Sirius pensava que após a guerra viveria em paz, com um bom uísque e uma brisa batendo nos cabelos. É claro que, com sua sorte terrível, ele não teria nada disso. Como poderia ele, um homem que fora preso, torturado e morto, estar com medo de um simples bebê? Bem, Sirius estava. Tinha medo de não saber como educar, guiar no caminho certo, merda… Sirius nem sabia trocar uma fralda. Tiago e Lilian nunca deixaram ele fazer isso com Harry. Não que ele quisesse, é claro.

Hermione, por sua vez, estava deslumbrante, ria por qualquer motivo e comia literalmente por dois, fazendo Sirius se tornar um visitante assíduo do mercado. Eles sempre conversavam a noite, deitados juntos na cama antes de dormir; Hermione sabia que ele tinha medo, mas prometeu que iriam passar por isso juntos. Quando ele reclamou que isso não seria tão fácil, ela lhe olhou furiosa e disse para que ele fosse grato, pois não eram seus pés que estavam inchados.

Sirius então resolveu recorrer a única pessoa que ele pensou que poderia ajudá-lo. Gina abrira a porta e ficou surpresa ao ver o padrinho de seu marido parado na frente de sua casa, afinal, Sirius nunca fazia visitas surpresas. A ruiva parecia cansada, com bolsas escuras abaixo dos olhos e o cabelo preso de forma desleixada. Sirius sabia que em alguns meses Hermione também estaria assim. Depois de entrar, esperou por seu afilhado na sala, sentado no sofá. Seus pés balançavam de um lado para o outro e suas mãos iam e vinham por seu cabelo preto.

– Sirius, não estava te esperando. Algum problema? - Seus olhos encontraram Harry na entrada da sala, caminhando em direção a ele. O homem também parecia cansado, mas a felicidade que irradiava dele era quase palpável.

– Eu vou ser pai. - Despejou de uma vez, observando a reação de Harry.

– Certo… - parou por alguns segundos pensando no que dizer - Não estava esperando por isso.

– Nem eu!

– Você engravidou Hermione?

– Bem, da última vez que eu me lembro, ela era a única mulher com quem eu tava transando.

– Você, Hermione e transando na mesma frase me dá arrepios.

– Harry, concentra! Eu, Sirius Black, vou ser pai.

– Hm… Parabéns?

– Harry, eu não sei o que fazer. Eu tinha sete anos quando prometi que nunca iria me casar. Quando seu pai me contou que Lilian e ele iam ter um filho, eu jurei que sempre seria o tio. Tio sim, pai não. O que eu faço? - De repente, Harry começou a rir.

– Me desculpe, Sirius, é só que você parece um cachorrinho resmungão! - Sirius rosnou bravo em resposta. - Olhe, eu também estava com medo quando Gina me contou que estava grávida.

– E o que você fez para o medo ir embora? - Sirius se inclinou ansioso pelo segredo. Harry respirou fundo e coçou os olhos abaixo do óculos.

– Eu fiquei acordado naquela noite, velando o sono dela e perguntando como eu poderia ser um bom pai se eu nunca tive um. - Sirius sentiu um caroço na garganta, mas não interrompeu seu afilhado. - Meu cérebro ficava me dizendo para correr, ficar longe da criança. O bebê não merecia um pai tão ruim quanto eu. Mas então eu comecei a imaginar o que aconteceria se eu largasse Gina e o bebê. Imaginei outro homem na vida dela, um desconhecido, cuidando da minha esposa e do meu filho. Naquele momento meu coração quase se partiu ao meio, eu nunca permitiria outro homem tomar conta da minha família. Gina e Tiago são meus, meu filho, minha esposa. Sei que soa egoísta, mas dói pensar neles amando outro homem que não seja eu. - Sirius estava boquiaberto, seu coração batia freneticamente.

Durante a fala de Harry, imaginou exatamente isso. Um homem qualquer acordando de manhã com Hermione nos braços, recebendo seu beijo de bom dia. O mesmo homem na sala de estar brincando com seu bebê, trocando a fralda, colocando para dormir. Imaginou Hermione deitando-se com ele, deixando que ele a tocasse. Imaginou então o homem levando a criança para a plataforma 9 ¾ em sua primeira ida à Hogwarts, abraçando Hermione e acenando para a criança.

– Teve um vislumbre, não é? - Harry o tirou de seus pensamentos.

– Não é agradável. - Sua garganta estava seca.

– É isso que você quer que aconteça?

– Não. - Sirius respondeu com firmeza.

– Então você tem que ser corajoso, Sirius. - Harry fez uma pausa para que Sirius absorvesse as palavras, por fim disse: - E confiar em Hermione, ela nunca deixaria você ser um pai ruim. - Sirius balançou a cabeça e abraçou Harry, se perguntando quando o menino que conhecera há alguns anos se tornou nesse homem sábio e gentil.

– Obrigado, Harry.

– Pra isso que serve a família, certo? - Ambos riram e se levantaram.

– Você acha que eu deveria pedi-la em casamento? - Sirius perguntou nervoso, sabia que amava Hermione e que queria passar sua vida com ela, mas casar não era algo que tinha passado pela sua mente.

– Apenas se você quiser, Sirius. Acho que agora é hora de você comprar chocolates, voltar para casa e dizer a Hermione que você a ama e ama o bebê que cresce dentro dela.

– O que! Hermione está grávida? Ai meu Merlin! - Sirius aparatou assim que ouviu os gritos animados de Gina começarem, junto com o choro do pequeno Tiago.

Assim como Harry aconselhou, antes de ir para casa, Sirius comprou a caixa de chocolates preferida de Hermione. Do mercado foi andando até a Largo Grimmauld, pensando em como sua vida estava mudando. Pensou que nessas horas Tiago e Remus estariam rindo dele, onde quer que estejam. Entrou na casa tentando não fazer barulho, subiu até o quarto que dividia com Hermione e a encontrou deitada na cama lendo um livro infantil que comprara alguns dias atrás.

– Onde você esteve?

– Fui visitar Harry.

– Ele colocou um pouco de juízo na sua cabeça? - Sirius sentou-se ao lado dela na cama e lhe entregou o chocolate. Hermione olhou desconfiada, mas não resistiu e abriu a caixa com vontade, pegando o primeiro bombom que viu.

– Eu te amo. - Hermione parou de comer e olhou para ele. Sirius riu baixinho, achando engraçado e lindo a forma como ela estava com metade do chocolate pendurado para fora da boca.

– Eu também te amo, Sirius.

– E eu amo nosso bebê, também. - Dessa vez, quem sorriu foi Hermione. Um sorriso tão grande e verdadeiro que parecia mais brilhante que o sol. Ela o abraçou e juntos se aconchegaram dentro dos lençóis da cama.

– Eu sempre soube que uma hora ou outra Harry seria útil para mim. - Hermione brincou e ambos riram.

Naquela noite, Sirius descançava mais leve desde que Hermione lhe contara sobre a gravidez. A lua brilhava forte do lado de fora da janela, fazendo a mulher adormecida parecer uma obra de arte. Sirius estendeu a mão devagar e sem acordá-la, colocou sobre a barriga que tinha uma leve curvatura para cima, indicando que ali estava seu bebê. Sirius sorriu como nunca havia sorrido antes. E dormiu como nunca havia dormido antes.