"Através da ampulheta eu vi você. No momento em que você escapou. Quando o espelho quebrou, eu chamei por você e me virei para ouvi-lo dizer: tire o meu fôlego."

Take my breath away - Berlin.

Quando Thomas disse que Jasmine estava com pressa em se mudar, eu não imaginava que fosse tanta pressa assim. A ruiva já estava de mala e cunha na porta da minha casa com exatas seis horas que eu a convidei.

Tinha uma caixa em suas mãos com seus pertences, duas malas que estavam sendo carregadas por Thomas e que aparentemente eram pesadas; e mais algumas coisas no porta-malas do carro dele. Quando eu abri a porta fui recebida por um sorriso brilhante da garota. A empolgação exalada por ela era de se espantar.

— Oi! — cumprimentei tentando agir naturalmente.

— Oi, Louise! Espero que não se incomode com a minha mudança rápida.

— Bem rápida... — falei baixinho. Mais para mim do que para ela.

— Oi, de humanas! — Thomas me cumprimentou com um sorriso tranquilizador.

Eu sorri de volta para ele e olhei para Jasmine que corria seus olhos pela minha sala.

— Eu vou te mostrar seu quarto!

— Legal!

Ela respondeu com a mesma empolgação corriqueira e subimos os três para o quarto defronte ao meu. Era um pouco menor e estava bagunçado, pois servia de depósito para coisas que eu não tinha onde colocar.

— Eu posso te ajudar com isso — eu disse ao observar a cara de susto da ruiva ao ver tamanha bagunça.

Thomas sorria da minha falta de jeito com a garota, deixando-me ainda mais constrangida.

— Tudo bem! Mas não se preocupe com isso. Podemos ajeitar tudo amanhã. Eu posso dormir no sofá hoje.

— Como preferir — eu disse sorrindo e ela concordou.

— Eu posso tomar um banho? É que já cheguei da Universidade e fui embalar minhas coisas. Estou fedendo.

Ela cheirou sua axila e seu gesto me fez rir. Eu caminhei até meu quarto e busquei uma toalha limpa, entregando-a.

— O banheiro é ali.

Apontei para a porta que ficava no meio do corredor. Jasmine colocou suas coisas em cima de um espaço vazio daquele quarto e dirigiu-se ao banheiro. Mas antes disse:

— Muito obrigada de novo, Louise.

Eu apenas sorri e acenei positivamente, enquanto ela adentrava o cômodo.

— Sua falta de jeito com as pessoas chega a ser fofa — Thomas disse largando as malas de Jasmine e caminhando até mim.

Ele ainda estava com o uniforme da Universidade, mas seu cabelo já não estava perfeitamente alinhado como de costume. Envolvi meus braços ao redor do pescoço dele, enquanto ele me puxou para mais perto segurando minha cintura. Nós nos beijamos e, sinceramente, eu estava com saudade do gosto de seus lábios.

— Acha mesmo que consigo? — falei no fim de nosso beijo e apontando com a cabeça para a porta do banheiro.

— Você está indo bem! — ele disse sorrindo.

— Não mente...

— É sério. Eu tenho certeza que vocês vão se dar bem. Jasmine é muito legal.

— Ela é. Também é irritantemente empolgada.

Nós rimos juntos, enquanto descíamos as escadas. Quando chegamos à sala, Thomas me colocou em seus braços.

— Agora chega de falar da Jasmine.

E pulou comigo no sofá.

— Você é louco? — eu falei em meio a risos.

— Acho que fraturei alguma coisa.

Eu gargalhei com a afirmativa dele. Era incrível como tudo o que ele fazia me arrancava um sorriso. Cada gesto, por mais simples que fosse, me fazia gostar dele um pouco mais. E aqueles olhos lindos fixos em mim, não me ajudavam a manter a coerência.

— Tá tudo certo, né? Você vai jantar lá em casa no sábado?

Por que diabos ele tem que falar sobre esse assunto logo agora?

Dei um sorriso amarelo e afirmei com a cabeça. Eu não queria ir desde o princípio, porém, agora que Jasmine me mostrou um pouco de como eles são, não queria ir mesmo. E como que eu digo isso à essa pessoa incrível sentada ao meu lado?

— Estou super empolgada!

Ele riu sem graça.

— Você mente tão bem quanto faz amizade.

Cocei a cabeça. Ele parecia chateado.

— Não fica chateado! Eu quero ir, mas...

— Você se assustou com a personalidade deles, né?

— Bem... Um pouco. E se eles não gostarem de mim? O que você vai dizer que eu sou? Acho que tá tudo muito apressado.

— Calma, Louise. Não é como se eu fosse te pedir em noivado.

— Claro que não é! Então, não há necessidade de conhecê-los agora...

— Tudo bem.

— Thomas, não quero que fique chateado, mas eu preciso que as coisas andem devagar. Eu não sei se vou conseguir gostar de outra pessoa do jeito que...

— Que você gostava do Jamie.

Ele me encarava nitidamente chateado, mas com os olhos cheios de compreensão.

— Olha, Louise, me desculpa, tá? Eu não quero apressar as coisas entre nós. Na verdade, eu quero manter isso que tá acontecendo. Você me faz bem. Não precisamos dar um passo maior que nossas pernas. Não precisamos nem dar um passo. Só vamos ficar aqui, abraçados e de preferência nos beijando.

Ele me puxou de volta para o seu peito, sorrindo. Beijou o topo de meus cabelos e aspirou o cheiro deles. Desceu seu nariz vagarosamente pelas laterais da minha bochecha esquerda, deixando um rastro de arrepio pelo caminho e parando no meu pescoço, onde depositou um beijo delicado.

Fechei os olhos absorvendo aquela carícia devagar. Era ótimo. Thomas era ótimo. Seus lábios saíram de meu pescoço diretamente para encontrar os meus. Aquele beijo foi mais que doce. Foi mais que os outros. Era muito mais intenso e quente...

Eu cortei o beijo com dificuldade. Estava com medo de Jasmine terminasse o banho e nos visse assim. Seria no mínimo desconfortável.

— Obrigada por entender — disse com sinceridade para ele, enquanto ainda recuperava meu fôlego.

— Eu levei seu fôlego embora?

— Sim — pigarreei — Você leva meu fôlego embora.

Cantei a última frase, fazendo referência à típica música de baile de formatura do ensino médio.

— Nada mau para uma caloura.

— Obrigada, Sir!

Beijamos-nos mais uma vez. Porém, desta vez, fomos mais comportados. A porta do banheiro foi destrancada e soubemos ali que minha nova “colega de quarto” tinha acabado seu banho. Ela entrou no quarto que seria seu e em seguida escutamos um barulho de algo se quebrando.

— Está tudo bem aí em cima? — Thomas perguntou.

— Sim! É só que está um pouco apertado e eu acabei quebrando o espelho do meu pó.

— Uma pergunta e uma consideração — o moreno disse — Você está passando maquiagem para dormir?

— Não Thom! Só estava por cima das minhas coisas — Jasmine gritou ainda dentro do quarto.

— Ok. Agora minha consideração: sinto muito por seus sete anos de azar.

Nos duas rimos dele e a ruiva falou:

— Cala a boca!

— Jasmine, você pode se trocar no meu quarto.

Falei com a voz risonha e ela agradeceu, indo com suas roupas para o cômodo.

— Tá vendo? Já está gostando dela! — Thomas disse me abraçando.

— Não força, né?