A tarde se findava. A luz forte do sol poente invadiam as grandes janelas da igreja evangélica de Washington DC iluminando o local vazio, ou quase.

O som suave do piano que deixava o lugar cada vez mais reconfortante e convidativo, foi interrompido pelo som da porta da igreja. Uma jovem entrou e mancando caminhou pelo corredor e sentou-se num banco em silêncio.

A mulher que estava tocando a doce melodia de ninar parou ao notar que havia algo de errado com a jovem que ia naquela igreja todo fim de ano desde que nasceu. A mulher morena de cabelos castanhos claros se levantou e foi até a jovem.

– Oi, Helena. – ela cumprimentou.

– Oi, reverenda Lorene. – ela cumprimentou de volta sem olhá-la. Ela sentou-se ao seu lado.

– Não preciso perguntar pra saber que há algo de errado com você. – ela falou. Lena ficou em silêncio. – Quer conversar sobre algo?

– Quero uma máquina do tempo. – Lena respondeu fazendo-a rir.

– Você, e metade do mundo. Mas cada um tem suas razões.

Lena suspirou, sabia onde ela queria chegar.

– Eu briguei com meus avós. – Lena falou.

– E quer a máquina do tempo porque está arrependida? – ela perguntou.

– Não. Não me arrependo de ter discutido com eles, porque foi por uma boa causa...eu espero. Eu só queria voltar atrás, porque não queria ter que passar por isso. Eu queria que as coisas voltassem a ser como eram antes. – Lena respondeu. – Sei que meus avós só querem me proteger, mas não podem fazer isso mentindo pra mim. Não é justo.

– Não, não é. Mas, adultos ás vezes fazem coisas que não dá pra entender, quando têm medo que as pessoas que amam se machuquem.

– Então sabe, por que mentiram? – Lena se espantou.

– Não. Você sabe? – ela perguntou. Lena fez que sim.

– Mas não concordo. Eles não precisavam ter mentido. Eles não sabem nada sobre o que aconteceu, e já querem tomar as decisões por mim. Isso me deixa irritada. E o pior, é que não querem escutar. Digo, minha avó não quer escutar.

– Entendo que pode estar chateada, Lena. Mas, ficar com raiva não vai ajudar. Isso só piora as coisas. Ficar com raiva, só vai provar pra eles que você é incapaz de tomar as decisões certas. A raiva faz você fazer coisas terríveis. Sabe, você não sabe quanto tempo você, ou seus avós vão ficar nesse mundo. Não faça nada do qual vá se arrepender depois. Nada aqui, dura pra sempre. – ela pousou a mão no ombro de Lena, que pensou.

– Eu sei.

– Eu sei que sabe. Você é uma menina muito esperta. – ela elogiou. Lena deu um pequeno sorriso, ainda sem olha-la.

– Obrigada, reverenda Lorene. – Lena falou, e Lorene a abraçou.

– Tenha calma, meu anjo. Tudo vai se ajustar. – ela a soltou. Lena concordou. – e o que aconteceu com sua perna, que você entrou mancando?

– Ah! Nada, foi só... um acidente. – Lena disfarçou. – Não quero tomar seu tempo.

– Então acho melhor você ir pra casa, que está ficando tarde. Seus avós vão ficar preocupados.

– Também acho. Obrigada mesmo, Lorene. Eu precisava de alguém leigo pra desabafar.

– Leigo? Eu sei o que significa, viu mocinha! Cuidado com quem você anda se envolvendo. - Lorene retrucou.

– São as mesmas pessoas com quem meus avós se envolveram um dia. – Lena se levantou. – Eu vou pra casa, então.

– Tá. Manda um beijo pra Frankie quando ela chegar, tá?

– Pode deixar.- Lena sorriu, e mancando, saiu da igreja. Mas, agora, quem sabe, talvez estivesse mais calma. Talvez.