"Caro Sirius,

Pensei em mil maneiras de começar a responder sua carta. Eu queria que fosse o mais perfeito possível. Mas percebi que não faz sentido. Não com você, não é? Não tenho a pretensão de me enganar com a ideia de enviar esta carta. Não, eu não poderia confiá-la a nenhuma coruja no mundo. Mas... perdoe as divagações a que me prendo. Palavras têm um valor cada vez maior para mim. Principalmente as jamais pronunciadas. Não se prenda a datas, Padfoot. Aprendi que o tempo importa, somente o tempo. Datas são marcos ao qual nos agarramos, com esperança de preservar as boas memórias e os fragmentos do precioso passado. O que a década de 1980 nos traz? A você um tormento que posso somente vislumbrar, Sirius. Noites e dias sombrios, iguais em cada trágica hora. A companhia desagradável de seus guardas e dos outros prisioneiros... meu tormento parece pequeno comparado ao seu, uma prisão sem grades, vigiado pela bestialidade que guardo em mim. Tem razão, Padfoot. Trocar cartas é uma faca de dois gumes, mas não é por isso que me privo de enviar a resposta. Quisera eu. Se houvesse uma pequena chance de minhas tolas palavras ajudá-lo a proteger-se contra a loucura e a desesperança, eu enviaria essa carta. Ao invés disso a manterei comigo, junto a sua... um ato egoísta, bem sei. Escrever essa carta tem o único objetivo de aliviar minha consciência. Perdão. Mas você sempre foi o mais forte entre nós dois, não é? Sem você me seria impossível passar por todas essas luas cheias. Sem você eu teria desistido de trilhar qualquer caminho na vida. Você encontrou uma forma de enfrentar a infelicidade, você aprendeu a deixar de ser um almofadinha e virar um homem. Eu encontrei um jeito também. Sua presença em minha mente foi a ancora na qual busquei apoio todos os dias até agora. Obrigado. Você menciona Hogwarts em sua carta... não posso deixar passar em branco. Ter a chance de voltar lá e lecionar não tem preço. Por um ano letivo inteiro me foi possível recordar quem nós éramos. Quem deveríamos ter sido e não pudemos ser.. Foi fantástico. E doloroso. Acho que foi como a ideia de receber uma carta em Azkaban. Conviver com os alunos foi uma experiência a qual não encontro palavras para explicar. Pude ver um pouco de cada um dos Marauders nos alunos que passavam pelos corredores ou se sentavam atentos (talvez nem tanto) na sala de aula, no Grande Salão... engraçado, meu amigo Sirius. Sempre pareceu tão difícil preencher os pergaminhos que os professores pediam como dever de casa... e aqui estou eu, me sentindo capaz de preencher metros e metros de pergaminho com minhas palavras, as palavras de um homem cansado de apanhar da vida, cansado de se perder entre os caminhos da vida. Vida que me chama agora. Preciso ir. A noite se aproxima e ainda não encontrei um bom lugar para passá-la. Ainda não é lua cheia, por isso não me preocupo tanto. Não me preocupo tanto, mas devo seguir em frente.

Abraços calorosos,

Moony.

PS: Sua letra não está tão ruim assim. Okay, não faça essa cara. Demorei mais tempo desvendando seu garrancho do que escrevendo a resposta. Mas é compreensível, então não dê importância a isso.

PS2: Sempre que me chama de Remus tenho a impressão de que está zangado comigo..."