Memories of the Living escrita por BlindBandit


Capítulo 6
O Sonho de Lily.




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Quando eu tinha dez anos, eu tive um sonho do qual eu nunca me esqueci.

Eu sempre sonhava, mas geralmente, o sonho de dissipava como fumaça de minha mente, até eu não conseguir mas me lembrar dele, e tudo o que ficava era aquela sensação de esquecimento. Mas dessa vez, foi diferente.

O sonho começa comigo. Eu estava la, deitada, dormindo, usando exatamente o mesmo pijama que tinha colocado mais cedo. Eu me via de fora de meu corpo, e tinha total consciência.

Depois, eu estava em um lugar totalmente diferente. A clareira que eu estava era ensolarada, as folhas verdes banhadas pela luz que entravam pelas plantas. Eu estava usando um vestido branco, e meus cabelos estavam soltos e caindo pelos ombros. Eu respirei fundo, sentindo o ar mais puro que eu ja havia respirado. Eu me virei, e atras de mim, um cervo me encarava.

O animal era enorme, e me olhava com olhos castanhos inteligentes, me examinando. Eu o vi virando a cabeça levemente, como se tentasse me compreender, eu pisquei, e no segundo seguinte, um homem estava parado no lugar onde o cervo estava. Por um momento, eu pensei que fosse meu pai. Mas ele era um pouco mais alto, não usava óculos, e acima de tudo, seus olhos eram castanhos, como chocolate. O homem sorriu para mim, e a certeza que eu ja tinha o visto em algum lugar me invadiu.

– Pelas barbas de Merlin - ele disse, e sua voz soou doce, jovem, assim como ele aparentava. Jovem, mas com olhos tão maduros que mal combinavam com o rosto. Só quando ele me olhou nos olhos, que essa dureza abandonou seu olhar, e ele pareceu tão jovem quanto era. - Você é idêntica a ela.

– Quem é você? - eu disse, quando finalmente encontrei minha voz, mas algo dentro de mim, me dizia que eu sabia quem ele era.

O homem sorriu mais uma vez, e olhou para o lado, um cachorro, que dessa vez eu tenho certeza que se transformou em um homem bem diante dos meus olhos, falou com ele.

– A semelhança é inegável - disse o homem-cão. A imagem dele oscilava entre um homem de meia idade e um jovem, quando eu decidi que gostava mais da imagem jovem, ele parou naquela forma.

– Quem são vocês? - dessa vez eu falei firme, e os dois me olharam. O segundo homem sorriu, me olhando.

– A personalidade também é a mesma - ele comentou. - Lily!

Eu abri a boca para perguntar como ele sabia meu nome, mas antes que eu pudesse falar, uma mulher surgiu. Ela era linda. Uma jovem adulta, com o rosto redondo e doces olhos verdes. Seus cabelos ruivos caiam pelas costas e ela usava um vestido branco até os pés. Parecia a imagem de um anjo. Foi quando ela sorriu para mim, que eu soube imediatamente quem ela era, e onde eu tinha visto aquele sorriso.

No porta retratos, acima da lareira, havia uma antiga foto. O homem e a mulher, sorrindo, segurando um bebe de olhos verdes nos braços. A maneira como a mulher sorria para o bebe, era o mesmo sorriso que ela me lançava. Ela deve ter visto o reconhecimento em meus olhos, porque seu sorriso aumentou.

– Olá querida - ela disse - Não vai dar um abraço em sua velha avó?

E de repente, eu me senti segura. Eu me senti em casa.

Eu corri para os braços dela, e ela me agarrou, me levantando no ar, bem diferente do que faria se fosse velha como tinha dito. Ela me passou para os braços de meu avó, e eu o apertei com força. Era como abraçar uma versão mais jovem de meu pai. Ele me colocou no chão, e o outro homem se ajoelhou na minha altura.

– Você sabe quem eu sou? - ele perguntou, e eu fiz que não com a cabeça, me sentindo ligeiramente envergonhada.

– Tudo bem - ele disse afagando meus cabelos - Seu pai não tinha nenhuma foto minha. - Eu sou Sirius, o padrinho de seu pai.

Eu podia não ter visto nenhuma foto dele, mas eu sabia quem era Sirius Black, meu pai tinha contado sobre ele. Eu o abracei, e Sirius pareceu um pouco surpreso, antes de retribuir meu abraço.

– Obrigado por tudo o que você fez pelo papai - eu disse - Ele é muito grato a você, por ter sido família pra ele.

Quando Sirius me soltou, eu posso jurar que vi uma lágrima escorrendo por seu rosto.

– Vocês estão mesmo aqui? isso é verdade? ou estou sonhando?- perguntei,olhando para os três fantasmas em minha frente.

– Na verdade, você que está aqui - disse Sirius. - Mas sim, somos reais.

– Como estou aqui? eu… eu morri?

Uma risada de sinos preencheu a clareira. Meu avô, James, me olhava de maneira doce. - Não lindinha, você está viva, e ainda tem tanto para viver.

– Então porque estamos aqui?

– Bom - disse mina avó, se abaixando na minha altura. - As coisas podem ficar um pouco monótonas por aqui, quando ainda tem pessoas que amamos lá embaixo. E infelizmente, não vamos tanto quanto gostaríamos. Queremos saber um pouco das coisas lá embaixo.

– Porque eu? - tive que perguntar - Porque não James, ou Albus, ou até mesmo meu pai?

– Bom - disse uma voz vindo do fundo, ele se parecia muito com Teddy, mas mais velho, então eu assumi que fosse seu pai, Remus Lupin. - Nós não podemos ter contato com os vivos,Foi preciso quebrar algumas regras para você entrar aqui, e alem do mais, é preciso ser uma criança para entrar nesse lugar e sair com vida, é preciso ser puro.

– E nós tentamos contato com seus irmãos - disse meu avó - mas nenhum deles respondeu como você.

– Então vocês querem que eu conte historias?

– Se não for pedir muito - disse Remus. Ele suspirou, e depois me olhou com um olhar tão triste e cheio de pesar, que fez meus próprios olhos se encherem de lágrimas quando a pergunta se seguiu, carregada de emoção. - Como está meu filho?

Eu sorri, me sentindo mais do que grata por ter recebido tal missão. Era mais fácil do que eu imaginava, eu não precisaria contar nada, mas lembrar. As coisas funcionavam diferente no lugar onde eu estava. Minhas memorias flutuavam de minha mente e se projetavam para todos como um filme. Eu comecei com uma lembrança para meus avós. Meu pai, sentado na poltrona, estava com o velho álbum de fotos no colo, aquele que Hagrid tinha lhe dado quando era apenas um garoto, e que estava recheado de fotos de Lily e James com ele bebe. Depois a lembrança segue para eu e meus dois irmãos nos empoleirando ao redor dele, na poltrona, e minha mãe, vindo por trás, e colocando a mão no ombro de meu pai, o consolando como só ela podia fazer. Nenhum 31 de outubro era fácil para papai.

Eu notei que mais e mais espíritos estavam por la, ansiando por novidades, então eu decidi mudar para lembranças mais abrangentes. O chalé das conchas, era sempre uma boa opção. Eu mostrei todos a eles, mas foquei em uma das minhas lembranças favoritas. Teddy e Victorie, dançando no deck de madeira, sob a luz do luar, com nenhuma musica tocando a não ser a batida de seus corações. O cabelo de Teddy ia lentamente do costumeiro azul para um violeta. Eu ouvi um soluço vindo de onde Remus estava, eu me virei para olhar, e agora uma mulher estava abraçada a ele, e seus cabelos mudavam de cor assim como os de Teddy.

Eu mostrei a eles George, chamando o filho Fred e a filha Roxanne para dentro, porque estava frio. Eu lembrei do pai abraçando o garoto e beijando o topo da cabeça dele antes de entrarem. Alguém soluçou sonoramente, e chorou abertamente. Não faltavam mãos para confortá-lo.

Por fim, eu compartilhei com eles uma das minhas memorias mais queridas. Era natal, e todos, sem nenhuma exceção, todos estavam la. Sentados a mesa, comendo, Vic e Teddy com as mãos dadas por debaixo da mesa pensando que mantinham seu relacionamento em segredo, quando todos ja sabiam antes mesmo deles saberem, Albus e James, chegando pela porta da frente, os cabelos cheios de neve. Rose carregando Hugo em suas costas, toda minha família, reunida e feliz.

Quando terminei, me senti exaurida, mas satisfeita. Meu avós, Sirius, Remus e a mãe de Teddy apareceram todos com lágrimas nos olhos, para agradecer. Eu tomei um susto quando vi o ultimo homem da fila, que na verdade, não passava de um garoto sardento, com olhar triste, e com o fantasma de um riso em seu rosto.

– Tio George? - eu exclamei. Ele riu.

– Não, sou seu tio Fred. O irmão gêmeo de seu tio George. Eu… eu morri na batalha de Hogwarts.

Eu não sabia o que responder, mas ele me poupou disso, afagando meus cabelos. - Você pode mandar uma mensagem? Para George, por mim?

E assim, eu recolhi todas as mensagens que precisava, e as guardei tão dentro de meu coração que as sabia de cabeça.

Acordei aquela manha com uma sensação de dever. Eu sabia que Teddy viria para almoçar, mas pedi para mamãe convidar tio George, alegando que eu sentia falta dele. No almoço, todos se sentaram a mesa, comeram, e conversaram, como em uma tarde qualquer. Eu mal toquei minha comida, ansiosa demais para comer. Quando todos terminaram, eu fiquei de pé em minha cadeira.

– Tenho uma coisa para falar - eu disse, e todos ficaram em silencio, me olhando. Eu respirei fundo. - Eu, tive um sonho na noite passada… Eu encontrei com meus avós, e todos aqueles que ja foram. E eles… eles pediram para que eu enviasse algumas mensagens.

O silencio era absoluto na sala. Nem por um segundo, alguém duvidou de mim. Eu continuei.

– Para papai - eu disse, olhando para ele - vovô James e vovó Lily disseram que estão muito orgulhosos de você, e que você não poderia ter se tornado uma pessoa melhor. Eles disseram também que te amam muito, e se desculparam por não estarem com você nos momentos mais importantes da sua vida. Eles disseram que sentem sua falta. - eu vi meu pai tirar o óculos e limpar as lágrimas. Eu nunca tina visto meu pai chorar. - seu padrinho, Sirius, disse que sabia que você se casaria com a mamãe, e disse que você fez uma ótima escolha. Ele disse que sente sua falta, e pede desculpas por não ter te criado como deveria, e nunca ter se descupado por isso enquanto era vivo. Remus e Tonks agradecem por terem cuidado do menino deles quando eles não puderam.

Ao mencionar aqueles nomes, Teddy saltou na cadeira, me olhando com expectativa quase infantil, esperando sua carta do céu. Eu sorri para ele, de repente me sentindo tão mais velha.

– Teddy - eu disse - Sua mãe e seu pai pediram para que eu lhe dissesse, antes de tudo, que te amam muito, eles sentem sua falta, e não ha um dia que passe que eles não desejem estar com você. Sua mãe disse parabéns pela namorada, e disse que você fica bem de azul. - eu disse isso, e o cabelo dele, que estava rosado, imediatamente voltou para o azul cobalto usual. - Eles dizem que acompanham cada passo seu, e estão cheios de orgulho de você.

Eu terminei me voltando para meu tio George, que a esse ponto, já sabia o porque eu tinha o chamado ali. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas, mesmo antes de eu começar a falar.

– Tio Fred mandou avisar que você continua um mouco idiota, mas que ele queria ter passado mais tempo com você, mesmo sendo horrível em piadas sobre ouvido. Ele disse que te ama, muito, e todo dia é como se uma parte de sua alma estivesse faltando. Ele disse que, mesmo com essa dor, para você não desistir de viver e de sorrir, e de continuar levando sorrisos como vocês costumavam fazer, para homenageá-lo na alegria, e não na tristeza. Ele agradeceu por você cuidar tão bem de Angelina e disse que seus filhos são maravilhosos. Aproposito, ele adorou o nome do primogênito. Muito criativo. Ele disse para que você supere a morte dele. Vocês vão se encontrar eventualmente, mas até la, aproveita a vida, por ele.

George se levantou quando eu terminei de falar, e me abraçou apertado. Ele soluçava e afagava meus cabelos. Meus pais se juntaram ao abraço, e quando todos me soltaram, Teddy me puxou para perto e beijou o alto de minha cabeça, cheio de gratidão.

Naquele mesmo mês, meu tio George reabriu a loja de travessuras, e vendeu de vento em polpa, trabalhando como louco e sempre sorrindo.

Ele não foi o único que mudou, eu também mudei, uma parte de mim amadureceu completamente,e meu olhar sob a vida mudou. Durante quase um mês, eu fui presenteada, todas as noites, com as memorias daqueles que ja haviam partido, e um profundo sentimento de compreensão cresceu em mim. Mesmo tendo dez anos, se tornou normal para mim, dar conselhos como uma vivida anciã.

E tudo por causa daquele sonho, o sonho que sonhei e nunca me esqueci.


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Notas finais do capítulo

eu especialmente adorei esse cap! espero que tenham gostado!