50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 9
Dia 38: Como nomear esse dia: "Dia dos acidentes" ou "Lei de Murphy"?


Notas iniciais do capítulo

Demorei a postar um pouco, mas já estou de volta!



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Dia 38

Eu tive um sonho muito vergonhoso, assim como na ultima noite acabei me entregando a esse desejo no meu banheiro antes de dormir. Eu vi a Janice com roupas normais. Me arrependo um pouco da decisão já que ela estava com uma blusa decotada e apesar da saia longa eu podia ver o contorno avantajado na lateral. Quando eu cheguei ela ia para a faculdade de direito. Ela estava quase terminando o curso e isto era ótimo. Se não tivesse sido pelo tropeço que fez ela ralar o joelho na calçada, eu não teria visto as coxas grossas dela quando ela levantou a saia para limpar o machucado na mangueira do jardim. Ela acenou para mim e eu a ajudei com os livros pesados que fizeram ela perder o equilíbrio. Depois a noite veio o tormento:

“Eu estava deitado em uma cama enorme em um quarto escuro. Eu não esperava por ninguém , mas ela saiu das sombras e…”

Não consigo descrever aqui, seri uma traição muito grande. E acho melhor deixar isso fora até do meu diário dos sonhos. Embora todo mundo diga que isso é normal, eu prefiro deixar meus desejos guardados para mim mesmo. Vamos a parte que eu realmente quero contar sobre esse dia. Esqueça essa parte, na verdade risque tudo e finja que não aconteceu.Vamos começar de novo?

***

Tem dias que você simplesmente não deveria levantar da cama. Não me leve a mal, o dia foi bom sim, mas ainda sim o trocaria por um dia mais feliz. Para começar, amanheceu com uma chuva tão histórica que me deu um certo receio de por os pés descalços no chão. Isso já me deu uma certa aura depressiva, que se eu começasse a juntar a dela naquela mesma manhã, iriamos ser dois rabugentos felizes. Já que da minha janela eu a via -apesar da chuva grossa- parar de frente a janela com uma das mãos na janela e a outra no rosto, ela estava se apoiando e estava desanimada.

Desci a escadas já vestido, depois de um banho rápido e quente, que culminou em tremedeira espontânea assim que sai da água quente para o clima nada convidativo do meu quarto. Ouvi novamente uma discussão entre meus pai e a Júlia. Isso já começou a arruinar meu dia. Apenas fiquei parado em frente as escadas esperando ouvir algo:

—Você não o ama Valter? -ela grita em um tom baixo, é contraditório eu sei, mas é um tom de voz bem especifico.

Um grito em tom baixo é o tom de voz onde as mães são agressivas, mas tentam a não levantar a voz acima do audível para crianças, já que não querem demonstrar que estão brigando entre si. Sei que foge um pouco do assunto, mas é que eu já estava tão familiarizado com esse tom que chega ser ridículo tentarem me enganar assim.

—Claro que eu amo! O suficiente para saber o que é melhor para ele! -posso ver o rosto imutável do meu pai, sem expressões marcantes, sem nada que o possa identificar com raiva.

—Acha que isso vai curar alguma coisa? -ela retruca- O seu “melhor” é só o seu “mais prático” Valter! Tirar ele daqui, dos seus amigos, das suas referência, não vai mudar o fato de que você nunca o aceitou desta forma! -eu posso vê-la empurrá-lo para longe com uma mão, mesmo com a porta fechada. Eu imaginava a cena toda ali.

—Ele ainda é o garoto que eu carreguei no colo! Que eu embalei! Ele ainda é meu filho! -agora vemos o verdadeiro Valter, com as veias do pescoço saltadas, se afastando para longe procurando não destruir mais nada, além do seu próprio orgulho.

—Só não é mais o garoto que você conheceu não é Valter? -seu tom de voz agora calmo, quase audível mostrava que estava ganhando a briga, Júlia sempre cruzava os braços nessas horas com pose de superior e sorriso de vitória- Você não admite que ele já é um novo garoto, melhor ele é um homem Valter… -ela vai balançar a cabeça sem perceber e ele vai baixar a cabeça humilhado pela verdade- Ele não é um brinquedo quebrado que você pode consertar.

—Eles… Aquilo! Faz mal ao meu menino! É… Tóxico! -eu podia vê-lo engasgando em seu terno fino, o que não deixava de ser uma cena deliciosa- Tudo isso faz mal a ele! Todos são tão falsos com ele!

—Inclusive você… -confesso, esta doeu até em mim- Eu vou servir o meu café, que a Ana nossa empregada preparou com carinho, você vai descer lá e dizer um bom dia ao seu filho, mas um bom dia verdadeiro! Com paixão! Vai chegar a noite e vai abraçar ele! Fale com ele Valter! -houve uma pausa enorme- Eu estou aqui a quatro anos e contei nos dedos as vezes que você falou com ele, mais de cinco minutos. Sabe o que eu achei, que ele ia me odiar por que eu ia tirar você dele, mas ele se sente aliviado! Você esta perdendo ele, e sequer esta tentando! -outra longa pausa, essa foi mais difícil de aguentar- Não espere um sinal dele! Se tivesse atitude, talvez ele já tivesse voltado para você, mas também a aquela chata possibilidade de que ele nunca volte! E tem que aceitar isso. Eles, elas, aqueles que você diz serem tóxicos para ele, não vão mudar nada, por que preferem esse novo começo a ficar presos no passado…

Eu queria parar de ouvir, por que isso estava apertando meu coração, eu queria ter saído antes do discurso da Júlia, sair por cima. Mas minha mão estava grudada no corrimão, meus pés ali, sem ação, ainda entre o primeiro e segundo degraus na decida.

—É bem mais provável que você continue ai, sentado! Tomando poeira enquanto ele segue em frente e se esquece de você completamente! -eu sinto o clique da maçaneta e tento ficar relaxado fingindo descer- E adivinhe quem vai seguir em frente e te esquecer também?

Começo a correr nas escadas até embaixo antes que ela abre e quase tropeço e torço o tornozelo.

Sinto o meu pai engolir atrás de mim, ele esconde o rosto com jornal ao se sentar na mesa, Júlia sorri e aquilo me doí. Ele me da um “bom dia” genérico, o que me faz pensar que vai ter mais discussão ao chegar em casa.

Saio para a escola entro na van e ela no carro dos pais. Paulo está derrubado, Marcos está fazendo gracinhas, Cássio reclamando de tudo como sempre. Fábio esta vendo algumas fotos no Facebook pelo celular. E eu só lembro de que tenho que tomar meu remédio, ponho os fones de ouvido e fecho os olhos. Nada como desligar o mundo por cinco minutos.

***

Eu e ela passamos o dia um pouco sonolentos e sem energias para qualquer coisa, eu ainda tinha que enfrentar uma piscina fria e ela uma aula de vôlei a tarde. Mas isso acabou mudando um pouco por uma coisa que aconteceu no recreio.

Estávamos praticamente presos na cantina ao lado do pavilhão ainda com frio depois que a chuva de uma trégua, isso é claro não desanimou os meninos de pegarem um bola e começarem a jogar naquele lugar molhado e escorregadio mesmo assim.

Lá se foram o Cássio, o Marcos e o Fábio junto com o Freitas da outra sala e mais dois meninos do segundo ano. Cassandra aproveitava a pouca luz natural sentada em um dos bancos de concreto rabiscando algo em um caderno de desenhos. Eles puxavam a camiseta um do outro, chutavam entre as pernas, davam rasteiras que arranhavam feio o joelho, coisas normais no futebol… Eu só assitia comendo o meu lanche calado, achava tudo um pouco estranho, já que o Paulo estava do meu lado tomando refrigerante e mais animado que o normal com tudo aquilo.

Lembro de me levantar para jogar meu guardanapo fora quando eu ouvi o estralo e os gritos.

Em um carrinho que o Cássio ia dar no Freitas ele saiu do percurso e acabou travando as pernas e atropelando a Cassandra que tinha acabado de levantar para trocar de lugar. O Resultado não podia ser pior, sua perna prendeu o pé de Cassandra que quando caiu por cima dele torceu o tornozelo e inchou como um balão. O Cássio caiu por cima dela, jogou o braço nas costas para tentar diminuir a velocidade e na queda dela por cima dele ele acabou deslocando o ombro torcendo o pulso, e com dedo minimo quebrado.

—Porra Cássio! -ela gritou sentindo as fisgadas- Que merda cara! Filho da… Eu vou matar você! -ela agarrou o joelho instintivamente ao sair de cima dele.

—Desculpa Cass...Aaaah! -ele não consegui terminar a frase tudo doía.

Eu é claro corri para socorrê-la. Os professores vieram para ajudar, eu peguei ela no colo e o Cássio me olhou desolado enquanto os meninos o ajudava a levantar

—Não precisa Dani… -ela tentou descer, mas assim que firmou os pés no chão gritou de dor de novo, e tentou desamarrar o tênis, o pé estava muito roxo e estava apertando.

—Seu traidor! Vai mesmo levar ela? -eu lancei o olhar: “Só estou fazendo o que você me pediu, idiota!”. Ele me olhava, com raiva, mas parava para xingar o braço- Eu te pego depois na saída!

Ela continuava a xingar enquanto os professores me mandavam levá-la até o portão para irem os dois para o hospital. O Cássio chorava de dor literalmente e essa é uma coisa que eu não queria esquecer nunca, por que é mais fácil fazer uma pedra soltar leite do que ele chorar.

Quando eu vi os pais do Cassio, não fiquei surpreso com a reação raivosa de sua mãe ou com a preocupação exacerbada do seu pai, que sempre foi sentimentalista.

Mas ai os pais dela chegaram... Eu já tinha visto os dois de relance quando ela saia do carro na escola. Eu vi o pais dela, um homem alto e forte que parece ter cerca de 48 anos e cabelos castanhos escuros, O seu pai naquele tipo físico de um homem parecido com o do meu pai só que um pouco mais gordo respirando como se o ar fosse pesado demais para suportar. Uma mulher muito parecida com ela... Não! Exatamente igual a ela, era a sua mãe, eram quase o espelho uma da outra, tirando que a mãe dela, também deve ter cerca de 40 anos de idade e cabelos longos com algumas mechas grisalhas.Os olhos grandes e azuis emoldurados pelo cabelo, olhos tão assustados Ela segura seu rosto de forma delicada e olhava dentro de seus olhos borrados de maquiagem e lágrimas. Fiquei muito assustado especialmente quando a mãe dela chegou… Elas eram como espelhos uma da outra tirando o olho da mãe dela. Eles me cumprimentam de forma rápida e um pouco espantada, eles já tinham me visto antes, mas era uma situação diferente, eu estava com a filha deles nos braços agarrada a mim como um filhote de macaco sujando meu uniforme de preto e eu ali abobado e até relutante, pois eu não queria entregar ela.

Pode me chamar de tolo, mas eu queria protegê-la. Doía sabe, doía em mim também, mas que o Cássio chorando e me xingando, mas que o som das ambulância naqueles intermináveis vinte e cinco minutos que levou entre os primeiros socorros na escola e eles indo para o hospital as pressas. Aquilo arruinou meu dia.

Pedi para ficar sozinho, pedi para ser liberado do treino e voltei para casa com a Júlia extremamente preocupada. Fiquei o resto da tarde com ela me adulando e dizendo que ia ficar tudo bem. Falando o tempo todo que eu era um garoto sensível e tudo mais… Mas eu não conseguia mesmo era tirar meu uniforme, parar de olhar o borrão preto na camisa com a marca dos cílios dela. E com aquela velha vozinha chata na cabeça martelando: “Vai ficar pior, é só o começo seu babaca, e você sente isso.”

Acho que tem dias que a lei de Murphy simplesmente tira para agir...

Fui para cama cedo e escrevi essas três paginas detalhadas do meu dia, espero não sonhar de novo com a Janice… Por que ontem foi muito embaraçoso.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor isso que me motiva a escrever!



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