Uma Nova Vida - Peeta e Katniss escrita por MaryG


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Dessa vez, vim mais rápido. Eu estou me esforçando para postar com mais frequência, mas não vou fazer promessas porque nunca se sabe quando o maldito bloqueio pode voltar, né? Haha. Agradeço a todos que comentaram no último capítulo e, em especial, ao leitor (ou leitora, não sei) Maat, que recomendou a história. Obrigada, Maat! :D

Gente, esse capítulo é muito importante, pois é nele que vai começar a fase da história onde eu sempre quis chegar. Foi algo difícil de escrever, pois a Katniss é uma personagem muito confusa. Eu dei o meu melhor e espero que vocês gostem.

Boa leitura!



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15 anos...

Pego minha bolsa de caça, o arco e a aljava de flechas e parto para a cerca. Após algumas horas dentro da floresta, eu sempre me sinto mais tranquila. Estar entre as árvores tem sido como uma terapia para mim desde que voltei da primeira arena, mais de 15 anos atrás. Apesar de a floresta continuar sendo uma fonte de ajuda para manter a minha mente sã, eu não sou mais a mesma daquela época. Hoje, sou uma mulher casada de 33 anos que sabe muito mais sobre a vida do que aquela menina.

A bolsa de caça está pesada. Abati três perus selvagens e três esquilos. A maior parte da caça eu doarei para as pessoas mais necessitadas, como venho fazendo há muitos anos. Para Peeta e eu, ficará apenas um peru selvagem. É o suficiente para eu preparar para nós dois o jantar especial que desejo para a noite de hoje.

Hoje, nós estamos completando 10 anos de casados. 10 anos do dia em que fizemos da nossa relação, do que sentimos um pelo outro, algo oficial. Peeta me encheu de beijos logo pela manhã e fez um café da manhã especial para nós dois. Apesar de hoje a padaria ter encomendas e estar em alta atividade, ele tirou um tempo e almoçou comigo. Depois ele voltou para a padaria e eu fui caçar.

Após doar a caça ao pessoal simples que vende carne num mercado na cidade, eu rumo para minha casa. Quando alcanço a Aldeia dos Vitoriosos, o céu já está laranja pelo pôr do sol. Imediatamente penso em Peeta e um sorriso se forma em meus lábios.

***

– Boa noite, meu amor – diz Peeta, me abraçando por trás. – Que cheiro maravilhoso!

– É o molho pro peru selvagem – digo, mexendo a panela no fogão.

– Então quer dizer que hoje vai ter um jantar especial? – diz ele, fazendo-se de inocente.

Eu saio de seu abraço e me viro para ele, rindo.

– Você sabe que vai – digo. – Dez anos, não é? Não quero deixar passar em branco.

Peeta sorri e em seguida me dá um beijinho nos lábios.

– Mas e sua tarde, como foi? – pergunta ele, ao meu lado.

– Foi boa. Cacei na floresta e depois doei quase toda a minha caça pro pessoal do mercado. Só fiquei com um peru selvagem, pro nosso jantar. E a sua?

– Também foi boa, apesar da correria. Adivinha quem apareceu por lá e demonstrou grande interesse em me ajudar com a administração da padaria?

– Quem? – pergunto, olhando nos olhos dele.

– O Finn. Ele foi comprar umas coisas e passou no escritório para falar comigo. Eu estava um pouco enrolado porque tinha várias coisas relativas à administração da padaria para resolver e ele me deu várias dicas.

– O Finn é um menino muito inteligente, Peeta – digo, abaixando o fogo.

– Eu sei que ele é, mas... Eu sei que pode ter sido só impressão minha, mas ele pareceu realmente interessado na padaria. Falou até em fazer uma rede de padarias pelo distrito. Eu nunca pensei nisso antes porque minha padaria sempre foi só um hobby pra mim, e não uma fonte de sustento, já que nós dois recebemos pensão vitalícia por termos ganhado os Jogos, mas talvez seja uma oportunidade para gerar emprego e ajudar as pessoas mais humildes.

– É, é algo a se pensar.

– Sim, e eu vou pensar. Vou observar mais esse interesse do Finn pela padaria. Se ele continuar a se mostrar interessado, talvez eu possa deixar a minha padaria para ele.

– Como assim deixar a padaria pro Finn, Peeta? – indago. Eu realmente não estou entendendo o que está se passando na cabeça dele.

– Bem, Finn é meu afilhado e eu o tenho como um sobrinho. Nós não vamos ter filhos, então se ele quiser herdar a minha padaria, eu a darei a ele com todo prazer.

Nós não vamos ter filhos.

Sinto um aperto no peito e uma súbita falta de ar ao ouvir Peeta dizer isso.

– Sim, você está certo – digo, tentando ao máximo não transparecer o meu mal estar. Para meu alívio, ele não percebe.

– Aham. Bom, eu vou tomar um banho enquanto você termina de preparar o jantar, certo?

Assinto com a cabeça. Ele me dá um beijinho e sai da cozinha.

Desligo o fogo e me sento numa cadeira da mesa da cozinha, tentando entender a razão de eu estar tão perturbada.

Nós não vamos ter filhos.

Não foi isso o que eu sempre quis? Que Peeta simplesmente se conformasse com a ideia de que eu não tenho condições de lhe dar filhos? Ele disse isso sem nenhum ressentimento. Foi apenas um comentário, não uma cobrança ou uma chantagem emocional. Isso mostrou que ele está, sim, conformado que a nossa situação de vida será essa. Então por que eu estou tão perturbada?

Sem que eu possa impedir, lágrimas quentes me enchem os olhos. O que está acontecendo comigo? Peeta já me disse que não se importaria se eu não mudasse de ideia, pois o que ele mais queria era ficar comigo. Eu sempre desejei que ele chegasse à aceitação de que nós não teremos filhos. Então por que agora, que está tudo se acertando, eu estou desse jeito?

Provavelmente estou me sentindo culpada por ter feito Peeta desistir de um desejo tão profundo. Eu sempre quis que ele desistisse, mas eu não esperava me sentir assim quando ele finalmente desistisse. Eu gostaria de ter facilidade para entender os meus sentimentos e saber o que fazer com eles, mas apesar de eu já ter progredido muito nesse aspecto, ainda sou uma pessoa confusa.

O cheiro do peru quase queimando me tira dos meus pensamentos e eu enxugo minhas lágrimas e me levanto para tirá-lo do forno.

Depois de eu arrumar a mesa e montar o prato, Peeta chega.

– Hmmm, isso está com um cheiro maravilhoso! – comenta ele. – Aposto que está uma delícia, também.

– Espero que esteja – digo. – Agora venha, vamos sentar para comer.

Eu mal consigo comer. O que Peeta disse fica ecoando na minha cabeça, me atormentando. Ele tenta puxar assunto comigo várias vezes, mas eu fico o tempo todo me distraindo, o que termina aborrecendo-o.

– Katniss, o que você tem? – questiona ele, e pelo seu tom de voz, sei que ele está incomodado.

– Não é nada – minto. – Eu só estava distraída.

– Tem uma garrafa de vinho na despensa. Você quer que eu abra?

– Não, não precisa. Vamos terminar de comer, certo?

– Tudo bem – diz ele, sério.

Nós terminamos de comer em silêncio. Após lavarmos os pratos, nós nos sentamos no sofá para assistir ao noticiário, como fazemos há anos. Peeta não faz tentativas de puxar assunto comigo, e eu fico satisfeita. Não consigo prestar atenção a nada, pois minha mente só vai para o mesmo lugar.

Nós não vamos ter filhos.

Depois de algum tempo, Peeta me abraça e começa seu “jogo de sedução”, beijando o meu pescoço.

– Peeta... – sussurro.

– Katniss, esse noticiário tá um saco – ele intercala palavras com beijos no meu pescoço. – Por que a gente não pula logo pra parte em que a gente vai lá pra cima?

Assinto com a cabeça, concordando.

Quando já estamos em nosso quarto, Peeta me coloca na cama e começa a me beijar, mas eu simplesmente não consigo retribuir o beijo. Ele separa nossas bocas, visivelmente frustrado.

– Katniss, o que você tem?

Pode parecer que não, mas eu também estou bastante frustrada. Frustrada por não estar conseguindo dar a meu marido uma noite agradável e prazerosa em nosso aniversário de casamento. Frustrada por sempre ter desejado que ele desistisse de ter filhos e agora, que ele desistiu, estar tão perturbada.

– Não é nada, eu... – respiro fundo e penso numa mentira plausível, tentando soar mais convincente. – Eu não estou me sentindo muito bem. Uma dor de cabeça chata, sabe?

Peeta faz uma expressão de quem não está acreditando muito no que eu disse, mas não me questiona.

– Você já tomou algum remédio? – pergunta ele.

– Não, mas sei que vai passar depois que eu dormir. Nós podemos continuar isso outro dia?

Ele assente com a cabeça.

– Claro. Quero que você fique bem. Bom, eu vou colocar meu pijama. Já volto.

Depois de eu e Peeta vestirmos nossas roupas de dormir, nós nos deitamos na cama, eu com a cabeça apoiada em seu peito e seus braços me envolvendo de forma protetora. Em pouco tempo, ele cai no sono, mas eu simplesmente não consigo dormir. Eu saio delicadamente da cama, para não acordar Peeta, e vou para a cozinha. Encho um copo com água e me sento numa cadeira, bebendo a água lentamente enquanto tento refletir sobre os meus sentimentos.

Estou angustiada e triste com o fato de Peeta ter desistido de ter filhos comigo, mas estou mais angustiada e triste ainda pelo fato de isso estar me deixando mal. Será que eu, no fundo, queria que Peeta nunca desistisse? Que ele continuasse sonhando com um filho nosso?

Quando me dou conta da verdade, vejo que ela é incômoda demais de se admitir. Eu me acostumei com a ideia de Peeta sonhando com um filho nosso, e por mais que eu não desejasse o mesmo, eu no fundo achava o desejo dele bonito. Era um desejo que refletia a pureza do garoto com o pão, que consegue ver beleza e esperança em tudo, que nunca desistiu de acreditar que nossa vida seria melhor. Era um desejo que refletia renovação, renascimento, como um dente de leão na primavera.

Ao desistir de ter filhos, Peeta passou a ser conivente com quem eu sou. Uma pessoa que vive presa ao passado, que vive com medo de voltar a sofrer, que sempre teve dificuldade de se entregar ao amor por achar que o amor é um sentimento incapacitante. Mas do que adianta eu ser assim? Eu vivo presa aos fantasmas do passado, mas muitas coisas boas me aconteceram nesses últimos quinze anos. Eu lutei com todas as forças para não amar Peeta por medo de sofrer, mas sofri do mesmo jeito quando ele foi arrancado de mim e telessequestrado para pensar que me odiava.

Peeta sempre combateu esse meu jeito de ser. Sempre tentou me fazer pensar de forma positiva. Sempre que ele falava sobre ter filhos, ele reafirmava que hoje nosso mundo é diferente, que nossos filhos nem passariam fome nem seriam sorteados para os Jogos. Apesar da culpa que eu sentia a cada vez que ele tocava nesse assunto, no fundo eu gostava da positividade dele, ainda que não percebesse. Só agora, que ele desistiu, eu consigo enxergar isso.

O fato de saber que ele perdeu as esperanças em um desejo tão bonito me incomoda profundamente. Eu sei que deixá-lo ir não é solução, pois ele mesmo me disse que não seria feliz sem mim. Eu também ficaria completamente miserável sem ele. O que posso fazer, então?

Dê a ele um filho, diz uma vozinha na minha cabeça.

Sei que meu filho nem passaria fome nem seria sorteado para os Jogos. Hoje eu estou convencida disso. Mas se eu falhar com ele, como falhei com Prim? E se eu perder Peeta e deixar meu filho sem cuidados, como minha mãe fez comigo e Prim quando meu pai morreu? E se ele ficar decepcionado e confuso ao saber do passado dos pais dele?

Lágrimas me sobem aos olhos. Por que eu simplesmente não consigo me libertar desses “se’s” e dar um filho a Peeta? Por que vivo sentindo culpa e medo?

Só não se esqueça da importância de deixar o passado para trás e viver o presente sem temer o futuro.

A frase que o doutor Aurelius me disse anos atrás ecoa na minha cabeça. Eu sei que devo parar de ter medo, mas o que posso fazer? Como posso superar essas inseguranças?

Minha mente começa a ficar nublada, e então percebo que o cansaço está me dominando. Coloco o copo vazio em cima da mesa e volto para o meu quarto, aconchegando-me nos braços de Peeta. Deixo os meus questionamentos de lado e me entrego ao sono.

No dia seguinte, eu e Peeta tomamos café da manhã juntos. Ele não faz nenhuma cobrança de explicação sobre o dia anterior. Apenas pergunta se estou melhor da dor de cabeça, ao que eu confirmo. Eu tento disfarçar que estou mal emocionalmente, mas ele, perceptivo como é, não sei se ficará convencido.

Depois ele vai para a padaria e eu fico sozinha em casa. Sento no sofá da sala e me agarro a uma almofada, minha mente a mil. Não consigo parar de pensar na frase de Peeta e em todos os sentimentos que ela provocou e continua provocando em mim. Chego a pensar em telefonar para o doutor Aurelius, mas desisto ao perceber que não quero falar sobre esses sentimentos com ninguém. Isso é algo meu, e só cabe a mim resolver.

Tento imaginar como seria se eu cedesse. Eu grávida. Um menininho de cachos louros correndo pela casa. Peeta irradiando felicidade. Pela primeira vez na vida, um sorriso se forma em meus lábios ao imaginar esse cenário. Mas o sorriso se desfaz assim que penso se eu seria uma boa mãe. E se eu falhar? E se meu filho se envergonhar de mim? Sei que Peeta seria um pai maravilhoso, apesar de seus flashbacks, mas e eu?

Penso em Prim e no quanto falhei com ela. Eu não consegui protegê-la, não consegui mantê-la a salvo. Ela morreu aos 13 anos, sem realizar seu sonho de ser médica. Sem poder ter um futuro.

Lágrimas grossas caem dos meus olhos e uma sensação horrível de culpa me aperta o peito. Jogo a almofada para o lado e vou até o quarto que era de Prim. Tiro o quadro que Peeta fez dela da parede e me sento na cama onde ela dormia.

– Me perdoe, Prim – digo para a tela, às lágrimas. – Eu não consegui te proteger. Me perdoe.

Depois de um tempo de muito choro, o sono que restou pela noite mal dormida me vence e eu me deito, adormecendo abraçada ao quadro de Prim.

Estou andando num lugar onde não me lembro de ter estado antes. Parece a Campina do distrito 12, mas é muito mais belo. Um aroma gostoso de flores preenche o ambiente e um sol ameno que mais parece de fim de tarde ilumina-o. Um vento fresco bate no meu rosto e uma paz muito grande me invade.

Vejo à minha frente uma flor, mas não é uma flor qualquer, é uma prímula noturna. Eu me acocoro na grama e passo os dedos delicadamente pelas pétalas dela.

– Katniss? – ouço uma voz me chamar atrás de mim, e quando me viro para ver a quem ela pertence, mal posso acreditar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

É isso, pessoal. Espero que vocês tenham gostado do capítulo. Lembrem-se de dizer o que estão achando nos comentários. Infelizmente, tem muita gente lendo sem comentar. Se você lê e não comenta, pense que essa é a forma que você tem de se fazer ouvido e estimular minha criatividade. Recomendações também são muito bem-vindas. ;)

Beijos e até a próxima.