50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 10
Dia 37: Odeio os dias sem ela. Dor de cabeça do cão e não quero falar sobre o resto.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!



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Dia 37

Que droga! Isso não esta dando certo! Eu sonhei que Janice me esperava no quarto de novo, fizemos coisas… Se continuar assim vou ter que tomar banho no gelo. Isso esta fora de controle.

Mas tirando isso, eu tive um dia relativamente calmo. Só ela que estava um pouco murcha, mas isso é claro era o seu normal. Ela evitará falar com todos durante todo o dia, novamente normal. Eu tentei falar com ela, mas Cássio me arrastava para falar que de quantas partidas de poker ele perderia naquele dia, e de como seria difícil esconder cartas na Caixeta. No fundo Cássio é mais viciado do que eu em jogos (Sim eu estou com inveja, me condene por isso).

Ela disse que me emprestaria CDs hoje, mas por causa da contusão na perna ela não apareceu. Ela ia mais cedo para casa dela já que teve que sair do time de vôlei, isso ela não me falou, mas ela já estava planejando sair justamente por estar sentindo muitas dores na perna. Ia fazer uma consulta ao médico na semana que vem para ver se ela tinha machucado algo. Mas os professores disseram que ela machucou os nervos, viram quando a perna desinchara ontem e ela vai precisar de fisioterapia.

Me lembro da minha antiga fisioterapeuta, eu quebrei o braço e desloquei as costelas no acidente. Tudo era mais fácil, mais colorido e mais bucólico nesse mundo burguês que eu e vivia. Meu pai gostava da Lorraine, mas quem não gostava, ela gostava de todo mundo… Mais dos homens que acompanhavam seus filhos do que dos pacientes… Destruiu casamentos pelo caminho, então eu nunca mais vi nunca mais vi a Lorraine com os mesmos olhos. Algo soava falso naquela mulher tão atenciosa, ela nem se despediu de mim quando terminamos a última sessão. Mas talvez fosse só culpa dos meus remédios.

Mas no fim foi até bom, eu conversei com os garotos, voltei a me aproximar de Paulo, embora ele parecesse que ele estava distante. Não só de mim ou dos meninos, mas do mundo. Ele só concordava e suspirava, fingindo ler um livro de sobre Sarte. Freitas agora ficava esperando por ele na porta, não sei bem o por que, mas ele esteve sempre por perto agora. Como um Serial Killer…

—Não aguento mais reler Machado, essa lista de vestibular tá fogo! -comento.

—Deveríamos ter matado essa aula, -Fábio suspira- Odeio o circulo de leitura…

— Dizem a mesma coisa o tempo todo, que é nossa faculdade em jogo e blá, blá, blá… -Paulo riu participando uma última vez da conversa.

—Meu Deus! Vocês não tem o menor apego a nada? -Cássio usa seu olhar de superioridade.

—Na verdade não… -Marcos responde- Eu sou mais o tipo viva o momento!

—Quero ver ganhar dinheiro com esse pensamento... Seu hippie! -eu digo em tom de brincadeira.

—Eu não entendi o tom de escárnio senhores! -ele só faltava pentear o cabelo na nossa frente, Cássio não poderia ser menos leonino- Isso é serio! Temos que estudar isso vai cair na Uni…

—Por favor pela nonagésima oitava vez não fale “Universidade” , isso já não esta lá essas coisas… Hoje eu posso montar uma micro empresa se seu souber administrar bem, eu sou um empreendedor! -Fábio disse isso.

—Trabalhar 4 horas por dia por um mês na empresa do seu pai, não te faz um “administrador” -eu não resisto e falo.

—Você só está assim Cássio, por que quebrou o braço e quer atenção! -Fábio quase gritou para a sala, e eu juro que Cássio encarnou uma atriz de drama grego.Cássio, sem ataque de pelancas!

—Gente qual a necessidade disso? Só leiam! -Marcos tentou apaziguar os lados, já que Cássio ia pular no pescoço de Fábio.

—É … -Paulo murmura- Você tem toda a razão...

Nesse momentos nós paramos. Nem parecia que ele estava ali o tempo todo. Estávamos perdendo nosso amigo.

Mas não quero mais falar sobre isso, essa nuvem negra já passou. Até por que o Cássio bateu com o braço na carteira depois de gritar com a gente falando que eramos todos “retardados vagabundos” e todo mundo riu por dez minutos.

—Até o fim do ano a gente te compra uma fantasia de baiana… -eu digo rindo quando estava quase acabando- Por que você adora rodar a baiana!

—Eu vou matar você Daniel! Isso -ele geme de dor- Isso não tem graça!

Nos quase caímos na gargalhada, mas eu vi sua cara de dor, e me senti um crápula.

Eu cheguei na sua casa e por um milagre Janice não estava, mas Cláudia estava e isso era bom, eu gostava dela, eu a vi na entrada varrendo o rastro de terra das patas da Lunablue, que mais uma vez me recebeu pulando com as garras expostas e cravando na minha carne. A gata me derruba no Hall de entrada e eu grito de dor. Cláudia vem com a vassoura de palha no mesmo momento ela corre para algum lugar da casa, eu estou para me levantar quando vejo um par de pernas numa saia estilo bicho grilo de pés descalços.

—Daniel? O que faz aqui? -era a mãe dela.

—Senhora Bastos? -me levanto em um segundo.

—Pode me chamar de Gaya, Daniel… -ela me ajuda a entrar- O que veio fazer aqui?

—Eu trouxe as matérias que a Cassandra perdeu, -mostro a mochila- Ela esta ai?

Posso ouvir o violão da sala de estar, assim como a sua voz. Ela canta algo tão baixo que não entendo, mas ouço a sua voz.

—Esta sim meu garoto, -ela por alguma razão afaga minha cabeça como um gesto natural, como se tivesse repetido milhares de vezes- ela está la em cima. Mas não pode descer ainda, os nervos estão sensíveis.

—Ah claro... - suspiro. Ela olha para as escadas comprimindo as sobrancelhas como se fosse algo ruim- Posso subir?

—Acho que não faria mal, não é? -ela suspira- Eu tenho que sair, mas volto em uma hora ou duas, faça companhia para ela…

—Bom, eu não pretendia ficar muito, mas já que insiste… -eu sorrio.

Eu subo até as escadas devagar e as palavras vão ficando mais claras..

— “Você é a garota mais complicada que alguem já poderia gostar, mas as vezes tenho que confirmar...Ele é um bunda mole que não sabe te amar…” -sinto que aquela melodia é estranhamente familiar, na verdade eu sinto meus dedos coçarem e se movimentarem sozinhos.

A tonteira vem de novo, se eu tinha alguma duvida que conhecia aquela música agora eu tinha quase certeza. As notas ficam mais claras como as da memória, mas as escadas turvas.

“Posso sentir as cordas nos meus dedos. Eu estou sentado no corredor do meu quarto, não sei bem o por que, mas estou trancado do lado de fora, com a garota que eu gosto do lado de dentro.

—Vai! Embora! -ela grita.

—Não posso, -sorrio para o violão- a casa é minha…

Eu começo os acordes novamente. Os mesmo que toquei no quarto naquele dia.

—‘Nirvana… Eu não devia falar, mas ele realmente era um cara de matar…’ -começo desajeitado- ‘Ele era um idiota imbecil, que não vê como você é gentil…’

—Grandes rimas Daniel! Palmas para a sua criatividade! -ela diz irônica.

—É obrigado, eu comprei um dicionário… -eu a irrito- ‘Nirvana, você é minha força, minha luz. Ele realmente esquece o quanto me você é louca, e qualquer um seduz’...

Eu lembro que era assim que começava. Lembro de rir das minhas rimas toscas que não lembro direito que fiz ou o que disse. Mas me sentia feliz, por que ela ia me perdoar”

Eu dou por mim batendo as costas na parede, ainda nas escadas. Termino de subir meio tonto, estava começando a desconfiar que ela estava desengatilhando minhas memórias, tudo por que se parecia com essa garota que eu gostava: Nirvana.

—DANIEL! -ela grita assustada me vendo na porta tonto, ela se levanta lançando o violão longe e vem mancando- O-o-o-o q-q-que fa-faz aqui tão c-cedo? -ela gagueja como se estivesse com falta de ar.

—Eu não fui para o inglês...Nem para a natação, a verdade é que vou ter que parar com uma dessas coisas… Vou pegar mais sessões -respiro fundo e ela mesma se acalma com o meu tom baixo e passivo- Deveria estar sentada… Essa perna deve estar doendo muito.

—Estou cansada de me sentar… -ela manca de volta para a cama- De me deitar… E de ler… -ela aponta para as várias pilhas de livros que ela tinha na cabeceira.

—Deveria tocar, você toca bem…-eu pego o violão do chão já melhor e entrego a ela- Eu… Eu tenho um violão em casa, mas não sei tocar… -me sento no lado da cama sem olhar para ela- Bom eu acho que sabia tocar, antes. E-e-eu não me lembro como tocar… -fico nervoso- Eu me lembro dos meus dedos se mexendo pelas cordas, e de fazer melodias fáceis… Acho que eu não tocava muito bem…

—Daniel? -quando me dou conta ela esta com o braço no meu ombro, preocupada- Você esta bem?

—Agora estou… -sinto uma lágrima quente no meu rosto- Obrigado por me ouvir.

—Trouxe o que eu vou estudar? -ela muda de assunto.

Aceno com a cabeça e tiro as coisas da mochila. Ela copia rápido. E tenta se manter acordada, mesmo com as minhas explicações chatas e rasas.

Quando me dou conta já é tarde, a mãe dela tinha ido no quarto dela ver se estávamos mesmo estudando umas 3 vezes. A lua já estava saindo, e eu vendo meu pai dobrar a esquina. Na verdade ele poderia ter me atropelado. Ele entrou pela porta da frente e eu pelos fundos. Dou um beijo na Ana e peço por silencio. Júlia me pega nas escadas e só me olha. Mas o olhar dela é safado, como se soubesse o que eu andava fazendo.

O resto da noite é a mesma rotina: eu janto, tento evitar contato visual com o meu pai que ainda não se esforçou para me dar um “oi” que soasse minimamente natural e jogo.

Eu não ia poder vê-la da janela, mas pelo menos naquele jogo, eu poderia ser seu ajudante. Eu poderia fazer algo por ela.


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Notas finais do capítulo

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