Infinito escrita por The Escapist


Capítulo 30
Bônus Track V: Happy


Notas iniciais do capítulo

Como diria meu caro Bill Shakespeare, bem está o que bem acaba. Esse é o capítulo final, com a música Happy do Pharrel Willians (é passageiro?), mas enfim... que era a música do dia 01. Desse modo, mesmo começando com cinco dias de atraso, eu usei todas as músicas. Yes!



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Isaac não chegou em casa até a noite. Mas o dia foi ótimo. Inácio acabou se dando bem com o pai e os irmãos de Isabella. Aurélio e Levi logo se encarregaram dele, mostraram a fazenda, e conversaram sobre negócios por horas a fio. Inácio surpreendeu-se, pois os dois falavam de economia com bastante desenvoltura.

— O que você esperava, que o papai fosse um caipira ignorante? — Isabella provocou quando estavam no quarto.

— Você não me contou que seu pai era rico também.

— Isso importa?

— Não, mas... É que você é tão fechada, Isabella. Você quase nunca fala sobre a sua família... Você aqui parece outra pessoa, uma pessoa completamente diferente da mulher que eu conheço, e isso me assusta um pouco. — Isabella pensou um pouco antes de começar a falar.

— Você tem razão, desculpa. É que... O meu pai não queria que eu fosse embora, ele ficou muito chateado quando eu resolvi ir fazer faculdade na cidade. Nós discutimos muito na época. Ele queria que eu ficasse aqui, cuidando da casa, provavelmente arrumasse um marido e tivesse cinco filhos igual a mamãe. E eu disse que não queria nada disso, que não ia ficar perdendo minha vida ordenhando vaca. Ele ficou chateado, disse que tinha criado os cinco filhos com trabalho duro, com o suor e a força das próprias mãos, e que eu devia tudo a ele. Daí eu disse que não ia precisar do dinheiro dele pra nada. Claro que a gente fez as pazes depois, mas acho que ele ainda tá um pouco magoado comigo.

— Ele não parece magoado com você, Isinha. — Ela encostou a testa a de Inácio e o beijou lentamente.

— Desculpe. Eu amo a minha família, e eu sinto saudade deles, às vezes, mas eu não me arrependo de ter ido embora, e às vezes eu acho que ficar longe é melhor, porque assim eu não tenho ver os defeitos deles e posso simplesmente amá-los. Eu sou uma pessoa terrível?

— Não, não é, eu te entendo. — Ele a beijou nos lábios, primeiro devagar, depois com mais urgência. Deitou na cama, levando-a junto. Mas quando ele estava a ponto de tirar a blusa de Isabella, alguém bateu na porta e a escancarou, sem sequer esperar convite. — Pelo menos a minha mãe não é a única — Inácio resmungou.

Enquanto isso, Isabella já havia pulado para abraçar o rapaz que acabara de entrar. Depois de beijar o irmão e bater nele, ela o apresentou ao namorado. Isaac era, de fato, a versão masculina de Isabella, o significava um homem bonito, Inácio tinha que admitir. Alto, de olhos escuros, tinha os cabelos castanhos lisos e a pele branca; os lábios bem feitos, e vermelhos.

— Eu vou fingir que não vi o que vocês estavam fazendo, ok? — Isaac provocou e levou mais um soco da irmã. — Porque, mesmo depois de você ter morado com aquele safado do Murilo, o papai ainda acha que você é virgem, Isa.

— Por falar nisso, eu quero saber o que você andou aprontando.

— Então eu vou deixar vocês conversarem sozinho, ok? — Inácio se ofereceu e Isabella agradeceu com um sorriso. — Só pra constar, foi ela quem me agarrou — disse para Isaac.

— Eu sei.

Os dois irmãos foram sentar no alpendre. Ficaram os primeiros minutos em silêncio, ouvindo o barulho dos grilos ao longe. O céu estava estrelado e a noite tinha um clima ameno.

— A gente podia ir acampar, o que você acha? — Isaac sugeriu.

— Não, não quero dormir no meio do mato e o Inácio é cheio de frescura. E eu quero que você me conte o que andou aprontando.

— Por que você acha que eu aprontei alguma coisa? — Isabella entendeu a pergunta como retórica e deu de ombros. — Você saberia se ligasse pra casa de vez em quando — ele acusou.

— Não é sobre mim que nós estamos falando, Isaac. — Novamente o silêncio caiu sobre os dois. — Você discutiu com o pai — Isabella deduziu, podia notar isso pelo jeito como Aurélio tinha falado mais cedo. — Por quê? — Isaac não respondeu logo, e ela precisou insistir. Ele bufou antes de falar.

— Porque ele é careta e retrógrado, você sabe disso tão bem quanto eu. Ele ficou magoado com você quando você foi embora, e comigo quando eu resolvi ser professor e não trabalhar na fazendo como o Levi e o Emanuel.

— Será que dois filhos cuidando da fazendo não basta pra ele?

— Não, ele queria a ninhada toda aqui. Agora ele tá pegando no pé do Thales também, você sabe que ele quer ir estudar engenharia da computação, o pai fica enchendo a cabeça dele.

— Uhm, eu já disse ao Thales que ele pode morar comigo enquanto faz faculdade. O papai ladre mas não morde. E não foi por causa do Thales que você discutiu com ele, Isaac, eu te conheço desde a barriga da mamãe.

— Ok, sua chata, ele ficou danado por causa de uns boatos que saíram por aqui, você sabe como o povo dessa cidade é...

— Que tipo de boato? — Pelo que sabia seu pai não era de se importar com mexericos.

— Sobre eu estar saindo com um aluno mais novo — Isaac falou, pausadamente e esperou a reação da irmã. Claro que Isabella sabia sobre o fato dele ser gay, afinal, como ela mesma dissera, tinham dividido o útero da mãe, mas estava curioso sobre a opinião da certinha sobre o fato dele sair com um aluno mais jovem.

— Mais jovem quanto?

— Ele tem dezenove anos e tá no segundo semestre.

— E é seu aluno?

— Ele foi no semestre passado, eu dei Inglês Instrumental pra turma dele. Ele faz Jornalismo. — Isabella pensou um pouco a respeito. Se seu irmão fosse professor do ensino médio as coisas seriam diferentes, adolescentes são vulneráveis e tudo, mas na universidade as pessoas já têm mais discernimento.

— Ainda assim, isso não é antiético?

— Tecnicamente você está transando com o seu chefe. Isso é antiético?

— Ridículo.

— Santinha do pau-oco! O pior é que nem tá rolando nada sério com ele, sabe? Quero dizer, a gente só saiu algumas vezes, houve uns amassos e nada mais. — Isabella fez um gesto de que ia vomitar e Isaac riu. — Em todo caso, eu o pai tivemos uma discussão feia, eu assumo minha parcela de culpa, acabei perdendo a cabeça e dizendo muita coisa que não devia, mas eu não vou me esconder pra que ele não fique com vergonha de ter um filho veado.

— Você está numa situação melhor do que muitos veados por aí, maninho, o papai te aceita, ele só acha errado que você fique por aí seduzindo crianças. — Isaac deu uma risada e pegou na mão da irmã. — Você vai se entender com o papai.

— Eu queria que você viesse mais vezes, Isa. É tão bom conversar com você. Você não pensa em voltar?

— Não — ela respondeu sem hesitar. — Minha vida é lá, e agora com o Inácio...

— O Inácio, claro... — Isaac sorriu malicioso. — Ele é gostoso, maninha.

— Nem se atreva a olhar pra ele, seu pervertido.

— Desculpa, Isa, olhar não tira pedaço e ele não é exatamente o tipo que passa despercebido. Eu nem consigo imaginar vocês dois juntos.

— Como assim?

Antes que Isaac continuasse com as brincadeiras, Inácio apareceu na varanda. Ficou do lado da namorada e passou o braço em volta dos ombros dela.

— A tua mãe tá chamando para jantar — disse e a beijou na bochecha. Ainda viu Isabella e o irmão trocar uns olhares e rirem de alguma piada particular. — Alguma coisa engraçada? — perguntou, ao pensar que a piada poderia ser ele.

— Não, amor, só meu irmãozinho que é um chato de galochas, você sabe como é, né?

— Claro, meu único irmão é mais chato que os seus quatro juntos. Sem ofensas — acrescentou para Isaac, que tomou mesmo como brincadeira.

— Eu aposto como o Miguel se daria super bem com o Isaac! — disse Isabella e Inácio estava tão ocupado em prender o espirro e coçar o nariz que perdeu a piada.

Eles entraram e foram para a sala de jantar. Apesar do clima tenso entre Aurélio e Isaac, a noite foi divertida. Levi chegou para jantar e trouxe a esposa e o filho. A família de Isabella era grande e barulhenta, totalmente oposta a sua. Inácio achou fantástica aquela atmosfera barulhenta. Não deixava de ver um pouco dos seus próprios pais nos pais de Isabella. O jeito protetor de Aurélio não era tão diferente da maneira como seu pai lhe cobrava responsabilidade. E o carinho de Rosemeire era idêntico ao modo como dona Luísa agia, querendo sempre proteger, cuidar e ensinar tudo aos filhos, mesmo quando eles eram todos adultos. A grande diferença era que Aurélio e Rose tinham cinco.

O que mais o deixava feliz naquele momento era se sentir parte da vida de Isabella. O convite aparentemente despretensioso que ela fizera poucos dias antes, agora fazia o maior sentido. Isabella o trouxera ali para conhecer a família dela porque o queria envolvido, queria mostrar por ações, não apenas por palavras, o quanto o queria em sua vida e o quanto estava disposta a levar aquela relação adiante. Isso significava muito para ele.

Havia um mundo cheio de problemas que ele teria que enfrentar, sabia disso, mas — talvez pela primeira vez em sua vida — resolveu que não usaria os problemas como desculpa para reclamar da vida. Haveria momentos ruins, haveria dias em que ele iria querer desaparecer, e ainda acharia a vida um troço pesado de se carregar. Mas naquele momento, olhando o sorriso da mulher que amava, ele estava feliz.

It might seem crazy what I'm about to say

Sunshine she's here, you can take a break

I'm a hot air balloon that could go to space

With the air, like I don't care baby by the way

Because I'm happy


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Notas finais do capítulo

Desafio cumprido! Cara, isso foi uma loucura. Devo agradecer a minha insônia, graças a ela eu posso ficar acordada até uma da manhã mesmo tendo que trabalhar no dia seguinte, e geralmente eu escrevo quando não consigo dormir. Então é isso, a história surgiu do nada e tomou forma, poderia ser melhor se houvesse tempo para planejar, mas escrever assim, um capítulo por dia e sem pensar muito em pequenos detalhes tem seu quê de legal, além de ser uma oportunidade de praticar mais e mais a escrita. /

A quem leu (alguém aí?), eu agradeço o tempo dedicado. A quem comentou, também, me sinto gratificada por receber suas opiniões.



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