50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 4
Dia 43: Falsa admiração. Ou como levar uma surra da sua própria ingenuidade.


Notas iniciais do capítulo

Posso dividir minha experiencia com o Daniel ultimamente:
Daniel anda sendo um pequeno desafio para mim e uma surpresa maravilhosa, por que ele ao ser vitima de sua própria falta, acaba me motivando a ir completando o que ele não se lembra. Eu acabo não sendo uma autora, as vezes sinto que sou apenas a garota que roubou os diários dele quando eme não estava vendo. E isso me deixa feliz. Por que vocês também se sentem felizes, obrigada por tudo! Seus comentários são maravilhosos!
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Dia 43

Parte da minha escrita estranha nesse diário, é devido aos conselhos da minha professora de português e literatura. Eu sempre tive dificuldade em escrever formalmente. Então ela me disse que até eu aprender a escrever um texto dissertativo argumentativo corretamente eu teria que praticar escrevendo coisas do dia a dia formalmente. Isso me fez pensar em várias coisas. O que era apenas um exercício virou um hábito, aos poucos minha escrita se tornou obsessiva e compulsivamente formal. As vezes me vejo as voltas com os velhos hábitos… O que já não me deixa tão nervoso, já que foi apenas através desses modos que aprendi a me expressar de forma menos rude e estupida. Me vejo um pouco como ela, Cassandra… Perdida num mar de ignorância e superficialidade, onde preferi apenas seguir o fluxo e nadar apenas para não me afogar. Ela prefere nadar, mas as vezes perde a força e se deixa levar. Ela é inteligente e profunda, mas se força a não ser. Ela é o meu oposto. E um desafio, ah… Isso ela é!

Estou mais tentado a descobrir quem ela é depois dessa semana… Quero quebrar a sua carapaça e descobrir o que tem dentro dela. Ela me surpreendeu. Ela me deixou ver um lapso de si mesma em uma rachadura de seu ser e eu gostei de olhar para o que estava lá dentro. Ela sorriu para mim e foi verdadeiro.

Já não odeio tanto o Cássio, mas sinto falta da jogatina no fim de semana, se eu não estivesse tão encrencado, com certeza o agradeceria por me apresenta-lá. E provavelmente jogaria todo o meu dinheiro fora mais uma vez. Eu realmente preciso aprender a jogar…

Depois do meu susto naquele dia (mais conhecido como quarta feira passada), resolvi entrar de cabeça na aposta e desta vez era sério. Preferi ignorar gentilmente o Paulo, sem que ele acabasse gerando alguma suspeita sobre mim, mas alguma hora eu teria que o enfrentar frente a frente e discutir seus problemas.

Mas voltemos ao meu primeiro encontro com ela. Como havíamos combinado, fomos estudar no dia seguinte. E ela me levou a biblioteca. Ela estava com o uniforme do time de vólei, mas só fui perceber isso depois de um certo tempo quando tropecei sobre ela.

—Desculpe, -digo sem exitar. -e me viro para ver em quem tropecei.

—Talvez eu te deva desculpas, afinal eu não deveria deixar meus pés esticados na passagem. -ela responde- Eu deveria te agradecer, afinal quase perdi meu treino, se não fosse você, eu não teria olhado para o relógio. E visto que estou atrasada… Mas entrei no time e já tenho a péssima reputação de estar sempre atrasada. -eu massageio o meu cóccix. e rio- Eu venho aqui em busca de distração e me perco nas horas… Sei que você faz isso também. -ela finalmente me estende a mão- Nem prestou atenção em mim nas várias vezes que caímos no chão. Não sou tão baixa assim... -ela me puxa de uma vez e ao me levantar o impulso nos fez ficar com os corpos colados. Na verdade quase cai sobre ela já que sou bem mais alto.

O silêncio se instaurou por alguns tempo. Eu fixei meu olhar no dela, tentando captar alguma nuance do seu humor estranho. Afinal que tipo de garota ela realmente era? A tímida resguardada, a triste soberba e calada, a misteriosa sarcástica? Eu não sabia, existia um magnetismo estranho dentro daqueles olhos de cigana pretos e densos como a sua maquiagem, seus cabelos e suas unhas. Observo-a sem esboçar emoção, apenas vejo quando ela desvia o rosto e abaixa a cabeça como um gato enraivecido. Percebo que a constrangi novamente. A deixei vermelha, pois sem ver coloquei uma mexa de seu cabelo espigado e caótico atrás de sua orelha e a vi morder os lábios ligeiramente grossos com força.

—Viemos para estudar Senhor Diniz, ou me arrastou até aqui com segundas intenções? -ela se senta em uma cadeira vazia onde seus livros e cadernos estão jogados.

—Atrair? Você quem combinou de estudarmos juntos, alias, seu bilhete quase me pareceu uma ameaça. -respondo me sentando ao seu lado, porém mantendo uma distancia segura.

—Você falou com todos os professores e disse que queria que eu fosse tutora. Se não fosse por meus pais eu não aceitaria… -ela apenas me fuzila com o olhar- Mas algo me fez relutantemente te dar uma chance. Se realmente precisar de ajuda…

—Mas eu preciso, eu sou idiota! Viu as minhas notas? -suplico exageradamente- Eu sou um meteoro em colisão direta com a Terra! Física é matemática que é outra coisa que eu não sei, Química me deixa perdido e confuso, mal sei o que é um Haleto, imagina uma função. E em relação a biologia… -nessa hora eu mesmo fico vermelho pois eu acabo me distraindo com a professora Samanta e sua comissão de frente exageradamente grande- Eu não consigo me concentrar….

—Tem razão… -ela deixa os olhos esbugalhados- Não existe menino algum que não pare de olhar para os seios da professora. Aquilo é hipnótico… -ela demonstra um traço de humor- Ainda bem que eu estou protegida. Mas admito que até para mim é difícil desviar o olhar…

—Claro! -entro na brincadeira- Eu não vejo a explicação por que quando ela se vira, perco metade do quadro! -nós dois rimos primeiramente de forma disfarçada depois somos contagiados pela risada histérica um do outro.

—Soube que ela dorme de bruços… -ela completa- Agora imagine como devem ter feito o colchão que ela usa! Melhor ela deve usar um guindaste para se levantar de manhã! -rimos mais um pouco e eu me fixo meus olhos nos dela que tenta segurar aluns risos resultando em gruídos fofos. É como se nos conhecêssemos há anos, até mesmo aqueles grunhidos parecia que eu já tinha os ouvido de algum lugar.

Quando já estamos procurando por ar, eu vejo o sorriso dela morrer. E ela baixa a cabeça, como se uma nuvem negra pairasse sobre ela. A morte de um sorriso não é nada bonito, envolve uma tristeza profunda, uma perda de intimidade ou então uma decepção enorme. Mas por alguma razão eu matei o seu sorriso. Parecia que ela tinha algo contra mim. Mas no fundo, no fundo eu também estava me esforçando mais do que eu deveria para ganhar essa aposta.

—Eu… Gosto de você. -digo displicentemente abrindo os livros como ela estava fazendo- Só senti que você precisava de um amigo… Nada do que eu fiz por agora eu fiz por mal, me desculpe. Eu preciso realmente de ajuda. Me desculpe de novo…

—Esta me fazendo sentir pior com tantas desculpas. Mas eu sou assim, por alguma razão nunca estou próxima das pessoas por mais que elas estejam próximas a mim… Deve ser um maldição que alguma bruxa pôs em mim quando eu era um bebê... Um mal da Lua… -ela disse e por alguma razão minha própria mente começou a flutuar. Em algum lugar do meu subconsciente eu já tinha vivido todo esse momento e essa frase estava se repetindo. Por um breve momento senti a sala girar, mas eu me segurei.

Ótimo, agora eu estava voltando a ter crises bestas. Por quase um ano e meio sofri com isso, um lapso da perda de memoria, um efeito colateral que eu jurei ter superado. Mas que agora voltou com uma força horrenda, eu realmente não quero voltar a ver psiquiatras que me encheriam de drogas e me deixariam sonolento.

—Mas você me perdoa? -pergunto vendo os olhos delas se fixarem nos meus, reparei que seus olhos eram negros assim como todo o resto em seu ser.

Ela sorriu para mim. E dessa vez foi verdadeiro, um acalanto o meu coração confuso e a minha mente mais confusa ainda. O sorriso se transformou em uma elevação dos olhos e da cabeça que em que ela a jogou para o lado esquerdo e mordeu novamente o lábio, ainda com o sorriso. Isso a deixava bonita, parecia algo que ela fazia sem pensar, mas que a fazia sexy.

— Apenas abra na pagina 70 e vamos começar. -quando ela disse isso, foi como ver a luz de um farol depois de dias perdido no mar. Eu quase pude ver uma pequena camada de sua brilhante alma.

Eu apenas vi ela novamente morrer e voltar a vida em cada traço de humor em que ela mostrava amigável. Ela era interessante... E eu agora me sentia motivado. Afinal aonde eu acharia outra garota que já leu "Crime e Castigo" 5 vezes? E realmente e entendeu? Acho que nunca.

Na verdade acho que já tinha meu próximo passo: descobrir seus filmes favoritos e que músicas ouve.

Tirando o que aconteceu nesse mês. Eu desbloqueei alguns personagens novos no Tales of Fênix. Talvez eu consiga uma arma épica no final dessa quest. A lendária luva de Niex, uma das três rainhas fênix. Ela é a guardiã da fumaça da ressurreição. Tem uma asa de anjo e uma de demônio. Ela tem os poderes das trevas e da luz concentradas na luva. Ela é descrita como "A Temperança" . E seu desenho nunca foi revelado totalmente, rumores dizem que com a próxima expansão no final do ano ela vai ser revelada. De todos os personagens ela é uma das mais interessantes no quesito história. Como suas irmãs ela é uma das guardiãs da orbita de chama eterna. Evalion tem asas de anjo e é a mais nova. Ela é a guardiã das brasas da justiça. E é a guardiã das trevas e das cinzas do arrependimento. Savox é a mais velha e tem asas de demônio. Segundo a história do jogo elas sempre foram muito próximas, até que os poderes se manifestaram e elas nunca mais puderam se aproximar, um único toque as mataria. Evalion correu o mundo tentando achar um jeito de poderem se abraçar novamente. Niex se isolou no fundo das florestas da Solitude e Savox foi possuída pelo desejo de ter todo o poder para ela, um gesto nobre que libertaria suas irmãs de sua triste sina, porém com o tempo ela se tornou apenas má, pois as trevas a compeliram a destruir a Terra.

Savox enganou Niex, dizendo que se ela destruísse a grande orbita, o poder seria dividido igualmente entre elas, e Niex obedeceu, retirou uma de suas luvas gigantescas e destruiu tudo. Porem isso quase a matou assim como enfraqueceu Evalion que voltou. Niex arrependida se isolou para sempre destruindo e deixando a sua luva perdida em algum lugar, podemos reconstituir uma versão da luva se completarmos a quest. Evalion chegou e fez uma magia com a luz para reconstituir a orbita, mas tudo que conseguiu foram milhões de orbs menores. Que é justamente o que recebemos assim que o jogo começa e o objetivo é juntar o maior numero possível para que você se torne Rei de uma parte da Terra.

Nem sei por que eu encho essas páginas com isso, não faz muito sentido, já que isso é um diário romântico… Na verdade eu nunca paro para pensar nas minhas ações até cometê-las, mas quando as cometo eu não as desfaço a menos que seja prejudicial de alguma forma. Parando para pensar no que escrevi há uma hora e o que estou escrevendo agora, percebo que estou exausto e errado em diversos níveis sobre diversas coisas.

Percebi que nesses meses todos os meus amigos estavam se tornando pequenos ladões da verdade, e que isso de alguma forma estava sempre relacionado a mim, eu citei os erros acima por que parando para pensar agora, eles querem que eu cometa um erro. Na verdade relendo o que eu escrevi no começo dessa página, percebo o quão bobo estou, admirando aquela garota estranha. Ela nunca vai corresponder o que eu ousar sentir da forma que eu sentir por sermos completamente divergentes. E daí que ela gosta de ler, isso não a torna uma Vênus de milo perfeita… Muitas pessoas leem hoje em dia… E dai que ela fez uma piada com a professora obscenamente repleta de busto, isso só prova que ela é uma adolescente e humana no fundo, no fundo.

Recordando-me agora do passado, Cássio já fez isso uma vez comigo. Fazia pouco tempo que eu o conhecia e ele apostou comigo que eu não iria beijar uma garota da sala. Eu fiz isso só para não pagar dois reais para ele depois de perder nas damas para ele. Eu ma apaixonei por essa menina e esse foi meu erro. Ela me deixou de coração partido a ponto de eu chorar por três semanas depois de socar o Cássio em um briga histórica que quase me fez desistir de sua amizade. Paulo me tirou de cima dele, eu me lembro bem, Marcos o segurava pelos braços com força enquanto Fábio acalmava as coisas. Ele quer que eu me apaixone de novo, até escolheu uma garota com qualidades subjetivas que eu admiraria sem exitar e entregaria facilmente meu coração a ela.

Eu era inocente e sensível. Ainda sou. Eu sou o burro que por alguma razão ainda acredita na bondade e honestidade humana e chora por garotas que ele saiu por apenas uma semana, que tem um amigo que provavelmente se droga, que tem outros que só querem se manter neutros o que o irrita, pois ele só quer ver o mundo queimar com a mesma intensidade que ele quer a paz em sua mente conturbada e com um outro amigo, -o mais desprezível de todos que este odeia e o inunda com pensamentos homicidas- que é que o engana constantemente para que ele seja apenas um boneco em suas mãos.

Eu sinto ódio de mim mesmo por ser assim quase sempre quando percebo que fui enganado, por que em parte não tenho memoria de minhas experiências passadas. E isso me torna suscetível aos golpes de quem me tem mais próximo. Me pergunto o por que de eu ter ficado assim, qual o castigo cometido por mim para isso. Metade desse ódio eu transfiro para a pilastra do meu quarto as vezes, quando me sinto sozinho, geralmente é uma falta que eu sinto, especialmente com o meu pai, que antes se esforçava para me conhecer e me aceitar como seu sou agora e hoje simplesmente me ignora por que assim a dor se torna apenas um incomodo. Sim , eu deveria sentir um ódio alucinante as vezes, mas por compreendê-lo em sua caótica construção de ser humano que quase perdeu tudo, eu só o odeio nesses dias solitários.

Com o sono que eu estou agora devo estar escrevendo besteiras que me arrependerei amanhã, mas por hoje vou deixar fluir todas essas frustrações e pensamentos desconexos, por que isso que continua -em grande parte desde o acidente- me mantendo vivo até hoje.

Boa noite único amigo verdadeiro que me entende. É uma pena você ser só papel.


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Notas finais do capítulo

Me perdoem se o acharam um pouco estranho nesses capitulo, isso é apenas ele tentando lidar com seus sentimentos. No fim todos nós somos um tanto instáveis, quando não entendemos os mundo a nossa volta. E sim, sobre Tales of Fênix, não é só enchimento de linguiça, vai fazer sentido no futuro.
Comentem se gostarem.