Infinito escrita por The Escapist


Capítulo 5
5. Hoje a noite não tem luar


Notas iniciais do capítulo

Nossa, eu quase desisti do desafio, sério mesmo. As músicas ficam mais difíceis, e tal, não tenho a mínima noção do que vai acontecer com essa história. Ai, ai, ai. Bem, vou postando dois capítulos hoje porque ontem eu não postei. Isso não é totalmente dentro da ideia do desafio, mas também não é tão fora dos eixos assim, né?

Lembrando que eu acabei de escrever, não revisei. Revisarei (someday) depois, mas para cumprir tabela, posto logo.



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Ainda não passara duas horas desde que o Miguel chegara, e Inácio já não suportava ficar no mesmo recinto que o irmão. Já tivera uma semana potencialmente ruim — tinha perdido o emprego e sido reprovado em duas disciplinas na faculdade — não precisava passar o final de semana inteiro ouvindo seus pais bajulando o filho mais velho.

Estava sentado à mesa na hora do almoço quando resolveu, de repente, que a ideia de ir acampar na praia com a galera seria incrível — mesmo que detestasse praias, qualquer coisa seria melhor do que ficar ali olhando para a cara nojenta de Miguel.

Por que odiava tanto o irmão? Se perguntassem, Inácio não saberia responder exatamente, porque não sabia. O que sabia ao certo era que, enquanto Miguel era naturalmente talentoso e bem-sucedido — tinha se formado em Medicina e já era um neurocirurgião com uma carreira promissora —, que enchia os pais de orgulho, ele era um carinha mediano que mal conseguira entrar no curso de Administração. Não por acaso, Miguel fora o filho planejado, logo nos primeiros anos de casamento. Já Inácio nascera de um acidente, quando os pais já nem sequer pensavam mais em ter filho, quando já estavam próximos da aposentadoria e planejavam levar uma vidinha sossegada. O pequeno milagre mudara tudo e agora Inácio carregava consigo a sensação de ser um entulho na família.

— Onde você vai, Inácio? — perguntou a mão ao perceber que ele estava planejando deixar a mesa. — Termina de comer, garoto.

— Vou viajar, mãe — ela pareceu abismada com a notícia.

— Viajar pra onde? Seu irmão acabou de chegar! — Inácio ainda quis dizer a sua mãe que as duas coisas não tinham nenhuma relação, mas preferiu não discutir com ela. Apenas repetiu que passaria o fim de semana fora e ainda a ouviu reclamar. O próprio Miguel, porém, não fez nenhum comentário, parecia, como sempre, indiferente ao irmão mais novo.

Às vezes Inácio se perguntava se talvez a grande diferença de idade entre eles — quinze anos — fosse a principal causa para serem tão distantes. Quando ele nasceu, Miguel já era adolescente, e não demorou muito a sair de casa. Seria natural que não fossem próximos, exceto pelo fato de dividirem laços de sangue. Suas ponderações, no entanto, nunca foram o suficiente para fazê-lo mudar de ideia com relação ao irmão. Ainda achava Miguel um chato convencido. Ponto.

***

Geralmente quando se reunia com a turma, Inácio sentia-se deslocado. Admirava a capacidade que algumas pessoas tinham de ser sociáveis, enquanto ele passava a maior parte do tempo encolhido num canto, bebericando um pouco de refrigerante batizado e olhando de esguelha para as garotas, se perguntando se talvez teria coragem para chegar em alguma delas ou ponderando se algum dia deixaria de ser um completo bundão em todos os aspectos de sua vida.

Foi em meios a pensamentos tão filosóficos que conheceu Valéria. Além da sua turma da faculdade, havia mais uma galera acampando na praia. De repente a coisa toda se transformou num luau gigante que duraria por dois dias initerruptamente. Ninguém ali parecia nem remotamente preocupado com o fato de que tinham aula na segunda-feira.

Valéria foi sentar ao lado dele. Foi ela quem puxou a primeira conversa e conseguiu deixá-la com as bochechas vermelhas. Enquanto ouviam algum colega já mais pra lá do que pra cá tirar umas notas no violão, os dois conversaram.

Até aquele momento, Inácio considerava a si mesmo um caso perdido. Mas com Valéria as coisas simplesmente aconteceram sem que ele precisasse se esforçar muito. Até o dia que ele estragou tudo.

Ela passou do meu lado

"Oi amor" eu lhe falei

"Você está tão sozinha"

Ela então sorriu pra mim

Foi assim que a conheci

Naquele dia junto ao mar

As ondas vinham beijar a praia

O sol brilhava de tanta emoção

Um rosto lindo como o verão

E um beijo aconteceu

Nos encontramos à noite

Passeamos por aí

E num lugar escondido

Outro beijo lhe pedi

Sentado na varanda da casa, com as pernas calçadas em pantufas e um copo de vinho, Inácio olhava para o céu estrelado e pensava em todos os “nós” complicados que havia em sua vida. Mas também questionava-se se não era ele quem criava todas as dificuldades. Talvez ele apenas complicasse tudo. Bastava lembrar de como tudo tinha se desenrolado com Valéria e percebia claramente que o único culpado na história era ele mesmo.

E hoje a noite não tem luar

E eu estou sem ela

Já não sei onde procurar

Não sei onde ela está


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