Pálida Máscara escrita por Chayenne Barcellos


Capítulo 2
A carta


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas.
Espero que gostem!



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10 de fevereiro

Eu realmente não conseguia acreditar que o pequeno envelope, selado com as grandes inicias HC em vermelho, que eu tinha em mãos era uma carta do Humphrey College informando se eu fui aceita e receberia a minha bolsa de estudos ou não. Muitas vezes ser aceita em um colégio não muito famoso e nem com um grau de ensino muito elevado pode não deixar as pessoas morrendo de ansiedade, mas naquele momento eu estava com muito medo de abrir aquela carta e descobrir que não fui aceita.

– É agora ou nunca - disse a mim mesma.

E eu me via abrindo lentamente o envelope branco, pegando o papel que estava em seu interior e lendo calmamente o conteúdo da carta.

"Cara Srta. Alanys Willians,

Estamos muito satisfeitos de informar que você receberá a sua bolsa de estudos para estudar no Humphrey College.

As aulas se iniciarão no dia 20 de fevereiro ás 7 horas, esperamos lhe ver em breve.

Atenciosamente,

Sra. Marta Cloud."

Eu não sabia se sorria ou se chorava, finalmente havia conseguido algo que eu realmente queria. Meu estado naquele momento era de paralisia total.

– Alanys? O que você está fazendo parada aí fora?

– Mãe! - fui até ela e a abracei com toda a força que tinha.

– O que você está fazendo? Me larga, garota.

– Desculpe, é que eu recebi uma notícia que me alegrou um pouco.

– O que é isso que você tem na mão?

– O carteiro deixou a carta de aceitação do Humphrey College hoje cedo na caixa de correspondência, e eu fui aceita. Consegui a bolsa de estudos.

– Humph... o que?

Caminhei até a cozinha para preparar um café, minha mãe veio atrás de mim, confusa.

– Humphrey College, mãe. O colégio que o Ben estuda, sabe?

– É, acho que sei. Já posso voltar a dormir?

– Pode - sorri.

– Tchau - falou ela, enquanto ia em direção ao seu quarto, e levando consigo uma garrafa de vodka.

O tempo também estava a meu favor. Nublado e frio. Desde pequena eu não posso ficar por muito tempo em baixo do sol sem proteção, e conforme fui crescendo, aprendi a gostar de dias frios e escuros. Com tempo chuvoso é a mesma coisa.

Coloquei um casaco leve e fui correndo em direção ao Blue's Coffee encontrar Benjamin, e informar a ele que agora além de nós sermos melhores amigos, seremos colegas de classe.

– Ben! Tenho ótimas notícias! - adentrei o Blue's Coffee, cantarolando.

Benjamin estava servindo uma mesa de idosos quando eu invadi o café, ele quase derrubou a bandeja que estava segurando na cabeça de uma senhora, a mesma resmungou alguma coisa e voltou a sua atenção ao senhor que a acompanhava.

É um pouco desconfortável quando metade dos clientes se viram para você e te olham de cima a baixo, sabe? Nem minha aparência e nem minha personalidade são discretas, na verdade, minha aparência só serve para chamar mais atenção ainda.

– O que você está fazendo aqui no seu dia de folga? - perguntou Ben, enquanto vinha em minha direção com aquele típico sorriso de idiota no rosto.

– Tenho novidades - abracei-o.

– Diga.

– Adivinha.

– Você vai viajar para o Alasca e me comprou uma passagem porque não consegue ficar longe de mim? - perguntou Benjamin, rindo.

– Ah claro, como se eu tivesse dinheiro para isso.

– Não custa sonhar, não é mesmo? Mas qual a novidade?

– Enfim, eu fui aceita no Humphrey College! - falei, dando pequenos pulinhos na frente dele. - Vou ser sua colega de classe!

– Ah, já não basta me incomodar no trabalho, agora vou ter que te aturar na escola também? - ele riu e bagunçou meu cabelo. - Parabéns, branquinha.

– Obrigada, as aulas começam dia 20, né? Preciso comprar o meu material.

– Quer ajuda? Já não aguento mais esses casais de idosos, me salve - sussurrou ele.

– Palhaço.

Benjamin e eu fomos até o caixa falar com Flora, uma amiga nossa de infância, ela é filha do Sr. Blue, dono do Blue's Coffee, isso ajudou muito na hora de conseguir o estágio. Flora é três anos mais velha do que eu e Ben, mas isso nunca interferiu na nossa amizade. Quando éramos crianças, nós três brincávamos de super-heróis no parque, eu era a mulher invisível, Flora era a mulher elástica e Benjamin era o Superman. Fazíamos cada bagunça.

– Flora! - a abracei. - Eu ganhei uma bolsa de estudos no Humphrey College.

– Olá, Lanys– ela retribuiu o abraço. - Sério? Maus parabéns!

– Obrigada.

– Sua missão agora é mandar o Benjamin prestar atenção nas aulas - ela riu.

– Claro, vou cutucar ele com um lápis quando ele dormir - falei.

– Ei, vocês duas! Eu estou ouvindo, está bem? E Flora, pare de dar essas ideias para a Alanys, não duvido que ela faça mesmo isso.

Nós duas rimos. Benjamin ficou nos encarando com uma cara de: "Eu ainda vou matar vocês", o que nos fez rir mais ainda, mas logo recuperamos o fôlego.

– Flora,me empresta o Benjamin rapidinho? Eu não faço ideia de onde comprar os meus materiais.

– Aposto que foi ele quem pediu isso para você - falou ela, desconfiada. - Isso é uma desculpa para fugir do trabalho.

– Mentira! Não foi não! - Benjamin se defendeu.

– É verdade, foi sim - falei.

– Traidora.

– Mas também é verdade que eu não sei aonde comprar os meus materiais, por favorzinho Flora.

– Certo - falou suspirando. - Não adianta discutir com vocês, mas vão ficar me devendo uma, ouviram?

– Nós te amamos, Flora - disse Ben.

– Eu sei que sou demais - riu Flora.

– Convencida - brincou. - Vou lá me trocar e já volto - disse, indo para os fundos do Blue's Coffee.

Enquanto Benjamin se trocava, eu preparei um cappuccino para mim e para Flora. Aproveitamos para bater um papo.

– E então, como está a sua mãe? - ela perguntou.

– Normal - suspirei.

– Entendi, parabéns de novo, espero que goste de estudar lá.

– Obrigada, Flora - sorri. - Vou adorar importunar o Ben na aula - ri.

– Essa vai ser a melhor parte - riu ela. - No Humphrey College há várias pessoas legais, pelo menos na minha época eu tinha muitos colegas queridos, mas como todo colégio, tinha também aquelas meninas que fazem de tudo para estragar o seu dia - ela sorri -, mas tenho certeza que você vai se sair muito bem lá.

– Assim espero - sorri.

– Bom, Lanys, vou voltar ao trabalho. Até logo.

– Até.

Depois de algum tempo, Benjamin apareceu com uma camisa flanela verde e uma calça jeans desbotada. Não importa aonde Ben está, sempre vai ter alguma menina que vai olhar para ele com interesse, me sinto até constrangida de andar com ele em lugares muito movimentados, porque metade dessas meninas me direcionam olhares feios. Admito que ele é um rapaz bonito, com seus 1,80 de altura, corpo definido, cabelos negros e olhos verdes. Mas, sinceramente, não consigo imaginar o Benjamin namorando.

– O que me impressiona é que cada vez que a gente se encontra você cresce mais um pouco, e a gente se encontra todo dia - disse. - Minha cabeça bate no seu ombro, me sinto uma formiga perto de ti - resmunguei.

– Você é uma anã muito raivosa - riu ele.

– Para, seu gigante!

– A culpa não é minha se você é baixinha.

– Eu sei, mas prefiro continuar chamando o resto do mundo de gigantes e de Trolls do que admitir que a baixa aqui sou eu.

Saímos do Blue's Coffee e fomos caminhando até uma livraria, sorte de que era perto, ficar horas andando não me agrada muito, mesmo quando o dia não está ensolarado. A livraria era incrivelmente enorme, cheia de prateleiras e mesas espalhadas pelo local, nunca tinha visto tantos livros juntos na minha vida.

– Alanys, vai pedindo informação que eu já volto - ele riu ao ver meu olhar de desconfiança. - Eu juro que já volto, só vou ao banheiro.

– Certo - sorri.

A livraria era uma mistura com uma biblioteca. O teto tinha uns três metros de altura, o chão era todo feito de madeira de boa qualidade, havia umas cinquenta prateleiras, tão altas que as pessoas tinham que subir numa escada que deslizava pelas mesmas para pegar os livros. Para todo o canto que eu olhava, eu via alguma pessoa sentada numa mesa lendo ou mexendo em computadores, tinha uns dois grupos de jovens fazendo algumas espécie de trabalho ou algo do tipo. Pareciam ser bem mais velhos do que eu.

Caminhei calmamente por um corredor largo, olhando os livros que estavam nas inúmeras prateleiras, havia todo o tipo de livro, me interessei por um chamado: "O apanhador no campo de centeio". Já tinha ouvido falar dele antes, mas nunca tive a oportunidade de lê-lo.

Chegando ao final do corredor, encontrei um enorme balcão feito com madeira trabalhada e atrás do mesmo estava um garoto loiro, de mais ou menos a minha idade, um pouco mais alto do que eu, organizando alguns documentos da livraria-biblioteca. Ele percebeu a minha presença e me encarou, os olhos dele eram de um profundo tom de mel.

– Posso ajudá-la, senhorita? - sua voz era doce e suave, passava a sensação de tranquilidade.

– Ah, sim - sorri. - Poderia pegar esses livros didáticos para mim, por favor? Eu provavelmente vou me perder aqui dentro - entreguei a lista de materiais para ele.

– Pois é, essa livraria é realmente enorme - ele riu e pegou a lista. - Vejamos, Humphrey College? - o jovem me olhou com curiosidade.

– Sim, sim, eu vou estudar lá esse ano - sorri.

– Nesse caso te darei um desconto, mas não fale para ninguém, viu?

– Um desconto? Sério? Obrigada.

Ele sorriu e entrou numa espécie de depósito, eu o esperei encostada no balcão, folheando o livro: "O apanhador no campo de centeio". Logo o menino retornou com todos os livros que a lista pedia.

– Aqui está.

– Lucas! - Benjamin apareceu, de repente, atrás de mim, fazendo-me pular de susto.

– Olá, Ben - o menino loirinho o cumprimentou.

– Parece que você já conheceu a minha amiga, Lucas.

– Vocês se conhecem? - perguntei surpresa.

– Sim - Benjamin riu. - Lucas estuda no Humphrey College, ele é o representante.

Vir-me-ei para o menino que, aparentemente, se chamava Lucas.

– Sério?

– Benjamin, não diga essas coisas - o rosto do rapaz ruborizou levemente.

– Por que você não me falou? - ri.

– Pensei que seria engraçado de te ver ficar surpresa ao me encontrar nos corredores da escola - falou ele, sem jeito.

– Eu sou Alanys, prazer - estendi a mão para ele. - E sim, seria bem engraçado.

Ele apertou a minha mão delicadamente.

– Como você já sabe, eu me chamo Lucas.

– Quanto deu os livros? - interrompeu Benjamin.

Lucas fez os cálculos com a ajuda de uma calculadora.

– 252 reais, mas com os 20% de desconto ficam 201 reais.

– Certo, adeus salário - dei o meu cartão de crédito para ele.

Lucas sorriu.

– Você vai levar esse livro que está na sua mão? O apanhador no campo de centeio?

– Ah não, talvez em um outro momento, se eu comprar mais alguma coisa vou me apertar nas contas lá de casa - ri, envergonhada.

– Sinto muito - disse Lucas.

– Nós já voltamos, Lucas - disse Benjamin.

Ben sussurrou algo em meu ouvido e me levou até um canto isolado na livraria-biblioteca, ele entrou na seção de "Artes de Desenhos", pegou um livro com a capa bem chamativa e toda colorida.

– Eu queria te mostrar esse livro. Achei que fosse gostar.

Ele abriu o livro devagar, fazendo um suspense irritante. O livro era todo ilustrado por dentro, composto inteiramente de várias ilustrações e informações de quadros famosos, como os de Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Vicent Van Gogh etc, tinha até algumas dicas de como fazer arte em tela e pintar um quadro profissionalmente.

– Esse livro é incrível!

– Eu sei, ele já não está mais disponível para venda, se não eu te daria de presente.

– Mas mesmo assim eu adorei, acho que vou passar algumas tardes aqui vendo esse livro - ri e abracei Benjamin.

– De nada.

– Obrigada - ri. - Te adoro.

– Eu sei disso.

– Ta bem, ta bem, não faça eu me arrepender disso, agora vamos voltar. Lucas vai pensar que estamos nos aproveitando desse lugar isolado, daqui a pouco ele vai vir aqui para ver se estamos sendo civilizados.

– Ah sim, você está certa, vamos voltar, mas bem que eu adoraria ficar aqui para ver se o Lucas viria mesmo.

– Hahaha, como você é engraçado, Ben - disse, ironizando.


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