Uma Nova Vida - Peeta e Katniss escrita por MaryG


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Finalmente vim postar o capítulo mais esperado dessa fanfic! Sei que demorei muito, e peço desculpas por isso, mas esse capítulo deu muito trabalho para escrever. Não é fácil escrever um parto fiel e condizente com a realidade. Também não é fácil explorar as emoções dos personagens nesse momento. Eu precisei me concentrar bastante e até fazer pesquisas. Além disso tudo, eu tive alguns problemas de saúde (nada sério) que atrasaram mais ainda a minha escrita.

Mas o importante é que o capítulo está aqui agora, não é? :) Sei que vocês estão com muita expectativa, e isso me deixa um pouco nervosa. Não sei se vou conseguir corresponder às expectativas de vocês, mas eu posso garantir que dei o meu melhor e que espero, do fundo do coração, que vocês gostem.

Agora chega de blá blá blá.

Boa leitura!



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À noite, após o jantar, eu começo a sentir novamente o que a doutora Brooks chama de “contrações falsas”. Elas não doem tanto. É apenas uma sensação de aperto na barriga, uma dor leve. Não é nada sério, então eu simplesmente tomo um banho morno e visto uma camisola larga e confortável. Sei que isso sempre ajuda as contrações falsas a passarem.

Após me deitar na cama para dormir, porém, eu começo a perceber que elas estão ficando mais dolorosas e persistentes do que o comum. Mas a doutora Brooks disse que é normal as contrações falsas ficarem mais intensas à medida que a gravidez vai chegando ao fim, então eu não fico preocupada. Simplesmente esfrego minha mão na minha barriga para aliviar o desconforto e tento arrumar uma posição confortável para dormir.

— Katniss, tá tudo bem? – pergunta Peeta, percebendo que estou inquieta.

— Sim. Só estou sem posição – minto. Toda vez que eu tenho contrações falsas, Peeta fica preocupado, achando que o bebê pode nascer. Então ultimamente eu não tenho mais falado sobre isso com ele.

— Você quer uma massagem? – pergunta ele, bocejando.

— Não precisa. Vá dormir. Você está exausto.

— Tudo bem. Mas se você sentir qualquer coisa, me acorde. Boa noite, meu amor.

— Boa noite.

Sem mais delongas, ele se vira (ultimamente, nós não temos mais dormido abraçados, porque essa posição não tem sido confortável para mim) e em pouco tempo já está roncando. Está realmente cansado.

Eu também estou bem cansada, mas não consigo dormir. As contrações falsas continuam aumentando de intensidade, e o intervalo entre elas não é o suficiente para eu conseguir engatar um sono profundo. Sempre que a contração seguinte chega, eu acordo. Então eu simplesmente desisto de dormir e me levanto, cuidadosamente, para não acordar Peeta.

Eu passo no banheiro para esvaziar a bexiga, pois às vezes isso alivia as contrações falsas. Mas dessa vez, isso não adianta nada. Mais uma contração vem, e dessa vez é bem mais longa e dolorosa que as anteriores. Sem saber o que fazer, eu saio do banheiro e fico andando de um lado para o outro no quarto até a contração passar. Quando ela passa, eu me sento na poltrona que fica perto do armário, respirando fundo.

Fico tentando entender o que está acontecendo, entender por que as contrações estão ficando tão dolorosas e constantes.

Dolorosas e constantes.

Dolorosas e constantes!

Uma luz se acende em minha mente e eu finalmente entendo que o que eu estou tendo não são contrações falsas. São contrações verdadeiras. Eu estou em trabalho de parto! O meu bebê vai nascer!

Uma sensação horrível de terror começa a crescer em meu peito, mas eu tento ignorá-la e me levanto da poltrona, indo em direção à cama para acordar Peeta. Eu me sento na cama e cutuco levemente o seu braço.

— Peeta? – chamo por ele, mas ele nem se mexe. Eu o cutuco mais forte e então ele se levanta de um pulo na cama, como se tivesse sido esfaqueado. Eu poderia até achar graça da situação, se não estivesse tão nervosa.

— O que foi, Katniss?! – exclama ele, assustado.

— Chegou a hora, Peeta. O bebê vai nascer.

Na mesma hora em que as palavras deixam a minha boca, eu sinto um líquido quente me escorrer por entre as pernas.

— Katniss! Por que você não me açor...

— Peeta, a bolsa estourou! – exclamo, interrompendo-o.

— V-você tem certeza? – pergunta ele, e o nervosismo em sua voz é palpável. Com a penumbra do quarto, que está iluminado apenas pela fraca luz da lua, não consigo ver bem o rosto dele, mas sei que uma expressão de espanto deve ter se formado em suas feições.

Levo minha mão direita por entre minhas pernas. Ao sentir minha peça íntima molhada, tenho 100% de certeza de que a minha bolsa estourou. Toco a superfície do colchão e sinto que também o molhei um pouco.

— Sim. Tá tudo molhado aqui – digo, com a voz ligeiramente trêmula. Está tudo acontecendo muito rápido, e evitar que o nervosismo comece a ganhar espaço dentro de mim torna-se difícil.

Peeta dá um suspiro profundo, como se estivesse tentando manter a calma, e então eu o sinto se mover na cama. A luz do abajur que ele acaba de acender preenche o quarto, e quando ele se volta para mim novamente, posso ver uma expressão séria em seu rosto. Sei que esse é o jeito que ele sempre fica quando está nervoso.

— Há quanto tempo você está sentindo dor? – pergunta ele, colocando um travesseiro entre minhas costas e a cabeceira da cama.

— Eu não sei! – digo, e minha voz soa chorosa. – Umas duas ou três horas... eu não estava contando!

— Oh, meu amor! Você realmente deveria ter me acordado.

— Eu achei que eram contrações falsas, mas elas ficaram mais constantes e... AI! – uma nova contração chega, me interrompendo.

Em meio à dor, eu sinto Peeta entrelaçar sua mão na minha para que eu a aperte até que a contração tenha passado por completo.

— Passou... – digo, aliviada, e então solto a mão dele.

— Bem, acho que nós deveríamos contar o intervalo e a duração das contrações e depois telefonar para a doutora Brooks – diz ele. Embora ele esteja tentando me passar segurança, eu consigo perceber que agora, depois de ter me visto com dor, ele está ainda mais nervoso do que antes. Sua expressão facial e seu tom de voz não me enganam.

Depois de todos esses anos convivendo com Peeta, eu sei reconhecer cada uma de suas emoções. E essa não é a primeira vez que ele tenta me passar segurança sem que ele mesmo esteja se sentindo seguro. Mas mesmo nesse tipo de situação, quando nem ele mesmo está seguro, ele consegue me acalmar como nenhuma outra pessoa. Só de ouvir suas palavras e sentir sua presença, eu sei que não estou sozinha e que tudo vai dar certo.

— Sim, foi isso que ela disse para nós fazermos quando chegasse a hora – digo.

Sem dizer mais nada, Peeta se levanta da cama.

— Onde você vai? – pergunto, confusa.

Ele vai até a mesinha de cabeceira que fica ao lado do meu lado da cama e pega o relógio.

— Agora são uma e vinte e cinco da manhã. Sua última contração acabou há uns dois minutos. Fique aí de olho no relógio que eu vou pegar umas toalhas pra secar você.

Ah, claro. Com a dor da contração, eu esqueci que preciso me enxugar.

Peeta vai até o armário e pega o que deseja. Em menos de um minuto depois, ele volta até mim, com duas toalhas de rosto em mãos.

— Nada ainda? – pergunta ele, sentando-se na ponta da cama, próximo aos meus pés.

— Nada – confirmo.

— Vamos aproveitar pra secar você então – diz ele.

Peeta seca minhas coxas, me ajuda a tirar minha roupa íntima molhada e depois me ajuda a me acomodar do lado seco da cama. Ele depois levanta minha camisola e coloca a outra toalha embaixo de mim, para evitar que eu molhe a cama novamente. O vazamento parece ter parado um pouco, mas é sempre bom se precaver.

— Sua camisola está um pouco molhada. Você quer que eu pegue outra? – ele me pergunta, mas antes que eu possa responder, mais uma contração me atinge.

Eu me contorço na cama, gemendo de dor. A sensação que tenho é a de que a cada contração, a dor fica mais forte.

Quando a contração finalmente passa, um suspiro de alívio me escapa dos lábios.

— 50 segundos – diz Peeta, segurando o relógio. – Sua contração durou 50 segundos. E tendo em vista que sua última contração acabou às 1 e 25 e agora são 1 e 29, o intervalo foi de 4 minutos.

— O que isso significa? – pergunto, sentindo o nervosismo de antes retornar.

— Não sei ao certo. Temos que telefonar para a doutora Brooks.

— Peeta, eu tou com medo – deixo soltar. Minha voz soa manhosa, como a de uma criancinha.

Ele dá um sorrisinho triste e acaricia meu rosto levemente.

— É normal ter medo. Esse é um território desconhecido por nós dois. Mas eu estou aqui, com você. Eu não vou sair do seu lado, meu amor.

Ao ouvir as palavras de Peeta, uma onda de tranquilidade me invade, como sempre.

— Obrigada – digo a ele.

— Você não tem o que agradecer. Bem, você permite que eu saia dois minutinhos para telefonar para a doutora Brooks?

— Tudo bem.

Ele me dá um beijinho nos lábios e se retira.

Antes que eu tenha uma nova contração, ele retorna ao quarto.

— E aí? – é a primeira coisa que eu pergunto.

Ele se senta na ponta da cama e diz:

— Eu não consegui falar com a doutora Brooks – diz ele, e eu consigo notar a tensão em seus olhos.

— Peeta, e agora?! – exclamo, o desespero de antes retornando. – Minha mãe ainda não chegou, a doutora Brooks não tá atendendo...

— Calma – diz Peeta, me interrompendo. Ele se aproxima mais de mim e coloca as mãos no meu rosto, num gesto de conforto. – Eu vou tentar falar com ela novamente daqui a pouco.

— E se você não conseguir? – questiono, insegura.

— Aí eu tento arranjar outro médico. Fique tranquila.

— Certo. Ai! – Mais uma contração chega, dessa vez ainda mais forte. No começo, a dor se concentrava mais na parte inferior do meu abdômen, mas agora é como se a dor estivesse se espalhando cada vez mais, atingindo todo o meu abdômen e irradiando para as minhas costas.

Eu me levanto abruptamente da cama, sem conseguir ficar parada em meio à dor. Peeta se assusta.

— Katniss, o que foi?! – exclama ele, se levantando da cama.

— Eu não tou conseguindo ficar parada! Tá doendo até nas costas! Ai! – digo num gemido, andando de um lado para o outro no quarto.

Peeta se aproxima de mim e me puxa para ele. Ele apoia minhas costas em sua barriga e me envolve com seus braços, me apertando gentilmente. Por mais estranho que isso possa parecer, a posição alivia um pouco a dor.

Quando a contração finalmente passa, eu me desvencilho dos braços de Peeta.

— Obrigada, Peeta – digo aliviada. – Onde foi que você aprendeu isso?

— Não sei. Foi algo instintivo, e que bom que deu certo – ele ri, me fazendo rir também.

— Queria que você fizesse isso comigo de novo nas próximas contrações. Você pode? – peço.

— Claro que sim, Katniss. Eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para te ajudar.

Eu me aproximo de Peeta e lhe dou um abraço, tentando demonstrar toda a minha gratidão por tê-lo comigo nesse momento tão desafiador.

Nos minutos que se seguem, ele continua a me abraçar daquela maneira durante as contrações. Ele também faz massagem nas minhas costas, para aliviar a tensão. Com o passar do tempo, as contrações vão ficando cada vez mais fortes.

Quando o líquido volta a vazar por entre minhas pernas, dessa vez num ritmo mais acelerado, Peeta decide ir telefonar para a doutora Brooks novamente.

— Ela atendeu – diz ele, satisfeito, assim que volta ao quarto. – Ela disse que não atendeu antes porque estava ocupada e não ouviu. Eu contei a ela como você está e ela brigou comigo por não ter insistido mais em falar com ela.

— E então? Ela está vindo? – pergunto ansiosa.

— Sim. Ela disse que deve chegar em mais ou menos meia-hora. Eu vou trocar de roupa para recebê-la.

— Certo.

Olho para o relógio. 2h e 30 min.

Nos 35 minutos que se seguem, as contrações pioram, o líquido amniótico continua a vazar e uma coisa estranha me sai por entre as pernas. É algo com uma textura gelatinosa, semelhante a um catarro, e com alguns resquícios de sangue. Eu ficaria com nojo, caso não estivesse tão apreensiva sobre o que acaba de acontecer.

Às 3h e 05 min, a doutora Brooks finalmente chega até minha casa, me enchendo de alívio. Quando eu e Peeta contamos a ela sobre a coisa gelatinosa que saiu de mim, ela explica:

— Isso se chama tampão mucoso. Ele serve para evitar que agentes infecciosos entrem no útero e causem danos ao bebê.

— Então nosso bebê está correndo riscos? – Peeta faz a pergunta que está na minha cabeça.

A doutora Brooks dá um risinho.

— Imagina. É perfeitamente normal isso acontecer no trabalho de parto. Bem, agora eu preciso examiná-la. Onde posso lavar as mãos?

— Por aqui – diz Peeta, e então leva a médica até o banheiro.

Quando eles retornam ao quarto, ela se senta na cama e tira um par de luvas estéreis de látex de dentro de sua maleta. Peeta acende a luz do quarto para que a médica possa me ver melhor.

— Katniss, eu vou fazer um exame de toque em você agora, certo? – diz a doutora Brooks, colocando as luvas em suas mãos. – É um pouco desconfortável, mas é rápido.

Eu assinto com a cabeça e ela realiza o exame. Peeta fica sentado ao meu lado, segurando minha mão. O exame não é tão ruim quanto eu pensei que ia ser, mas também não é lá a sensação mais agradável do mundo.

— Quatro centímetros de dilatação – diz ela, retirando as luvas. – Você já está quase na metade do trabalho de parto, Katniss.

— Eu ainda não estou nem na metade?! – exclamo, uma sensação de desespero crescendo dentro de mim.

A doutora dá um sorrisinho triste, parecendo estar com pena de mim.

— Você está indo muito bem, Katniss. Há mulheres que passam muitas horas para chegar ao estágio em que você está agora. Você só precisa ter mais um pouco de paciência.

— Tudo bem, eu... ai! – mais uma contração chega, cortando minhas palavras. Eu me levanto da cama e a doutora não tenta me impedir. Peeta também se levanta e em seguida me abraça daquele jeito que alivia minha dor.

Quando a contração passa, eu respiro aliviada e me desvencilho de Peeta, voltando para a cama em seguida.

— Essa contração durou sessenta segundos – diz a médica, conferindo seu relógio de pulso. – Você está indo muito bem, Katniss.

— Doutora, toda vez que ela tem contração ela fica de pé e eu a abraço pra aliviar a dor – diz Peeta. – Tem algum problema?

— Problema nenhum. A mulher tem que se sentir o mais confortável possível durante o trabalho de parto. Enquanto ela não estiver na fase de expulsão, ela pode ficar de pé o tanto quanto desejar. Só é legal que ela coloque um absorvente, pra não ter perigo de ficar se molhando o tempo todo.

Ela se volta para mim.

— Você gostaria de tomar um banho morno, Katniss? Dá bastante alívio.

— Sim, eu gostaria – digo. Com toda essa dor, estou suada e exausta.

— Peeta, ajude sua esposa no banho. Faça massagens nela embaixo d’água também. Isso ajuda muito – recomenda a médica.

— Claro – diz ele. – Eu já estava dando massagens nela antes. Só não embaixo d’água.

— Ok. Enquanto vocês ficam no banho, eu gostaria de usar o telefone para tentar contactar a minha colega que é pediatra. Eu tentei em casa, antes de vir, mas não consegui. Posso usar?

— Claro, doutora – diz Peeta. – Tem um aparelho lá embaixo, na sala. A luz tá acesa. Pode ir lá.

— Certo.

Quando sou envolvida pela água morna, uma deliciosa sensação de alívio percorre o meu corpo. Peeta entra comigo no box e massageias minhas costas, meus ombros e meus quadris, o sabonete líquido ajudando suas mãos a deslizarem com mais facilidade pela minha pele. Quando tenho mais uma contração, ele novamente me abraça por trás, aliviando minha dor.

Peeta sai do banho antes de mim, dizendo que vai pegar uma camisola e uma roupa íntima limpas para mim. Ele se enxuga, se veste com a mesma roupa de antes e sai, e eu fico lá aproveitando a água morna mais um pouco. No curto espaço de tempo em que ele fica fora, eu tenho mais uma contração, mas respiro fundo e seguro com força a válvula do chuveiro até que ela tenha passado.

Quando ele volta, ele me ajuda a me enxugar e a me vestir. Seguindo o conselho da doutora Brooks, eu coloco um absorvente.

***

— E então, doutora? – pergunta Peeta assim que a doutora Brooks volta ao nosso quarto.

— Eu consegui falar com ela – responde ela. – Tive que ligar lá pro hospital. Ela foi chamada por uma outra colega nossa para atender um parto lá.

— Então ela não vai poder vir? – pergunto, ligeiramente nervosa.

— Vai, sim. Ele só vai descansar um pouco primeiro. O seu bebê não vai nascer agora. Falando nisso, vamos checar o seu progresso novamente?

— Tudo bem.

Peeta leva a médica para lavar as mãos mais uma vez. Quando ela volta, ela coloca um novo par de luvas em suas mãos, tira minha roupa íntima e então faz o toque novamente.

— Cinco centímetros de dilatação. Você já está na metade do trabalho de parto, Katniss – diz ela, sorrindo para mim. – Agora vamos auscultar você e o bebê e depois aferir sua pressão arterial.

Ela descarta as luvas e depois coloca na minha barriga aquele aparelhinho que mostra os batimentos cardíacos do bebê. É um pouco estranho imaginar que essa é provavelmente a última vez em que ouvirei o coração do meu bebê dessa forma. Em algumas horas, minha filha estará aqui, em meus braços.

— Tudo bem com o coração do bebê – diz a doutora Brooks, me tirando dos meus pensamentos. – Agora vamos ver o coração da mamãe.

Ela me ausculta e depois afere minha pressão arterial. Tudo certo. Agora é só esperar pacientemente que meu corpo se encarregue de fazer meu bebê nascer.

A questão é se terei essa paciência.

***

Nas horas que se seguem, as contrações ficam cada vez mais dolorosas e duradouras, e o intervalo entre elas vai ficando cada vez menor. A doutora Brooks fica na sala para nos dar privacidade, aparecendo apenas de quando em quando para checar o meu progresso e ver como eu estou.

Durante as contrações, Peeta fica sempre ao meu lado. Ele me dá massagem, me abraça daquela forma que me alivia, me dá sua mão para que eu a aperte. Mas à medida que as contrações vão piorando, nada mais é capaz de aliviar minha dor. Sinto como se os músculos do meu abdômen fossem se rasgar ao meio, e tudo que me resta a fazer é gemer e me contorcer na cama.

Numa das vezes em que a doutora Brooks aparece para checar meu progresso, ela percebe meu sofrimento e então me pergunta se eu gostaria de ir ao hospital, pois lá eu poderei tomar uma anestesia para aliviar a dor.

— Não! – digo resoluta. – Eu quero ter meu bebê aqui, e da forma mais natural possível.

Ela, mais uma vez, respeita minha decisão. Simplesmente pede que Peeta me dê um pouco de água de vez em quando, para me manter hidratada, e se retira do quarto.

***

Quando chego aos 9 centímetros de dilatação, o dia já está amanhecendo, o que significa que já estou há umas sete horas em trabalho de parto. Sinto-me totalmente exausta, totalmente incapaz de seguir adiante.

— Eu não aguento mais isso! – reclamo. – Eu estou cansada!

— Falta apenas um centímetro – informa a doutora Brooks. – Eu já vou providenciar as coisas para o parto.

— E-eu não vou conseguir! – exclamo, e quando dou por mim, lágrimas estão descendo pelo meu rosto.

— Calma, meu amor – sussurra Peeta, enxugando minhas lágrimas com carinho. – Falta só mais um pouco. Eu estou aqui, com você. Vai dar tudo certo. Você está indo muito bem. Só precisa ter só mais um pouquinho de paciência.

Como sempre, as palavras de Peeta me acalmam, o que faz com que os minutos seguintes não pareçam tão horríveis quanto realmente são.

Quando finalmente chego aos 10 centímetros de dilatação, a luz do sol já está preenchendo o quarto e tudo já está pronto para a chegada do bebê. Os panos limpos, a água fervida e a tesoura estéril já estão a postos, prontos para serem utilizados.

— Katniss, na próxima contração, você começará a fazer força, certo? – informa a doutora Brooks. – A minha colega que é pediatra já está vindo.

Quando essas palavras deixam a boca da médica, a realização de que meu bebê está prestes a nascer me atinge em cheio. E com essa realização, uma sensação gelada de medo me sobe pela espinha.

Em alguns minutos, minha filha sairá de dentro de mim e ficará totalmente vulnerável às maldades deste mundo. Em alguns minutos, eu terei alguém que dependerá totalmente dos meus cuidados. Em alguns minutos, eu serei mãe.

Sou acometida por um nervosismo tão grande que começo a hiperventilar. Peeta parece perceber, pois leva sua mão ao meu joelho, acariciando-o levemente num gesto de apoio. Quando olho para ele, vejo que ele está me dando um sorriso encorajador.

— Pois bem – continua a doutora Brooks, tirando-me dos meus pensamentos –, temos que arranjar uma posição confortável para você, Katniss. Assim tá bom?

Eu estou deitada com as pernas abertas, minhas costas ligeiramente inclinadas por estarem apoiadas sobre dois travesseiros. Essa parece uma posição boa para parir, mas antes que eu possa dizer isso, a contração chega e me prova que eu estava errada.

Ao sentir um peso no meu baixo ventre, tenho o estranho impulso de me acocorar na cama.

— Oh, então você quer ter um parto de cócoras! – exclama a doutora Brooks. – Peeta, se ajoelhe atrás dela e a segure pelas axilas para lhe dar apoio.

Peeta faz o que a médica falou e então eu estou lá, acocorada na cama com meu marido me apoiando por trás. Seus braços me seguram pelas axilas e eu aperto suas mãos. A dor da contração é muito forte e a sensação de peso no meu baixo ventre me faz sentir uma vontade imensa de fazer força.

— Unnngh! – grito, fazendo força.

— Faça força pra baixo, Katniss – recomenda a médica. – Não pra cima.

Eu sigo o que a médica falou, forçando todos os músculos do meu abdômen a expulsar o meu bebê de dentro de mim.

— Isso, Katniss! – elogia a médica. – A cabecinha já está começando a aparecer.

Isso me instiga e eu continuo fazendo força, mas depois de alguns segundos, a contração cessa e eu tenho a sensação de que o meu bebê recuou.

— O que foi que aconteceu? – pergunto confusa. – Por que o meu bebê não saiu?

— O bebê não sai com apenas uma contração, Katniss – explica a doutora Brooks.

— Quantas são necessárias, então?! – pergunto, de repente apavorada.

— Isso varia, mas você está indo muito bem. Creio que com mais umas duas contrações, o seu bebê irá sair. Até lá, tente relaxar. Por que você não tira essa camisola e senta um pouco?

Olho para mim mesma e vejo minha camisola dobrada até a metade da minha barriga. Pra que continuar vestida com essa coisa, se da cintura para baixo está tudo de fora? Eu me afasto de Peeta, sento na cama e tiro a camisola, jogando-a num canto qualquer do quarto.

Nos minutos que se seguem, tenho mais duas contrações e repito o mesmo processo de me acocorar apoiada em Peeta e fazer força em cada uma delas. Quando a terceira contração termina e o meu bebê ainda não nasceu, eu começo a me desesperar.

— Eu não vou conseguir! – exclamo, já chorando. – Eu não vou!

— Shiii! Calma, meu amor – diz Peeta docemente, acariciando minha bochecha. – Você está sendo incrível. É só ter um pouquinho mais de paciência. Logo, logo nossa filhinha estará aqui.

— É isso mesmo, Katniss – reforça a doutora Brooks. – Você está indo muito bem. Na próxima contração, você irá respirar fundo e fazer uma força bem grande e comprida, certo?

— Certo – digo, já me sentindo um pouco mais calma.

Quando a contração seguinte chega, eu faço exatamente o que a doutora recomendou. Acocorada e com Peeta me apoiando, eu respiro fundo e então começo a fazer maior força que meu corpo me permite.

— Isso, Katniss! – diz a doutora Brooks com entusiasmo. – A cabecinha já tá coroando!

— Uuuuungh! – grito, continuando a fazer força e apertando as mãos de Peeta. Olho para baixo, tentando ver algo, mas minha barriga me impede de ver. Eu só posso sentir uma ardência na minha pélvis e as mãos enluvadas da doutora Brooks na minha parte íntima.

— Agora respire novamente e depois faça uma força menos intensa – diz a médica, e eu a obedeço. – Isso! Tá nascendo, Katniss!

— Ela tá nascendo! Nossa filha tá nascendo! – ouço Peeta sussurrar próximo ao meu ouvido, sua voz embargada.

Fecho os olhos e me concentro no meu corpo e no meu trabalho de fazer o meu bebê nascer. A gravidade me ajuda, e em pouco tempo eu sinto o meu bebê escorregar por completo para fora de mim.

— Nasceu, meu amor! – Peeta diz atrás de mim, chorando.

E então eu ouço.

Eu ouço o que estive esperando ouvir por todo este tempo.

Um chorinho agudo, forte e cheio de vida.

O chorinho da minha filha.

Eu abro os olhos e finalmente posso vê-la, nas mãos da doutora Brooks.

Seus olhinhos estão fechados, mas sua boquinha está aberta, deixando escapar o som forte e alto de seu choro. Seus cabelos são escuros, assim como os meus, e sua pele clara está coberta de uma substância esbranquiçada. Tão pequenina. Tão frágil.

Tão linda.

A coisa mais perfeita que eu já vi na minha vida.

Uma sensação de calor cresce em meu peito e se espalha rapidamente pelo meu corpo, me enchendo de um sentimento forte que só pode ser amor de mãe.

O amor mais puro que eu já senti em toda a minha vida.

Sem que eu possa evitar, lágrimas me descem pelos olhos em resposta a todas as emoções que estão se agitando dentro de mim.

— Ela é muito linda, Katniss! – diz Peeta. Na posição onde estou, eu não consigo ver o rosto dele, mas sua voz embargada demonstra o tamanho da emoção que ele está sentindo.

E ao perceber essa sua emoção, eu fico ainda mais certa de que decidir dar um filho a ele foi a melhor coisa que eu já fiz. De que nenhuma escolha feita por amor, como o amor que eu sinto por ele, pode ser um equívoco.

— Peeta, ajude sua esposa a deitar – diz a doutora Brooks, tirando-me dos meus pensamentos.

Ele obedece à médica. Quando já estou confortavelmente deitada, apoiada nos travesseiros, eu finalmente lanço meu olhar para o rosto de Peeta. Lágrimas e mais lágrimas caem de seus olhos azuis, e suas feições, normalmente calmas, estão contorcidas na mais pura emoção.

— Obrigado, meu amor! Obrigado! Obrigado! – diz ele, intercalando palavras com beijos em minha testa.

— Não há o que agradecer. O que eu fiz foi por amor – digo, imitando as palavras que Peeta sempre usa comigo quando eu lhe agradeço por algo.

Ele se afasta de mim e então meu bebê volta ao meu campo de visão. Estendo os braços para a frente, ansiosa para ter minha filhinha nos meus braços pela primeira vez.

— Eu quero pegá-la no colo! – informo, como se meus braços estendidos não fossem o bastante para que a doutora Brooks entendesse.

Ela dá uma risadinha.

— Você já vai poder pegá-la, mamãe. Peeta, coloque esse pano em cima da barriga de Katniss, por favor.

Ele lhe obedece mais uma vez.

Quando já estou com o pano sobre a minha barriga, a doutora Brooks coloca a minha filha em cima de mim, o cordão umbilical ainda unindo nós duas. A médica vira as pontas do pano e envolve a bebê nele, para aquecê-la. Depois disso, ela se afasta de mim, permitindo que eu segure minha filha sozinha.

Eu a envolvo em meus braços e Peeta se aproxima de mim, para poder vê-la de pertinho. Ela já parou de chorar, e agora está apenas fazendo aqueles gemidinhos de recém-nascido. Seus olhinhos estão abertos, e quando eu os observo atentamente, percebo que eles são azuis. Não um tom qualquer de azul, mas o tom exato de azul dos olhos de Peeta.

— Ela tem os seus olhos, Peeta – digo emocionada.

— Sim – concorda ele, também emocionado. – Mas o narizinho dela é seu. Eu estava certo quando achei isso na ultrassonografia.

— Se você diz... – digo, rindo.

A neném dá um bocejo e depois fecha os olhinhos, iniciando um cochilo tranquilo. E eu fico lá olhando para ela, sentindo aquele amor enorme. Sentindo uma felicidade que eu nunca senti antes. Felicidade essa que eu sei que vai ser capaz de apaziguar todo o medo, toda a insegurança que eu senti na gravidez.

Então aqui, neste momento, eu sei exatamente qual nome darei a ela.

— Felicity – sussurro, passando meu polegar por sua bochechinha rosada.

Continua...


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Notas finais do capítulo

A filhinha de Peeta e Katniss nasceu! Eeeeee! o/

Eu inicialmente tinha planejado fazer suspense sobre o nome do bebê até o próximo capítulo, mas fiquei com pena de vocês. Depois de dois meses de espera, achei que vocês mereciam esse bônus. :D Felicity é um nome que significa "Felicidade" em Inglês. Eu não o vi numa outra fanfic nem nada. A ideia veio da minha cabeça, tomando como base o que Katniss diz no epílogo de "A Esperança". Ela diz que apenas a felicidade de segurar sua filha no braço pela primeira vez fez com que ela superasse seus medos, então eu achei que um nome que significasse felicidade teria tudo a ver. :)

Eu espero que vocês tenham gostado desse capítulo e do nome que escolhi para a filha de Peeta e Katniss. Digam nos comentários o que acharam, ok? Quero todo mundo comentando, hein?

O próximo capítulo será focado nas emoções do Peeta. Podem esperar. :)

Beijos e até a próxima.