"Remus,

Desculpa não colocar a data na carta, deve ser algum dia de fevereiro de 1982, não é lua cheia, faz os cálculos aí. Eu fico aqui pensando em como será que você está. Deve estar mal, sem um emprego decente, sem os amigos mais próximos, com um diploma embaixo do braço, um registro de lobisomem e um baú de decepções. Somos uns fodidos, não é? A parte boa de... Não, não, risca isso. Não tem parte boa. A vantagem de pensar em como você está é que como você deve estar mal, e eu sei que você deve estar mal, não tem como eles tirarem isso de mim porque é algo triste. Sobrou algumas coisas, sabe? Lembranças boas que eu escondo me transformando em Padfootd Descobri que assim eles não sentem o cheiro e vem tomar de mim. Todo mundo aqui dentro fica maluco, mas eu não vou ficar. Sabe por quê? Ninguém aqui sabe lidar com infelicidade, mas eu sei. Sou cachorro sarnento surrado pela vida. Posso ter sido um almofadinha, mas nunca fui feliz até entrar em Hogwarts, então, se com dez anos você lida com infelicidade, aprender a lidar com ela depois de adulto é algo quase que natural. Mentira. É horrível. Você sabe, você sempre sabe quando estou mentindo. Porra. Fiquei um tempo me questionando por que nos permitem trocar cartas, até que descobri. Os presos mandam cartas, recebem as respostas e ficam alegres, ou seja, os dementadores garantem a janta! Rá! Não é obviamente maquiavélico? Demorei a perceber isso porque estava ocupado tendo minhas lembranças felizes devoradas. Você há de convir que essa é uma distração bastante eficiente. Acho que a comida daqui é boa pelos mesmos motivos. Você fica feliz comendo, aí os dementadores vem comer sua felicidade. Minha letra tá um cu. É o frio, sabe? A gente conhece dois tipos de frio antes de entrar aqui, o frio externo e o frio corporal. Quando a gente chega aqui conhece o gelo na alma. Piegas, eu sei. Acho que vou escrever poemas depois dessa. Eu queria realmente saber como você está, mesmo que você esteja bem.

Sirius "