Mickey acabara de acordar quando Ian entrou em seu quarto. A casa em si já não era arrumada, mas naquele momento estava bem pior do que o normal, haviam muitas garrafas espalhadas. Na noite anterior, Ian e Mickey tiveram uma grande briga que fez o ruivo sumir dizendo que eles não deveriam se ver mais, enquanto Mickey bebeu todo o tipo de bebida alcoólica possível. Afinal, dizem que o álcool afoga as mágoas, não é?

— Ian? — Mickey coçou os olhos e bocejou.

— Oi. — Ian coçou a cabeça sem jeito. — Desculpe pelas coisas que eu disse ontem.

Ian tinha pressionado Mickey para o moreno assumir um relacionamento sério com ele e se tornarem oficialmente namorados, mas Mickey não gostou disso; ele gostava das coisas como estavam. As pessoas não tinham que saber de sua intimidade.

Antes que Mickey pudesse dizer algo, Ian continuou:

— Não precisa dizer nada — disse Ian, puxando um pedaço de papel do bolso. — Eu li isso.

— E o que é isso? — Mickey ergueu uma sobrancelha.

— Mandy me deu. — Ian deu de ombros e jogou o papel, que estava um pouco amassado, na cama. — Você escreveu ontem.

Mickey sentiu um leve arrepio percorrer sua espinha porque ele meio que tinha uma ideia do que era aquele papel e Ian não deveria ler aquilo. Ninguém deveria.

Ele não lembrava exatamente o que escreveu porque estava muito bêbado, mas ele sabia que era algo sobre Ian... Sobre eles.

Mickey pegou o papel, desdobrou-o e começou a ler um pouco tenso por sentir os olhos de Ian sobre si.

Ian, Ian... O que você fez comigo? Eu me lembro da primeira vez que nós ficamos juntos... Aquilo deveria ser uma transa e nada mais, porque é claro, eu não me envolveria seriamente com outro homem. Jesus, eu nunca imaginei isso.

Mas você é uma espécie de sonho, sabe? Um paraíso. Aquilo que todo mundo deseja para si.

Você é tão lindo. Eu não consigo ficar num ambiente com você, sem que eu te olhe, sem que eu deseje te tocar, te abraçar e... Jesus, tenho vontade de te beijar — algo que eu realmente evitava no começo.

Eu te amo, Ian. E dói saber que eu nunca vou acordar ao seu lado, ou que nunca dormirei ao som de sua leve respiração perto do meu ouvido... Dói saber que você sempre irá embora e dói mais ainda segurar essas coisas dentro de mim, sem você saber. Mas isso não que dizer que nós tenhamos que usar vestido, andar de mãos dadas na rua, e sair gritando para o mundo que somos gays, ok? Isso ainda soa estranho.

Eu sei que você pensa que não, mas eu realmente sou louco por você.

Você sempre se importou tanto comigo e isso é muito legal. Ninguém nunca foi assim comigo. Às vezes eu me pergunto se você existe... Você é muito bom pra ser verdade.

Nem sei porque tô escrevendo essas coisas como você fosse ler... Você foi embora, e eu não consegui fazer o que você quis... Porra, Ian. Por que você faz isso? Eu estou segurando as lágrimas aqui.

Bem, você foi embora, né? Então foda-se você e seu egocentrismo.

Foda-se, Ian.

Mickey lembrou que depois disso ele amassou o papel e o jogou no canto do quarto. O que ele não sabia era que depois que dormira, Mandy entrou no quarto e pegou o papel.

Ian se cansara de se dedicar ao moreno e não ter uma prova de que ele sentia o mesmo e depois da briga da noite passada, Ian estava disposto a parar de vê-lo. Mickey sempre fora muito discreto quanto aos seus sentimentos, e Ian sabia disso, mas ele queria ter a certeza de que Mickey gostava dele e que valia a pena enfrentar qualquer coisa para ficar junto a ele.

Essa carta foi a prova que Ian queria e precisava. Mickey o amava.

— E-eu estava bêbado — Mickey gaguejou.

— Mickey... — Ian se aproximou e se sentou na cama, ao lado do moreno.

— Eu estava fora de mim. — Mickey se sentiu envergonhado por Ian ter lido tudo aquilo... Ele nunca foi de se expor pra ninguém. — Foi a bebida.

— Às vezes a bebida encoraja as pessoas a dizer, ou no caso, escrever, o que elas teriam vergonha de expor para os outros — Ian colocou a mão na nuca de Mickey e o puxou para um beijo rápido. — Eu também te amo, Mickey.