Uma Nova Vida - Peeta e Katniss escrita por MaryG


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos! Vim postar mais um capítulo para vocês. Sei que minha ausência foi mais longa do que o normal dessa vez, e peço desculpas por isso, mas é que esse capítulo foi trabalhoso de escrever (e eu também tive um bloqueio desgraçado). Explorar as emoções da Katniss nunca é fácil. Ela é muito confusa, então escrever uma coisa que fique plausível pelo que é mostrado nos livros é complicado. Não sei se ficou tão bom quanto eu gostaria que ficasse, mas eu dei o meu melhor e espero que vocês gostem. :)

Agradeço a todos que estão comentando. Vocês não sabem como os comentários de vocês me deixam feliz! :D Agradeço também, em especial, aos leitores Barbara Leal, Semi Potter Gale, Raquel Cabral e Lina, que recomendaram a história do último capítulo para cá. Obrigada, pessoal!

Boa leitura!



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Mais dias vão se passando. Eu continuo ajudando Peeta na padaria. Seguindo seu conselho, eu passo a agir com mais naturalidade perto dos clientes. Para meu alívio, ninguém mais fica encarando a minha barriga.

Tenho ficado cada vez melhor em decorar bolos, apesar de não chegar nem aos pés de Peeta. Animado com meu progresso, certo dia ele me deixa decorar um bolo com um tipo mais grosso de glacê, o que já é um desafio bem maior. Não fica bonito, mas ele é generoso comigo, como sempre.

— É só ajeitar um pouquinho – diz ele, pegando a espátula da minha mão.

Não posso evitar rir com o otimismo dele.

— Certo. Ajeite aí. Vou pegar um pouco de água – digo, e ele assente com a cabeça.

Pego um copo e o encho de água. Mas antes que eu possa levá-lo aos lábios, sou acometida por uma sensação estranha. É uma leve agitação na minha barriga, como se um peixinho estivesse se mexendo dentro dela.

É o bebê.

É o bebê!

O bebê está se mexendo dentro da minha barriga!

Um terror inigualável me atinge e eu fico tão desnorteada que só percebo que deixei o copo cair quando ouço o estrondo do vidro se espatifando no chão.

— Katniss! O que foi isso?! – exclama Peeta, largando a espátula em cima da mesa e vindo até mim. – Você se machucou?

Apenas balanço a cabeça em negação, incapaz de formar uma palavra. Peeta me puxa pelo braço, afastando-me dos cacos de vidro. A sensação de terror cresce em mim e eu começo a sentir meu coração acelerar. Minha cabeça fica leve e o cenário à minha frente começa a ficar estranho, como se as cores fossem intensas demais e os objetos, irreais. Ouço Peeta falar algo sobre chamar alguém para limpar o chão, mas dessa vez sua voz soa longínqua, como se eu estivesse num sonho. Minha respiração fica difícil, como se houvesse algo quente e pesado em meus pulmões. Peeta fala mais alguma coisa, mas não entendo o que é.

Estou estática, incapaz de esboçar qualquer reação que seja. A única coisa à qual consigo prestar atenção é o pânico horrível que ameaça me dominar por inteira, deixando meu raciocínio lento e adormecendo meus sentidos. Já estive perto da morte várias vezes, mas nunca senti tanto que ia morrer quanto agora.

— Katniss! – grita Peeta, me sacudindo pelos ombros, e só então percebo que ele estava me chamando. Sua voz ainda soa distante, mas agora ele conseguiu atrair a minha atenção. – O que você tem? Você tá pálida!

Sentindo que estou a ponto de desfalecer, eu faço a única coisa que me vem à cabeça: Eu me atiro em seus braços, encostando a cabeça em seu peito. Ele retribui o abraço, me aconchegando e me confortando da forma que só ele sabe. É nesse momento que o terror de antes se derrama em lágrimas. Choro forte, meu corpo sacudindo em soluços. O mal estar começa a passar, como se as lágrimas e os soluços estivessem empurrando-o para fora do meu corpo, mas um medo que parece tão velho quanto a própria vida começa a comprimir cada vez mais forte o meu peito.

— Meu amor, o que houve? – pergunta Peeta, acariciando os meus cabelos delicadamente enquanto eu soluço em seu peito.

E nesse momento, aconchegada nos braços de Peeta e com sua pergunta pairando no ar, eu finalmente entendo a razão de estar tão aterrorizada. Sentir os sintomas da gravidez, ver meu corpo se modificando e ouvir o coração do meu bebê me deram uma noção de que ele existe, de que ele é real. Mas nada me deu mais certeza de que ele é real do que a sensação dele se agitando dentro de mim. E essa certeza tão grande de que ele é real veio junto com a certeza do quanto ele é vulnerável e do quanto eu sou incapaz de protegê-lo.

Toda a insegurança que tentei superar desde que comecei a considerar a possibilidade de dar um filho a Peeta me atinge em cheio. Por que eu concordei com isso, afinal de contas? Meu filho está aqui, dentro de mim, vivo e já vulnerável às maldades deste mundo. Se alguém tentar fazer algum mal a mim, ele consequentemente será prejudicado. Aliás, não foi sempre assim com todos os que eu amo? Meu filho está dentro do meu ventre, mas outras tantas pessoas que eu amava não estavam e ainda assim foram prejudicadas por minha causa. Eu sempre causei dor e sofrimento aos meus entes queridos. Sempre os coloquei em risco.

Onde eu estava com a cabeça quando pensei que com meu bebê poderia ser diferente?

Essa conclusão me faz chorar mais ainda, mas Peeta me abraça bem forte, num gesto de conforto que é bem típico dele.

— O que quer que esteja te afligindo, não esqueça que não está sozinha – diz ele, com o tom de voz doce e calmo que ele sempre usa para me acalmar.

Mas é como se nada fosse capaz de me acalmar nesse momento. Nem mesmo Peeta.

Eventualmente, porém, eu paro de chorar, como se os meus músculos estivessem cansados dos meus soluços e meus olhos, completamente secos. Peeta rompe nosso abraço e me vira de frente para ele, enxugando os rastros de lágrimas no meu rosto com seus polegares em seguida.

— O que aconteceu? – pergunta ele, visivelmente preocupado.

Eu deveria falar agora o que houve, pois certamente estou precisando desabafar. Mas minha cabeça lateja dolorosamente e minha garganta está totalmente seca. Nenhuma palavra vai sair da minha boca.

— Você quer uma água? – pergunta Peeta, como que adivinhando meus pensamentos. Assinto com a cabeça.

Ele me ajuda a sentar numa cadeira e em seguida me traz um copo com água. Eu esvazio o copo em goles lentos e espaçados, umedecendo minha garganta aos poucos. Quando termino, coloco-o em cima da mesa e olho para Peeta, que está de pé à minha frente. Ele está muito preocupado, e isso é visível em seu rosto. Sei que preciso falar alguma coisa. Não só por mim, mas principalmente por ele. Não importa se minha cabeça está doendo ou se minha vontade nesse momento é me isolar.

Eu preciso falar.

Dou uma respiração profunda e começo:

— O bebê mexeu, Peeta.

Um sorriso imediatamente se forma no rosto de Peeta, mas ele parece se arrepender ao se lembrar de que estou sofrendo, pois logo volta a ficar com a expressão séria de antes.

— E isso é uma coisa ruim? – indaga ele, e eu posso ouvir um pouco de decepção em sua voz.

Isso não é uma coisa ruim. Pelo menos, não deveria ser. Eu deveria estar feliz e realizada, como qualquer mãe normal. Que tipo de mãe eu vou ser, se sentir meu filho se mexendo dentro da minha barriga me causa terror em vez de felicidade?

Eu vou ser uma mãe horrível, sei que vou. Por que eu concordei com isso? Como pude ser tão egoísta e estúpida?

Esse pensamento me faz chorar novamente, mas dessa vez é um choro baixinho, não um choro desesperado como o de antes.

— Katniss, me desculpe, eu não... – começa Peeta, mas eu o interrompo.

— Eu vou ser uma mãe horrível.

— Se trata disso, então? – diz ele, mas ele não parece estar com raiva ou impaciente. Ele parece estar com pena de mim.

Não digo nada. Apenas assinto com a cabeça e enxugo minhas lágrimas com as costas da minha mão direita. Peeta pega uma cadeira e se senta de frente para mim. Quando termino de enxugar meu rosto, ele pega minhas mãos e as coloca entre as dele, claramente tentando me confortar.

— Katniss – começa ele –, você vai ser uma mãe maravilhosa, eu tenho certeza disso. Você tem mania de se colocar para baixo e não consegue reconhecer as próprias qualidades, mas você sempre cuidou dos que ama da melhor forma possível e...

— Eu falhei com Prim – interrompo-o. – Eu abandonei você quando você estava doente e...

— Pare já com isso, Katniss! – Peeta me interrompe, soltando as minhas mãos. Dessa vez, a irritação é perceptível em sua voz. – Você não falhou com sua irmã. Você foi a melhor mãe, sim, MÃE, que ela poderia ter tido! E você não me abandonou. Você só se afastou de mim porque eu te colocava em risco e porque você mesma estava sofrendo. E foi só por um tempo. Depois você voltou para mim, e tem estado comigo por dezesseis anos.

Ele para um pouco e passa a mão direita em seus cachos loiros, tentando se acalmar. Quando ele volta a falar, já parece mais calmo.

— Você não é essa pessoa horrível que você pensa que é. Você se importa muito com as pessoas que você ama e se dedica muito a elas. Você às vezes tenta parecer dura e fria, mas isso tudo é só uma máscara de proteção que você criou. A verdade é que você sente muito, e sabe por quê? Porque você tem amor no seu coração. Porque você tem compaixão. Porque você é uma boa pessoa. Você apenas não se dá o devido crédito.

— Será que sou mesmo? – pergunto, insegura. Não importa quantas vezes Peeta diga isso. Sempre sinto como se ele estivesse me superestimando.

— Sim, você é. E não pense que eu acho isso só porque sou seu marido e te amo. Qualquer outra pessoa que te conheça pode confirmar isso a você.

— Eu tenho medo de não conseguir proteger nosso bebê – confesso, praticamente ignorando a afirmação anterior de Peeta. – Quando eu o senti mexer na minha barriga, foi como se eu enfim me desse conta do quão real e vulnerável ele é e do quão incapaz de protegê-lo eu sou.

Abaixo a cabeça, mas Peeta levanta-a gentilmente com suas mãos.

— Você não é incapaz de protegê-lo, meu amor. Você está seguindo todas as recomendações da sua médica, está fazendo tudo o que está ao seu alcance para que ele cresça saudável. Nada de mau vai acontecer a ele enquanto ele estiver dentro da sua barriga. E depois que ele nascer, ele vai poder usufruir de um mundo sem miséria, sem Jogos Vorazes, sem opressão... Ele vai crescer feliz e saudável e nós vamos amá-lo e protegê-lo com tudo o que nós temos.

— Mas e se alguém fizer mal a ele pra me atingir? – pergunto. É difícil afastar essa possibilidade da minha cabeça depois de tudo que as pessoas que eu amo sofreram por minha causa.

— Ninguém tem razão nenhuma para querer te prejudicar. Snow é que fazia isso, pelo fato de você ameaçar o sistema dele, mas ele está morto há dezesseis anos. Hoje as coisas são diferentes.

Ele segura minhas mãos mais uma vez, numa nova tentativa de me passar segurança.

— Nós dois vamos protegê-lo com todas as nossas forças, Katniss. E você vai ser uma mãe maravilhosa. Não duvide disso.

Continuo sem acreditar muito nas palavras de Peeta, mas sei que é inútil tentar rebatê-las. Decido, em vez disso, absorvê-las. Tento convencer meu coração de que elas são verdadeiras, mesmo que elas não sejam. Isso, pelo menos, traz-me um pouco de conforto.

— Obrigada, Peeta – digo a ele, dando um leve sorriso.

— Não há de quê. Você sempre pode contar comigo. Sempre — ele enfatiza a palavra.

Eu lhe dou um beijinho nos lábios e em seguida o abraço. Aqui, envolvida em seus braços, eu me sinto mais segura e me deixo convencer pela ideia de que vai ficar tudo bem.

Essa ideia, porém, não dura muito.

Nos dias que se seguem, o terror inicial volta para me assombrar a cada vez que o meu bebê mexe. Eu tento me concentrar em outras coisas, tento não sucumbir ao medo, mas é inútil. À noite, quando não tenho nenhum controle sobre os meus sentimentos, pesadelos horrorosos que envolvem bestantes abrindo a minha barriga e arrancando o meu bebê de dentro vêm me atormentar. Acordo tão desesperada que é necessário bastante tempo para que Peeta consiga me acalmar e me convencer de que nada do que eu vi acontecer foi real.

Nas manhãs seguintes aos pesadelos, eu me sinto muito mal. A princípio, eu consigo procurar alguma atividade que me tire o foco do medo que estou sentindo. Mas depois de dias sentindo o bebê mexer e tendo pesadelos horríveis, eu não consigo mais resistir. Tudo o que eu penso é que a qualquer momento alguém vai aparecer para me atacar e fazer mal ao meu bebê. Eu deixo de sair de casa, temendo que isso aconteça. Minha paranoia chega a tal ponto que um simples toque da campainha me causa um ataque de pânico semelhante ao que tive quando senti o bebê mexer pela primeira vez.

— Você precisa de ajuda, Katniss – diz Peeta depois que eu me recupero do ataque de pânico. – Você está deixando de viver por causa do seu medo.

Não rebato o que ele disse, pois sei que ele tem razão. A questão é: Não há ninguém que possa me ajudar. Se nem Peeta, que sempre conseguiu me acalmar como ninguém, está conseguindo me ajudar, ninguém mais conseguiria.

Como se lesse os meus pensamentos, ele diz:

— Telefone para o doutor Aurelius. Vai te fazer bem.

— Não sei... – digo, começando a me opor. Nunca gostei de falar sobre meus sentimentos com ninguém. Com um médico muito menos.

— Você precisa, Katniss. Eu não vou te obrigar a fazer isso, mas você realmente precisa. Não dá pra você deixar de viver. E isso tá fazendo mal pro bebê.

Quando ele fala no bebê, me convence por completo.

— Tudo bem, eu vou telefonar pra ele. – digo.

— Ok.

Não gosto de falar sobre os meus sentimentos, não gosto de me expor e de parecer vulnerável, mas sei que preciso de ajuda. Não só por mim, mas também pelo meu bebê. Com isso em mente, cumpro minha promessa e telefono para o doutor Aurelius.

A princípio, eu não consigo me abrir por completo. Mas ele vai me ajudando a falar e eu, aos poucos, vou me abrindo. Depois de várias conversas ao telefone, eu começo a me sentir melhor. As conversas me ajudam a fortalecer a minha segurança e um calmante natural que ele prescreveu me ajuda a controlar melhor as crises de ansiedade. Os pesadelos mais horríveis diminuem de frequência e eu, aos poucos, vou voltando às minhas atividades diárias.

Certo dia, enquanto estou sentada no sofá da sala vendo TV com Peeta, eu sinto o bebê mexer e, pela primeira vez, não fico tão aterrorizada. O medo ainda está lá, mas também há uma sensação boa. Isso significa que meu bebê está vivo e bem, então tem seu lado positivo.

— Peeta – digo, pegando a mão dele e colocando em cima da minha barriga –, você tá sentindo?

Uma expressão de completa confusão se forma no rosto dele. Eu nunca fiz isso antes. Nunca tive nenhuma reação positiva ao bebê se mexendo dentro de mim.

— V-você tá bem? – pergunta ele, a confusão pintando a sua voz.

— Sim – digo, sorrindo para ele. – Ainda estou com medo, mas agora eu consigo pensar que isso tem um lado bom.

Um sorriso enorme se forma no rosto de Peeta e ele movimenta sua mão pela minha barriga, apertando a superfície levemente. Sei que ele está tentando sentir o movimento do nosso bebê.

— Ele ainda tá mexendo? – pergunta ele, com um sorriso bobo no rosto.

— Sim, um pouco.

— Acho que ele ainda deve ser muito pequenininho para eu conseguir sentir aqui de fora – diz ele, parecendo um pouco frustrado.

— É, deve ser. Mas daqui a pouco você vai conseguir sentir. O tempo tá passando rápido. Já vou completar cinco meses daqui a poucos dias.

Ele sorri.

— É verdade. Katniss?

— Hmm?

— Vai ficar tudo bem, viu? – diz ele, acariciando meu braço levemente.

— Espero que sim – dou um sorriso.

***

Os dias vão passando rapidamente. Após eu completar cinco meses de gravidez, chega o dia da consulta com a doutora Brooks. Minha barriga não está muito grande, mas seu tamanho já é o suficiente para deixar minhas roupas usuais apertadas. Delly fez a caridade de ir até uma loja de moda gestante e comprar algumas roupas para mim (dei o dinheiro, claro). Hoje, opto por usar uma calça e uma batinha, pois precisarei deixar minha barriga à mostra na consulta.

Hoje, farei minha primeira ultrassonografia. Não estou ansiosa para saber o sexo do bebê, mas Peeta parece não caber em si de tanta ansiedade.

— Você acha que vai ser menino ou menina? – pergunta ele enquanto estamos no carro, a caminho do hospital.

— Pra mim, o mais importante é que venha com saúde – digo com sinceridade.

— Pra mim também, é claro. Mas eu quero muito saber o que vai ser. Lá na cidade tem uma loja de roupinha de bebês. Eu olhei a vitrine e vi um vestidinho rosa e um macacãozinho azul. Se for menina, comprarei o vestido. Se for menino, comprarei o macacão.

Um sorriso se forma em meus lábios ao ver o quão animado Peeta está.

— Só tome cuidado para não ser visto entrando lá, ok? – eu lembro a ele.

— Eu peço a Delly pra ir comigo. Ninguém vai desconfiar.

— Tudo bem.

— Mas uma hora as pessoas vão descobrir, Katniss. Nós não vamos conseguir esconder isso pra sempre.

Um sentimento ruim de medo me gela a espinha.

— Vou esconder isso o máximo que eu puder.

— Tudo bem. Mas tenha em mente que uma hora as pessoas vão saber do nosso bebê.

Fico calada, não querendo levar essa discussão adiante.

Quando chegamos ao hospital, entramos pela porta dos fundos, como sempre. Em seu consultório, a doutora Brooks nos recebe. Conto a ela sobre os problemas emocionais que tive, ainda que superficialmente, já que não gosto de falar sobre meus sentimentos. Ela diz para eu continuar o tratamento que o doutor Aurelius passou e me indica atividades que me ajudem a relaxar. Nenhuma delas envolvendo uma ida à floresta, é claro.

Após ela aferir minha pressão arterial, medir meu abdômen e ouvir os batimentos cardíacos do bebê, ela me leva para uma sala anexa onde o equipamento de ultrassonografia está. Eu me deito na cama e ela se senta ao meu lado. Depois ela levanta minha camisa e coloca um gel frio na minha barriga. A sensação não é ruim, mas é ligeiramente desagradável.

Peeta fica em pé ao meu lado, olhando tudo com bastante curiosidade e animação. Sempre que vejo a felicidade estampada em seu rosto, sei que tomei a decisão correta, apesar de todas as inseguranças e todos os medos que tenho.

Quando a doutora começa a deslizar o equipamento na minha barriga, eu imediatamente olho para uma tela que fica à minha frente. Mas tudo o que vejo é uma imagem borrada em preto e branco. Não consigo identificar nenhuma forma que pareça um bebê.

— A senhora está vendo o bebê, doutora? – pergunta Peeta, como se estivesse lendo os meus pensamentos.

— Sim, ele está bem aqui – diz ela, olhando atentamente para a tela que fica de frente para ela. – Bracinhos, perninhas... Tudo perfeito.

Continuo observando atentamente a tela, até que um novo ângulo de imagem se forma e eu vejo algo que parece um bebê deitado. A cabecinha se destaca em seu corpo pequeno e suas mãozinhas parecem estar se movendo.

Sou tomada por uma grande emoção e lágrimas me sobem aos olhos instantaneamente. Quando olho para o lado e vejo que há lágrimas escorrendo pelo rosto de Peeta, sei que ele também identificou o nosso bebê na tela e está sentindo o mesmo que eu.

— Eu tou vendo ele, Peeta – digo a ele com a voz embargada.

— Eu também – diz ele, com a voz também embargada. – É o nosso filho, meu amor.

— Sim, é o nosso filho.

Ele se aproxima de mim e me dá um beijo carinhoso na testa. A doutora Brooks fica um tempo calada, nos dando um pouco de privacidade para curtir esse momento. Depois de certo tempo, porém, ela diz:

— Está tudo muito bem. Todos os órgãos estão se desenvolvendo bem, ele está com o tamanho adequado, a placenta está bem fixada... tudo dentro do esperado.

— E o sexo, doutora? – pergunta Peeta. Envolvida pela emoção, eu terminei esquecendo que era possível saber o sexo.

— Bem, lamento desapontar vocês, mas eu não consegui ver.

— Ah... – suspira Peeta, claramente desapontado. Saber o sexo do bebê não era importante para mim, mas eu fico chateada por Peeta.

— O bebê está com as pernas fechadas – continua a doutora. – Eu tentei mexer na barriga pra ver se ele mudava de posição e abria, mas não teve jeito. Mas nós podemos tentar novamente outro dia.

— Tudo bem, doutora – digo. – Nós tentamos depois.

Depois que o exame termina, eu e Peeta vamos embora do hospital. No caminho de volta para casa, ele fica bastante quieto, o que me faz pensar que ele continua chateado.

— Você ainda tá chateado? – pergunto.

Ele olha para mim com uma expressão confusa, como se tivesse saído de um transe.

— E-eu? Não, não tou. Eu fiquei chateado na hora, mas já passou. A gente tenta de novo depois.

— Então por que você tá tão calado?

— Eu tava aqui pensando no nosso bebê... Ele é tão perfeitinho, não é? Achei ele parecido com você.

— Ah, por favor – rio.

— Não, eu tou falando sério! O narizinho dele é arrebitado, como o seu. Eu aposto que ele vai ser parecido com você.

— Se você diz... – digo, rindo.

***

À noite, Peeta chega da padaria trazendo consigo um macacãozinho verde-claro. É muito bonitinho, e meu peito se enche de ternura ao imaginar meu bebê vestindo isso.

— Achei que você só ia comprar uma roupinha se a gente soubesse o sexo – digo a ele, estudando a roupinha em minhas mãos.

— Eu não resisti – diz ele, rindo. – Tive que ir até a loja e comprar essa roupinha. Pelo menos, eu escolhi uma cor unisex.

— Você foi lá sozinho? – pergunto, receando que alguém o tenha visto.

Ele morde o lábio, constrangido. Com essa reação, ele nem precisa falar nada para eu saber que ele foi lá sozinho.

— Katniss, eu fui sozinho, mas não tinha ninguém olhando. A vendedora da loja sequer pareceu me reconhecer.

— Tudo bem, Peeta. Eu só peço que você evite ir lá sozinho de novo, ok?

— Ok – ele sorri.

No dia seguinte, ele vai para a padaria logo cedo. Após tomar café da manhã com ele e lhe dar um beijo de despedida, eu sento no sofá da sala e ligo a TV para saber das notícias. Reviro os olhos quando chega na parte da coluna semanal de fofocas das celebridades. Já estou pegando o controle da TV para desligá-la, mas o que vejo na tela em seguida me deixa totalmente paralisada.

Fotos minhas e de Peeta adentrando o hospital pela porta dos fundos. Minha barriga inquestionavelmente denunciando a minha gravidez. Depois, fotos de Peeta entrando na loja de roupa de bebês. Na parte baixa da tela, a manchete: Katniss Mellark, o tordo de Panem, e seu marido Peeta Mellark esperam seu primeiro filho. A voz do locutor narra os acontecimentos relacionados às imagens, mas não consigo prestar atenção ao que ele está dizendo. A única coisa que toma minha atenção é um fato consumado e assustador:

Panem inteira sabe da minha gravidez.


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Notas finais do capítulo

É isso, pessoal. Eu tentei explorar as emoções da Katniss da melhor forma que eu pude, e eu espero que vocês tenham gostado. Uma coisa que eu quis colocar em evidência foi a mania que a Katniss tem de se ver como uma pessoa pior do que ela realmente é. Isso é algo muito presente nos livros, e como eles são em primeira pessoa, alguns fãs da série terminam vendo a Katniss como uma pessoa horrível, o que não corresponde à realidade. Como o Peeta disse nesse capítulo, todo esse jeito duro e fechado dela nada mais é do que uma máscara que ela cria para se proteger. Ela sente, e sente muito. Tenham sempre isso na mente de vocês antes de julgarem as ações dela. ;)

Beijos e até a próxima.