Tris nunca esteve tão pálida. Parecia estar bem mais magra e, deitada num leito de hospital, aparentava uma fragilidade extrema, coisa que nunca faria parte dela. As cânulas estavam conectadas a suas narinas, uma agulha ligada ao cateter preso ao braço de Tris, levava soro para suas veias e o som da máquina que media seus batimentos cardíacos era como uma música de fundo. Não era um ambiente que Beatrice gostaria de estar. Nem eu.

– Já faz uma semana que você está ai, dormindo... – Sussurrei, deslizando meus dedos sobre as costas de sua mão com o máximo de cuidado. – E também faz uma semana que eu venho falar com você e não obtenho resposta alguma...

Após as cirurgias realizadas com sucesso, Tris não mais abrira os olhos. Seu estado era estável, ela estava se alimentando através de sonda e a cicatrização parecia estar ocorrendo de acordo com o previsto pelos médicos, mas o fato de ainda não ter acordado não só preocupava como também provava que havia algo errado.

Mantive-me no hospital durante todos os dias. Pedi um afastamento da University of Chicago e só ia em casa para tomar banho e apanhar uma nova muda de roupa. Meus pais saíram do outro lado da cidade para ficarem comigo, o que foi extremamente importe, já que o pouco tempo que eu passava na minha casa era depressivo estando sozinho. O apoio deles naquele momento era indispensável. Meus amigos também estavam sendo uma base importante, Will e Christina, principalmente, não saiam do meu lado e fizeram papel dos irmãos que nunca tive. Foi naquele momento em que tive certeza de que eu realmente tinha amigos.

Encarando o rosto sem brilho que dormia na cama a minha frente, pude ver o quanto Tris era frágil. Ela nunca gostara de aparentar isso, mas era algo que vivia dentro da garota. Uma fragilidade tão grande que chegava a se transformar em força. Vê-la ali e lembrar-me da noite em que Eric atirou para me matar deixava-me arrepiado de pavor. Tris não devia estar deitada em estado de coma, a bala era para mim e mesmo assim, ela se jogou contra o tiro para me salvar.

Um ato que eu jamais poderia compensar.

– Eu te amo tanto. Não consigo mais imaginar minha vida sem você. – Aproximei os lábios e depositei um demorado e delicado beijo em sua mão.

Accidentally In Love – Counting Crows

As lágrimas vieram rápidas e não tive tempo de limpá-las. Escorreram impiedosas por meu rosto e logo eu estava soluçando baixinho, fraco, cansado de pedir para que aquilo tudo acabasse logo e Tris ficasse bem novamente. Os bipes do monitor cardíaco aumentaram e ergui a cabeça, encarando os olhos abertos e expressivos diante de mim.

So I said "I'm a snowball running

Running down into the spring

That's coming all this love

Melting under blue skies

Belting out sunlight

Shimmering love

– Meu Deus! – Soltei um riso, secando o rosto. – Tris!

– Eu também te amo... Muito!

Ainda estava pálida e parecia cansada, mas o brilho em seu olhar era forte e me fazia acreditar que tudo ia ficar bem. E ia mesmo. Não pensei muito, apenas a abracei, tomando cuidado com seus ferimentos e com os fios ligados em seu corpo.

Well baby I surrender

To the strawberry ice cream

Never ever end of all this love

Well I didn't mean to do it

But there's no escaping your love

These lines of lightning mean

We're never alone, never alone

No! No!

Distribui beijos por todo seu rosto, demorando mais em seus lábios. Afaguei sua pele morna e apertei-a contra meu peito, fazendo-a soltar risinhos engraçados e gostosos de se ouvir, afinal, o som de seu riso era o melhor som do mundo. Os enfermeiros chegaram logo em seguida e todos comemoram. Tris finalmente acordara. Após uma semana, Tris estava acordada. E ficaria bem, e comigo. O tempo que nos fosse permitido.

We're accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally in love

Accidentally