Hoje é, disparadamente, o pior dia da minha vida.

Minha vida. É estranho pensar que posso dividí-la em três partes tão diferentes.

A primeira parte é tudo o que aconteceu antes de eu conhecer Ian Gallagher; toda a merda que tinha acontecido, está na primeira parte.

A segunda, é com Ian. Apesar de não termos casado, adotado um filho e um cachorro e não termos cultivado um jardim, nossa história podia ser chamada de linda.

E a terceira parte, que é de hoje até meu último dia de vida.

Ian morreu, estou inconsolável. Sabe, eu aprendi tanta coisa com ele. Eu não só descobri e aceitei minha sexualidade... Eu virei uma pessoa digna!

Mas ele se foi numa droga de um acidente de carro, por causa de um filho da puta que dirigia bêbado. Eu sei que isso não vai trazê-lo de volta e nem impedir que outras pessoas morram da mesma maneira, mas eu agredirei todos os bêbados que eu encontrar, e não me interessa se é uma boa pessoa ou não. Eu só preciso descarregar esse mar de sentimentos ruins em alguém — e por que não em gente como o culpado pela morte de Ian?

É revoltante ver tanta gente (eu, Mandy, família Gallagher, amigos de Ian) sofrendo por causa do erro dos outros. A vida não é justa.

Eu preferia não ter conhecido Ian se eu soubesse que teríamos tão pouco juntos e que o fim seria tão trágico. Não que ele não valesse a pena, porque ele vale, mas eu não sei como vou aguentar viver com esse buraco em mim.

Nunca sonhei que conheceria alguém como ele e, pior ainda, nunca sonhei que perderia esse alguém.

Dou um beijo na rosa branca que estou segurando e a jogo no buraco em que o caixão está sendo enterrado. Nesse beijo, depositei todo o meu amor e tudo de bom que eu tenho. Espero que onde ele esteja, ele os receba.

Agora sou apenas um corpo vazio; sem razões para viver, sem amor, sem alma, sem vida. Sem nada.