You're the starring role escrita por StardustWink


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

E AQUI ESTOU EU, COMO PROMETIDO! Cara, essa fic foi muito boa de escrever. Eu ficava olhando para o documento do Word me perguntando "Como deixar isso ainda mais sem noção?" e rindo sozinha com os cenários que imaginava. Ai, cara, como eu amo Gekkan.

Eu mencionei o capítulo recente do teste de coragem na fic, então vou fazer um pequeno resumo dele aqui: Basicamente, Nozaki, Hori e Kashima ficam até mais tarde na escola para o Nozaki arrumar um enredo para um cap de ~teste de coragem~ para o seu mangá. Ele fica com o papel de Mamiko, bota a Kashi como o Suzuki e o Hori como um ~rival no amor~ do Suzuki... só que a Kashi fica roubando tanto a atenção do Hori que o Nozaki acaba escrevendo que o rival no amor acabou roubando o Suzuki da Mamiko (ou melhor, o Suzuki /quis ser roubado/, haha) ao invés de ser o contrário. É.

Enfim, boa leitura para vocês!



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Kashima finalmente se deu conta da tragédia iminente num dia outrora normal, logo depois de entrar de fininho pelas portas do clube de teatro.

Ela não tinha a intenção de se atrasar, mas uma das garotas da classe 2-C pedira sua opinião sobre uns biscoitos que ela fizera e, bom, ela não podia deixar uma menina tão preciosa na mão, certo? Enfim, ela estava prestes a entrar despercebida para começar a praticar o novo roteiro quando a conversa de dois de seus senpais no clube chamou sua atenção.

– Ah, mas é difícil imaginar que essa vai ser a última peça do ano, não é? – Um dos dois – um moreno, o nome dele era Kisarachi ou algo assim – comentava com o outro próximo da parede.

– É, o ano passou rápido demais. – O outro, um ruivo, concordou. – Mas é uma pena, mesmo. Eu achei que talvez o Hori-chan quisesse participar da peça, mas...

– Bom, ele disse que ficaria mais satisfeito vendo, então... Eu ainda queria o ver atuando mais uma vez, mesmo assim. É meio triste pensar que não vamos poder ver isso...

A garota paralisou por trás da porta meio aberta, arregalando os olhos. Ela não tinha realmente parado para perceber, mas era verdade. Hori logo iria graduar, e... Ele não tinha atuado em nenhuma peça naquele ano. Nenhuma.

E isso era absolutamente terrível, pois o motivo dela sequer ter entrado naquela escola fora porque ela viu a atuação dele, e – para seu Senpai não participar de uma única peça antes de sair, mesmo sendo tão bom, era – Ela não admitiria isso!

Kashima tinha de fazer alguma coisa. Ela tinha de dar um jeito de fazer ele pelo menos pegar o papel principal na peça uma vez na vida, nem que tivesse de arranjar um jeito de deixá-lo mais alto!

Com essa nova disposição em mente, ela deu meia volta e, mal percebendo que estava parada a tempo demais no mesmo lugar e praticamente todo o clube já a vira ali, bateu a porta com um estrondo prestes a fugir para tentar pensar mais em seu plano.

Um Hori enfurecido, machucados no rosto e longo ensaio depois, ela percebeu que talvez precisasse primeiro de um roteiro.

xxx

Pensar em onde arrumar aquilo fora difícil, já que era seu Senpai que surgia sempre com roteiros novos para as peças. Mas ele tinha de arrumá-los em algum lugar, então Kashima teria de pensar em como poderia entrar em contato com essa pessoa misteriosa escritora de roteiros.

A garota mordeu a tampa de sua caneta, encarando concentrada a folha de caderno à sua frente.

Vamos ver... Pedir diretamente para o Senpai está fora de questão. Ela queria pegar ele de surpresa de um modo que ele não pudesse dizer não – até porque ela já tentara o fazer pegar pelo menos o papel de princesa na peça que planejaram mas, como sempre, ele ficara tímido demais para aceitar – então tinha de recorrer à outra pessoa.

Riscado então o nome Hori-senpai, ela observou o papel novamente.

Alguém que seja próximo dele além de mim... Ela bateu a ponta da caneta no queixo, pensando, até que teve uma ideia.

Escreveu com letra cursiva o nome Nozaki na folha, e em seguida o encarou.

Não, espera. Enquanto o Nozaki parece ser sim próximo do Senpai... Eu acho que ele não vai muito com a minha cara desde o incidente com o teste de coragem. Kashima suspirou, riscando o nome dele. Talvez pudesse alcançar o Nozaki por meio do Mikoshiba? Mas, do jeito como ele era, ia acabar sendo conduzido a fazer outra coisa e não conseguiria convencê-lo...

Arrrgh! Vamos, tem que ter alguém! A garota colocou uma das mãos na cabeça, bagunçando seu cabelo levemente, antes que ela piscasse.

Cabeça... Cabelo. Acessórios de cabelo. Laços!

Escrevendo algo rapidamente na folha, Kashima levantou triunfante da sua carteira da sala e saiu às pressas pela porta a fora, um objetivo claro em mente.

No papel esquecido em sua mesa, estava o nome Chiyo.

xxx

Chiyo encarou Nozaki enquanto ele desenhava em sua escrivaninha, levemente nervosa. Ela tinha recebido uma missão, por assim dizer, que não sabia direito como cumprir.

Quer dizer, a ideia de Kashima era bem relevante – e ela vira o talento de Hori ao vivo uma vez para reconhecer que ele devia sim estrelar pelo menos na última peça do ano, se possível. Ela ficara animada com a ideia, para falar a verdade! Só que...

Ela teria que ser a pessoa a convencer Nozaki a escrever o roteiro. E ele já estava ocupado o suficiente com o manuscrito do mês, então a mesma estava realmente receosa em fazer isso.

Quer dizer, Nozaki já estava atarefado o suficiente! Será que ele ficaria um pouco irritado dela o pedir algo assim? Mesmo não tendo nenhum hobby, ela sempre dava um jeito dele pelo menos passar seu tempo livre descansando (ou 0,1% dele, pois Nozaki sempre queria tirar fotos de tudo para referência mesmo quando deveria estar de folga) então ser a causa dele ficar ainda mais ocupado a incomodava um pouco.

– Ah, Sakura? Você precisa de algo? – Nozaki a perguntou da escrivaninha, e ela sentiu seu rosto ficar vermelho. Ah, droga, ficara olhando para ele por muito tempo? E se ele pensasse que fosse por outro motivo...

...Se bem que ela ficaria muito feliz se ele pensasse. Absolutamente radiante, já que ele parecia ser completamente alheio às tentativas dela de demonstrar seus sentimentos desde o infeliz incidente do autógrafo.

– N-não, eu estou bem. – Ela forçou uma resposta, voltando os olhos para a página do mangá que deveria estar betando. Mikorin poderia ser uma bela ajuda agora, se não estivesse ocupado...

Ah, Chiyo, vamos! Você está contribuindo para a felicidade do Hori-senpai! Uma vozinha dentro de sua cabeça exclamou, e ela engoliu em seco. Nozaki provavelmente a perdoaria, se soubesse o porquê de seu pedido repentino. E ele já era amigo de Hori há algum tempo, então talvez até se animasse também.

– ...Nozaki-kun.

– Hm? – Ele voltou seus olhos para ela outra vez, e a ruiva reuniu o máximo de coragem que conseguiu no tempo de três segundos.

– É que... A Kashima-kun veio conversar comigo sobre o Hori-senpai estar graduando sem ter sido personagem principal em nenhuma peça esse ano, e... – Ela hesitou antes de continuar com a voz mais baixa. – Eu queria saber se você não poderia ajudar com um roteiro...

– Um roteiro? – O garoto arqueou uma sobrancelha. – Hori já pegou um, vocês não poderiam usar esse?

– Eh, acho que só a Kashima-kun consegue passar por um príncipe encantado que viraria um touro... – Chiyo comentou com uma expressão monótona. – E ela queria que fosse um roteiro em que o Hori-senpai não ficaria muito fora do lugar como principal, mesmo com ele sendo mais baixo, então...

– Hm...

A garota encarou-o com curiosidade enquanto ele pousava uma lapiseira no queixo, pensativo.

– ...Você quer dizer como um príncipe criança ou algo assim? – Ele falou enfim, virando-se para ela. – Ou talvez enfeitiçado de anão?

– Eu não acho que o Hori-senpai gostaria de ser o personagem principal de uma peça assim, Nozaki-kun. – Ela observou, estreitando os olhos. – Acho que só fazer ele vir de um povo naturalmente mais baixo deve bastar, não? Mas, uh, isso quer dizer que você vai ajudar...?

O garoto deu de ombros, a expressão séria de sempre.

– Bom, por que não? Eu também acho que seria bom ver o Hori-senpai atuando.

A ruiva abriu um sorriso largo, olhos brilhando em felicidade. Ela devia ter esperado isso, Nozaki era sempre tão caridoso com os amigos...!

– Obrigada, Nozaki-kun! – Chiyo exclamou, feliz. Pelo menos tinha dado certo. Qualquer coisa, ela poderia tentar auxiliá-lo a adiantar outras partes do manuscrito depois, se possível. Talvez falar com Mikorin e Wakamatsu para ajudar...

– ...Ah, mas, talvez eu precise pedir sua ajuda em algo em troca. – Ele comentou depois, voltando-se para a página que estava escrevendo.

– Sem problemas! Eu posso ajudar no que quiser! – Chiyo continuou sorrindo para ele.

– Ótimo. Então... – Ele levantou-se de sua cadeira, e a garota o observou levemente curiosa enquanto ele entrava mais para dentro de sua casa. Não era ajuda com o mangá? Talvez com deveres de casa...

Suas dúvidas acabaram quando ele voltou com um uniforme de marinheiro nas mãos.

– Eu preciso que você faça uma pose para mim. – Nozaki pediu com os olhos brilhando levemente em animação.

Chiyo encarou-o, encarou o uniforme, e estreitou os olhos.

Kashima-kun... Eu espero mesmo que essa peça seja um sucesso.

xxx

O próximo passo depois de conseguir um roteiro era convencer o clube de teatro a fazer aquela peça. O que não deveria ser tão difícil, visto que todos pareciam animados em ver o dono do clube finalmente atuar em um papel importante depois de tanto tempo.

Kashima ainda ficara triste quando Chiyo dissera que o papel de Hori deveria ser o do príncipe, porém. Ela tinha certeza que ele ficaria muito mais feliz fazendo a princesa! Mas como a ruiva tinha a proibido com o rosto muito sério para que ela não estragasse isso – pelo visto, as condições do roteirista misterioso tinham sido um pouco extremas? – então ela resolveu desistir.

Ela ainda o faria ser a princesa uma vez, nem que fosse numa peça não oficial. Mas isso ficaria para depois de seu plano, claro.

A garota resolveu se concentrar na tarefa do momento, andando em linha reta até onde Hori estava assim que passou pela porta que dava entrada ao auditório.

– Senpai!

– Ah, Kashima? – Ele se virou, parecendo um pouco surpreso – até feliz, se você parasse para prestar atenção. O que ela não estava fazendo agora, pois estava ansiosa! – Finalmente resolveu aparecer na hora? O que voc-

– Senpai, por favor, seja o protagonista dessa peça! – Ela o interrompeu, estendendo o roteiro em sua direção, olhos brilhando de esperança.

– Eh? – O mais velho piscou, tomando o maço de papéis com as mãos e olhando para ele. – ‘O príncipe de Ooh’? De onde você tirou isso?

– Isso não é importante! – Kashima insistiu, inclinando-se na direção dele. – Hori-chan-senpai, por favor! Essa é a última peça do ano e você tem que participar nela!

O mesmo piscou, levantando uma das mãos para coçar a cabeça. O pedido parecia tê-lo pego de surpresa, mas ela não desistiria tão cedo se ele resolvesse hesitar.

E, também, Kashima sabia que ele adorava atuar – ela se lembrava desde que o vira da primeira vez durante o festival da escola, afinal.

– Ah, bom... Nós já começamos a praticar outro roteiro, então não acho que seria uma boa ideia...

– Bom, mas, Hori-chan... – Um dos membros do grupo que estava próximo escolheu intervir. – Eu não veria problema em começar outra agora. Ainda estamos na primeira semana de ensaios e tudo mais...

– E além disso, você não faz um papel importante desde o primeiro ano, Hori-chan! – Um de seus senpais do clube adicionou em seguida, - Eu queria ver sua atuação uma última vez.

Não eram só aqueles dois; aparentemente, grande parte do clube estava triste que o próprio presidente do clube não participaria de sua última peça. Kashima olhou para seus companheiros de clube triunfante; ele não poderia recusar agora!

–... Se todos estiverem insistindo, talvez eu possa dar uma olhada nesse novo roteiro, então. – Hori concluiu enfim, e ela por pouco não pulou de felicidade. Ele dirigiu o olhar para ela em seguida. – Mas, você tem certeza que não se importa de não ficar com o papel principal, Kashima?

– Claro que não, Senpai! Eu amo te ver atuar! – A garota sorriu animadamente para ele, mãos fechadas em punhos de excitação. – Foi por isso que eu entrei nessa escola, sabia?

Hori a encarou por um momento – eh, será que ela tinha algo no rosto? – antes de se virar de costas, olhos grudados ao roteiro.

–... Tudo bem então. Vou fazer cópias disso e depois decidimos os papéis.

Ah, a voz dele parecia um pouco diferente do normal... Estava ele tão feliz com sua proposta que ficara com vontade de chorar? Isso, era exatamente o que ela queria! Agora seu Senpai faria a peça, ficaria feliz e ela poderia finalmente roubar o título de kouhai adorável de Nozaki!

Ainda completamente radiante com sua conquista, a garota mal pôde perceber o rastro de vermelho no rosto dele e os olhares desconfiados que tinham alguns dos membros do clube.

xxx

Ensaios eram mais difíceis do que pareciam.

Quer dizer, não que ela não gostasse deles – muito pelo contrário, ela adorava atuar! – mas ter de chegar na hora todos os dias era chato e a fazia ter de recusar pedidos das garotas das outras classes.

Porém, Kashima estava determinada a pelo menos impressionar seu Senpai uma última vez, e se comportar ao máximo para que ele pudesse praticar direito. Isso, e porque ter seu Senpai atuando como protagonista sempre a fazia querer estar lá para ver.

Chiyo aparecera para visitar alguns dias depois, querendo ter certeza que estava dando tudo certo – e ficou aparentemente surpresa com o que viu.

– Eh... Kashima-kun, até que você está conseguindo se controlar bem, não é... – A ruiva comentou, aproximando-se dela durante o intervalo entre os ensaios.

– Hm? Como assim, Chiyo-chan, eu sempre estou me desempenhando 100%! – Ela piscou, desviando os olhos de sua garrafa d’água.

– É que... – Chiyo assumiu um rosto compenetrado. – Você parecia feliz demais para fazer isso direito da última vez que o Hori-senpai estava atuando...

– Ah, mas! Eu resolvi me concentrar para que isso não aconteça no dia! – Kashima sorriu para a mais baixa. – Serei o perfeito fiel escudeiro do Hori-senpai!

A ruiva encarou a outra, que parecia reluzir enquanto falava, e estreitou os olhos. O melhor amigo do protagonista, uh... Pelo que eu me lembre, ele é o cara sempre alegre que fica seguindo o príncipe por aí. Não vai ser tão difícil, visto que ela está assim.

Ela teria de dar um ponto para Nozaki por essa.

Pelo menos a peça parece estar indo bem. Chiyo concluiu em sua mente, sorrindo e acenando para Kashima enquanto ela voltava para o palco para praticar com Hori mais uma parte. Ela observou enquanto ele apontava algo no papel, fazendo com que a mais alta tivesse de inclinar-se para perto dele para ver, e suspirou.

Mas é ótimo ver a Kashima-kun tão animada; ela devia querer mesmo que ele fosse o protagonista uma última vez. E o Hori-senpai também parece mais alegre agora...

Ela observou enquanto Kashima mantinha os olhos presos em Hori enquanto ele explicava algo apontando para o roteiro, e seus olhos se arregalaram levemente.

Espera... Será que...

Kashima-kuuuuun!

Umas cinco garotas juntas passaram voando por Chiyo, rodeando a garota mais alta em seguida. A ruiva estreitou os olhos ao ver que elas tinham interrompido o ensaio sem nem parecer se preocupar.

– Ah, e o que vocês estão fazendo aqui, princesas? – Kashima foi rápida para entrar em seu modo galanteador usual, sorrindo gentilmente para as garotas.

– Kashima-kun! Você nunca mais tem tempo para sair depois das aulas, então achamos melhor vir te visitar no teatro! – Uma delas, com cabelos cor de mel curtos, respondeu primeiro.

– Sim! Estamos com saudade de você!

– Ah, garotas, eu também estou morrendo por não poder passar mais tempo com vocês, mas essa é a última peça do ano e... – A garota de cabelo curto continuou, sua expressão um pouco encabulada. Elas tinham, infelizmente, escolhido o pior tempo para intervir. Logo quando ela ia ensaiar com Hori...!

Ao lado da comoção, o tal encarava o grupo como se estivesse tentando se controlar. No entanto, quando alguns minutos se passaram e as garotas não pareciam querer sair dali tão cedo, ele se viu perdendo completamente a paciência.

KASHIMA! PARE DE FICAR ENROLANDO E VOLTE A ENSAIAR!

Chiyo observou pasma quando a garota voou para longe com o chute do presidente do clube, sua linha de pensamento anterior evaporando de sua cabeça.

Ahh, estava demorando para isso acontecer.

Ela só esperava que, no final, desse tudo certo.

xxx

E é claro que, como o carma absolutamente adorava estragar a vida das pessoas, aquele não fora o caso.

– Ela torceu o pé? – Hori, no momento vestindo uma fantasia de príncipe, conversava com mais alguns membros do clube por trás das cortinas do palco.

– Sim... Parece que ela caiu da escada de casa hoje de manhã. – Um dos coadjuvantes respondeu, voz aflita, com a cabeça baixa. Hori suspirou, subindo uma das mãos para o cabelo.

– O que fazer agora... A garota extra disse que teria que viajar com os pais nesse final de semana...

Chiyo observou do seu lugar junto a Kashima e Mikorin, rosto preocupado. Ela tinha passado lá para desejar boa sorte para eles exatamente no momento em que receberam a notícia.

– Mas e agora? Ela era a que ia interpretar a princesa, certo?

– Eh... A essa altura, não vai dar para arrumar outra pessoa a tempo. – Mikorin observou de seu canto, braços cruzados. – O que vocês vão fazer agora?

Kashima não respondeu – tinha uma expressão pensativa no rosto, concentrada demais no problema em questão para prestar atenção em outra coisa.

Não, ela não podia deixar isso acontecer. Hori tinha praticado tanto para isso, ela mesma tinha se esforçado tanto para que tudo ficasse perfeito, então um erro desses não podia existir!

Nada estragaria a última peça de seu Senpai, não importa o que ocorresse. Era algo importante para ele e para ela também – queria atuar ao lado dele, pelo menos uma vez... Era o que mais queria fazer desde que chegara ali, então tinha que dar um jeito!

Mas como...?

A garota olhou em volta, apreensiva; fora muito azar justo a garota que faria a princesa e sua extra não puderem vir de última hora, mas não era o fim do mundo. Tinha que haver um meio de sair dessa situação.

Os olhos rondaram mais a sala, procurando algo que ela pudesse ter perdido. Qualquer coisa serviria...

Ela piscou, orbes esmeraldas parando em Mikorin.

Kashima abriu um sorriso largo – é isso!

– Mikoshiba! – O ruivo, que estava levemente irritado por não ter sido respondido ainda, pulou de susto. – Precisamos de você!

– E-eu? – Mikorin corou, nervosismo estampado em seu rosto. – C-como assim precisam de mim? Kashima, eu-

– Você sempre me via praticar, certo? E até praticava às vezes comigo, certo? – A garota o interrompeu, chegando mais perto dele.

– Ah, Mikoshiba-kun! Isso é verdade? – Chiyo piscou para ele, também se aproximando. – Se for assim, você ainda pode salvar a peça!

– N-não! Eu não vou fazer isso, nem em mil anos, não importa o quanto vocês possam insistir-!

– E também, você ficaria absolutamente incrível de fantasia! – Kashima adicionou.

– S-sim, Mikoshiba-kun! Todos passariam a te achar muito legal depois de fazer um papel de teatro, sabia! – Depois de um tempo, a ruiva acrescentou.

Mikorin, ainda vermelho, abaixou o braço que escondia seu rosto – olhos levemente brilhando.

– Vocês... Acham isso mesmo...?

– Claro! Você ficaria ótimo! Super másculo! – Chiyo tentou incentivar mais, para depois paralisar em seguida.

Espera. Kashima não mencionara nada sobre que papel ele pegaria até agora, então ela apenas ajudara a tentar convencer Mikorin, mas...

Será que ela também acha que ele ficaria bom com o papel de heroína?! A ruiva virou-se com os olhos arregalados para Kashima, que continuava a incentivar seu melhor amigo.

– M-mas e as falas? Talvez eu não...

– Não se preocupe, Mikoshiba! O príncipe e a princesa são os que falam mais durante a peça inteira, então você vai ficar bem. – A garota o assegurou, ainda sorrindo.

Ah... Então ela vai dar o papel dela para ele. Chiyo suspirou de alívio, sorrindo. Eu quase pensei que a Kashima-kun queria que o Mikorin fosse a princesa...

Ela piscou.

Espera. A ruiva virou-se para os dois novamente. Isso não resolveu absolutamente nada, Kashima-kun!

Mas então a mesma parou, olhando para baixo em concentração. Kashima... continuava sendo uma garota. Tudo bem que nesses últimos meses Chiyo nunca vira uma vez ela se importar com o fato de que todos a chamavam de príncipe e ela fazia o papel masculino quase sempre em peças, mas... Talvez ela quisesse ser, pelo menos uma vez, a princesa.

E talvez não qualquer princesa.

Ela observou enquanto Kashima se dirigiu até Hori, que ainda parecia apreensivo com a situação da peça, e tudo pareceu clicar em sua mente.

Talvez ela quisesse ser a princesa dele.

– Hori-senpai... – O presidente do clube virou-se para a garota de cabelos curtos, sua expressão de preocupação dando lugar a uma de surpresa.

Chiyo arregalou os olhos, assim como Mikoshiba ao seu lado. O ar já pesado dos bastidores acabara de ficar ainda mais tenso.

– Você... – Ela continuou, lentamente, e comprimiu os lábios antes de continuar.

Ela vai...?

Você finalmente vai poder ser a princesa! – Kashima exclamou enfim, um sorriso alegre no rosto, surpreendendo a praticamente todos que assistiam à cena.

Uma veia brotou na testa de Hori e ele avançou para cima dela.

– Hori-senpai, não machuque o rosto dela antes da peça! – Chiyo gritou, apavorada, se aproximando de ambos enquanto dois membros do clube tentavam tirá-lo de perto da garota que, felizmente, não parecia machucada ainda.

– Qual o seu problema, Kashima?! Essa não é hora para piadas! – Ele esbravejou enquanto ainda era segurado, e a outra piscou.

– M-mas eu resolvi o problema! O Mikoshiba sabe as falas, se usarmos ele no meu lugar você vai poder ser a protagonista e eu o príncipe!

Mikorin se encolheu com os olhares que recebeu, corando profundamente e xingando a si mesmo por ter concordado com aquilo.

– Eu não vou ser a princesa!

– B-bom, então eu não sei o que fazer! – Kashima admitiu em resposta, ainda gritando.

Chiyo a encarou.

– Kashima-kun... – Ela começou, hesitante, com uma mão levantada. -... Você já pensou que você poderia fazer o papel da princesa?

Silêncio.

– Eh...? – Kashima piscou, confusa, apontando para si mesma. – Mas eu só fiz o papel de príncipe até agora...?

– Bom, você é uma garota, e... – A ruiva continuou, receosa. – Não teria problema em usar um vestido, certo...?

A garota mais alta assentiu.

– Então por que não?

– Eh. – Um dos membros do clube que segurava Hori murmurou. – Isso poderia funcionar. Vocês dois ensaiaram algumas partes entre o príncipe e a princesa, certo?

– Só porque a Kashima insistiu em me ajudar com a minha parte, mas... – Hori virou-se para ela novamente. Será que isso funcionaria mesmo?

– Bom, se for para salvar a peça, eu aceito! – A garota comentou em seguida, sorrindo novamente. – Nós temos só meia hora até o início da peça, certo? Acham que conseguem acertar as medidas do vestido até lá?

– C-claro, Kashima-kun! – Uma garota do clube falou, corando. – Faremos de tudo para ajudar!

– Ótimo, então vamos!

Chiyo observou-a ir com as assistentes – sentindo pena de Mikorin quando ele foi arrastado também, ainda vermelho e parecendo querer chorar –, virando-se depois para Hori, que também estava confuso.

– Bom, Hori-senpai, parece que deu certo.

–... Ah, sim. – Ele piscou, olhando para ela. – Uh, obrigado pela sugestão, Sakura.

– De nada.

Eu só espero que funcione... Chiyo virou-se para a direção em que os dois salvadores do dia haviam desaparecido, testa franzida levemente em preocupação. Temos que saber se a Kashima vai se adequar ao papel ainda, não é. Ou se o vestido vai dar nela...

Quinze minutos depois, ela se viu enganada de novo.

– Eu pareço legal com essa roupa, não é, Sakura? – Mikoshiba perguntou ao seu lado, corado e com os olhos brilhantes, pela quarta vez naquele último minuto.

– Sim, Mikorin, você está ótimo. – A ruiva o assegurou, monótona, encarando enquanto o mesmo fazia uma pose com a espada. Pelo menos ele parecia mais tranquilo em fazer aquele papel. Agora...

– Quanto tempo até as cortinas abrirem? – Hori perguntou ao fundo para um dos assistentes.

– S-sete minutos, Hori-chan!

O garoto suspirou, andando até Chiyo com as mãos na cintura.

– Eles têm que terminar isso rápido, ou não vai dar para dar uma última olhada no roteiro... – Ele começou, olhos fixos em um ponto à frente dos dois, até que a ruiva pôde ouvir sua respiração parar de repente.

– Eh, Hori-senpai? – Ela piscou, se perguntando por que ele parecia estar tão surpreso, e se virou.

Chiyo congelou, perplexa com a visão.

Parada um pouco à frente, Kashima jazia com um vestido longo de cor azul bebê, pedras azuis escuras e roxas adornando-o e também a suas luvas e colar do pescoço, uma tiara prata delicada posta por cima de seu cabelo, parecendo absolutamente maravilhosa.

Aparentemente os rumores eram verdadeiros; Kashima Yuu realmente ficava estonteante com qualquer roupa que resolvesse usar.

– Eh, será que não seria melhor colocar uma peruca...? – A garota falou para si mesma, mãos rodopiando uma mecha de sua franja.

– K-kashima-kun, ficou ótimo! Você está incrível! – Chiyo exclamou, dando uns passos até ela com os olhos brilhando. – Pode ficar como está!

– Eh? Você acha, Chiyo-chan? – A mais alta abriu um sorriso alegre, segurando a saia do vestido. Ele tinha alças delicadas e sua saia deixava seus calcanhares aparecendo por ela ser alta demais, mas ainda assim tinha ficado perfeito.

– Nada mal, Kashima. – Mikorin comentou, aproximando-se com uma mão no queixo. -... Mas eu também fiquei bom usando isso, né?

– Claro que sim, Mikoshiba... – A garota sorriu, agradecendo também a outros elogios vindos do resto da equipe de teatro, antes que seus olhos finalmente achassem o que estava procurando.

– Senpai! – Ela se aproximou dele, rosto ainda radiante. – O que você acha? Ficou bom mesmo de cabelo curto?

Hori continuou congelado por um segundo, antes de piscar, levar uma mão para coçar sua cabeça e desviar os olhos.

– Você ficou bem assim, não precisa mudar. – Ele falou, rosto levemente corado. O sorriso dela quase duplicou de tamanho por isso.

– Eh, sério? Obrigada, Senpai!

– Agora vamos praticar o script mais uma vez! Faltam só alguns minutos! – Ele foi rápido para continuar, ainda um pouco nervoso.

– Certo!

Chiyo observou os dois, suspirando. Parecia que, pelo menos, agora tudo daria certo.

xxx

Acabou que Kashima conseguiu manter sua promessa e, mesmo tendo praticado para ser o melhor amigo do príncipe em todas as semanas anteriores à peça, se saiu incrivelmente bem como princesa.

Era talento, provavelmente. E parecia que, ao lado do príncipe e protagonista da peça, ela brilhava ainda mais que o normal.

– Ahh, mas esses dois ficam tão bem atuando juntos... – Chiyo murmurou baixinho, observando-os em uma de suas cenas ao lado de Nozaki na terceira fileira da platéia.

– Hm. – O mais alto respondeu, parecendo um pouco orgulhoso. – As cenas ficaram boas, também.

– É claro! Afinal, foi você que escreveu, certo? – Chiyo sorriu para ele, voltando-se em seguida para o palco. – Como o príncipe vem de uma terra de pessoas mais baixas, fica mais fácil de acreditar que a princesa possa ser maior que ele.

E, também, Mikorin pareceu ter se livrado de seu medo suficientemente para pelo menos falar direito algumas falas... Ela pensou para si mesma. O ruivo começara a ficar vermelho demais enquanto falava depois de um tempo, e não aparecera mais a partir do segundo ato. Provavelmente, aquilo tinha sido demais para ele.

Agora... É realmente incrível como a Kashima possa se sair bem não importa o que ela faça.

Chiyo encarou-a mais uma vez, e ouviu gritinhos vindos de sua esquerda quando ela terminou de falar algo um tanto meloso. E parece que as fãs dela acham que ela fica bonita com qualquer roupa que use, haha...

A ruiva virou-se para o palco outra vez, e piscou.

Hori estava falando agora de novo, mas...

Ela estreitou os olhos, vendo Kashima responder algo meloso novamente.

Mesmo da platéia, ela pôde ver o rosto dele ficar levemente mais rosado.

Ah. Ele corou.

Chiyo sentiu vontade de chorar. Até quando irritava a pessoa de quem gostava diariamente, Kashima tinha mais sorte que ela no amor. Era inacreditável.

– Isso não é justo... – A ruiva murmurou para si mesma, escondendo o rosto com as mãos.

– Sakura?

Ela piscou, virando para Nozaki quase que imediatamente.

– O-o que foi, Nozaki-kun?

– Bom, é só que... – Ele parecia meio hesitante, e ela engoliu em seco. – Depois da peça acabar, você poderia passar na minha casa, talvez...?

Eh? Ela arregalou os olhos, rosto colorindo-se de uns cinco tons de vermelho diferentes. Eeeeeeeeh?!

– C-claro! Eu vou sim! – Ela falou, um pouco alto demais pois ouviu alguns “shhh”s em seguida.

– Ótimo. – Nozaki abriu um sorriso pequeno, virando-se em direção ao palco novamente. – O que aconteceu nos bastidores parece ser um belo enredo para um capítulo de mangá, então eu quero anotar tudo em detalhes.

Chiyo o encarou por um, dois, três segundos.

Talvez eu devesse começar a tentar irritar ele... Ela concluiu, cabisbaixa.

xxx

Hori limpou o suor de sua testa com uma toalha, já tendo colocado sua roupa normal de novo. Fazia tempo que não atuava realmente em uma peça, e era mais cansativo do que esperado – mas era também ótimo, incrivelmente excitante, e ele podia sentir animação correndo por suas veias mesmo depois de quase uma hora de que as cortinas tinham descido.

Sim, elas tinham descido pela última vez.

Era estranho pensar em graduação – ele se preocupara com a faculdade para onde desejava ir, claro, mas sair da escola fora uma realidade distante até aquele momento, em que ele estava sozinho no camarim de atores depois de sua última peça sabendo que não estaria ali nunca mais como aluno daquela escola.

Tristeza não era exatamente o sentimento que estava sentindo – era mais uma nostalgia prematura, de tudo que ele não poderia mais ter a partir do próximo ano.

Eu devia falar logo minha decisão para o novo presidente do clube, também... Ele suspirou, guardando sua toalha na maleta que carregava. Apesar de ainda não estar certo da minha decisão, eu...

Ele ouviu o barulho da porta se abrindo, e se virou.

– Ah, Senpai, você estava aí!

Kashima entrou pela porta sorrindo, já de volta a seu uniforme escolar comum – felizmente, já que vê-la usando um vestido tinha o deixado mais nervoso do que gostaria de admitir.

– Kashima. – Ele a saudou, virando-se um pouco em sua direção.

– O pessoal do clube está reunido no teatro, eles disseram que querem sair para comemorar o sucesso da última peça do ano. – Ela ainda parecia animada, e ele quase sorriu de volta ao vê-la tão alegre daquele jeito. - Você vai, não é?

– Sim, vou sim. – Hori respondeu, ainda a encarando, antes de suspirar. -... Acho que é melhor contar a minha decisão para todos eles logo, também.

– Eh? Do que você está falando, Senpai? – Ela piscou, confusa.

Ah, ele se arrependeria dessa decisão, não é? O garoto pensou para si mesmo. Mas, bom, não havia como voltar atrás agora.

– Kashima, eu quero falar isso para você logo, já que vou ter que falar para eles depois. – Ele começou, mantendo os olhos voltados para sua maleta. – Eu quero que você me suceda como presidente do clube.

Pôde ouvir quando a respiração dela parou por um segundo, suspirando; se até ela não tinha esperado por isso, seria ainda mais difícil contar para os outros. Enfim.

– Você chega quase todos os dias atrasada, falta treinos, traz não membros do clube para ensaios, mas... – Ele hesitou antes de continuar. – Você é a estrela do clube, tem notas boas em geral e conseguiu se sair bem melhor nessas últimas semanas. Acho que você pode dar conta.

Hori continuou não ouvindo nada, e piscou. Talvez ela estivesse hesitante em aceitar toda aquela responsabilidade?

– Ah, mas é claro que eu colocarei alguém muito responsável que definitivamente te colocará na linha como vice-presidente, então... – Ele foi rápido para acrescentar, colocando uma mão na nuca e finalmente virando o rosto em sua direção...

Só para parar, atônito, ao ver o rosto dela.

– ...Kashima, você está chorando? - O mais baixo piscou, tirando a mão de seu pescoço e virando totalmente de frente para ela, preocupação surgindo em seu peito ao ver que uma lágrima descia pelo rosto delicado da mesma.

– E-eu... Acho que estou sim, haha... – Ela abriu um sorriso pequeno, subindo uma das mãos para limpar o rastro molhado que sobrara em seu rosto.

– Aconteceu alguma coisa? – Ele deu um passo em sua direção.

– Não, é só que... – A garota engoliu em seco, encarando o chão com o mesmo sorriso triste de antes. – Eu vi você ensaiar para peça, vi você atuar, mas...

O olhar da mesma entristeceu mais, e ela comprimiu os lábios antes de continuar.

– Eu não... Tinha realmente me dado conta de que você iria se graduar até agora, Senpai.

Hori piscou.

– Q-quer dizer, é estranho, não é? – Ela olhou para ele outra vez, rindo levemente. – Você não vai mais vir me buscar quando eu acabar me atrasando, não vai mais gritar comigo para que eu faça meu trabalho direito, não vai estar aqui para ajudar com os cenários do teatro...

Kashima pausou por um momento, seus olhos marejando de novo, e voltou a observar o chão.

– É só... Triste. Que eu não vá mais te ver depois disso, Senpai.

O silêncio permaneceu na sala por mais alguns segundos, antes que ela finalmente ouvisse a voz dele de novo.

– ...Do que você está falando?

Ela levantou os olhos para ele, que a encarava num misto de aborrecimento e... Por que ele parecia envergonhado?

– Eh?

– Eu vou continuar vindo para ver as peças da escola, Kashima. – Ele suspirou, cruzando os braços, demorando um pouco mais do que antes para continuar. – E... Se você está tão triste porque não vai mais me ver, eu sempre posso encontrar você fora da escola se você quiser.

Kashima piscou uma, duas, três vezes. Dessa vez, as lágrimas que surgiram de seus olhos não foram de tristeza.

– Senpai...! – Ela murmurou, rosto completamente reluzente – e que combinava muito mais com ela do que o triste de antes, ele não deixou de observar – antes que ela desse os últimos passos até ele.

Hori estava prestes a falar que não, não repetiria isso de novo quando teve seu rosto inclinado para cima e algo quente e macio posto por cima de seus lábios.

Ele demorou exatamente um segundo e meio para perceber o que estava acontecendo.

O-o que você pensa que está fazendo?! – Ele pulou para trás, afastando ela pelos ombros com o rosto explodindo em vermelho enquanto tentava não bater nela dessa vez.

– Eh? M-mas! – Kashima piscou, também corando levemente. – Você disse se encontrar fora da escola como num encontro, não disse?

– Isso não foi nem perto do que eu quis dizer, idiota! – Ele exclamou em resposta, ainda vermelho e confuso demais com a situação toda.

– Ah... – O brilho no rosto dela desapareceu com isso. – Então... Senpai, você não sente o mesmo...?

Hori encarou Kashima, perplexo, e como ela parecia cabisbaixa como antes.

Não. Não, ele definitivamente não queria fazer aquilo. Ele não teria a paciência para lidar com ela mais do que já o fazia, sem falar que aqueles sentimentos eram absolutamente problemáticos-

...Quem ele queria enganar, Hori não conseguia ver o rosto dela triste por muito tempo.

– Eu nunca disse isso. – Ele murmurou por fim, suspirando sem olhar para ela.

– Eh? – Os olhos cor de esmeralda de Kashima arregalaram outra vez, e ela abriu seu sorriso mais largo do dia, provavelmente daquele mês inteiro. – S-sério mesmo?

–... Sim. – O garoto murmurou por fim, rosto vermelho, e soube que dali para frente, não teria escapatória.

A garota soltou uma risada alegre antes de abraçá-lo e rodopiá-lo no ar, o pegando de surpresa até que Hori recobrou sua consciência suficientemente para bater nela.

– Não faça essas coisas do nada! – Ele protestou, se afastando, uma veia brotando na testa. Será que, até quando ele decidia ser gentil com ela, a garota ainda tinha a audácia de ficar o irritando?

– Desculpa, Senpai! – Ela tinha uma mão na bochecha, provavelmente o lugar onde ele acertara, mas isso não pareceu ter afetado em nada a felicidade estampada em seu rosto. – Eu não consegui evitar!

Ele a encarou, olhou seu rosto e como os orbes esmeraldinos pareciam brilhar, e toda sua raiva pareceu se esvair. Droga, ele não conseguiria ficar bravo com ela o olhando daquele jeito...

–... É melhor voltarmos logo antes que alguém venha nos procurar aqui. – Ele disse enfim, suspirando, recolhendo sua maleta e voltando até ela. – Vamos?

– Ah, ok... – Kashima continuou sorrindo, prestes a se virar, até que sentiu um peso em sua mão.

...Eles estavam de mãos dadas. Estavam de mãos dadas!

A garota continuou atrás dele, reluzente e encarando as mãos deles em um silêncio maravilhado. Hori achou surpreendente que conseguira enfim deixá-la quieta, mas viu-se novamente parando para olhar a sala do camarim da porta.

Era a última vez que ele sairia de lá depois de uma peça. A partir daquele momento, as coisas definitivamente seriam diferentes.

À sua frente, Kashima o observava, ainda segurando sua mão.

– Vamos, Senpai?

Ele a encarou. Depois, sorriu e usou sua mão livre para puxá-la pela gravata para um beijo.

–... Sim. – Hori disse algum tempo depois ao se afastar, observando com satisfação como o rosto dela se colorira quase todo de vermelho. – Vamos.

Ele, no entanto, achava que poderia se acostumar com essa mudança.

Owari.

xxx

Omake!

Chiyo jazia parada dentro do banheiro, de frente para a porta, com o rosto apreensivo. Ela tinha conseguido adiar sua parte do acordo com Nozaki, na esperança de que ele viria a esquecer disso ou pedir ajuda à outra pessoa, mas não fora esse o caso.

E, agora, lá estava ela vestida com aquele maldito uniforme.

Por que eu? A ruiva encarou sua reflexão no espelho – ou o que dava para ver dela, pois Chiyo era minúscula e o espelho era só de busto para cima – e fez uma careta. Por que ele não pediu para o Mikorin fazer isso além de mim? Ele é a Mamiko, não eu!

Mas ela sabia que, apesar de ser muito fácil de persuadir e se comportar exatamente como uma protagonista de shoujo, ele nunca aceitaria usar uma roupa daquela. Pelo menos não com alguém vendo.

– Sakura, está pronta?

A voz de Nozaki do lado de fora a fez suspirar, e ela ajeitou seus laços uma última vez. Tinha absoluta certeza de que morreria se acabasse fazendo uma pose estranha enquanto modelava, mas agora já era tarde demais.

– Sim...

Ela saiu pela porta do banheiro, avistando o garoto dono da casa já com uma câmera nas mãos, assim como estivera desde que estendera a tal roupa para ela.

Bom, pelo menos ele parece feliz. Chiyo notou ao ver o rosto animado dele.

– Ah, ficou no tamanho certo. – Ele comentou, chegando mais perto para puxar a blusa um pouco mais para baixo. Chiyo teria corado absurdamente com isso se não estivesse tão nervosa pelo que viria em seguida; ao invés disso, ela só pôde piscar e deixá-lo movê-la para a posição que ele queria – com as mãos unidas por trás de seu corpo e virada parcialmente para o lado, de frente para ele.

–... Isso, assim está ótimo. – Ele deu uns passos para trás, ajoelhando e posicionando a câmera na frente dos olhos. – Ah, só vire um pouco mais para a esquerda, Sakura.

– O-ok... – Ela respondeu, tentando manter-se na mesma posição com o rosto normal mesmo que estivesse com vontade de sair correndo dali.

– Hm... – Ele voltou a olhar para a câmera e um click foi ouvido. Nozaki encarou a foto e sorriu para ela. – Ficou ótimo, obrigado.

– Sério? – Chiyo piscou, recobrando um pouco de sua animação. – N-não ficou estranho nem nada assim?

– Não. – Nozaki observou a fotografia novamente, parecendo pensar sobre algo por alguns segundos. Depois, ele se levantou – deixando a câmera na mesinha – e andou até ela.

– Ah? O que houve? – A ruiva piscou para ele, seu olhar sério a fazendo corar um pouco. – T-tem algo estranho com a minha pose, não tem?

– Hmm... – O garoto murmurou, pondo as mãos no queixo.

Chiyo estava prestes a correr novamente para o banheiro quando ele a puxou pela cintura de encontro a seu corpo, levantando seu rosto com a outra mão.

– ...Como eu pensei, você ficaria muito baixa para fazer uma foto de referência de casal, huh. – Ele comentou, inclinando seu rosto para baixo para poder observá-la daquela posição.

Em algum lugar dentro da cabeça de Chiyo, uma engrenagem pifou.

Mikorin, que saíra depois dos dois de sua classe no dia, abriu a porta segundos depois, parando assim que observou a cena.

– Mikoshiba! – Nozaki tinha um rosto levemente em pânico ao segurar uma Chiyo desacordada na mesma posição de antes. – Rápido, ela estava me ajudando e acabou desmaiando de repente!

O ruivo parou na porta, estreitando os olhos.

–... Você deveria perceber mais o dano que causa nos outros, Nozaki.

+1

– Ah, Kashima-kun, bom dia!

Chiyo cumprimentou a garota de cabelos curtos quando a avistou andando em sua direção no corredor. Kashima caíra na sala ao lado dela no terceiro ano – se ela tinha ficado triste por não ter conseguido ficar na sala de Nozaki pela terceira vez seguida? Ah, não, imagina – e então era comum vê-la andando por aí ou conversando junto de Mikorin nos intervalos.

– Bom dia, Chiyo-chan! – Kashima a cumprimentou ao vê-la chegar, rosto reluzente combinando perfeitamente com o céu azul do dia quente lá fora.

A mais baixa abriu um sorriso, prestes a perguntar por que ela parecia tão feliz, quando outra coisa chamou sua atenção.

– Eh, Kashima-kun, por que você está usando uma roupa dessas no meio do verão? – A ruiva piscou, encarando o pulôver de gola alta azul marinho com as iniciais da escola com curiosidade.

A garota piscou, subindo uma das mãos para tocar seu pescoço e abrindo um sorriso amarelo em seguida.

– Ah, sabe como é Chiyo-chan... – Ela começou – e a voz dela estava nervosa?! – enquanto a olhava levemente sem graça. – É que o Hori-senpai veio visitar o clube ontem, e...

Ele te bateu?! – A ruiva deu um passo para trás, surpresa. Ela achou que isso tinha acabado depois que os dois tinham ficado juntos no ano anterior! – E , ainda por cima?!

– Não, não é isso... – Kashima dirigiu os olhos para o chão, corando um pouco.

Chiyo encarou-a por um momento, e voltou seus olhos para a mão dela que tocava seu pescoço.

Ela permaneceu assim por um, dois, três segundos.

Ah... Então o Hori-senpai finalmente aprendeu a usar sua altura a seu favor, não é.

Fim!


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Notas finais do capítulo

*assoviando inocentemente* O QUE??? EU, INSINUANDO ALGUMA COISA COM O ÚLTIMO OMAKE?? QUE ISSO, GENTE!

...

Eu juro que sou santa, ok. Sério. /chora/

Enfim, espero que tenham gostado! ♥ Vocês talvez me vejam mais uma vez na tag de Gekkan... Acompanhada de mais uma pessoa, dessa vez. Para quê? Bom... É um mistério... owo /sai de cena rindo maleficamente/

Até mais!



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