabia muito sobre ela. Na verdade, desconhecia até mesmo seu nome, sabia somente que a mesma andva por ai segurando um caderninho preto entre os braços, abraçada a ele como se escondesse um grande segredo. Foi assim que Alex a batizou de “A garota do caderno preto”. O máximo de contato que tive foram uns dois esbarrões pelos corredores do colégio. Ninguém parecia tê-la notado, e nem eu teria, se não a tivesse visto falando alguma coisa com Emma Dickson, mais conhecida como minha ex-namorada. Emma e eu havíamos começado a namorar por decreto da própria, nem eu havia sido avisado. A única coisa que me lembro foi de todos me parabenizando e Emma me beijando na frente de todo o colégio. Terminamos no verão anterior, quando eu esqueci complemente de levá-la ao baile. Não foi culpa minha, e não vem ao caso. Como Alex sempre disse: Emma Dickens é um caso perdido no Shooping.

No sonho, ela gritava meu nome. A garota do caderno preto sempre estava do outro lado de uma grande janela, um vento forte fazia seus cabelos cobrirem parte de seu rosto, e sempre que eu tentava alcançá-la, ela sumia.

Não importava. Era só um sonho. Eu estava sendo um idiota.

Encarei o desenho, orgulhoso. As cores e o contraste perfeito do longo cabelo castanho da garota. Seus olhos cor de chocolate me encaravam, como se soubessem de todos os meus segredos. Bobagem.

Estava orgulhoso do desenho, e isso bastava. Não perderia meu tempo com besteiras, afinal, tinha que me concentrar em me manter acordado durante as próximas horas. Bebi um pouco do café que estava em um canto mais afastado da mesa. Uma careta se formou em meu roto ao perceber que o mesmo já estava frio.

Uma mochila estava estacionada em cima da minha cama, que ainda se encontrava do mesmo estado que estava quando acordei. Suspirei. Nada no mundo me faria ficar feliz em ter que ir pra escola às seis da manhã encarar aquelas mesmas pessoas, ter as mesmas aulas e lembrar que no dia seguinte aconteceria exatamente a mesmas coisas novamente. Minha vida era um replay constante da monotonia de Ohio. Eu até poderia tentar fingir um resfriado, se não morasse com as três mulheres mais desconfiadas de Ohio, Minha mãe, Sara, minha tia, Melissa - conhecida como Mel - e minha avó, Sally. Eu poderia até conseguir me safar na hora, mas pode apostar que pouco tempo depois elas já estariam sabendo de tudo.

Levantei da cama com toda a má vontade do mundo, e após fazer minha higiene pessoal, desci as escadas, em busca de alguma coisa que acalmasse meu estomago. Chegando a cozinha, encontrei vovó Sally começando a fazer panquecas. Suspirei, irritado. Não daria tempo de esperá-las, a não ser que quisesse chegar atrasado. Peguei uma torrada, e após cumprimentar minha avó e pedir para guardar panquecas para quando eu voltasse, fui caminhando pra escola. Como eu sou um cara muito sortudo, começou a chover, e minha torrada com geléia virou uma torrada molhada com geléia. Acabei desistindo do café e joguei a torrada para um cachorro de rua. Alguém precisava aproveitar aquilo.

Cheguei à escola molhado, com o cabelo todo bagunçado, cheirando a cachorro de rua e o pior... Com fome! Quando cheguei próximo ao estacionamento, a garota do caderno preto passou por mim meio andando, meio correndo. Olhei o relógio para conferir se ela estava maluca, ou se eu também deveria estar correndo. Mas estávamos na hora certa, ainda faltavam alguns minutos. Talvez desse tempo de esperar as panquecas, pensei, por um segundo desviando os pensamentos dela. Quando tirei os olhos do relógio, a garota do caderno preto já havia entrado na sala.

Suspirei, derrotado. Eu teria aula de inglês, isso significava que eu teria que passar horas e mais horas ouvindo a senhorita Hollingston falando coisas desnecessárias sobre pessoas que já morreram e não me interessavam. Notei a garota sentada próxima a professora, as duas pareciam manter um conversa interessante, já que sussurravam coisas e davam risinhos. Tentei prestar atenção na conversa, mas o barulho da sala e de todas as pessoas falando não me deixou escutar muita coisa.

– Dickens é um dos meus poetas preferidos! – disse ela, com uma empolgação quase surpreendente em falar de uma pessoa que até então, eu não tinha idéia da existência.

A professora pareceu surpresa, e depois, o que ouvi foram nomes e mais nomes de pessoas aleatórias que não pareciam fazer tanta diferença.

“Robert Frost... T.S Elliot... Bukouski...”

Não reconheci nenhum destes nomes. Nem ao menos me lembrava de ter ouvido falar deles.

A professora sentou-se novamente em sua mesa, pouco antes de o sinal da liberdade tocar e sermos liberados para meia hora de liberdade provisória, para depois voltarmos novamente para a prisão.

Levantei da mesa, apressado. A professora me lançou um olhar de reprovação quando passei por ela. Digamos que talvez, há alguns anos, eu tenha sem querer escrito “trabalho da bruxa” ao invés de “trabalho da senhorita Hollingston” em um trabalho sobre Shakespeare. Talvez.

Encontrei com Alex em uma das mesas do lado de fora do refeitório. A bandeja dele trazia comida o suficiente para alimentar um exército, e ele continuava com a estatura física de um poste.

Procurei a garota do caderno preto com o olhar, mas não a encontrei. Não entendia o porquê de estar tão obcecado por ela, afinal de contas, eu nem a conhecia. Mas algumas coisa em seu olhar me atraia como um fio invisível, me puxando em direção a ela, e de repente, tudo estava distante, e eu só conseguia pensar nela.

– Não estou gostando da sua cara. – disse Alex, colocando umas cinco batatas de uma vez na boca.

– Então estamos quites. – respondi, tirando o cabelo do rosto. Percebi que Emma me encarava e cochichava algo com suas “amigas” em uma mesa próxima, mas decidi ignorar. Não valia a pena.

– Deixe de ser idiota, cara. – ele revirou os olhos, engolindo as batatas. – Pare de procurará-la, ela não está aqui.

Assustei-me com a sua resposta. Estava tão na cara assim? Ou talvez, fossem os anos de convivência que deixavam qualquer coisa sobre mim clara para Alex.

Antes que eu pensasse em algo para respondê-lo, o sinal tocou, nos obrigando a voltarmos para as salas de aula.

Não prestei muita atenção no que estava acontecendo durante as aulas que se passaram. Nada me tirava da cabeça aquela garota. Tentei ao máximo afastar as lembranças, apesar de não existirem. Era como eu tivesse memorizado todas as suas expressões, e soubesse exatamente a reação dela para tudo o que eu pensava em dizer.

***

Durante o trajeto que percorria para chegar em casa, passava por um antigo parque da cidade, que não era mais que um grande espaço cheio de árvores. Aquele lugar havia ficado, por anos, vazio, até que a prefeitura revolvera colocar alguns balanços e gangorras ao longo do terreno. Distraí-me olhando aleatoriamente para uma criança que parecia se divertir em um daqueles brinquedos. Foi quando meu corpo se chocou contra alguma coisa, e eu caí de encontro aos galhos que caiam das arvores e ficavam no chão sem que ninguém se importasse, naquele momento eu comecei a me importar.

Quando olhei pra frente vi a garota do caderno preto empurrando o chão para se levantar. Sua boina estava torta na cabeça, e os cabelos bagunçados a deixavam ainda mais linda. Ela estendeu a mão para ajudar-me a levantar, e meu corpo ficou em choque por alguns segundos.

– Desculpe. – disse. Sua voz era rouca e autoritária, o que a deixava ainda mais fofa. – Eu estava distraída. Da er

– Tudo bem. – respondi. Minhas mãos estavam começando a suar.

Encarei-a por um breve segundo. Ela parecia... Distante. Como no sonho.

Ela desviou o olhar, como se percebesse a nitidez que me encarava. Balbuciou algo como “Nos vemos por ai” e saiu, deixando-me sozinho novamente.

Olhei para a minha mão, ainda sentindo seu toque, e sorri.

O universo estava apensa começando seu trabalho.


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Notas finais do capítulo

O que acharam ?
Péssimo?
Ruim?
Legalzinho?
Legal?
Bom?
Muito bom?
Perfeito? kkkk
Quero saber a opinião de vocês!
Beijos