"Caro Sirius,

Essa carta foi muito esclarecedora. Lembra quando o Prongs e a Lily discutiam, e como o James sempre ficava com um ar meio abobado, porque ele sabia que tudo ficaria bem? Não que nós dois sejamos como eles, claro. Mas é a sensação que eu tive com o seu PS. Eu soube que tudo estava bem entre a gente, você não usava apenas o “Remus” por decepção ou mágoa. Acrescento aqui mais um digito na soma de tudo o que a vida nos tomou. E o resultado é grande. Tantos bons momentos, tantas lembranças, tantas oportunidades... de corrigir os erros. Não quero perder minha última carta falando sobre Peter ou sobre tudo o que aconteceu. Adiei esse momento por muito tempo, me enganando com as respostas que escrevi. A verdade é que você nunca irá recebê-las. Como tantas e tantas vezes o destino brincou com nossas vidas. Suas cartas jamais chegaram em minhas mãos. Não a tempo. Me pergunto que senso de humor doentio é esse? Que pegadinha de mal gosto... eu estava entorpecido, Sirius. Você atravessou o véu. Você se foi, para sempre. E então... de repente eu tinha essas cinco cartas em minha mão! Cartas suas, Sirius! Escritas com esperança, com... com... a força que precisava para manter sua sanidade! Eu fui sua ancora, Padfoot? Durante todos esses anos? Assim como você foi a minha? Em algum momento imaginou a intensidade dos meus sentimentos? Talvez tenha me corres[riscado] Eu daria a vida sem hesitar em troca de que soubesses que não o abandonei. Se tivesse recebido suas cartas, teria respondido a todas! Eu não o deixei esquecido e sozinho em Azkaban, jamais. E agora... guardo seus pergaminhos como o tesouro precioso que são. E guardarei as respostas junto a eles, na ânsia de que, de alguma forma, minhas palavras e meus sentimentos cheguem até você. O véu é um grande mistério, Sirius. Quero acreditar que ele envia as pessoas para onde elas merecem ir. Algo semelhante aquele lugar Muggle, como eles o chamam mesmo? Não importa. Se eu pensar assim sentirei que sua vida não foi em vão, pois nunca mereceu ir para Azkaban. Então, do outro lado do véu, existe um lugar incrível, onde os Marauders não são uma lembrança roubada, onde os guardas não tiram tudo de bom que existe em sua vida, para que enlouqueça de forma lenta e dolorosa... sabe o que mais, Padfoot? Um lugar onde a sua risada possa ecoar cristalina e forte, daquele jeito que sempre me contagiava. Lembra disso? Onde poderemos correr pela grama, como crianças despreocupadas e sonhar sonhos impossíveis. E realizá-los, pois sendo impossíveis ou não, quando estávamos juntos acreditávamos que tudo podia ser conquistado. Um lugar onde a criança que sempre existiu dentro de você jamais será ferida, sentirá medo ou solidão. Um lugar onde poderemos estar juntos. Ficar juntos. Para sempre. Sim, Padfoot! Um dia eu estarei aí também, assim espero. Talvez hoje, talvez em alguns anos, que sabe? Mas estarei. Essa certeza é minha nova ancora. É o que me dá forças durante as luas cheias e o que continua guiando meus passos nos caminhos da vida. E quando esse dia chegar, Sirius, quando eu puder olhá-lo nos olhos irei dizer as três palavras que me sufocam e que me mantém acorrentado. Só então. Por várias vezes fiquei a beira de expressar nessas cartas o sentimento que me consome por dentro, aos poucos. Mas resisti. Carregar essas palavras não ditas, pagar por esse erro é o fardo que levarei até o último dia de minha vida. O que me espera daqui para frente? Não sei, meu amigo. Não sei. Venha o que vier farei com que seja intenso, e que valha a pena. Por mim e por você. Por nós dois. Saudades eternas meu caro e precioso companheiro. Até um dia!

Remus Lupin."