Inácio escutou a gritaria assim que saiu do elevador, mas não identificou exatamente as palavras. Ele ficara para trás para levar as sacolas de compras, e ainda demorara um pouco a subir porque ficara de conversa com o porteiro. Ouviu o barulho de algo sendo jogado na parede e correu para o quarto, pensando que Isabella estava correndo risco. Não entendeu nada quando viu aquele loiro enorme no quarto dela, menos ainda quando reparou na expressão irritada de Isabella.

— O que tá acontecendo aqui? — perguntou para ninguém em especial, olhando de Isabella para o outro cara. Ninguém respondeu nada, e ele se sentiu meio idiota. Olhou novamente para o homem e deduziu quem ele era. Virou-se para Isabella e viu os olhos dela marejados. — Que palhaçada é essa? O que esse cara tá fazendo aqui? — então se virou novamente para Murilo. — O que você quer aqui?

— Esse assunto é entre a Belinha e eu, você não se mete. — Isabella não aguentaria ouvi-lo dizer “Belinha” novamente, mas antes que ela pudesse pensar em alguma arma de fácil alcance, Inácio foi mais rápido. Ela só percebeu Murilo ser arremessado ao chão. Apesar de ter um porte físico mais avantajado que Inácio, ele fora pego de surpresa, e não conseguiu se defender. Inácio não deu chance dele se recuperar do susto, avançou novamente e começou a socá-lo com fúria. Mas a vantagem durou apenas até que o elemento surpresa foi eliminado, então a força de Murilo veio à tona. Ele empurrou o namorado de Isabella de cima do seu corpo e de quebra acertou um soco de direita no rosto dele. Isabella gritou, como se a dor tivesse sido nela e viu Inácio cambalear, meio troncho.

Os dois homens continuaram brigando feito dois animais, e quando percebeu que aquilo poderia sair de controle, ela resolveu intervir — definitivamente estava louca por se meter no meio de dois grandões daquele jeito!

— Para com isso! Já chega! — ela gritou, mas ninguém prestou atenção. Então ela se colocou na frente de Inácio, espalmando as mãos no peito dele. — Para, por favor, não vale a pena. — Não se importava com Murilo, mas não queria ver Inácio machucado. — Vai embora, Murilo, desaparece de uma vez pra sempre.

Por um instante, ela achou que ele ainda iria insistir, mas então ele deu às costas e desapareceu porta afora. Ela olhou para Inácio e reparou no corte aberto na sobrancelha dele. Tocou no lugar e ele fez uma careta de dor.

— Que droga! Vamos cuidar disso, ok?

Ela o ajudou a tirar a camisa machada de sangue. Foi buscar o kit de primeiros socorros, limpou o corte com álcool e depois passou mertiolate e colocou um band-aid. Isabella aguentou firme enquanto cuidava dos ferimentos dele, mas se Inácio estava ferido por fora, ela tivera suas feridas expostas. Estava com o coração apertado. Ficou tanto tempo sem falar nada que o silêncio tornou-se constrangedor.

— Você está bem? — ele perguntou.

— Não — ela admitiu. Inácio a puxou para perto de si e a abraçou forte.

— Vai ficar tudo bem, eu tô aqui com você.

Então ela chorou, com a cabeça encostada no ombro dele. E ela nunca lhe pareceu tão vulnerável quanto naquele instante. E ele soube que a amava um pouco mais a cada instante, amava a ideia de ser o melhor amigo, de poder protegê-la, cuidar dela.

E até o tempo passa arrastado

Só pra eu ficar do teu lado

Você me chora dores de outro amor

Se abre e acaba comigo

e nessa novela eu não quero ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo

Te ganhar ou perder sem engano

Eu preciso dizer que eu te amo

Tanto