50/50/51 escrita por Lari B Haven


Capítulo 1
Prólogo: Apostas.


Notas iniciais do capítulo

Olá, este é o primeiro romance que escrevo e espero que gostem, até o próximo capitulo!
Eu gosto de fazer playlists nos capítulos então aproveitem:
https://www.youtube.com/playlist?list=PL8F9qP3wven33jbpNx6FSJKJMXtoDBG-a
ou no 8tracks: http://8tracks.com/laribhaven-70/50-50-51



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/542008/chapter/1

Muitas alegrias são violentas… Mas o fim delas é pacifico. Eu me lembro de rir uma vez, rir até cair com uma garota, mas não me lembro do rosto dela, ou do por que de estarmos rindo. Mas eramos felizes e então… Foi tão de repente que parecia até mentira. Alegrias não deviam terminar assim, já que do nada ela começa a chorar em cima de mim, sinto suas lágrimas pesadas, caindo em meu rosto. Minha mente é um grande borrão depois disso.

Das poucas coisas que eu me lembro, uma delas é que eu estava sentado em um banco de madeira, duro e desconfortável. Os médicos tinham me dado alta e disseram alguma coisas sobre absorver todos os aspectos do luto para quando eu recuperasse a memória. Mas não senti nada. Eu não sabia de nada, então não podia ser nada familiar para mim. Eu me lembro de estar em uma capela, sozinho agora… O comboio seguia até a lapide. Eu continuava ali confuso de cabeça baixa olhando para o quadro com um rosto feminino, devia ser alguem importante… Importante na minha vida… Mas não me é familiar.

Ela era linda, as pinceladas de quem o fez eram realistas e expressivas, conseguiam deixar real e mágico ao mesmo tempo; coisas como o cabelo da mulher do quadro. Seus olhos tinham um verde vivo e solene, mas seu sorriso era um sorriso solto e alegre, dava impressão de que o momento era de uma importância e felicidade verdadeiros. E eu, bem eu olhava bobo para tela, me perguntando se eu devia conhecê-la… Meu contemplamento só foi quebrado quando eu ouço passos de salto alto ressoando pelas paredes de pedra rustica da capela pequeníssima. Me encolhi no banco e conto os bancos atrás de mim que a pessoa esta percorrendo sem pressa para se sentar. Tem três bancos atrás de mim e dois a minha frente. Cabem apenas 20 pessoas na capela 10 nos bancos da esquerda e 10 nos da direita. Desejo que ela se sente em qualquer um menos no meu banco. A pessoa parece ser uma mulher, já que ela cantarola algo bem baixo com a sua voz feminina, parecem acordes de blues, ou Jazz, nunca gostei desses estilos, mas por alguma razão eu parecia conhecer alguns artistas de ambos estilos. Sinto sua saia preta bater no banco próximo a mim. Me tirando do transe de imaginar onde eu conhecia as coisas.

—Olá, você era parente da... Dela? -a garota que se senta ao meu lado, que eu obviamente não queria que se sentasse, me pergunta.

—Devo ser… -respondo vagamente, sem muita firmeza, já que sou um idiota que não consegue se lembrar do próprio nome.

—Ah… -ela respirou fundo e pareceu limpar discretas lágrimas que escorriam de seus óculos escuros. Em momento algum eu me virei para olhar o rosto dela, mas pelo tipo físico tinha a minha idade- Eu costumava conhecer ela, eramos… Hum.. Amigas… -ela falou com um peso na voz, parecia falar de séculos atrás- Eu… Eu fiz uma besteira, entende, imperdoável e ela… Eu não posso mais concertar o que eu fiz a ela e a família dela, mas eu queria pedir desculpas, e é o que eu estou fazendo. Me desculpando. Com todos que a conheciam… Mas você… -ela parecia desesperada a ponto de se partir em dois mil pedaços na minha frente.

Eu peguei em sua mão e me virei. Seu rosto era de puro espanto como se tivesse visto um fantasma. Sua pele pálida e seus ossos frágeis, faziam diante de mim o ser humano de óculos escuros se debulhando em lágrimas emoldurado pelos cabelos longos e escuros seu rosto era tampado por essa confusão e pela franja que me impedia de ver algo alem daquilo que eu já constatará, ela era uma garota magra e um tanto alta que tinha a minha idade e estava apavorada. De certo aquela era alguma prima minha, já que a morta era a minha mãe. Tomando a coragem que eu não tinha, apenas pela curiosidade me deixei levar e perguntei:

—O que fez de tão sério? Não pode ser assim tão terrível?

No mesmo momento sua expressão mudou e ela ficou calma, e eu senti uma de suas lagrimas rolarem de seu rosto, que parecia entorpecido.

—Não é… Tão terrível? -ela deu um sorriso macabro de raiva- Eu… Eu cheguei lá e ela já estava... Eu não pude salvá-la… Eu me atrasei! Droga, o filho dela precisa dela agora e ela esta morta! -ela apertou a minha mão esperando por alguma resposta minha, eu mal conseguia absorver o que eu ouvia. Seu voz continuou a ressoar na capela pequena e vazia.

—Não se culpe tanto… -eu tentei amenizar pondo a mão em seu rosto com um jeito involuntário, como se eu já tivesse feito isso antes no rosto de alguem com essa expressão- Ele está bem… -digo com uma certeza na voz que não é minha- Ele vai ficar bem…

Ouço os sino ressoando lá fora e ela via o rosto assutada novamente, os sinos são da catedral que fica há alguns metros do cemitério onde essa capela se encontra. Ela se vira de novo para mim e sorri aflita.

—Estamos sem tempo… - o vento começa a invadir a capela e bagunçar cabelo longo voando todo para o seu rosto seu rosto- Hey… Só me faça uma promessa agora… -senti as lágrimas quentes no seu rosto em minha mão.

—Claro… -digo meio bobo com a imagem mágica que e seus cabelos voando até mim.

—Prometa que nunca vai me esquecer! -sua voz tinha um outro tom, mais doce quase como um sussurro.

Vejo o vento levar as paredes da capela e tudo que está lá dentro. Um baque nos atinge eu sinto a dor.

E acordo. Eu estou suado, muito suado. Limpo o meu rosto com as mãos e corro para o banheiro para vomitar. Era aquele dia do ano.

São três da manhã e eu devo ter acordado meus pais com o grito. Droga já faz 5 anos! Eu devia ter superado tudo isso! Quem é aquela garota no sonho?

Bom, faz muito tempo que essa merda de dia me persegue. Há exatos 5 anos sofri um acidente de carro que levou a minha mãe e minha memória. Mas tudo bem, levo uma vida normal, só não me lembro de muita coisa dos últimos anos. Só sei quem é meu pai e o reconheço e sei que ele se casou de novo com Júlia Maria Rodriguez. Ela é legal e bonita, não é como descrevem as madrastas. Eu gosto dela, especialmente por que eu não me lembro da minha mãe... Então ela é uma mãe pra mim.

—Querido... -ela apareceu na porta do banheiro esfregando as minhas costas- Tudo bem... Se quiser te levamos a outro psicólogo ou psiquiatra...

—Tudo bem Ju... Eu tô bem... É só outra merda de dia começando...

—Hoje eu e seu pai vamos sair, ficar fora o dia inteiro, não precisa ir se quiser... -eu olho para ela, seus cabelos loiros e escuros. Ela sorri pra mim, ela é o anjo que meu pai precisava- Pode ficar com os seus amigos... Hoje é sábado mesmo. Pode ficar aqui...

—Obrigado... -eu respondo e ela pisca os olhos castanho escuros para mim com um sorriso aliviado.

Ela beija minha testa e eu deito na cama de novo. As imagens me vem como um soco:"Eu estava em um carro e ele andava rápido. Eu gritava com alguém que me esbofeteia no rosto repetidas vezes e eu perco o controle e bato com o punho fechado em seu rosto. O carro perde o controle de repente a gravidade some... Eu caio contra o teto e tudo fica escuro. Minha cabeça dói, vejo um rosto distorcido e apago".

Tinha esperanças de acordar um dia e me lembrar. Mas como vários psicólogos disseram assim que eu sai do hospital, tem algo me impedindo de lembrar... E ninguém deles sabe qual é o que eles chamam de "gatilho".

12:45 Minha casa, jogando pôquer e comendo salgadinhos de milho.

Eu ria com os meus melhores amigos. Eles me conhecem desde de que eu voltei para a escola a 4 anos... Eles pensam que podem vencer meu Full House. Já estou devendo 490 reais, mas com esse Full House eu vou ganhar com certeza.

—Passo. -diz Paulo colocando os óculos no lugar.

Eu olhei para ele e olhei para o Fábio a minha frente. Ele jogou os cachos da testa, ele não tinha cartas boas. Marcos pisca duas vezes o seus olhos cinzentos, também se ferrou. Só faltava eles dizerem que iam passar.

—É a última rodada... -Cássio disse com um sorriso perigosos. Era um blefe.

—Passo. -disseram Fábio e Macos em seguida.

—Paga para ver Cássio? -eu sorri.

—Só nós dois, cara... É claro que eu me garanto, me mostre o que tem... -engoli. Não era um blefe. Mas eu tinha um Full House, o único jeito de ele ganhar agora seria com...

—Royal Flush. -ele abriu as cartas ao mesmo tempo que eu.

Droga perdi!

—Me passe o que me deve agora! - ele me olhava com um sorriso psicopata no rosto.

—Desculpa cara não tenho mais... -respondo abrindo a carteira.

—Mas estávamos jogando com dinheiro de verdade! -eles gritaram em protesto.

—Calma cara assim que eu voltar a ganhar mesada eu te pago... -meu problema com dinheiro começou quando tirei notas baixas em várias matérias e agora eu ficaria alguns meses sem receber.

—Se você não fosse tão burro, não ficaria sem mesada! -Paulo pôs as mãos nos óculos e com um sorriso maquiavélico começou a limpá-los.

—Não! Eu quero agora! -ele ficou vermelho de raiva e eu senti que ia me dar mal- Se não vai me pagar... Então vai ter que fazer tudo o que eu mandar... Vamos fazer uma aposta: se você ganhar eu perdoo a dívida e nunca mais jogamos valendo dinheiro...

—E se eu perder? -maldita competição masculina, eu não devia ter aceitado.

—Vai pagar em dobro e não aceito prestação.... Vai ser a vista!

—Tá bom! -respondi soltando o ar e revirando os olhos- Qual vai ser o meu castigo?

Ele não respondeu, simplesmente saiu e foi embora.

—E cara! -Fábio disse dando tapinhas nas minhas costas- Você tá ferrado.

—O que quer que ele peça, só vai dizer segunda feira... Para você fazer na frente da escola inteira.- Marcos disse em seguida.

06:54 Segunda-feira.

Eu entro na escola não acho ninguém, nem Fábio, nem Paulo, nem Marcos e nem Cássio. Vou andando meio sem rumo nos portões da escola até a sala. Então eu vejo o Cássio e tento correr até ele para saber o que eu ia ter que fazer. Por que raios eu aceitei? Mas então eu não vejo e atropelo uma garota e caio por cima dela.

—Idiota! Não vê por onde anda? -eu mal olho para ele e já começo a juntar suas coisas e entrego sem olhar. Eu preciso falar com o Cássio.

—Toma aqui! - e começo a querer correr.

—Hey! Hey! -ela puxa a barra do meu jeans- Não vai me ajudar a levantar? -respiro fundo reviro os olhos e vejo que não vou ter escapatória, me viro para ela e estendo a mão.

Por um momento eu encaro ela e vejo seus traços lânguidos e seu corpo magro dentro do uniforme ridículo do colégio. Seu rosto é emoldurado por um corte de cabelo curto e com uma franja estranha que formava um bico de viúva no meio da sua testa. Ela simplesmente me olha horrorizada e se levanta me deixando sem entender nada.

Bom, vou para sala de aula e eles já me esperam com uma certa tensão no rosto. Cássio sorri. Meu lugar na sala é do lado dele.

O professor José enta na sala e diz que temos uma nova aluna que foi transferida para a nossa classe. Cássio me manda uma mensagem no celular:

“Eu já decidi qual vai ser a nossa aposta..."

"Qual? Me fala logo cara!!! :-( "–respondo.

Uma garota entra e se senta duas fileiras ao meu lado, quase do outro lado da sala. Ai percebi que foi a garota que eu atropelei.

—Espero que se adapte bem Cassandra... -professor José termina de falar e começa a escrever quadro.

Cássio demora a me responder.

—Olha pra lá cara... -ele diz com um sorrisinho malvado.

"Os garotos me disseram para te dar um prazo maior... Então cara: vc tem 50 dias pra ficar com a garota nova ou vai tê que me pgr tudo!"

Eu olho pra garota que eu vi entrar na sala e que eu atropelei hoje...

"Tá 50 dias, a partir de quando?"–envio para ele.

"Já tá valendo agora, se vira cara!"– ele responde.

Droga. Acabei de complicar a minha vida... Já que eu tenho que conquistar uma garota estranha e que pelo jeito não gosta de mim.

—É Daniel Vitor Santos Diniz… Considere-se o cara mais ferrado da face da terra... Você tá ferrado mesmo! -Paulo que senta atrás de mim dá um tapinha nas minhas costas.

—Paulo eu não tô ferrado, tô mais que ferrado! Acho melhor usar o meu tempo para juntar tudo que eu devo... Afinal olha para ela cara, ela é exótica demais para se apaixonar por um mané como eu. Sem falar que seria uma filha da putagem fazer ela ficar caidinha por mim e depois largar ela...

—Melhor juntar a grana... -Fábio disse rindo alto.

—Tudo bem ai? Ou devemos esperar para podermos continuar a aula... -José chamou a nossa atenção.

—Tudo professor… -respondo baixando o rosto vermelho e sem saber o que fazer.

Eu me afundo na cadeira e olho para a garota nova...

Agora só tenho 49 dias...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem se gostarem, ou se acharem algum erro avisem.