50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 2
Dia 49: conversa rápida, algumas surpresas e uma lembrança.


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora pra postar, estou trocando a minha internet por uma um pouco mais rápida e os técnicos não vinham nunca!
Desde já agradeço a paciência!
Playlist de hoje:
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8 track: http://8tracks.com/laribhaven-70/50-50-51-2



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Dia 49

Resolvi escrever um diário. Mas diferente daqueles que o meu psicólogo me obrigava escrever para me ajudar a liberar a memoria. Mas esse era apenas para mostrar o Cássio que eu fingia que ia cumprir a aposta que ele me fez…

Com as minhas notas afundando em Química era bem mais provável eu conseguir pegar aquela garota e namora-lá do que realmente me salvar da divida enorme que eu tinha.

Paulo me ligou ontem a noite enquanto eu jogava Tales of Fênix no computador, meu MMORPG favorito… Eles disse que a melhor estratégia era tentar descobrir algo sobre a garota nova e tentar criar metas. Mas eu sou um zero a esquerda nesse quesito. Eu ia tentar fazer tudo que eu queria, principalmente juntar dinheiro. Eu precisava pensar no que fazer para Cássio me livrar da divida. As 3:32 da manhã eu vou dormir.

Acordo sobresaltado as 06:45 da manhã atrasado para aula.

—Ficou acordado até tarde não é pirralho! - Júlia disse nervosa enquanto eu descia vestindo a camisa- Se suas notas despencarem mais eu vou tirar até a sua medula óssea! - Ah! Júlia, tão adorável e doce pelas manhãs….

—Não dormi tarde Ju… Eu sempre acordo assim! -ela me fuzila com os olhos e serve o café na mesa para o meu pai, que como sempre, está lendo jornal- Oi pai! Como vai o dia?

—Atrasado! -ele disse olhando para o relógio e saindo engolindo o café e dando um beijo na cabeça de Júlia.

É meu pai é o tipo de pessoa que nem lembra que o filho existe, a menos que realmente precise se lembrar. A morte da minha mãe foi algo que deveria nos unir, mas isso só durou um ano. Acho que se a Júlia não fosse tão legal comigo, eu não seria uma pessoa suficientemente equilibrada para lidar com isso.

Gosto da aulas de literatura, elas realmente me influenciam. A professora Marilene diz que eu tenho um certo talento para escrita. É a única matéria que realmente me saio bem, pois quase não tenho que fingir. Sou bom em argumentação e sei criar textos concisos nas aulas, porem eu era péssimo com poemas. E digamos que ter que fazer analises sobre eles é um tanto chato. Juro que agora que estou lendo sobre a 3 faze sobre modernismo, me sinto ainda mais confuso e perdido do que nunca. Lêdo Ivo não me diz nada que eu consiga entender. Deve ser algum tipo de trava sentimental que eu tenho dentro de mim. Minha ultima psicóloga, já me deu um livro com poemas bem depressivos. Ela disse que eu ia estudar sobre Augusto do Anjos e depois me recomendou um exemplar de Carlos Drummond de Andrade, que eu sei que no fundo, no fundo sei não tem nada a ver com Augusto dos Anjos. Não entendi bem o que ela quis dizer com aquilo. Ela aparentava ser mais louca do que eu. Talvez fosse.

Eu toquei nesse assunto por que estava no meio de uma dissertação enorme sobre o “A influência das mídias no consumismo”. Quando reparei que ela lia um exemplar bem mais antigo e bem conservado do Augusto do Anjos que eu tinha. Isso já me era um ponto a favor se eu queria começar uma conversa com ela.

Tomei coragem, -depois de terminar de escrever meu texto- e aproveitei que ia levar meu caderno para a professora olhar e então vi o poema que ela lia: “Versos Íntimos”. Só um de seus mais famosos e mais clássicos poemas.

—“Se a alguém causa inda pena a tua chaga,” -começo a citar perto dela-” Apedreja essa mão vil que te afaga,” -ela assustada me olha nos olhos e fica sem entender- “Escarra nessa boca que te beija!” -eu dou meu melhor sorriso e digo- Eu tenho esse livro lá em casa, mas eu não sou muito pré-modernista…

—É… Pena que não é uma escola literária verdadeira. Eu geralmente transito entre a segunda e a terceira fase do modernismo… -ela olha para mim com uma certa frieza e continua a pousar seus olhos no livro- Gosto de acreditar que as vezes temos que voltar as origens para entender o futuro…. As vezes eu volto só um pouco, as vezes volto em tempos longínquos no passado e me espelho nos mestres para alçar voos no futuro.

—De quem é esse poema? -pergunto bobo, achando que ela na verdade leu em algum lugar.

—Ninguém…. É sou só eu, sendo uma pseudo intelectual e me esquecendo que isso é uma sala de aula, não feira renascentista.-ela baixa o rosto de uma vez com um leve cansaço na voz. Aquilo parecia um treino para falar com alguem mais culto e inteligente que ela, quase como se ela se forçasse a ser o tipo de garota esteriotipada que vemos em livros e filmes- Vai, fuja! Salve sua vida e me ignore como os outros antes que eu te constranja mais ainda. -ela disse num fio de voz. Estava vermelha e com um sorriso irônico no rosto.

Ela parecia desconfortável com aquele monte de gente olhando para nós. Todos pareciam curiosos para o desenrolar da trama.

—Ninguém aqui está te ignorado… -digo apos uma longa pausa, me sentando em sua mesa- Todas as pessoas querem falar por você, por que você parece ser a coisa mais interessante dessa escola em anos. -eu dei um sorrisinho e a professora me entregou o caderno.

—Muito bom Daniel, como sempre, mas maneire nos “lugares-comuns” ok? Não precisamos de explicações elaboradas nesse texto. Apenas sua opinião direta.

—Obrigada professora. -digo me levantando da carteira dela- Vou prestar mais atenção.

—Seu texto ficou perfeito Cassandra. Nunca vi alguem com opiniões tão fortes em relação a esse tema… Muito bem construído, conciso e com argumentos que realmente me convenceram; passaria no Enem facilmente… -ela devolve o caderno a Cassandra- Finalmente alguem com textos que batem os seus Daniel. Com certeza, meus melhores alunos…

—Obrigada professora Marilene. Muito gentil da sua parte.

Sentei-me novamente na cadeira.Aquela não seria fácil de dobrar. Eu precisava de um curso de ação. Mas não sabia como.

~~^^~~

Sai com os garotos hoje a tarde. Nos reunimos para fazer os trabalhos de biologia na casa do Fábio. Eu fui de bicicleta por que nó vivemos em um conjunto residencial e onde ele vive, é duas ruas abaixo da minha. Na ida foi tudo bem, mas na volta eu a vi dobrando a esquina. Ela estava em um skate fazendo alguns flipbacks e depois entrou em uma casa que fica do outro lado da rua a apenas duas casas depois da minha. A casa estava cheia de caminhões de mudança e caixas que entravam e saiam da casa. Ela se mudou para a casa que fica na mesma rua que a minha. Parecia destino. Me lembro que faz anos que a casa para a qual ela se mudou ficou vazia. Parecia que alguem sempre a mantinha em ordem, mas estava vazia. Eu sempre senti algum tipo de curiosidade em relação a aquela casa, mas nunca soube explicar o porque.

Um carta vez eu invadi o jardim, fazia dois meses que eu tinha saído do hospital e a casa já estava vazia antes disso. Eu andei pelo jardim enorme e entrei em uma estufa onde rosas eram cultivadas. Havia uma pessoa lá, uma mulher de cabelos muito escuros e olhos oblíquos, eu me assustei quando ela me pegou lá, mas ela apenas assentiu com a cabeça e sorriu. Ela me viu encarar uma rosa negra. Eu nunca tinha visto uma nascer em um jardim. Devo ter ficado lá por vários minutos observando a rosa que crescia separada das outras, triste, solitária em seu própria tristeza eterna já que é uma especie rara e que não se dá muito bem, ao se misturar com outras colorações de flores. A rosa negra era a rosa de um luto, mas que assim como eu não sabia por que o carregava, ela apenas era assim.

A moça então respirou fundo quando viu que eu sorri e disse: “Ela é tão triste, mas tão bonita!” Ela apenas me olhou e sorriu. Cortou a rosa e me entregou com lágrimas nos olhos dizendo:

—Espero que me perdoe garoto, mas vai ter que sair… -ela simplesmente se virou e trancou o portão.

Nunca mais eu vi alguem abrir os portões do jardim. Na verdade, nunca mais eu vi alguem andar pela casa.

Afastei a ideia de minha cabeça e Fábio me deu uma luz:

—Nossa ela mora por aqui no nosso condomínio! -ele deu a volta com a bicicleta a meu redor- Eu soube que as notas delas são sempre perfeitas. Se ela pudesse te ajudar com as notas, teria uma desculpa para ficar perto dela.

Eu tive a brilhante ideia de pedir aos professores que ela fosse a minha tutora. Eles aprovariam com toda a certeza, já que buscavam a “integração dela no âmbito escolar”, queriam que ela fizesse amigos, já que era muito anti-social.

Passei o resto da minha noite jogando Tales of Fênix. Eu tinha acabado de desbloquear mais uma das quests básicas da saga de Avilon, assim que eu terminasse essa eu ia ler mais um pouco de “O Vampiro de Curitiba” do Dálton Trevisan para o trabalho de português, desse livro eu até estava gostando. Devo ter dormido as 4:34 da manhã, mas valeu a pena, eu não teria curso algum a tarde e poderia dormir a tarde sem problemas.

Mais um dia começando, o que me lembra que eu devo escrever o que aconteceu nesse dia na próxima página para não me confundir.

Eu realmente preciso parar de dormir tão tarde, ou uma hora vou dormir e não acordar até o fim da tarde.


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Notas finais do capítulo

Comente se gostaram e por favor me avise sobre qualquer erro!