"Caro Sirius,

Eu sempre tomei partido contra Azkaban, um lugar terrível, asqueroso e doentio. Quando você foi condenado e encarcerado, minha postura foi ainda mais rígida. Como um bruxo poderia ser obrigado a viver em tal lugar? Que crimes e pecados mereceriam tal punição? Eu não compreendia. Culpe a ingenuidade da juventude, porque agora eu posso entender muito bem: Bellatrix. Demônios como ela merecem muito mais do que os tormentos de Azkaban. Uma pessoa que não tem alma, com uma pedra de gelo onde deveria estar o coração. Ela fez muito mais do que roubar os pais do pobre Neville. Ela tomou de nós pessoas ainda mais importantes. Bellatrix roubou de mim (riscado). A guerra cobra um preço muito alto. No fim, não há vencedores nem perdedores. Lutamos pelo que acreditamos e julgamos certo mas... Voldemort voltou e a comunidade bruxa finalmente sabe disso. A tensão é sufocante. Acompanho as notícias de longe, sei que Harry e seus amigos estão fazendo o que é possível para derrotá-lo e o impensável aconteceu: a morte alcançou Hogwarts e levou um dos alunos. Será o fim dos tempos? Penso cada vez mais em destino. Tudo o que somos agora, conseqüência de escolhas do passado... haveria algum jeito de fazer diferente? De terminarmos diferente? Ou desde que a profecia foi pronunciada nosso caminho já estava definido e se mudássemos tudo o que fizéssemos, mesmo assim, acabaria exatamente igual? Já nascemos como cartas marcadas em um baralho de tarô? Ou entre as infinitas possibilidades resultantes de pequeninas mudanças em nossas decisões haveria um futuro em que nossos sonhos se realizariam, onde os Marauders envelheceriam juntos, como uma família... onde a demência que o perseguiria, caro Padfoot, seria fruto de muitos e muitos anos vividos, o esquecimento natural de quem lutou a vida toda e dia após dia desliza calmamente para o merecido descanso eterno. Em paz. Haveria? Ou estávamos condenados desde o nosso nascimento? Oh, Sirius, de que adianta me torturar pensando nisso? Hoje temos que enfrentar as conseqüências de um amontoado de boas e más escolhas. O hoje, a realidade em que crianças como Neville Longbottom e Harry Potter cresceram sem a presença dos pais, por mais triste e doloroso que seja, é tudo o que temos. Não posso me estender muito nessa resposta. A Lua Cheia se aproxima, e isso me afeta cada vez de forma pior. Preciso tomar precauções... você sabe bem quais. Até breve,

Moony.

PS: entendo o que quer dizer sobre palavrões. Não me sinto particularmente mais confortável em usá-los agora do que quando bato o dedinho na quina do armário. Mas os seus não me incomodaram tanto assim. Na verdade daria tudo o que tenho (não que seja muita coisa) para ouvi-los pessoalmente, não através de uma carta.

PS2: Você sempre foi muito importante pra mim, Padfoot."