Seus olhos cinzentos escrita por Polly Lovegood


Capítulo 3
Meu Erro


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por postar tarde desse jeito, só agora tive tempo de terminar o capítulo (são 1:30 da manhã hehe). Ele está longuinho, perdoe-me se for excessivo. A música de hoje é Meu Erro dos Paralamas e essa música é amor demais pra por em palavras



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Aparatamos em frente aos portões negros de ferro da Mansão Malfoy. Mesmo sendo perto de seis da tarde em pleno verão, tudo tinha uma aura cinzenta, sombria. Dentro era ainda mais forte, os móveis eram todos pretos ou marrons, as cortinas grossas e pesadas, deixando pouco do dia cinzento entrar por elas.

Era tão diferente da minha casa, mas ao mesmo tempo tinha uma sensação de lar, parada no meio daquela sala de estar.

– Quer comer alguma coisa? – ele perguntou balançando a varinha para as cortinas se abrirem e algumas luzes no teto acenderem. – A essa hora deve ter bolo na cozinha...

– Não, obrigada – recusei por mais que não tivesse comido nada o dia inteiro. Dormir era mais importante.

– A fome está estampada na sua cara, eu só perguntei por educação – ele disse pegando na minha cintura, dando um leve empurrão em direção a um vão na parede, no qual se estendia um longo corredor. – Duvido muito que tenha comido alguma coisa desde que saiu daqui de manhã – ele começou a me puxar e fui com ele. Realmente estava morrendo de fome, mas não me sentia confortável em chegar e já ir comendo.

– Talvez não – concordei quando chegamos à cozinha e ele revirou os olhos com um sorrisinho vitorioso. Tinha um bolo maravilhoso em cima da grande mesa, só de ver já dava fome. Virei para perguntar onde eu achava um prato e ele já estava me estendendo um. Agradeci e sentei para comer meu bolo.

Ele estava me olhando do mesmo jeito que me olhava na festa de formatura. Era um olhar avaliador, quase como se me estudasse.

– O que foi? Tenho uma espinha no meio da testa? – perguntei irônica e ele se aproximou mais.

– Estou pensando na minha lista de perguntas a se fazer para Rose Weasley – ele olhava nos meus olhos, mais uma vez.

– Tem tanta coisa que precisa de uma lista? – peguei mais uma garfada e ele soltou um riso fraco.

– Bom, agora uma a menos, já sei que bolo tem que ter no seu aniversário – ele olhou para o bolo, desviando os olhos de mim pela primeira vez. – A propósito, quando é seu aniversário?

– Vai começar com uma pergunta profunda dessas? – perguntei raspando o prato. – Dezembro.

– Cor preferida?

– Vermelho.

– Pizza ou hambúrguer?

– Pizza.

– Preto ou branco?

– Preto.

– Sério? – ele fez uma cara de dúvida e eu dei de ombros.

– Eu já sou branca o suficiente para não ter que aguentar mais branco ao meu redor – respondi rindo e ele deu de ombros. – Já acabaram suas perguntas?

– Por enquanto, sim – ele pegou o prato e deixou em cima da pia. Estávamos saindo da cozinha e um elfo doméstico entrou lá, começando a limpar a bagunça que eu fiz.

– Eu podia arrumar aquilo – protestei, mas ele me puxou pra fora ainda mais rápido.

– Se meus pais te vissem lavando alguma coisa achariam que está sob o efeito de uma maldição Imperius – ele continuou me puxando, até estarmos no jardim que eu tinha visto de sua varanda. – Eles são bastante... conservadores.

– Mesmo depois da guerra? – interrompi e ele me olhou incomodado.

– Eles não falam sobre a guerra, nem antes nem depois – disse como se pedisse desculpas pela falta de informação. – É como se fosse um trauma na vida deles que eles se forçam a esquecer.

– Um trauma? – eu não entendia. O pai dele tinha ido para o lado certo no final, não tinha? – Seu pai... ele não se arrependeu? De ter sido Comensal?

– Sim, claro, mas isso não faz com que seja menos vergonhoso – ele se sentou num banco de madeira marrom numa parte coberta ainda do jardim. Aquele lugar devia ser ainda mais espetacular quando chovia.

– Vergonhoso? Ele só fez o que fez para salvar a sua avó – argumentei sentando ao lado dele e ele se mexeu desconfortável.

– Minha avó é complicada – ele pareceu ainda mais desconfortável, mas eu não conseguia pedir para ele parar de falar. Ele tinha uma ruga de confusão no meio da testa, como se precisasse compartilhar aquilo na cabeça dele com alguém e eu estava feliz de ser esse alguém.

Ele podia ter todos os defeitos do mundo, mas algo me dizia que ele podia ser uma ótima pessoa, se tentasse, se tivesse um motivo.

– Se você não quiser falar dela... – ia interrompendo quando um grito veio da porta, uma voz grave masculina, muito parecida com a do garoto à minha frente.

– Scorpius Hyperion Malfoy! – Draco Malfoy gritou, sua face sempre pálida ficando ainda mais pálida, o total oposto do meu pai, que estaria da cor de um tomate a esse momento. – Como... ousa trazer essa sujeitinha de sangue ruim para dentro da minha casa?

– Pai... Rose, ela... – ele não tinha reação. Era bem provável que não tivesse pensado na hipótese de seu pai não querer nem a imaginação da minha presença ali naquela casa.

– Ela já estava de saída – completei levantando do banco. O loiro mais novo me olhou num pedido mudo para que sentasse outra vez enquanto o outro me olhava feliz pela minha partida.

– Sábia decisão, Granger – ele disse meu sobrenome com um certo nojo, aquele nojo de quem não suporta nem mesmo respirar o mesmo ar que a pessoa.

– Estava de saída coisa nenhuma – Scorpius segurou o braço dela, desafiando o pai. – Ela está aqui comigo, você não tem que autorizar ou não.

– Que eu saiba, Hyperion, essa casa ainda é minha – senti o garoto tremer atrás de mim, então me desvencilhei do seu aperto e fui dando passos em direção ao jardim. – Isso, já vai tarde, traidorazinha de sangue.

Aquele homem não tinha o mínimo de respeito e consideração pelos outros, ele abria a boca e punha para fora tudo o que viesse, fosse o que fosse.

Naquele momento entendi porque sempre associavam Scorpius ao lado ruim da história. Sua família parecia ser completamente perturbada. Seu pai era um louco conservador que apesar de ter se arrependido aos dezessete anos ainda tinha tendências ao lado dos Comensais, sua mãe parecia que nem se dava ao trabalho de ficar em casa e dar algum sinal de vida ao filho, não lembrava dela na plataforma 9 e ¾ em nenhum ano após o primeiro.

– Não se esqueça de mencionar à sua mãe onde esteve, Weasley – dessa vez falou meu nome com nojo redobrado. – Aposto que Hermione vai adorar saber que sua preciosa filhinha andou pondo os pés na minha casa.

– Se o senhor pensa desse jeito – revidei num tom desafiador e o mais velho me fuzilou com o olhar. – De um jeito ou de outro, até alguns minutos a companhia compensava – olhei para Scorpius e ele reprimia um sorriso de lado. Pisquei o olho direito para ele e desaparatei.

Minha mãe e meu pai estavam deitados no jardim dos fundos de casa, olhando para as nuvens. Ok, alguma coisa estava errada.

– É incrível isso, não é, Ronald? – ela ainda olhava para as nuvens e ele também. – Sempre que a nossa querida e amada filha faz alguma coisa errada ela tenta esconder, mas não admite que é péssima nisso.

– Nossa querida e amada filha que acha que só porque foi pra uma formatura está livre de dar as caras em casa – meu pai completou num tom sereno, muito diferente do habitual, ainda olhando as nuvens.

– E agora ela acha que pode ficar sendo amiguinha dos Malfoys – minha mãe virou o olhar para mim. O que? Como eles sabiam disso?

– Parece que ela ainda tem que aprender quem são Draco e Scorpius Malfoy – meu pai assumiu um tom raivoso, olhando para mim também.

– Ah, agora sim vocês estão agindo como eu esperava – eu disse num tom falsamente feliz e os dois levantaram da grama como se quisesse me enterrar viva. – Estavam calmos demais antes.

– Minha filha, entenda, eu não criei você por dezoito anos para acabar passando seu tempo numa casa das trevas – minha mãe estava completamente irritada.

– Vocês brigam comigo por sumir, mas eu não estou vendo nada do Hugo por aqui, vocês estão? – tentei aliviar o meu lado, mas obvio que não deu certo.

– Ele está na casa do seu tio Harry – meu pai respondeu rápido e eu ri alto.

– Fazendo sabe-se lá o que com a Lílian, não é mesmo? – tirei sarro do meu irmão e eles me fuzilaram mais ainda. Claro, Hugo era o filho ideal, o irmão mais novo que servia de exemplo, enquanto eu só servia para mostrar meus Os nos N.O.M.’s e N.I.E.M.’s.

– Seu irmão não é o assunto aqui – me cortaram e eu revirei os olhos entrando em casa. – Onde você está indo?

– Pro meu quarto – gritei já dentro de casa e eles me seguiam, para ter certeza de que não ia fugir pela porta da frente. Realmente, aquela cena toda já estava me cansando. Eu queria me explicar, mas não, nunca que eles iriam querer me escutar.

– Rose Weasley, volte já aqui – minha mãe pediu e eu comecei a subir as escadas.

– Eu estou indo para o meu quarto, não era lá que vocês queriam que eu tivesse ficado desde ontem? Pronto, estou facilitando a vida de vocês – aquilo era praticamente pedir pra levar várias azarações, mas eu nem ligava. – Não tem de que – gritei do final do corredor e fechei a porta do meu quarto. Por menos que gostasse daquele lugar, ainda era a minha definição de “lar”.

Bom, a Mansão Malfoy também seria uma ótima definição, se o dono dela não tivesse resolvido me odiar logo de cara.

Eu não devia ter ido embora, devia ter ficado lá e encarado Draco Malfoy. Ele não era um bicho de sete cabeças que iria me matar. No máximo jogaria um feitiço que eu desviaria com facilidade e iniciaríamos um duelo que eu ganharia, afinal, não fui campeã de duelos de Hogwarts por quatro anos seguidos à toa.

Aquele bolo não foi o suficiente para me alimentar. Quando já estava escuro o céu, resolvi ir pegar alguns restos do jantar na cozinha no andar debaixo, quando ouvi a campainha ser tocada. Eram mais de nove horas, quem em sã consciência bateria à nossa porta agora?

Abri a porta pronta para mandar quem quer que fosse embora, mas o que vi me fez travar.

Havia um Scorpius completamente bêbado na minha calçada, cheirando fortemente a álcool. Suas roupas estavam amassadas, havia uma mancha de bebida em sua camisa, seu cabelo estava bagunçado e o olhar vazio.

– Mas que diabos você fez? – perguntei fechando a porta atrás de mim e sentando com ele no meio fio.

– Eu bebi um pouquinho assim – sua voz estava lenta e entorpecida, algumas risadas saíam no meio, e ele mesmo não tinha coerência alguma em seus movimentos. – Depois que a foguinho foi embora eu resolvi ficar de fogo – ele soltou e gargalhou logo em seguida. Ele realmente estava mais do que mal.

– Calma, Scorpius – eu pedi segurando seus ombros. – Por que você fez isso?

– Eu tava errado, foguinho – ele se jogou no meu colo, deitando com a cabeça em mim e as pernas esticadas na calçada. – Eu achei que se você estivesse comigo ia ta tudo chu-chu beleza – ele estava saindo do ponto do retardo e indo para a parte depressiva da bebedeira. – Eu queria que aquele velho escroto aceitasse uma fogueira lá em casa – ele estava molenga, a voz mais mole a cada palavra.

– Scorpius, calma. Respira. Aguamenti –joguei um jato de água na cara dele, mas não melhorou muita coisa.

– Eu queria entender o que está acontecendo – ele parecia estar pegando no sono. Ai merda, eu não consigo levar ele lá para dentro sem derrubar nada. – Rose... – ele me chamou de novo, mas dormiu no meu colo antes de completar com alguma coisa.

Ele não estava bem, de jeito nenhum. Só por esse monte de frases eu já percebi que ele não estava bem mesmo quando sorria para mim ontem de noite. Isso já vinha desde dois anos atrás ou era uma coisa nova?

Não sabia se o que o fazia mal era algo novo ou velho ou qualquer outra coisa. Não sabia o que era, se era um algo ou um alguém. Sabia apenas que qualquer conclusão sobre sua personalidade que tivesse sido tirada não era verdadeira. O Scorpius de verdade só estava esperando uma oportunidade de se revelar, longe do conservadorismo do pai e da ausência da mãe.

Ele precisava de alguém que o fizesse ter vontade de ser melhor, de um motivo, e eu não hesitaria nem por meio segundo em ser esse alguém se ele quisesse, porque eu também queria acreditar que estar ao lado dele bastaria para tudo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! No começo eu pensei um pouco numa cena de Catching Fire em que a Katniss e o Peeta estão fazendo umas perguntas para se conhecerem melhor e tal, para fingirem melhor que estão loucamente apaixonados e vão se casar, não sei se alguém pensou nisso também... Não que eu seja uma tia Suzzie, mas sei lá hehe
Até amanhã!



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