50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 5
Dia 42: Dia curto, pouca ação e um pequeno milagre


Notas iniciais do capítulo

Um capitulo bem curtinho, mas sem enrolar muito na historia.
Mais uma playlist para vocês ouvirem e por favor prestem atenção na ultima musica:
http://www.youtube.com/playlist?list=PL8F9qP3wven2X0MqEEUWf-5IwJK9tM3Bl



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Dia 42

Me desculpe por ontem. Eu tive uma crise novamente. As vezes acontece, eu fico chateado por qualquer coisa e acabo me estressando mais do que eu deveria, exite uma palavra para isso em inglês, acho que é “ overreacted ”, significa reagir exageradamente a algo de forma agressiva. As vezes me acho, mas meu ultimo médico diz que sou mentalmente são, tirando a minha perda de memoria, sou normal.

Acho que ando meio deprimido com tudo. Minhas notas estão abaixo da terra, a esperança de conseguir pagar o que eu devo de acordo com o combinado com o Cássio está tão distante quanto meu sonho de ir a Hogwarts. Acredite, nesses últimos tempos tudo que eu mais tinha desejado ao ler os livros que eu lia antes do acidente, é que eu tivesse sobre algum encanto, preso no tempo, e que estava pronto para acordar agora. J.K sabia fazer pequenos órfãos sonharem com coisas tão distantes quanto a perspectiva de uma felicidade verdadeira e mágica que chegava a ser cruel.

Não me sinto bem desde o sonho. E ontem eu vi que realmente não estou bem. Tive uma crise de choro nervosa da qual não me orgulho, por que por um momento me senti perdido sem saber que estava no meu quarto e depois eu sonhei com aquela garota estranha que sempre aparece nos meus sonhos, de novo. Eu acordei as 3:00 da manhã sentado no sofá da sala, gritando com a TV desligada. Júlia tinha vindo ver o que era e meu pai veio atrás, foi a primeira vez que ele parece ter se importado depois de anos. Eles marcaram meu psiquiatra para segunda feira.

Eu não devia ter ido a casa dos meninos, mas fui mesmo assim para terminar meu trabalho de biologia sobre evolução. Eu estava relativamente calmo aquela manhã, apenas desci a rua com a minha bicicleta e esperei o Marcos na porta da casa dele. Eu praticamente o acordei, devia ser umas 15:40, ele estava me abrindo a porta de cuecas, o que era bem irritante, já que eu liguei na noite anterior e lhe disse que eu estaria na casa dele para montarmos os slides.

—Ah… Oi Dani… -ele boceja coçando a cabeça e depois ajeitando a cueca no corpo- Íamos fazer isso hoje mesmo? -ele boceja de novo eu eu acabo bocejando também.

—Sim, íamos sim! E pelo amor de Deus! Cara! Cobre isso! -eu grito fazendo cara de nojo e entrando rápido na casa dele- Não sou obrigado a ver você com as bolas de fora! Coloca uma calça por favor!

—Puritano! -ele diz fechando a porta já meio rabugento. Ele vai para o quarto e eu jogo as minhas coisas no sofá dele- É uma coisa normal sabia? Todo HOMEM tem! -ele grita do quarto.

—É mas guarde isso para a sua namorada! Com toda a certeza essa visão vai ser mais… Ugh! -estremeço e faço careta, já que realmente, não é uma visão agradável para telespectadores sensíveis- … útil! Se bem que… Talvez não seja! -ele volta para sala e eu rio.

Fábio sai de outro quarto de cuecas também e me cumprimenta rápido e depois cumprimenta Marcos com aquele gesto natural dos jovens, que nasceu no meio das gangues americanas e se tornou comum e normal.

Era raro ver Fábio e Marcos separados. Eles eram o tipo de amigo que sempre estavam juntos, faziam tudo juntos e as vezes até pensavam a mesma coisa no mesmo tempo. Se eles não tivessem namoradas e eu não os conhecesse bem, diria que formam o mais belo casal que eu já vi, sério! As vezes eu até caçoo deles sobre isso de vez enquanto. Me lembro de um episodio de os Simpsons onde o Lenny diz: “Eu não sei onde eu começo e onde termina você!” e o Carl responde: “”É por essas e outras que os outros pensam que somos Gays!”. Eu sempre rio dessa feliz coincidência, pois uma vez os dois desceram uma ladeira de bicicleta lado a lado e no meio da decida acabaram embolando as rodas uma na outra, e o não podia ser mais catastrófico, acabaram caindo um em cima do outro por cima das bicicletas e ficaram quase um mês no hospital. Quando o encontraram a perna do Fábio estava entre o pescoço do Marcos e o braço esquerdo de Marcos, na verdade é até difícil de descrever, por que um deles quebrou a perna em dois lugares e o outro quebrou o braço em três, e isso que me gera duvidas até hoje sobre quem realmente quebrou o quê...

O Paulo chegou e teve a mesma reação exagerada e jocosa que eu quando chegamos.

—Por favor! Procurem um quarto! Saliências a essa hora... Arg!

Fiquei calado nessa hora. Tenso e invadido. Mas mesmo assim ri discretamente da sua piada já que Cássio chegou logo atrás com o material da maquete evolução.

—Então seus procrastinadores de classe média, vamos tratar de começar essa bagaça... -Cássio ignora Marcos e Fábio na sala e vai direto para a cozinha.

—Acho melhor irmos... - me direciono a Paulo.

Ele coça os olhos um pouco e boceja. Ele espreme as têmporas, ele estava meio trêmulo. Ele disfarça um pouco e sorri.

—É... Melhor irmos mesmo.... -ele apenas se levanta do sofá e vai.

—Vamos organizar isso! -grito indo até a cozinha e evitando o estranhamento entre mim e o Paulo.

Eu evito ele durante todo o dia. Mas ele diz algo que me faz acordar um pouco sobre Cassandra quando estamos a sós. Isso me fez ver que eu também estava sendo um mal amigo.

—Sabe… Vocês moram perto… -ele diz tomando um refrigerante e pintando um olho em um dos espécimes escolhidos para o estudo- Você devia estar estudando com ela… Na sua casa ou na dela.

—Eu sei cara… -respondo- Mas eu mal consigo falar com ela, ela cria uma barreira enorme entre mim e ela… -eu me lembro daquele sorriso que eu consegui arrancar sem querer de seu rosto pálido- Ela não me deixa chegar perto dela....

—Mas você fez alguma meta ultimamente? -ele pergunta com aquela cara de contador.

—Sim e não… -me lembro do meu surto contra o meu diário.- Eu quero descobrir do que ela mais gosta alem de ler e se atrasar para o vôlei! -rio discretamente.

—Mas obvio! -ele esfrega isso na minha cara- Você não tem se esforçado para estar lá na vida dela vinte e quatro horas por dias… Eu se fosse você e estivesse mesmo desesperado por notas como você diz… Estaria ligando para ela e implorando por uma aula nesse exato momento! Você sabe que vamos ter um teste de biologia antes do trabalho na quarta não é?

—Sei, mas… -fico vermelho- Eu não quero invadir a vida dela!

—Sua missão é invadir a vida dela! -ele faz cara de confusão. Ele olha no celular e vê as horas- Nossa, já são seis e meia! Melhor eu ir! -ele se levanta rapidamente- Olha Dani… Eu já terminei minha parte aqui… Se eu fosse você nem ia aparecer aqui depois do treino amanhã… Se falar para o Cássio o que vai fazer, ele com certeza vai morrer de raiva e pode ser que até reconsidere mudar de ideia sobre a aposta, já que ele vai achar que vai perder… Só tente cara... -ele dá um tapinhas no meu ombro e vai saindo juntando as coisas na mochila- Sei que vai conseguir…

Eu me despedi deles assim que terminei de fazer a minha parte as oito da noite. Eu cheguei em casa e dei um beijo na testa de Júlia que se dedicava ao seu trabalho de meio expediente: Scrapbooks e decoupagem. Na verdade Júlia trabalhava como consultora em uma agencia de Publicidade. Ela decidia as locações ou aprovava as ideias de uma campanha famosa ou não. Ela praticamente cuidava dos detalhes e ganhava um monte por isso. Júlia era uma deusa e mais do que uma dona de casa, ela era dona de uma natureza artística verdadeira. Os Scrapbooks eram uma forma dela relaxar, afinal eu era uma bomba relógio, e meu pai um fantasma de terno de corte inglês. As vezes acredito e com propriedade que se ele me dissesse que é o Batman eu acreditaria.

Eu por alguma razão me sentia sem vontade de ir para a minha cama e simplesmente dormir. Eu precisava de alguem para me aconselhar. E enquanto eu ia até a cozinha eu via ela toda concentrada picando pedaços de papel bem pequenos em formato de coração. pegando fotos antigas de uma vizinha com o seu novo bebê e transformando na coisa mais bela e caótica no meio das frutas da mesa e o conteúdo que meu pai faria para o jantar: Asas de frango assadas na maionese, sua especialidade, na verdade era a única coisa que ele sabia cozinhar.

—Júlia… Você já passou por isso? -eu pergunto de repente enquanto ela ela faz as dobras de uma flor de lótus.

—Isso o quê? -ela responde sem perder a concentração - Não leio pensamentos Daniel…

—Ah… É mesmo… -respondo, vendo que não falei nada a ela- É que eu conheci uma garota na escola… E pedi para ela me ajudar a estudar…

—Continue… -ela dá um discreto sorriso- E ela é bonita?

—Bom… Ela é… -eu fico um tanto quanto embaraçado- Ela é exótica, de um jeito agradável, bem….

—Tudo bem falar “gostosa” na minha frente Daniel, você é um homem, homem falam besteiras o tempo todo. -ela riu do meu claro constrangimento.

Mas ela até que era… Bem eu não pensava nela daquele jeito, mas sim, ela tinha uma beleza extremamente natural, mas que ela cobria com uma camada grossa de maquiagem preta nos olhos.

—Eu… Eu não vejo ela assim. -eu sorrio amarelo- Eu gosto dela… -ela me lança um olhar maroto- Não é isso! Gosto de estudar com ela! Gosto como pessoa… -a frase desceu rasgando em minha garganta, afinal, gostar de alguem como pessoa soava arrogante e propenso a superioridade.

—Bem… Eu queria ligar para ela e combinar de estudar com ela nos finais de semana, mas ela é muito fechada, não gosta muito de falar muito com outras pessoas, ela mal presta atenção quando você está por perto, está sempre lendo, eu me sinto invadindo sua vida…

—Tem certeza que é uma garota quem está descrevendo? Para mim parece que está descrevendo seu pai… -vejo a garrafa de vinho aberta pela metade. Ela sempre fica mais alegre quando bebe e faz seus artesanatos.

—Já bebeu demais senhorita! -eu retiro a garrafa da mesa, e beijo sua bochecha- E não esta me ajudando muito… -dou um gole direto do bico e ela salta da cadeira para me repreender.

—Crianças não bebem! -ela arranca a garrafa de mim e tropeça quase caindo- Só quando não tem ninguém responsável em casa! -ela ri e mostra a língua. Júlia é uma criança quando bebe.- E sobre a garota… -eu começo a retirar parte do papel da mesa e desço com as panelas e os temperos que eu usaria para fazer o arroz- Ah! Tire o alho e a cebola da geladeira e pique para mim por favor querido? -faço o que ela diz- Ah! Sim! A garota! Acho que o melhor passo para conquista-la seria explicando para ela amanhã, na escola, -ela fala de jeito bem espaçado e sugestivo- que você precisa de mais ajuda… Diga que é importante para você e para ela…

—Ju-Júlia! -percebo o seu tom de voz insinuante demais. Eu simplesmente me viro pico as coisas e continuo em silencio e na cor de um pimentão. Coloco o óleo e a cebola para fritar.

—O que foi? -ela parece extremamente incrédula- Eu só ia dizer para usarem camisinha! -ela revira os olhos.

—Tenho 17 anos e nenhuma namorada! -eu me defendo gaguejando.

—Isso nunca foi imposição para ninguém… -ela retruca com um sorriso demoníaco nos lábios.

—Eu só não quero que fale para o meu pai, -eu respiro fundo- ele não gosta muito quando eu faço esse tipo de coisa, sabe, encontrar as pessoas no fim de semana… -meu pai odiava meus amigos, e odiava que eles ficassem o tempo inteiro comigo.

—Entendo… -ela virou a garrafa na taça e encheu até a boca - Tudo bem, eu não falo nada.

Meu pai chega e vai largando as coisas pela sala.

—Nunca pensei que ficaria tão feliz em chegar em casa! -ele lava as mãos na pia da cozinha. - O transito é um inferno e as reuniões uma coisa chata… -ele estava de bom humor. Isso era raro, mas cozinhar sempre o deixa alegre- Oi Júlia! -ele beija a testa dela depois recolhe a garrafa vazia- Olá Daniel! -ele pega em meu ombro enquanto eu jogava o alho e a cebola no óleo quente.

Juro que quase senti meu coração pular. Afinal faz dois anos e meio que não vejo uma demostração verdadeira de carinho.

Hoje tive um jantar de verdade com a minha família, não rimos nem nos estranhamos, por um momento. Meu pai fechou um contrato enorme na empresa e estava muito feliz. Isso era um milagre, mas não me importaria de que se repetisse.

Depois de jantar, eu subi ao meu quarto e depois de tomar um banho eu a vejo pelo telescópio, no quarto cercado de alguns instrumentos, telas, tinas, caixas de som, pinceis e etc. Ela parecia experimentar algo. Estava com um olhar perdido e melancólico diante do microfone e usava fones de ouvido com orelhas de gatos. Ela acompanhava as batidas e trocava de instrumentos: do violão, para o teclado, do teclado para a mesa de batidas, e mixava algumas coisas no meio com o baixo do lado.

Ela se porta de maneira bem austera diante do microfone.

"Que musica deprimente da Lana Del Rey ela vai cantar?" penso ao olha-la daquele jeito.

Começa a cantar algo fechando os olhos. Depois de repetir o que parece ser o refrão de inicio ela explode, jogando a base do microfone para trás e pulando e dançando, fazendo poses de rapper.

Eu rio sem parar sozinho no meu quarto por que é engraçado as caras e bocas que ela faz.

O seu fone de ouvido tem um fio longo que enrosca em seu pé esquerdo em uma das suas partes da performasse e ela cai.

De repente a rua inteira se enche com o som da batidas e da musica, o barulho é infernal.

"I'm ain't happy

I'm felling glad,

I got a sunshine in a bag,

I'm uselles, but not for long...

The Future is coming on..."

Eu ouço a musica e paro de rir quando começou a ficar estridente, começo a passar mal, já que a musica ressoa em meu cranio e parece quebra-lo em pedacinhos.Desmaio no meu quarto... A musica para cinco segundos depois.

Ouço o meu pai murmurar algo próximo a mim:

—Por favor Senhor.... Apenas me diga que foi ela quem voltou....


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Notas finais do capítulo

Comentem!
Alias, me digam o que acham da playlists que eu posto? Aprovam ou não? Estão gostando de ter musicas acompanhando o capitulo? Para mim pelo menos é um grande recurso para acompanhar os sentimentos de cada personagem, e geralmente as letras falam como eles se sentem.



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