“Diga que você me ama e se não ama, então minta pra mim.”

True Love - Cold Play.

Eu estava deitada na cama que me foi destinada, lendo um capítulo sobre a história do Jornalismo, quando comecei a relembrar alguns fatos que ocorreram no passado.

Não era o tipo de pessoa nostálgica que vivia tendo lembranças e sentindo saudade do que já passou, mas, no tédio de um velório em Londres, sem concentração alguma para estudar, foi inevitável que meu cérebro vagasse por recordações trágicas da minha vida.

Eu voltei àquele dia.

Podia ver claramente os olhos azuis de Jamie sorrirem para mim naquela manhã ensolarada, enquanto ele caminhava até mim com um buquê de flores.

Sorri para ele, que retribuiu de pronto. Seus passos ficaram mais rápidos e em poucos segundos eu senti seu abraço forte ao meu redor. O cheiro do seu perfume me invadindo por completo. Fiquei na ponta dos pés para enroscar meus braços no seu pescoço e o beijei.

Por algum motivo, que até o momento eu não fazia ideia, aquilo me pareceu uma despedida. Quando acabamos o beijo, meu coração estava apertado, completamente angustiado. Olhei para ele buscando calma, mas os seus olhos não conseguiam disfarçar que algo estava errado.

— Suas flores, senhorita — ele me entregou o buquê de rosas e sorriu — Não são tão belas e cheirosas como você, mas chegam perto.

Ele abraçou a minha cintura, mas eu continuava a achar que algo estava errado.

— Você é um príncipe!

Ele sorriu e abaixou a cabeça, fazendo-me ficar ainda mais desconfiada. Ergui o seu queixo com a ponta dos dedos e o fiz me encarar. Seus olhos estavam marejados e ele se esforçava para não derramar aquelas lágrimas.

— Jamie, por que está chorando?

— Você é linda! — ele disse acariciando meu rosto.

— Está chorando, pois me acha linda? — perguntei rindo nervosamente.

— Não — ele respirou — Estou chorando, pois tenho que lhe deixar.

— O quê? Para com isso, amor!

— Louise, escuta, eu preciso muito que você entenda isso. Nós não podemos ficar mais juntos.

— Não podemos por quê?

— Simplesmente não podemos mais. Desculpe-me.

Suas lágrimas agora escapavam de seus olhos, mesmo ele esforçando-se para prendê-las.

— Você não me ama mais?

Seus lábios se fecharam e ele abaixou a cabeça, sem me responder.

— Jamie, diga que me ama! — agora eram minhas lágrimas que desciam deliberadamente por meu rosto, borrando minha maquiagem.

Ele continuou de cabeça baixa, chorando agora abertamente.

— Por quê? — perguntei segurando o buquê nas mãos — Você tem que me dar um motivo!

— Eu não amo mais você — sua declaração foi falsa. Eu sabia que era mentira, mas ele teimou em continuar com essa justificativa, me fazendo duvidar da minha certeza.

— Jamie... Diga que isso é mentira! Diga que está mentindo pra mim!

Eu namorava Jamie há um ano e meio e nós sempre tivemos o melhor relacionamento do mundo. Brigávamos sim, pois todo casal briga, mas nunca dormíamos sem fazer as pazes; éramos amigos, parceiros e estávamos apaixonados! Eu tinha certeza disso. Os olhos dele não conseguiam esconder que aquilo era mentira, mesmo sua boca teimando em falar tal absurdo.

— Não estou! — ele falou mais duro — Acabou, Louise. Foi ótimo o tempo que passamos juntos, mas acabou. Supere isso!

Meu corpo começava a tremer e eu me esforcei para esquecer aquela lembrança. Minha mãe já estava ao meu lado me abraçando e me dizendo que tudo tinha passado, da mesma forma que ela falava todas as vezes que isso acontecia. Eu chorava um pouco, mas nada comparado ao meu desespero logo após aquele acontecimento.

— Filha, está tudo bem... — ela repetia enquanto acariciava meu cabelo — Não pense nisso, meu amor...

Respirei fundo, tentando colocar minha cabeça no lugar novamente.

Definitivamente o tédio era o meu pior inimigo. Ele me trazia as piores lembranças. Lembrar-me de tudo que aconteceu em seguida, do sofrimento que Jamie escondia por trás daquelas palavras levianas e do fim que teve essa história, me fazia muito mal mesmo.