Be My Best Song escrita por The Raven


Capítulo 15
Say Something


Notas iniciais do capítulo

Adorei escrever esse capítulo, primeiro porque amo Christina Aguilera, e outra porque recebi mais uma recomendação linda! *---*

Leiam a nota final.
Boa leitura!



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Abri os olhos e encarei a parede branca. A casa cheirava a limpeza e café fresco, o que me despertou mais rapidamente. Era sábado de manhã e minha mãe estava em casa, provavelmente, já tinha feito sua faxina. Ergui o corpo do colchão lentamente, sentando-me na beirada. A cortina balançava um pouco devido ao vento morno e só então notei que dormira com a janela aberta esperando por algo que eu sabia que não viria. Ele.

Cocei os olhos e fui para o banheiro, onde fiz minha higiene matinal e troquei de roupa. Sai do quarto em silencio e segui para a cozinha. Papai estava lendo o jornal, distraído com a tabela de jogos e com as charges, Caleb devorava uma torrada e minha mãe acabara de sentar-se para deliciar sua salada de frutas. Observei a cena e soltei um suspiro. Aquilo de alguma forma estava deixando-me nervosa.

– Bom dia – sentei e apanhei um copo, servindo-me de leite.

– Bom dia, Tris – Caleb sorriu de boca cheia, mas não conseguiu me fazer achar graça naquilo.

Ele percebera quase imediatamente que havia algo errado comigo. Seus olhos atentos perguntavam-me em silencio o que tinha acontecido, mas eu não queria falar sobre a partida de Tobias.

– Você foi dormir muito tarde ontem, não foi?

Ergui os olhos para minha mãe e assenti devagar, bebendo meu leite. Dei atenção aos pãezinhos postos a minha frente, apanhei um e arranquei um naco, enfiando-o na boca sem muita fome.

– Estava estudando?

– Não, mãe. Eu estava só pensando.

– E você costuma chorar enquanto pensa?

Crispei os lábios e soltei o pãozinho que mantivera entre os dedos. Rolei os olhos, sentindo-me enojada por mamãe estar entrando num assunto tão pessoal. Sim, eu havia chorado noite passada, mas por que minha mãe insistia em falar sobre aquilo? Eu não me sentia bem em me expor, nem mesmo para minha família, ela era única que parecia não entender.

– Mãe, por favor. – Caleb interveio, deixando sua torrada de lado.

– Caleb, quieto! Eu ouvi o choro e fiquei preocupada...

Levantei-me da cadeira sem mais um pingo de fome.

– Mãe! – Caleb levantou-se também e tentou me segurar, mas me desvencilhei.

– Você não se importa. Na verdade, nunca se importou. Só está ciente da lacuna que deixou em mim desde a infância e agora está tentando ser uma boa mãe. – Virei o rosto, ficando de perfil para olhá-la. Natalie mantinha sua expressão fechada e odiei pensar que ela se parecia muito comigo.

O silencio tomou conta da cozinha. Papai largara o jornal e colocara o óculos sobre a mesa, observando-nos a espreita do momento para intervir na discussão que estava prestes a começar. Mas eu não estava num clima para brigas.

– Se faz diferença, Tobias está indo embora para a Rússia. Nós brigamos e ele não vai se despedir de mim. Me descobri apaixonada por meu melhor amigo tarde demais, é só isso.

Sai da cozinha sem esperar por palavras macias de consolo. Voltei para o quarto e fechei a porta. Fitei minha cama desarrumada e cogitei a possibilidade de colocar o pijama e retomar meu sono, afinal de contas, seria um dia de clima pesado para mim e não queria descontar em Caleb ou em meus pais toda a culpa que sentia por ser o motivo da partida de Tobias.

Imaginei que teria paz e poderia ficar sozinha, mas três batidas na porta me fizeram virar e encarar Natalie encostada no portal. Eu ainda estava em pé, decidindo o que fazer, mas a presença deixou-me inquieta. Minha mãe me daria um belo sermão e ficaria mais uma semana de castigo. O motivo? Ser dura, fria, idiota, cabeça-dura, estúpida, grossa...

– Não se preocupe, eu vou arrumar meu quarto.

Deixei de encará-la e voltei para a minha bagunça particular. Mamãe segurou meus ombros e me girou, envolvendo-me imediatamente num abraço apertado e quente. Arregalei os olhos e não me movi, surpresa são só com o ato, mas também com a sensação de segurança que me tomou por completo. Estremeci ao receber um beijo demorado na bochecha, mas estaria mentindo se dissesse que não tinha gostado.

– Eu te amo tanto, filha, tanto. Me perdoe se fui uma mãe muito ocupada, se fui ausente, se trabalhei demais. Eu só quis fazer tudo certo. – Ela soluçou quase tão baixo quanto suas palavras proferidas há instantes. – Vê-la sofrer me faz sofrer.

Deixei que minhas mãos subissem pelas costas de minha mãe e então relaxei. Fechei os olhos e inspirei seu cheiro gostoso de roupa limpa e frutas frescas. Era o cheiro que eu costumava sentir quando dormia com ela. Meus olhos umedeceram e as lágrimas vieram sem minha permissão, molhando o tecido da blusa que Natalie usava.

– Ele vai embora, mãe – murmurei, afundando o rosto em sua pele morna – Tobias vai embora e eu não o verei nunca mais!

Era desesperador dizer aquilo em voz alta. Pensar na possibilidade de não tê-lo mais por perto me destruía.

– Por que não o impede de ir embora, então? – Mamãe se afastou um pouco e me olhou nos olhos enquanto secava minhas lágrimas com os polegares. – Diga que ele não pode ir.

– Não consigo...

– Consegue sim, você o ama, Tris. É a única que ainda não percebeu isso.

“Você o ama”. Amar. Eu não era capaz, era? Uma jovem tão fria e distante, desprovida de sentimentos fortes e profundos, seria capaz de algo tão divino? Minha concepção de amor era diferente da maioria, amar, para mim, parecia estar distante demais da realidade.

Desacostumada a ver carinho explícito entre meus pais, cresci imaginando que o relacionamento entre um homem e uma mulher não poderia ser tão intenso. Sem grandes experiências com rapazes, nunca senti alguma coisa que pudesse chegar a ser amor, então concluí que eu não sabia amar. Nunca chegara a aprender.

– Não acho que consigo amá-lo, não sou digna de sentir algo tão forte.

– Você é sim. – Minha mãe me olhava com ardor e isso aquecia meu coração. De certa forma eu podia ver um brilho diferente em seu olhar. Ela me amava e daria sua vida por mim. – Me diga as quatro pessoas pelas quais você saltaria na frente de um tiro.

A pergunta pegou-me de surpresa e rapidamente os quatro rostos vieram em minha cabeça. Minha mãe, meu pai, Caleb e... Tobias. E Christina, e Will, Marlene, Uriah, Lynn... Eu me sacrificaria por meus amigos também.

– Foram bem mais que quatro, não?

– Você os ama. São amores diferentes, mas ama todos eles.

(...)

Christina parou o carro com uma freada brusca e saltei para dentro do veículo pela janela aberta, nem me dando o trabalho de abrir a porta. Ajeitei-me no banco e passei o cinto, grudada ao assento já que Christina pisou fundo no acelerador e nós quase voamos pela rua.

– Qual é o plano? – Perguntou-me sem desviar os olhos do trânsito.

– Plano? Que plano?! Nós não temos um plano, Chris!

– TRIS, PELO AMOR DE DEUS! NÓS ESTAMOS INDO IMPEDIR TOBIAS DE VOAR PARA A RÚSSIA E VOCÊ NÃO TRAÇOU A PORRA DE UM PLANO? – Berrou desesperada.

– CUIDADO! – Agarrei ao volante antes que o carro de Christina chocasse contra uma moto que vinha no sentido oposto. Estávamos na avenida e por isso teríamos certa dificuldade em chegar ao aeroporto rapidamente. – PARE DE GRITAR! EU NÃO PENSEI EM NADA! SÓ NÃO QUERO QUE ELE VÁ!

– VOCÊ CONTINUA GRITANDO!

– OLHA PARA FRENTE! – Peguei o volante novamente e virei-o com força, desviando de carros e caminhões. Meus olhos arregalados não conseguiam acreditar que quase morremos duas vezes, mas Christina não parecia preocupada com isso.

Respirei fundo, tentando me acalmar. Fechei os olhos, mas não conseguia me manter parada, estava agitada demais para meditar e consequentemente para pensar em algum plano.

– Sabe ao menos o horário que o voo dele sai?

– Meio-dia em ponto.

– Então é melhor você não olhar no relógio...

Faltavam apenas doze minutos para o meio-dia. Desesperada, senti que poderia chorar a qualquer momento. O trânsito não estava colaborando e Christina não conseguiria me levar a tempo.

– Corta caminho! Vamos por fora da cidade... – Apontei para a esquerda e sem pensar duas vezes a morena girou o volante, fazendo os pneus cantarem no asfalto.

Seguindo em alta velocidade, passamos por um posto policial sem notar os homens fardados que entraram numa viatura para nos seguir. Distraída, não percebi que a sirene tinha sido ligada para nós. Roendo as unhas, encarei o retrovisor e soltei um berro ao avistar o carro policial fazendo sinal para pararmos.

– CHRISTINA! É A POLÍCIA! A POLÍCIA ESTÁ ATRÁS DE NÓS!

– PORRA! – Ela socou o volante, pisando com ainda mais força no acelerador. O carro deu um solavanco leve e a velocidade aumentou gradativamente. Estávamos a cento e trinta numa pista de apenas sessenta quilômetros por hora. Seríamos presas, tinha plena consciência disso.

– NÓS VAMOS MORRER! – Fechei os olhos.

– NÃO VAMOS NÃO! Vá para o banco de trás, dentro da minha mochila tem uma coisa...

Assenti. Retirei o cinto, me jogando para o banco traseiro. A mochila de Christina estava no chão, entre os assentos. Apanhei-a e abri o zíper, encarando com perplexidade o conteúdo.

– VOCÊ CARREGA UMA BARRIGA DE GRÁVIDA NA MOCHILA?! – Incrédula, apanhei o objeto para ver se era mesmo falsa, afinal, parecia bem real.

– Ah, não faça tantas perguntas! COLOQUE ISSO AI AGORA!

Sem pensar, obedeci. Levantei a blusa e abotoei a barriga enorme por cima da minha. Ao abaixar a blusa, realmente parecia que eu estava grávida de nove meses. Era muito estranho usar aquilo.

– E agora?

– Agora se prepare para fingir que está num trabalho parto.

– O QUÊ?!

– Você é atriz, oras! Dê seus pulos!

Christina jogou o carro de uma só vez para o acostamento e freou bruscamente. Precisei me agarrar ao banco para não ser jogada contra o vidro da frente. Imediatamente a viatura policial parou e três homens armados desceram anunciando que devíamos sair de mãos para cima.

– Ela está grávida! PRECISAMOS IR PARA O HOSPITAL!

A voz de Christina chamou a atenção dos policiais, que aproximaram-se cautelosamente, observando o interior do carro com atenção.

– Geme, Tris! Finja que está tendo um filho! – Grunhiu baixo entredentes.

Soltei um grito alto demais e me contorci no banco, fechando os olhos para parecer realmente estar sentindo muita dor.

– O que está acontecendo, senhorita?

A voz grossa do policial que parou ao lado da porta do motorista me fez gelar. “Você está grávida! GRITE!” e eu gritei desesperadamente, como se algo estivesse me devorando de dentro para fora. Um bebê-monstro, talvez.

– Minha amiga, senhor, ela entrou em trabalho de parto! Preciso leva-la para o hospital agora...

Mantive os olhos semicerrados para tentar enxergar o que estava acontecendo. Me sentia ridícula por estar passando por aquilo, mas precisava impedir Tobias de zarpar para a Rússia.

– Ela está muito mal! Você não está mal, Tris? – Christina enrolou, virando-se para mim como se pedisse para que eu fingisse melhor.

Soltei outro grito, gemi e arfei, apoiando as mãos sobre a imensa barriga falsa.

– Estou muito mal! Meu filho vai nascer aqui e vocês terão que fazer o parto! Precisamos ir para o aeroporto!

A mudança nas expressões dos policiais foi imediata.

– Aeroporto? Não era hospital?

– Buscar o pai!

– O pai é que vai fazer o parto! – Christina interveio tão apreensiva quanto eu.

– O pai fará o parto? – A desconfiança dos policiais deixou-me ainda mais nervosa. Gemi alto para distraí-los.

– O PAI É MÉDICO! ELE IRÁ FAZER O PARTO NO AEROPORTO! NÃO DÁ TEMPO!

– Tudo bem, podem ir!

– RÁPIDO! MINHA FILHA ESTÁ SAINDO! – Berrei, digna de um Oscar.

– Filha? Você tinha dito filho! – O policial meteu o rosto dentro do vidro do carro e me observou melhor.

Parei de gemer, tentando pensar em alguma coisa que não soasse estranha.

– SÃO GÊMEOS! AAAAAAAAAAAHHH! VAMOS OU ELES IRÃO NASCER AQUI! – Fiz careta e voltei a gritar, gemendo e fazendo a típica respiração cachorrinho que estava acostumada a ver em filmes.

O policial fez sinal para Christina e ela ligou o carro, em segundos estávamos de volta a estrada, ainda mais rápido que antes. Voltei para o banco da frente, suando frio e ainda trêmula.

– Mas que merda aconteceu aqui?

– Tobias é o pai dos meus filhos. Ele é formado em medicina e irá fazer meu parto no aeroporto porque não temos tempo de ir para o hospital. Isso daria um roteiro de filme de comédia. – Descontraí, fazendo Christina soltar uma risada alta e divertida. – Mas agora me diga, o que essa barriga falsa estava fazendo dentro da sua mochila?

– Se chama Tratamento de Choque. William quer ter três filhos, eu quero apenas um. Então o faço usar a barriga todos os dias à noite para ele entender o quanto é difícil ser mãe e carregar esse peso todo! – Se virou para mim e deu um sorrisinho lambido.

– Você é maluca, sério.

(...)

Christina Aguilera Feat A Great Big World - Say Something

Eu gritava para que minhas pernas fossem mais rápidas, mas o fluxo de pessoas dentro do aeroporto era grande. Christina vinha logo atrás, tentando desviar dos corpos agitados sem muita paciência, empurrando uns e xingando outros.

– Quantas horas?

– Faltam exatamente... CARALHO! TRIS! JÁ É MEIO-DIA!

– DROGA!

Passei a imitar Christina e empurrei todos que entraram no meu caminho, sem me importar com os palavrões que recebia em troca. Meu peito se apertou violentamente quando ouvi a chamada do voo para a Rússia. Tentei correr mais rápido, finalmente, saindo da multidão.

Say something, I'm giving up on you

I'll be the one, if you want me to

Anywhere, I would've followed you

Say something, I'm giving up on you

Parei e olhei ao redor, em busca do portão de embarque certo e avancei correndo ao encontra-lo. O segurança e a funcionária que recolhia as passagens me impediram de passar.

– Eu preciso encontrar uma pessoa, é urgente!

– Desculpe senhorita, mas não podemos deixa-la passar!

And I am feeling so small

It was over my head

I know nothing at all

And I will stumble and fall

I'm still learning to love

Just starting to crawl

Dei um passo para trás, me soltando do segurança. Eu iria passar sim! Tomei impulso e empurrei ambos que bloqueavam minha passagem, entrando na pista de decolagem. Várias pessoas caminhavam em direção ao avião parado e apenas uma dessas pessoas chamou minha atenção. Costas largas, casaco preto e cabelo castanho.

– Chame a segurança! – Ouvi dizerem atrás de mim.

– TOBIAS! – Gritei, correndo na direção do homem que eu tinha certeza ser ele. – TOBIAS, ESPERA! NÃO VAI!

Um sorriso aliviado estampou meu rosto quando ele se virou e parou de andar. Assustei-me com sua aparência. A barba estava por fazer e imensas olheiras escuras e profundas destacavam-se em seu rosto. Tobias parecia cansado, abatido e aquilo me fez sentir toda a culpa de ter sido uma idiota.

Say something, I'm giving up on you

I'm sorry that I couldn't get to you

Anywhere, I would've followed you

Say something, I'm giving up on you

– Tobias, você não pode ir – parei frente a frente e ergui o rosto para olhá-lo devido a grande diferença de altura.

– E por que não, Tris? Eu não tenho nada a perder ficando aqui.

– Porque eu também te amo. – Soltei a frase como se ela estivesse presa dentro de mim há muito tempo e acabei rindo por sentir o alívio por ter colocado para fora. – Eu te amo e eu não quero perder você. Por favor...

Avancei o espaço que nos separava e envolvi sua nuca com minhas mãos, encostando nossas testas. Eu não queria deixa-lo ir. Eu não podia deixa-lo ir. Imaginar como seriam meus dias sem sua presença era torturante. Não iria suportar a distância e a falta. Dobraria meu orgulho quantas vezes fossem necessárias para que ele entendesse e aceitasse.

And I will swallow my pride

You're the one that I love

And I'm saying goodbye

– Por favor, não sabe como é difícil ficar sem você. Eu quero você não só como meu amigo, quero como meu namorado. Fica e namora comigo.

Ele me olhou com intensidade e segurou meu rosto entre suas mãos. Um sorriso foi brotando em seus lábios, mas não tive tempo de apreciar, Quatro me beijou antes. E foi o melhor beijo que já tínhamos dado antes. Sim, naquele instante tive certeza de que eu o amava e faria qualquer coisa para não perde-lo.


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Notas finais do capítulo

N/A: DESSA MALFOY SUA LINDA DIVA MARAVILHOSA, quase chorei de emoção, juro! Muito obrigada! *-------------* e obrigada a todos pelos comentários fofos que eu sempre fico quase explodindo de alegria toda vez que leio.

Sobre a fanfic: do próximo capítulo em diante continuarei de onde parei no primeiro capítulo, o primeiro encontro oficial de Tris e Tobias depois de começarem a namorar. Se não se lembram, sugiro que leiam novamente.

Até mais tarde no próximo.
Um beijão! ♥