Ri, me afastando lentamente de Percy. Acho que se alguém aparecesse no corredor agora e desse de cara com a gente eu ficaria realmente envergonhada, afinal, não é sempre que me veem de pijama por ai.

Nós estávamos apenas nos encarando, como naquelas cenas fofas de filme romântico, ambos sorriamos pensando no nada e em tudo ao mesmo tempo, até que uma luz se acende sobre nós e Nico aparece gritando:

— Eu sabia! Eu sabia! Pra todos vocês que não shippavam Percabeth: Há há há, a minha risada pra vocês!

Olhei levemente espantada para a cara de psicopata maluco que Nico tinha estampado em sua face, sua respiração estava ofegante e ele olhava aleatoriamente de mim, para Percy. Isso tudo com um sorriso gigantesco, é claro. Você sabe o quão difícil é ver Nico sorrir?

— O que foi? Ah, vocês... Querem ficar sozinhos? – perguntou Nico parecendo desapontado. – Certo, vou contar a boa noticia à Thalia.

E então, Nico saiu correndo à esmo por ai gritando “Meu amor, você não vai acreditar!”.

Percy riu e logo segui sua risada, era impossível conter a felicidade transbordando dentro de mim.

— Bom, acho que essa luz – ele olhou para a lâmpada que Nico acendeu – é uma forma de provar que nós nunca estaremos sozinhos. Eles vão sempre nos fazer concertar as burradas.

Sorri levemente.

— É agora que eu devo ficar preocupada e surtar?

— Ah não, de novo não. – gritou ele. Será que essa gente não acha que o pessoal dos outros quartos não pode acordar? – Deu de Annabeth bipolar por um bom tempo. Agora eu só quero aproveitar a minha nerdzinha. – murmurou ele enquanto me puxava para si, me beijando outra vez. Agora, não havia pressa ou medo que o outro rejeitasse, estávamos apenas aproveitando a companhia do outro.

— É sério Percy. Eu posso confiar? Sabe, que você não vai fugir nem nada do tipo? Ou sei lá, que está brincando comigo?

— Você precisa se acalmar, eu não estou brincando com você. – disse ele me olhando nos olhos.

— Vai só fugir então? – ele riu baixinho e me abraçou.

— Eu nunca fugiria.

Olhei para Percy, em pânico. Eu queria acreditar nas palavras dele, me agarrar a ela com todas as forças e nunca mais soltar. Mas eu conseguiria mesmo? Respirei fundo. Por que meus olhos estão cheios d’água?

— Eu estou com medo. – murmurei, encostando minha cabeça no peito de Percy.

— Annie, - falou ele baixo – está tudo bem. Nós estamos juntos.

Sorri. Percy não disse algo como eu também estou com medo ou sua maluca! Vá embora e se decida de uma vez! Ele simplesmente disse: Nós estamos juntos, e acho que nada seria mais apropriado do que isso. Após passarmos tanto tempo separados, nosso melhor consolo é finalmente estarmos juntos.

— Nós vamos continuas juntos Annie, você não vai ficar longe de mim, nunca mais.

Sorri e não resisti ao impulso de beijá-lo outra vez. E outra. E outra. Tudo o que eu quero agora é aproveitar um pouco do meu Percy.

(...)

— Vocês precisam mesmo ir? – perguntei abraçando Thalia com força.

A plataforma de embarque se estendia atrás de nós: gigantesca assustadora. A visita havia chego ao fim e agora Thalia e Nico retornariam para casa, mas não quero vê-los ir.

— Bom, eu não estou nem um pouco empolgada para entrar nesse monstro de metal com algo que eles supõem serem asas.

— Thalia, pra que tanto exagero? São só algumas horinhas, a gente já voou centenas de vezes e...

— Viu só? – gritou ela se afastando de mim e apontando para Nico. – É assim que ele me tranquiliza! Algumas horas? Viu como eu preciso de você Annie? Culpe o seu namorado Cabeça de Algas que não nos avisou das inscrições.

— Como eu ia saber? – perguntou Percy exasperado, Nico colocou a mão no peito, parecendo ofendido.

— E você se diz meu melhor amigo? E não sabia disso?

— Cara, você só vai na minha casa para jogar vídeo game, o que esperava?

— Olha só...

Uma voz soou nos alto-falantes interrompendo Nico: Senhores passageiros, último chamado para o Voo 1362. Última chamada.

Thalia olhou para cima suspirando e então me abraçou outra vez.

— Vou sentir sua falta! – e então ela abraçou Percy. – Não se acostumem com abraços, mas eu não sei se vou sair viva dessa coisa! Não briguem! Se não eu vou vir até aqui só pra bater nos dois! Estou sendo clara? Claro que estou.

E então, ela pegou sua bolsa e andou em direção à plataforma.

— Nico! – exclamei indo abraça-lo – Cuide bem da Thalia!

— Pode deixar. – murmurou ele enquanto fazia um cumprimento estranho com Percy. Garotos.

Lentamente o vi se afastar e rumar em direção à Thalia. Percy abraçou minha cintura e ficamos observando a pista lá fora, onde a qualquer momento o avião com nossos amigos decolaria.

Suspirei, apoiando o peso do meu corpo a ele, era tão bom estar ali, compartilhar aquela sensação com ele outra vez. O orgulho me fez agir com estupidez e sair perdendo. Por quanto tempo eu poderia ter ficado com essa sensação junto a mim? Por quanto tempo fugi por medo? Por quanto tempo?

— No que pensa tanto? – perguntou ele, escondendo seu rosto no meu cabelo.

— No quanto eu te amo. – falei baixo, sentindo Percy respirar mais pesadamente.

— Você realmente disse isso? Sem ser em uma mensagem ou em um bilhete de término? Você disse?

Sorri, absorvendo a verdade. Eu o amava e isso era fato, não importa o quanto eu tente fugir disso. Sem amor é tudo mais fácil. Porque o amor não é justo. Ele machuca mesmo, ele quebra, destrói, queima, faz o caramba ao cubo, mas enquanto eu tiver eu tiver alguém para amar, não vou me importar com isso. Eu sei que o amor decepciona, e ainda vai me decepcionar outras tantas vezes. E vai doer. Não importa com quem eu esteja, mas alguns irão se esforçar para que doa menos. Eu sei que Percy fará isso. Porque é essa a verdade, e no fundo todos nós sabemos que o velho clichê de “todos irão te fazer sofrer, você só precisa achar alguém por quem valha a pena” tem lá suas verdades. E eu descobri isso.

— Disse, e vou dizer quantas vezes mais você quiser ouvir.

— Eu vou querer várias, pode acreditar.

Sorri enquanto Percy me abraçava com mais força e via o avião decolar. Eu não poderia estar mais feliz.

Do amor as lestes asas me fizeram transvoar o muro,
pois barreira alguma conseguirá deter do amor o curso,
tentando o amor tudo o que o amor realiza.

Romeu e Julieta, Cena II, Ato II
William Shakespeare.