Olá Grace,

Resolvi voltar mais ainda no passado. Para quando nos conhecemos.

Ambos tinham quinze anos.

Confesso que o achava um mauricinho. Daqueles metidos e idiotas – você podia ser uma pouco arrogante, mas metido e idiota não.

Você estava de azul, a cor caia bem em você. Combina com seus olhos. Seu jeans era preto, e seu sorriso, bem, seu sorriso era perfeito. Suas madeixas estavam compridas, ainda não estavam cortadas em um topete, ao contrário disso, as mesmas estavam caindo em seus olhos.

E mesmo com o cabelo “emo”, eu te achei um mauricinho. Um garoto feliz que adoraria fazer amigos populares. Isso é o que pensam de você.

Mas quando começamos a conversar fiquei surpreso por termos tanta coisa em comum, as bobagens que dizíamos, os planos que fazíamos e os segredos revelados. Tudo tão bom, tudo tão bem.

Seu sorriso me enlouquecia. O movimento que sua boca fazia ao falar me hipnotizava. E seus olhos tão azuis me desconcentravam. Passava noites acordado pensando em ti. Então que percebi que era amor.

Mas a cada vez que o escutava lamentar sobre seu outro amor, meu coração morria, minha chama de esperança ficava menor e eu, por fora, só o ajudava e dizia que tudo ia melhorar.

Um tempo depois você bate em minha porta, chorando horrores por culpa dela. Suas lagrimas caiam tão ferozmente que minha alma se destroçava. O azul de seus olhos brilhava por causa da maldita água de tristeza que eles estavam fabricando.

Minha blusa cinza estava encharcada. E quando você chorava contando as coisas boas e ruins que ela fez com você, eu ficava furioso querendo matá-la, queimá-la, tudo pelo ciúme, raiva e inveja.

Mas o que mais doía era quando seus lábios se abriam para dizer algo. Algo que eu não queria escutar.

“Nico, eu a amo, como vou suportar isso?”

A cada momento que eu escutava isso me dava vontade de empurrar você e jamais olhar para sua cara.

Jason, naquela novela eu não queria ser seu amigo. Eu queria mais que isso.

Então eu percebi que já estava na hora. Na hora de revelar meus sentimentos. Jogar tudo em você, e gritar para Deus e o mundo: Ah, como eu te amo, Jason.

Todos deviam saber, todos inclusive você. Porém fui um covarde, hesitei. Afastei-me.

Noites em claro, vendo suas fotos no Facebook, vendo seus tweets tristes e sentindo falta de seu sorriso. No Instagram suas fotos pararam de ser postadas. E no Tumblr suas frases não eram mais tão alegres – ou safadas.

Sempre que dizia seu nome eu sorria. Sorria ao lembrar-me do seu cabelo louro bagunçado, sorria ao lembrar-me do seu sorriso, sorria ao imaginar o gosto do seu beijo. Menta ou talvez hortelã. E ria pervertido ao imaginar seu corpo nu colado ao meu.

Será que eu deveria ter me declarado? Ter aproveitado de sua fraqueza? Ou será que fiz certo em ficar calado e sem te perder?

Eu esperei por um sinal, algo que pudesse significar que você estaria aberto para um novo relacionamento, mas não obtive nada. Necas, nadinha, nothing. Você estava preso demais a ela.

Tentei tantas vezes me declarar, só que a coragem que conseguia sozinho perdia logo ao te ver.

Eu precisava – mesmo – dizer que te amava ou iria enlouquecer.

Afetuosamente,

Nico di Ângelo.